terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Terapia

A terapia me fez menos paranoico, menos preocupado com o que dizem e pensam de mim. Não busco tanto quanto antes agradas aqueles que não sabem quem sou, que não conhecem minha vida, minha força ou minha luta e que ainda assim insistem em opinar, apontar e criticar. 

A terapia me fez menos paciente também. Já não tenho mais tempo pra quem não quer ouvir ou entender, e acima de tudo, já não tenho mais paciência pra quem não tem paciência comigo. Já não sou mais capaz de ouvir asneiras e impropérios sem sentido, dados a esmo por pessoas incapazes de avaliar o mal que fazem e o bem que não fazem. 

Já não me sinto mal pelo que me dizem, ainda que seja sobre mim, ou pelos dardos inflamados de ódio que lançam sobre mim. 

A terapia me fez conseguir ignorar o outro, e não me machucar com o veneno que o outro tem pra mim, ainda que tenha sido preparado de má vontade, ou que por meio da má vontade não tenha notado o quanto era venenoso. Também aprendi a não beber os venenos que eu mesmo preparo. Já não me enveneno mais, tanto, e busco não mais cultivar o mal em mim. 

Isso não significa que tenha me tornado mais forte, ao menos não vejo dessa forma, pois acredito que apenas tenha aprendido a correr e me esconder, a fugir das discussões, a não entrar em conflitos... 

A terapia me fez perceber o quanto é dispendioso lutar uma luta sem sentido, e o quanto é doloroso lutar uma luta invencível. Aprendi a não buscar agradar a quem nunca vai se agradar comigo, e nem a fingir me agradar pelo que nunca vai me agradar. 

Oh, o quanto sou grato a todas as coisas que a a terapia me ensinou... O quão mais feliz estou, agora, com tempo para me aventurar, estudar, amar, e não apenas chorar e me incomodar com um, com outro, e com todos... 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Por sobre a terra

Hoje acordei em busca de poesia, e meu ser clamava pela beleza de uma canção, e pelo carinho de um bom coração. Mas o dia correu na serenidade tediosa de uma paixão que se foi, e com a lentidão de um trem a noite veio chegando, e agora vejo que o dia se passou e nada fiz. 

Não encontrei a poesia que buscava, nem a canção que almejava. Apenas a triste contradição de uma alma apaixonada que busca inspiração para amar. Será que ainda sei o que é amar? Ou o medo da dor me impedirá de mais uma vez me entregar?

É possível que o mar perca seu brilho, ou que o céu perca sua cor? É possível que um homem perca o seu amor? Pergunto-me se o sol poente pode um dia tornar-se feio, ou se a aurora boreal vai perder seu encanto, pergunto-me um dia o amor deixará de andar por sobre a terra, assim como os homens diariamente esquecem-se de amarem-se por sobre a terra.

sábado, 27 de janeiro de 2018

O filtro do amor

O belo desperta em meu coração o júbilo, que reflete-se num sorriso bobo que estampa minha face corada de um rubor apaixonado. O belo desperta em mim a paixão. E a paixão reflete-se no meu apreço ao belo.

Quando apaixonado as coisas passam a ter certo valor para mim, que antes já não tinham. As musicas ficam mais belas, e possuem uma simbologia mais profunda, as cores se tornam mais vívidas e até mesmo as flores ficam mais belas.

O amor é esse filtro cor de rosa, que pinta a penumbra do mundo em tons delicados de cores vivas e brilhantes, que torna uma flor no símbolo do amor, uma lágrima no clamor de uma alma e um sorriso na mais poética das declarações. 

As vezes pode me parecer que, quando da desilusão, o filtro do amor é quebrado e cai por terra. Mas isso porque ainda não aprendi a cuidar do filtro do amor, e não depender do outro para usa-lo. É ver o mundo cor de rosa mesmo quando deveria vê-lo cinza e triste. É amar mesmo sem ser amado. É sorrir mesmo sem ser amado. É ver a beleza das coisas mesmo sem ser amado.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Das alegrias


Alegria de uma vitória singela, 
simples para alguns, 
mas de grande importância para mim. 

Alegria de um passo dado 
rumo a superação de um medo grandioso. 
Alegria de um sorriso conquistado.

Alegria no farfalhar das esmeraldinas.
No gotejar do orvalho da manhã.
No olhar negro e delicado de um segredo.

No sorriso tímido e rosa de um jovem
No seu cabelo loiro molhado de suor
De sua voz doce e aveludada a delicadamente romper o ar.

Alegria na intimidade com o velho amante.
Que mesmo tão novo exala o perfume do desejo.
E que arfando de prazer arde em desejo.

Alegria na superação da dor que antes doía,
Que impedia a vida de sorrir em alegria
Que de lágrimas me cobria

Alegria na contemplação 
De uma cena ínfima
Porém poética e lindíssima

Alegria de vitórias singelas, 
simples para alguns, 
mas de grande importância para mim. 

A história de amor da natureza


Eu quero a graça de um amor tranquilo, um que não seja forçado, nem complicado, e que flua naturalmente.

Agora contemplo diante de meus olhos as folhas das oliveiras pesadas pelas gotas de água da chuva que caiu durante a noite. As gotículas refletem as cores pálidas da paisagem, maltratada pelo vento e reconfortada pelo frescor das águas que se opõem a opressão dos raios do astro rei. É uma bela visão. 

A brisa leve faz as gotas caírem no chão, e numa fração de segundo, enquanto flutuam no ar antes de se chocarem com as pedras, brilham uma última vez, gravando no meu coração a mensagem do seu último suspiro.

Enquanto dormíamos as águas do céu precipitaram-se por sobre as folhinhas pequenas e esmeraldinas para beijá-las, e não se incomodaram em curvarem-se e descerem do céu para encontrar os lábios de suas amadas. O silêncio que cobriu a terra após a torrente divina cantou as folhas o doce hino do amor, e os olhos humanos que o contemplam agora o grava no muro da história para todo o sempre.

O céu está cinza, mas não triste, pois não compartilho da visão de que um belo dia seja um dia claro. Um belo dia é um dia cinza, que me recorda a palidez daquele que habita em meu coração. Um belo dia é um dia de abraços, de sorrisos, de troca de olhares, de um contato tímido, mas de entrega total, como o das gotas as folhas. Quantas histórias de amor numa oliveira!

Como fugir a esta visão de amor da natureza? Como evitar as lágrimas ao contemplar as águas do céu beijarem as folhas do chão? A visão dos amantes traz a alma a vontade de também ser amante.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Saudades do Brasil em Portugal

O sal das minhas lágrimas de amor
Criou o mar que existe entre nós dois
Para nos unir e separar
Pudesse eu te dizer
A dor que dói dentro de mim
Que mói meu coração nesta paixão
Que não tem fim
Ausência tão cruel
Saudade tão fatal
Saudades do Brasil em Portugal

Meu bem, sempre que ouvires um lamento
Crescer desolador na voz do vento
Sou eu em solidão pensando em ti
Chorando todo o tempo que perdi

Vinícius de Moraes

Perdido

Onde está a inspiração para a poesia que, brotando do coração, exprimiria o ares da paixão? Onde está a inspiração, que torna a oliveira balançante pelo vento em canção? Onde está a inspiração, que compreende a delicada luz do sol a passar pela janela e, refletindo na taça de cristal, reflete a beleza de quanto quanto existe, tendo no espécime branco e rosa, seu maior artificie? 

A questão não é onde está a inspiração. Mas sim, onde se escondeu a fonte da inspiração. Onde se escondeu a musa da poesia, a princesa da epopeia, e a santa da litania. 

Já não mais habita no coração do poeta, que solitário em seu quarto compõe os tímidos versos, incompletos, pela pobreza de sua habilidade gramatical, aguardando seu amor bater a sua porta. Mas a porta de um poeta está sempre aberta, e no entanto ninguém por ela entra, e por isso o poeta poetisa, a tristeza de sua porta entreaberta, materialização de seu coração aberto, perdido num mundo de mentes fechadas.

A mente expande-se, e desejando abarcar a totalidade da existência, tocando também o coração de quantos ama, mas nada consegue tocar. Pois as mentes estão fechadas, e os corações se congelaram, e ainda que abarque o todo, não pode tocar a nada. 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Resenha Together With Me

E quando a amizade vira amor?
Após muitas, quase inumeráveis, indicações, resolvi assistir a série que foi, sem dúvida, a mais falada de 2017 nos grupos de BLs que participo. 

Embora não tenha o mesmo apelo popular que 2Moons na Tailândia, no Brasil Together With Me foi sem dúvida a preferida do público geral, isso porque trouxe algo relativamente raro nas produções orientais: cenas românticas realistas. 

A grande maioria das produções orientais usa de artifícios técnicos para as cenas que exigem mais intimidade. Penumbras e jogo de câmeras são os mais usados, e dão aquela disfarçada com uma musica romântica bem alta para não exigir que os atores se beijem ou se toquem de verdade. Bom, levando em consideração que o foco da maioria dessas produções é o sentimento e não o sexo é completamente compreensível que as cenas mais quentes não sejam um foco, mas convenhamos, depois de uma dúzia de episódios se os personagens não derem ao menos um selinho as pessoas começam a estranhar. 

Isso se deve ao fato de que nós aqui do Brasil estamos mais do que acostumados a pegação hard, pois crescemos com isso nas novelas da Globo ou até mesmo na rua. Na Tailândia isso é diferente, e algo assim poderia, como certamente iria, chocar e resultaria numa recepção negativa da obra. 

Pois bem, antes de entrar no mérito de como Together With Me quebrou esse paradigma, é importante falar dos antecedentes dessa série. 
Bom, ela se passa anos antes de outra série, Bad Romance, que foi lançada em 2016 e é focada na vida Yiwha, que tem dificuldades para se relacionar com rapazes, enquanto seus dois amigos, Korn e Knock, enfrentam dificuldades no seu namoro. Together With Me é uma prequel desta, lançada ano passado, e foca no relacionamento de Korn e Knock, tendo Yihwa também no meio dos personagens principais. 

Korn e Knock são amigos de infância que se reencontram na faculdade e, depois de uma noite de bebedeira, acabam indo pra cama juntos. No dia seguinte, acordam com a responsabilidade de lidar com o fato de terem feito sexo e de como isso afeta sua amizade, sendo que Knock tem uma namorada um tanto quanto ciumenta.

O principal da série é a química entre os dois atores principais. Eles tem uma intimidade incrível em tela, e certamente presenciaram cenas românticas muito mais elaboradas do que as que estamos habituados em SOTUS, 2Moons e Make It Right, por exemplo. Enquanto essas usam e abusam de selinhos de lábios cerrados e jogos de câmera, em Together With Me o beijo técnico é muito bem explorado. 

Ainda não chegamos no beijo realista, ao qual estamos habituados aqui em terras brasileiras, mas certamente os beijos técnicos, com poucos artifícios de direção e câmera, são um progresso e tanto. Isso trouxe uma realidade enorme pra série, e compensa o roteiro fraco em muitos pontos. Infelizmente os cenas são reais, enquanto a história em alguns pontos soa bem falsa.

Os personagens secundários, assim como em Bad Romance, dão um tom mais humorístico ao conjunto da obra e eu realmente me apeguei a alguns deles. Infelizmente, na série que conta a história seguinte, embora tenha sido lançada antes, eles não aparecem e nem sequer são citados, ficando no ar o questionamento: será que todos deixaram de ser amigos? Ora, eles dividiam o apartamento, como se tornaram desconhecidos de um ano para o outro? Ainda que falem da problemática dos atores que não poderiam retornar para a prequel, eu teria me importado menos se os tivessem substituído. 

Vamos aos atores e personagens: Korn e Knock são interpretados por Max Nattapol e Tul Pakorn, respectivamente. Dois dos atores mais bonitos da Tailândia, e que fogem ao estereótipo colegial ao qual estamos habituados. Korn é gay, mas discreto, e muito sério. Companheiro e sempre disposto e preocupado com os amigos, um cavalheiro. Knock começa a série namorando uma garota, e depois se descobre apaixonado pelo melhor amigo.
Os dois, como já disse, tem uma química incrível, e em tela isso fica bem nítido. Esse é, aliás, o ponto forte da série. É bonito ver o crescimento de ambos. Knock começa a aceitar que pode amar outro homem, e questiona as atitudes de sua namorada, ainda que não queira decepcioná-la (mesmo ela merecendo). Korn é paciente com o amigo, espera que ele entenda melhor seus sentimentos, e mesmo triste, ainda preza pela felicidade e pelo cuidado com ele. 

Yihwa (Maengmum) é a intrometida amiga dos dois, e protagonista de Bad Romance, que age como cupido, ainda que contra a vontade dos dois. Ela é conselheira, espiã, mãe e irmã. De longe a melhor personagem feminina da série, e sem dúvida a mais engraçada. 

Farm é interpretado por Tantimaporn Supawit (C'Game) e é colega de quarto dos meninos, que dividem o apartamento. Ingênuo, fofo e muito desatento, se vê pressionado pela namorada grudenta e acaba se apaixonando pelo Dr. Bright, primo do Knock, personagem de (Apiwat Porsche Apiwatsayree) que tem encontros casuais com rapazes mais novos e acaba levando o jovem Farm para o mundo dos relacionamentos de uma só noite.
Isso foi triste de se ver, pois um personagem doce e gentil se tornou frio o suficiente para usar outra pessoa para seu próprio prazer. Como me apeguei a ele, fiquei abalado com o final que teve.

Phubet, personagem interpretado pelo gatíssimo Tem Khamphee Noomnoi é outro colega de quarto dos meninos e tem uma quedinha pela irmã de Korn e sua professora, Kavitra (Mai Sukonthawa Kherdnimit). Os dois vivem um relacionamento de gato e rato que, embora sendo hétero, consegue se até bem divertido.
A trilha sonora não é muito elaborada, mas ainda assim belíssima. Impossível não acabar cantando o tema principal ou o tema de Bad Romance

Tive medo de começar a ver pois, quando me diziam que tinha muitas cenas de sexo e tal, achei que seria uma série escura, focada em desviados sexuais, mas é bem pelo contrário. A série é divertida, colorida, leve e, as cenas mais quentes, não chocam e nem tampouco quebram a aura romântica da obra. Simplesmente fenomenal!

Infelizmente ela não fez tanto sucesso assim na Tailândia, embora aqui tenha emplacado, e continue atrás de produções como SOTUS e 2Moons nas pesquisas, o que de maneira alguma desmerece o ótimo trabalho que fizeram. 

Sem mim

Me procurou para falar sobre aquilo que eu não queria ouvir. 

Minha sentença de morte. 

Tive de fugir para os recônditos escuros do meu coração, percorrendo a secreta escada disfarçada. Tive buscar refúgio nos resquícios de sanidade e equilíbrio que haviam em mim e, não sem a ajuda de altas doses de benzodiazepínicos, consegui impedir esconder dos que me cercavam as lágrimas que brotavam da minha alma. 

Não preciso dizer que meu medo se cumpriu, afinal já havia se cumprido há muito tempo. Mas esse medo não era motivado pelo que pensava de mim, ou pelo o que os outros pensavam, que estivesse apaixonado por você. Não. É apenas a preocupação de uma pessoa que te viu no seu pior momento, tão destruído que mal poderia dizer-se ter forma humana. E ver que sente vontade de seguir pelo mesmo caminho, ainda que diga a si mesmo que não quer, é como perceber que nada do que foi dito, vivido e aprendido valeu de alguma coisa. Minha preocupação é com a destruição iminente de se aproximar de uma pessoa que, embora de voz doce, tem a capacidade de deixar um rastro de destruição por onde quer que passe. 

Me perguntou sobre os motivos da minha ausência premeditada. 

Não quis responder.

Minha vontade de sumir é constante. Não mais quero me incomodar com a ignorância e irresponsabilidade daqueles que me cercam.  Não quero carregar sozinho o peso de fazer tudo e ainda ouvir reclamações e lamúrias. O que faço, faço por amor, mas parece que sou o único a fazer assim. Por isso talvez seja melhor deixar que façam as coisas da forma que queiram, sem interferir com minha mania perfeccionista de fazer o certo da melhor forma, seja a coisa correta a se fazer, já que meu esforço atual tem sido apenas motivo de estorvo para com aqueles que deveriam ser gratos para o que faço.

Eu escolho o que vai ser cantado nas nossas apresentações. Preparo as letras, as cifras, as adaptações, envio com antecedência as musicas a serem ensaiadas, para no dia do ensaio dizerem que nunca ouviram. Cuido dos uniformes, dos materiais, enfim, e os outros apenas precisam ouvir as musicas e aprender.  Ainda assim reclamam das musicas, mesmo sem indicarem musicas melhores, não querem usar os uniformes, reclamam dos arranjos, mas não apresentam solução melhor.

Eu não vou atrás, não vou reclamar, pois sei que apenas seria colocado como dramático ou exagerado. Apenas me afastarei. Se minha ausência for sentida, é sinal de que o que faço é importante, do contrário, é bom que sigam caminho sem mim. 

sábado, 20 de janeiro de 2018

Rosa

Foi apenas um breve momento, um instante, um ínfimo de segundo em que, você, com a pele corada de rosa olhou na minha direção com o sorriso mais doce que já vira. 

O universo todo congelou-se, e os fogos brilharam no céu, e enquanto contemplei aquela visão, daquele quadro que mesclava branco, dourado e rosa, ela se imprimiu em mim de tal modo que, nem mesmo quando terminada a batalha da vida se apagará de minha mente. 

O mundo coloriu-se de branco, dourado e rosa, e suas cores se tornaram o suporte de toda existência. Seu sorriso, a causa dessa mesma existência. 

Já não me importei quando virou o olhar, e aquele ínfimo instante se foi, levando com ele seu sorriso, mas não tirando a impressão profundamente gravada em meu coração. 

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O que me resta

Na noite escura eu busco, a quem minha alma ama... 

E nessa noite escura, minha alma clama pela sua presença. 

Minha pele fria como a lua busca o calor do seu sol, e desejando aquele sol me contorço em desejo. 

Na noite escura amo, clamo, chamo...  

Ah, se o mundo inteiro pudesse ouvir, ou ao menos que você pudesse me ouvir. Mas ainda que estivesse ao meu lado não poderia me compreender, compreender meu amor por você.

Só me resta o balbuciar, o clamar, o amar.

E ainda assim, é capaz de você me amar? 


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Diálogo sobre a dor


- Você está cansado?

- Não dos outros. 

Eu fiquei triste por tudo que aconteceu. 

As pessoas foram sempre as mesmas na paróquia. Pessoas que encontrei, e que me machucaram, cê sabe de quem tô falando. 

Grandes e únicos amigos que perdi. Pessoas incríveis que conheci, perdi também.

- Saquei. 

Bom, acho q não tenho resposta pra isso, até porquê ainda to tentando lidar com os que se foram também. Uma pessoa me disse que quando alguém se vai, abre espaço pra outra chegar, e penso que seja bem verdade, mas ainda não consegui entender direito o que isso quer dizer. Não sei ao certo, a cada dia entendo menos e olha que eu tenho entendido umas coisas bem complicadas, mas isso não!

- Pois é, Parece fácil, mas não é. 

Nossa e é tão difícil tu pensa assim: poxa, eu tinha tudo, e de repente.... puff! Eu fico procurando milhões de erros que explique o porquê tudo se foi. Sinto que isso alivia a dor de saber que perdi por conta de.... não sei. E acabo colocando tudo em cima de mim. Me culpando...

- Será q tem mesmo um culpado? Pois me parece que tudo isso tá tão acima da capacidade de cada um que não poderia ser culpa de alguém

-Eu realmente não sei .
Eu me culpo. Me culpo por não ter valorizado, não ter regado

- Tudo bem, mas ainda que seja culpa de alguém, não mudaria o quê já se passou, mas acredito q valorizar agora, regar agora, possa dar resultado. Ainda que se diga "não restou nada para valorizar" algo tem de aparecer, senão não haveria razão de ainda estar aqui!
  
- A lembrança daquilo que foi.

De lembranças fantásticas.

E querendo ou não, um dia as coisas mudam, pessoas mudam. Até sem perceber nós mesmos mudamos

- As coisas estão mudando o tempo todo, por isso acho que não seja culpa de um ou outro, não temos controle sobre nada, e isso nos desespera, sequer podemos controlar uma folha que cai da árvore, quanto mais nossa vida.

- Isso me lembrou um episódio do Kung Fu panda, quando o mestre Shifu tá conversando com o mestre Oogway em baixo do pé de pêssego.

- A sabedoria chinesa é prodigiosa; Acho que daquela lição podemos aprender que as mudanças vão sempre acontecer, mas cabe a nós viver com elas, e isso pode ser viver com culpa e dúvida, ou ainda tentar sempre seguir em frente, não sei ao certo, mas me incomoda imaginar que estou parado


- Saber que um dia aquilo tudo aparece e acontece de uma forma que nem vemos, da mesma forma que aconteceu antes...

- Deixa a gente tonto né? Com a constatação de não conseguir deter ou sequer compreender.

- Tonto demais.

- Ja te contei a história do dilema do ouriço né? Que para sobreviver ao frio, o ouriço precisa aprender a suportar a dor que os espinhos de outro ouriço causa nele, e ter noção de que ele também causa dor no outro; eu passei a me preocupar mais com o que digo e faço desde que entendi isso, e hoje geralmente fico calado e deixo passar muita coisa por isso, pois são só espinhos

- Nunca me disse isso. Mas é uma ótima sabedoria.

- Ser indivíduo é causar e sentir dor, não acho que tenha como fugir disso

- É ganhar e dar "não"!

- Acho que é bem por aí mesmo, já notou que o "não" é o limite de uma consciência? É  o que separa a sua vontade da vontade do outro,  é o que causa dor.

- É não aceitar o momento, o querer, o pensamento do outro. E até mesmo não se permitir mudar.

- Isso.

- Eu acho a consciência uma grande droga, não sei quem foi que disse que "o inferno são os outros"!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Folhas

"Perdoa-me, folha seca, não posso cuidar de ti. 
Vim para amar neste mundo e até do amor me perdi." 
(Cecília Meireles)

Um gesto singelo, um toque de mãos, mas com um significado tão profundo pra mim. Era noite, e a brisa fria acariciava meu rosto, mas meu coração não me permitia que me concentrasse em mais nada que não fosse o filho do sol ao meu lado. 

Aquele jovem de corpo quente, moreno do sol, estendeu a mão delicadamente sobre a minha, e depositou sobre ela as pequenas folhas de uma plantinha que ao redor de nós crescia. 

Foi como se, naquelas folhas, me entregasse seu coração, e fizesse uma declaração velada de seu carinho. Foi como se, derramando em minhas mãos aquelas folhinhas verdes, declarasse digna a esperança que havia em meu coração.

No dia seguinte, quando olhei aquelas folhas sob a luz do amanhecer, o sol as pintou com um verde tão vivo, tão lindo, que me emocionei novamente, e com lágrimas aos olhos as guardei comigo. Foi como se, naquele momento, ele com seu gesto tivesse iluminado meu coração, e me tingido com os belos tons do astro rei.

Agora, semanas depois, eu olho para essas folhas secas, e me vejo em cada uma delas. Foram símbolo da vida e da esperança, mas não brilham com a mesma força de antes. Agora se encontram ressequidas, longe da árvore que lhe concedia a vida.  Me entrego as lágrimas ao ver essas folhas secas, e com isso notar o quanto se tornou seco o meu coração, outrora verde como uma esmeralda iluminada pelo sol.

Também me sinto sem vida, ressequido, sem o brilho que tinha ao estar ao lado daquele filho do sol... 

Também olhando aquelas folhas eu sinto as lágrimas virem ao meu rosto. Como pode um gesto tão bobo, significar tanto para mim? 

Foi como se, naquelas folhas, me entregasse seu coração, e fizesse uma declaração velada de seu carinho. Foi como se, derramando em minhas mãos aquelas folhinhas verdes, declarasse digna a esperança que havia em meu coração.

Mas não era nada disso. As folhas não eram símbolo de esperança ou carinho, nem tampouco existiam para encorajar essa mesma esperança que brotava em meu coração. As folhas eram apenas folhas que, como eu, foram arrancadas e ressequidas. 

domingo, 14 de janeiro de 2018

Bonitim

Ei, garoto!
Já disseram que é muito bonitim? 

Muito bonitim, seu olhar perdido assim... 
Muito bonitim, seu jeito tímido, silencioso e discreto assim. 
Muito bonitinha, sua pele clara, seu cabelo loiro, seus olhos castanhos...
Muito bonitim, seu porte esguio assim

Ei, garoto!
Já disseram que é muito bonitim? 

Mas não adianta dizer, o quanto é bonitim
Ou o quanto te admiro a distância
Sem que notes minha presença ou meu olhar saliente

Sem que notes que estou a fitar o seu
Sem que notes que na escuridão eu observo o seu caminhar
Sem que saibas que sonho com seu sonhar

Que sonho em ocupar daquela o lugar

Ei, garoto!
Já disseram que é muito bonitim? 

sábado, 13 de janeiro de 2018

Um bom entendedor

Eu nunca entendi o silêncio. 

Nunca consegui compreender o que ele poderia tentar me dizer. 

Mesmo que tentasse, nunca teve uma mensagem clara para mim. E quanto mais não entendia o silêncio, mais me incomodava com o silêncio dos outros. 

Sempre me disseram que o silêncio é uma mensagem tão clara quanto o grito. Mas nunca consegui ouvir, embora as vezes no silêncio eu tenha dito minhas próprias mensagens. Mas pelo que aprendi da linguagem, dificilmente entendemos o que o outro quis dizer, ainda que o digamos com as palavras mais claras. Logo, quem me garante que o silêncio do outro tem o mesmo significado que o meu silêncio?

Não nego, porém, que o silêncio possua sua dose de uma pedagogia fria, displicente. O silêncio pode dizer muito, mas eu não sei compreendê-lo, e sinto muito por isso. 

O silêncio pode querer dizer adeus

Pode ser indiferença

Pode ser rancor, mágoa ou dor

Pode ser um pedido de desculpas

Ou uma velada confusão

Pode ser um pedido de atenção

Pode ser tudo isso

Ou nada disso

A única coisa certa é que o silêncio quer dizer alguma coisa, mas eu não sei bem o que é... Por isso o silêncio continua me incomodando. E penso que ele continua gritando em meus ouvidos, mas ainda assim eu não consigo entendê-lo. 

Queria conseguir entender. Mas percebo que não entendo nem mesmo o que me dizem, quanto mais o que não me dizem. 

Não sou bom entendedor. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Dicotomias

Dominação da incerteza. Certeza da indefesa. 

As possibilidades se cruzam e as consequências se anunciam de tal forma que o medo fica impregnado na alma, pesam. 

Surpresa doce. Sorriso alegre.

Um riso de criança preencheu o ar com sua delicada inocência. Como as pétalas de rosa a rodopiarem numa brisa leve o espaço se preencheu do perfume da pureza.

Saudade amarga. Saudade opressora. 

A lembrança motivada pela luz cor de bronze trouxe a superfície os fantasmas do passado que outrora foram afogados nos abismos da existência. 


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Locus

Me entristece ver o quanto os homens podem ser hipócritas consigo mesmo. Como podem em voz alta fazer um discurso fervoroso e no instante seguinte age contra todas e cada uma das palavras proferidas. Por isso o discurso do homem é vazio de significado real, mas apenas cheio de interesses e falsas convicções.

Aquele que pede gentileza é o primeiro a ser tão cruel a ponto de pedir a morte daquele que o ama. Os ditames de gentileza nada mais são do que uma máscara que um ator usa para pedir os seus aplausos, que serão capazes de preencher o locus emocional de sua infância carente de atenção e aprovação. Lamentável. 

Mais triste ainda é ver o quanto a mesma pessoa tanto necessitava de um abraço e, tempos depois, foi capaz de estender o punho em riste para o mesmo que lhe ofereceu a mão. Por isso o sábios, desiludidos, dizem ser a vida injusta. 

Dá-se a mão e recebe-se um punho cerrado, uma facada nas costas, uma palavra envenenada, um olhar de desprezo. Talvez a constatação de que a vida é um ciclo ininterrupto de injustiças seja cruel e dura. Mas, sendo a mesma vida de fato cruel e dura essa percepção talvez seja a que mais se aproxime da verdade... Será verdade?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Confluência de ódio

Não estou certo quanto a escrever o que nos últimos quatro dia se passou pela minha cabeça, mas tenho certeza quanto a necessidade de entender o que se passou, bem como a urgência em esquecer, não só esses mesmos pensamentos mas também as experiências que a eles me conduziram...

Esses dias foram de intensa ebulição afetiva. Me vi mais uma vez sendo conduzido a uma confluência indescritível de ódio na noite de sábado, motivada pela grosseria e falta de consideração daqueles que me cercam.

Naquela noite foi como se fosse atirado de cima de um prédio ao mais imundo dos lamaçais, tudo porque minha utilidade fora reduzida a mais completa inutilidade, e a epifania dessa incompetência se mostrou um golpe poderoso a minha moral. Lágrimas não puderam ser contidas e nem mesmo os torpes pensamentos de fuga.

Naquela noite eu quis sumir, me desfazer em meio as gotas da chuva que batiam na janela do carro. Ser lançado ao vento como as folhas que voavam e rodopiavam sem rumo ou ainda me misturar a lama que barulhava ao ser pisoteada pelas pessoas apressadas que iam para suas casas se esconder do tempo frio... Queria sumir e, pela primeira vez, sumir de uma forma anônima, não heroica, e simplesmente deixar de existir, na imensidão povoada da criação.

O domingo não foi melhor mas, embora não tenha conseguido ser pior no tocante ao meu rancor pela noite passada, conseguiu superar no quesito decepção, me levando ao primeiro fundo do poço de 2018.

Desde o fim do ano passado eu alimentava um sentimento absolutamente fatal, e tinha consciência disso, o que em nenhum momento se provou eficaz em me impedir de alimentá-lo. Em consequência eu nutri uma afeição descabida, injustificável e, pra não dizer absurda, descomedida que não poderia acabar de outra maneira que não fosse a completa decepção. Nítida e unicamente motivada pela minha ignorância em evitar pisar no terreno minado que, sabia eu, estava a minha frente.

Terreno minado que confundi com os jardins do amor. Confundi os agrestes escarpados com os outeiros por onde o meu Amado teria passado para me encontrar. Acreditei que ele subia a secreta escada, pela escuridão segura disfarçado, para me encontrar, e que a meia-noite em meu colo ele iria se deitar. Mas estava sozinho na escuridão, deitado no chão e delirando, com o mundo que criara para ser feliz.

Que infelicidade!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Dito no interior

A incerteza é a uma das poucas certezas da vida, com o perdão da expressão infeliz, e por certo também uma das poucas coisas previsíveis em minha singular existência. 

As mudanças de humor, rápidas e surpreendentes, são estranhas até a mim. Isso é um sinal claro, de que já não sou mais o mesmo. O jovem paciente e compreensível até as últimas consequências com todas as irreverências do próximo aos poucos despede-se de meu novo eu.

Já não aceito calado a tudo o que me dizem, e tenho achado certa facilidade em ignorar as palavras dos outros e apenas continuar fazendo o que acredito ser o certo. 

Também o meu mundo de sonhos se mostra transformado. Não deixei de sonhar, mas apenas tenho conseguido acordar com mais facilidade. Me desprendo mais rapidamente do que antes, quando me sufocava de tal maneira que apenas conseguia acordar quando já beirava a loucura completa. 

Não tem sido mais assim. Não quero mais me prender a ninguém, e embora continue a sonhar, e a me perder entre um idílio e outro, não mais permito ser assassinado por meu próprio coração uma vez mais... 

Mas, a quem tento enganar? É possível a um homem enganar a si mesmo? 

No exato momento em que escrevo essas palavras a minha mente flutua para um lugar distante, uma dimensão, minha dimensão, onde uma figura dourada brilha no centro do meu mundo. 

Não deveria, mas brilha, e não deveria, mas impera sobre mim. E aos poucos reorienta minha bússola interior, fazendo com que tudo em mim, espírito, alma e corpo, sejam orientados aquela figura imponente que, no meio das águas. 

Talvez o que eu deveria dizer seja que espero não me prender com a mesma facilidade de antes. É mais uma afirmação que faço a mim mesmo, na esperança de que se imprima em meu interior, do que uma verdade expressa no exterior...

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Estranhezas

Hoje foi um dia nebuloso. Não sei dizer ao certo qual o problema, mas sei que algo não está certo, e não conseguir precisar o quê, exatamente, me deixa apreensivo. 

Me sinto sozinho. Mas isso pode ser efeito do meu afastamento gradual de meus amigos mais chegados. E não tenho buscado proximidade com nenhum novo também. Logo tenho ficado mais tempo sozinho e a sensação de abandono é inevitável, afinal poucos foram os que sentiram minha falta. Vida que segue, afinal esse era exatamente o objetivo, me livrar de todo peso morto, ainda que doa... Mas isso é apenas um palpite, um tiro no escuro, e também pode ser apenas sono.

Me senti estranho agora a noite. E o fato de precisar usar a palavra estranho também me incomoda, pois não consigo precisar o que exatamente sentia. Isso me frustra. Minha incapacidade gramatical me frustra. Assim como minha carência afetiva.

Tenho estado inquieto, e ao mesmo tempo mais pensativo que o comum. Minha concentração aumentou, e tenho conseguido um desenvolvimento melhor nos meus estudos pessoais, como consequência tenho tido menos tempo pra trabalhar a minha habilidade social. 

Sendo sincero tenho começado a crer que isso é algo desnecessário, e muito trabalhoso pra algo desnecessário. Logo talvez seja melhor direcionar minha energia, ainda parca, para o que realmente considero importante. Tenho estudado coisas interessantes demais para me preocupar com banalidades de convívio social e afetivo, empurrando uma pedra que não serei capaz de mover nem em décadas de tentativas. 

Uma prova disso foi a sensação de desgosto que hoje experimentei, ao ficar perto de duas pessoas que... bem, despertam em mim sensações fortes, e foi extremamente desagradável notar o quão distante eu sou de ambos.

Isso me fez recordar ainda outras pessoas, que se mostraram distantes com o tempo, embora eu acreditasse que estavam próximas. Não passava de ilusão... 

Talvez seja esse o motivo da minha desolação, a percepção de que vivi muito tempo absorto, perdido numa realidade ilusória... É, é uma constatação triste, e me corta como aço frio, deixando meu corpo dormente e desejoso de paz, uma paz que ainda preciso construir...

Mudança!?

É divertido notar as ilusões que as pessoas nos cercam vivem. 

Ver o quanto se deixam enganar pelos próprio desejos é como receber a certeza de que não somos os únicos a cair nas armadilha do destino. Não somos os únicos a, recebendo uma visão de ternura dos homens, que se colocam num mundo de sonhos onde nada, nem ninguém, a não ser a mais completa e brutal decepção, pode nos tirar de lá.

Mas agora tenho a constatação visual, empírica, de que é assim mesmo, com muitos, e muitos inclusive vivem em mundos ainda piores que o meu.

Ainda que me acusem de viver num mundo isolado, cor de rosa, que frequentemente desmorona e é destruído, apenas para mais uma vez erguer-se das cinzas, com seus prédios imponentemente representando o edifício ilusório ao qual eu estou preso. 

É interessante notar, ainda num momento de breve sobriedade afetiva, que a ilusão não parte do outro como uma vontade deste. Francamente penso que nunca, ou quase nunca, tenha sido enganado por alguém que queria me enganar, mas antes disso, eu mesmo fiz com que fosse enganado.

A melhor forma de descrever o que se passa aqui é a alegoria do Painel do Parque, onde, pintamos um painel com todas as expectativas que temos para uma pessoa. E quando algum pobre desatento se aproxima de nós, colocamos seu rosto arbitrariamente no buraco do painel, transformando assim a pessoa no objeto dessas mesmas expectativas. 

O único resultado possível não poderia ser outro que não a completa desilusão. Mas nota-se que em nenhum momento o outro teve a intenção de nos machucar, antes disso, sequer teve a intenção de se aproximar de verdade.

A decepção é sempre culpa do decepcionado. Isso já o disse muitas vezes, mas é bom que eu repita isso a mim mesmo, pois talvez se começar a não me esquecer disso, quem sabe possa viver com um pouco mais de tranquilidade, sem o constante peso da dor de esperar do outro o que é impossível que ele me dê. 

Ainda estou contagiado pela noção comum de "ano novo, vida nova" e muito embora eu tenha ciência de que o ano civil é uma divisão arbitrária do tempo, sem nenhum implicação real nas decisões de um possível destino sobre nós, eu ainda me deixo levar pela crença de que se inicia um tempo de mudança.

Tenho também a compreensão de que a mudança só acontece se partir de uma decisão interior, e que portanto independe do ano civil, mas ficando completamente a mercê da minha capacidade separar o real das minhas expectativas doentias. 

Claro que isso poderia redundar no famoso adágio que afirma que as mudanças vem de dentro, o que não deixa de ser verdade, mas antes disso, pretendo apenas reafirmar que muito provavelmente as mudanças acontecerão, mas não da forma como esperam, em que um nova pessoa surgirá. Isso pode até acontecer, mas certamente não será a cabo de um ano que isso poderá ser visto. Logo, talvez a melhor forma de viver o novo ano seja a busca pela decadência das expectativas, viver esperando o mínimo possível da vida e, se tratando das pessoas, o pior dos homens.  

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Clamor da Alma pelo Amado

Na noite escura eu busco a quem minha alma ama...

Na noite escura eu sonho e relembro aquele que minha alma ama. Na noite escura sua imagem se torna tão nítida em minha mente e em meu coração que chego a pensar ser capaz de tocá-lo. 

Na noite escura eu busco a quem minha alma ama...

E no dia claro que o sucede eu me ponho ao seu lado, e percebo que já não sou mais capaz de tocá-lo. Isso porque, mesmo a lua reinando à noite e o sol imperando durante o dia, não podemos tocar os astros que estão no céu. 

O amor, fonte lacrada, é como a morte. 

Tão distante de nós que se parece inalcançável, exceto pela doação total que resulta no término da existência terrestre. O amor é a mais acessível das criaturas, mas ao mesmo tempo a mais desconhecida delas. Ele se esconde de nós ou nós que somos incapazes de percebê-lo?

Eu dormia, mas meu coração velava, e ouvi o meu Amado que batia...

Mas quando acordei, pondo-me de pé para abrir ao meu Amado, percebi que ele não estava ali. Não fora embora. Nunca estivera ali, senão em minha mente a sonhar. 

 Então na noite escura eu busco a quem minha alma clama...

Onde nos meus sonhos, de pétalas de rosa cobriu minha cabeça, e fez em meu coração sua morada, onde espero que um dia pela minha alma toda bela um dia ele também clame... Onde nos meus sonhos, meu bem amado, passou pelos outeiros, e correndo em minha direção abre os braços e o sorriso, para, por entre as açucenas olvidado ao meu lado, com os cedros a soprar por sobre nossas cabeças. Ali o meu Amado eu contemplo, a mais bela das paisagens... 

O corpo cor de bronze, os olhos cor de chuva e os cabelos cor de sol. 

Mas não passa de um sonho, e eu clamo:

 Oh que me avises Amado de minh'alma onde apascentas onde repousas! 

Até que ele queira o amor, o meu amor, suplico então que deixem-me dormir, a sonhar como é belo meu Amado, deitado em nosso leito de relva, com sua mão sobre minha cabeça. A sonhar com os beijos de sua boca, a suave fragrância de seu perfume. A sonhar com o mundo onde meu Amado é para mim e eu sou para meu Amado. A sonhar com o doce sabor do seu suor, como vinho doce derramado em meu corpo como as águas de um rio se derramam sobre as pedras... A sonhar com aqueles campos floridos, onde eu sou para o meu Amado e meu Amado é para mim...

Onde meu Amado é para mim e eu sou para o meu Amado...