quinta-feira, 12 de junho de 2025

Carcaça

Fecho os olhos em busca de uma resposta, mas só consigo ouvir alguns ruídos vindos lá de fora e minha respiração pesada, ofegante. Hoje é o dia cor de rosa, e muitos estão felizes, e esse ano eu não tenho aquela postura movida pela inveja puramente humana de achar esse dia um grande saco, não. 

Tomado eu, pois, de singular descrença no amor, apenas observo ao meu redor que fui privado dessa faculdade humana. Assim como não sei pilotar aviões ou consertar rádios analógicos. Tampouco é uma atitude condescendente e conformista, mas talvez seja tanto estoica quanto niilista ao ver que, bem, as coisas são assim, e não há como mudar. 

Não preciso aceitar passivamente, mas também não há revolta da carne ou do espírito, que possa, em exortação, me fazer traçar o caminho do meio, como que regando jardins de pedra, sem parar a caminhada rumo a sei lá o quê. 

O que eu sei é que agora estou a vagar, como um fantasma, natureza morta. Caminho entre túmulos que andam ao meu lado, mas não creio que estejam vivos, e há muito deixei de sequer tentar sobreviver. Mas, no entanto, nas noites frias, eu ainda espero, como aquela última fagulha de uma grande fogueira que se apagou, mas continua lutando para novamente se levantar em grandes labaredas, abrigo nos corações. 

Mas ninguém vê tamanha desgraça. 

Caminhando sozinho entre multidões, de tolos, enamorados, ambiciosos. 
Pensar nesses últimos me faz subir uma ânsia análoga à ânsia de um cardíaco.

Ninguém sequer nota essa de carne podre e cheia de ossos, carcaça. 

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