Em alguns dias, como hoje, sinto um gosto amargo na boca, um presságio do amanhã, incômodo e barulhento, corrido e mentiroso, repleto de ganância e de malícia... Olho as pessoas ao meu redor cansadas, exaustas, na verdade, assumindo mil compromissos pra chegar até o fim do mês. Vejo que mesmo com planejamento o armário sempre fica vazio nessa época do mês, vejo os olhos envelhecidos, a pele maltratada pelo tempo. E é por isso, pela enésima vez, que eu prefiro simplesmente dormir e apagar.
É minha forma de desistir. Porque eu já vi que não há recompensa, não há nada que valha a pena o esforço de viver. No fim somos só pessoas esgotadas e pessoas que deram a sorte de ter uma vida com mais dinheiro, mas não menos vazia. Somos parte de uma existência desgraçada. É o meu manifesto silencioso contra o ser, é quando me torno a fera que gritou "Eu" no coração do mundo, um eu que já que não quer ser.
De que adiantarian os esforços? Não vamos ganhar dinheiro assim. Mas como eles conseguiram?
De que adiantariam os esforços? Não vamos ter peles perfeitas, lábios desenhados, sorrisos fofos. O mundo já definiu quem serão os seus belos favoritos. E não seremos nós.
Nós ficaremos aqui, deixados e esquecidos, num quarto e sala mofado, abafado, deitados num sofá velho, sem vinho barato e sem vontade de levantar, o maldito sol entra pela janela queimando nosso rosto, viramos de costas, mais um dia infernal numa semana infernal, numa vida infernal e sem sentido.
"Como vão vocês? Estão na carência ou na fartura?" (Clarice Lispector)
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