terça-feira, 1 de abril de 2025

Debaixo das Arvores

Claro, se ele havia tomado a iniciativa na semana passada, eu precisava fazer a mesma. Para além de um mero cumprimento, eu tentei conversar, e conversamos, à sombra das árvores, enquanto o sol brilhava forte. Ele me disse seu nome com muito orgulho, e me surpreendi ao ser o mesmo que o meu. Sorri, é claro, enquanto conversávamos e nem vi o tempo passar. Quando menos esperava já era hora de irmos, cada um para um lado diferente.   

Depois de algumas horas, quando deveríamos nos ver apenas brevemente, ele sorriu de novo, e eu uma vez mais eu prestei atenção naquilo que primeiramente tinha me atraído semanas antes: o seu cabelo castanho e liso dele, o rosto angular, másculo, mas ainda com traços juvenis, ao deixar algo cair no chão quando me viu, pegar rápido e sair correndo enquanto acenava.

Entre a primeira e a segunda vez muitos pensamentos passaram por mim, rapidamente. Como a forma que eu buscava saber a idade dele, confuso pela quantidade de barba, mas também pela compleição do corpo, grande, porém delicado. 

Pensei em falar sobre isso com alguém, contar animado que tivemos nossa primeira conversa. Mas estou desanimado. Primeiramente porque acho que ninguém deve se interessar, e nem sei se eu mesmo me interesso. Já disse que não tenho coragem de me apaixonar novamente, sabendo que vai errado mais uma vez. Porque tudo sempre dá errado. Porque tenho vontade de conseguir erguer um muro ao meu redor, tão alto e impenetrável que ficaria imune a esses encantamentos, essas coisas que me fazem sorrir, sonhar, escrever sobre elas de madrugada, mas que depois se vão, e eu continuo aqui.

Depois, o segundo motivo, é porque não tenho vontade. Há dois dias não saio da cama, já não aguento as dores no corpo por conta desse episódio depressivo forte. Não há vontade de nada. Simplesmente não há. Durante esses dias me torno apenas esse corpo inerte. Até quando as dores aparecem é um sinal de que estou começando a despertar...

E aí, de repente, um pouco de ânimo ressurge. Eu consigo levantar, tomar um banho numa tarde ainda quente nesses primeiros dias de outono e esperar, esperar anoitecer para, no silêncio tranquilo, tomar um energético (pois a energia natural é insuficiente) para assistir por algumas horas e, com isso, me transportar para outro lugar. 

Um lugar onde nem sempre todos são felizes, é verdade, isso seria muita ingenuidade de minha parte. Mas lá eles usam sobretudo e cachecol, e parecem elegantes enquanto andam carregando pastas sabe-se lá com quais documentos dentro. Eles não parecem ter tomado nojo de algumas pessoas e não sentem dores no estômago ao irem lá, ou simplesmente ao lembrarem que deveriam ir lá todos os dias. 

E então começo a me reencontrar nesse silêncio e nessa solidão da noite. O dia me incomoda, as pessoas estão barulhentas, tudo parece caótico e o sol brilha como se quisesse nos obrigar a sorrir quando eu só quero me esconder. Por isso prefiro os dias nublados, por isso descobri recentemente nas noites esse prazer simples. Sabendo bem que, na verdade, é algo que me afasta ainda mais do outro.

No entanto, depois de tanto sofrer, começo a achar que isso não é algo ruim assim. Talvez venha mesmo tomando uma atitude estoica diante do outro, enquanto cristalizo o pessimismo no coração, já que ambos levam, ao cabo, ao niilismo.

"Eis aqui um que não fará grande carreira no mundo. As emoções o dominam." (Machado de Assis)

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