sábado, 4 de janeiro de 2025

Ser ou Estar

"Não sei dizer o que há em ti que fecha e abre; só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas." (E. E. Cummings)

Num dia tão quente, poder sentir a brisa fresca do mar no meu rosto foi um alívio. O suor descia em linhas finas pelas minhas bochechas e pescoço. Foi diferente, tanto pelos vários meses que não voltava lá, quanto pela companhia. Me sentia inseguro com minha aparência, além de gordo, perguntava se estava afeminado demais por usar shorts e um quimono florido. Ele, como um homem simples. Não fui com nenhum interesse, e como venho dizendo há tempos, espero não ter mais esse tipo de interesse mais. Então tratei de sufocar toda e qualquer faísca que surgia na minha cabeça.

Mas, ainda assim, poder contemplar o mar cinza-escuro, as nuvens de chuva se formando e escondendo o sol que, timidamente, brilhava no fim de tarde, foi bom. Sentia falta desse espetáculo significando o infinito. Fechei os olhos, respirei fundo sentindo o cheiro da vida preencher meus pulmões. Ouvi a conversa apressada dos turistas de outros países e sorri, sorri simplesmente porque, embora infeliz e sem esperança, estava ali.

Ao mesmo tempo não estava. A mente divagava, longe, nem sei dizer em que paragem se perdia. Estava consciente da companhia ao meu lado, estava consciente do calor que fazia embaixo da batina no calor do início de janeiro na missa da manhã, estava consciente dos pássaros que passavam rápido e da movimentação num dos pontos turísticos da cidade. Mas, ao mesmo tempo estava distante, perdido em mil galáxias, em dezenas de histórias, mundos tão distintos que nem conseguiria descrever.

E isso mostra um pouco do quanto eu gostaria de não estar aqui. 

Queria poder romper a relação entre ato e potência no meu ser, e deixar de ser, retornar ao nada, desfazer o ato e deixar a potência no não-ser. 

Hoje foi mais um dia que dormi a maior parte do tempo. E não há nada que eu queira fazer. Retomei um curso de um assunto que me interessa, mas não foi o bastante pra ficar acordado o dia todo. A quantidade de remédios que tomei nos últimos dias é um absurdo, e isso vai ter um impacto terrível, como posso prever. Mas, que mais posso fazer? Ou melhor, o que mais há para se fazer nessa vida miserável? Já não vejo graça no beber, ou em procurar alguém nos aplicativos de encontro e pegação. Já não vejo graça em tentar fazer amigos... Já não vejo graça em nada. 

E, antes que percebesse, os dias passaram, 

vazios...

e eu nem gostaria de estar aqui.

"Eu estava morrendo e ninguém se importava, nem mesmo eu" (Charles Bukowski)

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