quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Adagio para um coração fatigado

Sketch for Music (The Violinist), 1904, Thomas Eakins

Último Movimento: “Desaparecendo nas cordas de um violino solitário”

Um cheiro doce de Camomila, Endro e Anis-Estrelado se mistura com a fragrância do óleo essencial de Cânfora Branca que um difusor dispersa pelo meu quarto em uma leve fumaça tremeluzente de várias cores. Ao meu lado, uma pequena luminária em forma de Mapa Mundi também preenche o ambiente com uma luz amarela. Tudo isso para criar um ambiente confortável, num dia de tremendo desconforto.

Acabei deixando uma situação mexer comigo mais do que deveria. Permiti que meus sentimentos crescessem de novo, mas não como antes. Agora foi um sentimento, admito, impuro, de querer possuir, de querer simplesmente ter porque sim. Só percebi, no entanto, quando comecei a sentir os ciúmes também crescendo, como ervas daninhas num jardim já tomado por pragas dos mais diversos tipos. 

Eu disse que não queria gostar de mais ninguém, e nesse breve ínterim acabei me tornando afetivamente dependente de novo. Parece que eu sou absoluta e irrevogavelmente incapaz de uma amizade saudável. E de novo era uma situação que eu deveria ter previsto. Quando então veio a resposta, das diversas formas, para mim e para outrem, eu percebi, com um choque estúpido, a verdade: eu nunca poderei me comparar a uma mulher ou a um homem bonito. As coisas são assim.

Não se trata de necessidade de uma desconstrução do meu conceito de beleza ou algo do tipo, mas da constatação de uma realidade premente. É assim que as coisas são.

Maltrate um cão repetidas vezes e ele se tornará violento ou arredio, e o animal não mais saberá quando alguém se aproxima para lhe fazer um carinho na cabeça. A dor o ensinou apenas o medo e a raiva. Minhas experiências me ensinaram apenas a dor da decepção, uma amiga ingrata. 

Não seria exagero dizer que, mesmo com a atmosfera acolhedora, com a música que toca baixinho aquecendo essa noite amena de inverno, que eu não gostaria de acordar amanhã. Simplesmente queria poder morrer hoje assim, dormindo, enquanto deixo meus sentidos relaxarem até afundar completamente num abissal e melancólico fim. É como o último movimento da Sinfonia n° 6 de Tchaikovsky, sumindo, desaparecendo lentamente nas cordas de um triste violino e um solitário clarinete. 

Amanhã será mais do mesmo. É inútil acordar. Assim como todas as tentativas foram inúteis. Queria apenas poder dormir para sempre. 

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