sábado, 16 de agosto de 2025

Quando a vida pede uma última pausa

Cheguei ao fim de mais uma semana. Mas há algo a comemorar? O que pode haver de bom nisso? A semana que vem será outra sucessão de golpes duros e feridas abertas, amores não correspondidos e encheção de saco. Estou cansado, à beira de um colapso. Não acho que uma breve consulta com a psicóloga resolva. Não acho que as técnicas aprendidas no grupo de terapia serão eficazes, elas apenas adiam o inevitável. Esse é um dos muitos finais possíveis, mas parece ser o que está traçado para mim, consoante as escolhas que fiz: de desistir, de amar, de buscar, e até mesmo de querer, porque tudo que pedimos à vida ela não apenas nega, como destrói todo e qualquer sonho, reduzindo as ilusões a pó. E quando nos iludimos com falsidades ou medo, nos odiamos no final. E é aqui que me encontro, no ponto exato em que me odeio.

Sinto um gosto ruim na boca, mais um dia que me entupi de remédio. Mais um dia sozinho dormindo. Sem força alguma. Como um homem pode ser tão fraco? Deveria ajudar meus colegas a cantar a Missa amanhã, mas meu corpo rejeita qualquer ideia de se mexer ou se esforçar, ou encontrar o outro.

Não quero ver ninguém, e não quero compaixão. Não creio mais no amor. Meus lençóis fedem como o meu corpo. Morri e fiz poesia com as coisas que me mataram. A imagem de cada um dos homens que amei estampam as lápides de um vasto cemitério onde, em cada cova, coberta de cal, se encontra meu próprio cadáver, rejeitado até mesmo pelos vermes das ruínas.

Penso que neste momento
talvez ninguém no universo pense em mim,
que só eu me penso,
e se agora morresse,
ninguém, nem eu, me pensaria.

E aqui começa o abismo, 
como quando adormeço.
Sou o meu próprio apoio e dele prescindo.
Contribui para decorar tudo de ausência.

Talvez seja por isto
que pensar num homem
se parece com salvá-lo.

(César Augusto)

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