sexta-feira, 11 de abril de 2025

Coisas que morreram

Sou uma pessoa morta tentando viver.
Sou como
o reflexo de uma estrela sem brilho.

Pedro Miranda

Não sei se eu deveria me aproximar dele, ainda não sei sua idade e não trocamos mais do que uma dúzia de palavras e, acima de tudo, não sei se posso me apaixonar de novo, se tenho essa capacidade e se seria prudente. Para ser sincero, eu penso que posso enlouquecer pra valer a qualquer momento. Como não vejo melhora no meu quadro de Transtorno Bipolar e cada vez mais se confirma o Transtorno Borderline...

Sim, eu fiquei incomodado depois de ter me esforçado tanto nesse projeto e ser interpelado desse jeito, de um modo tão bobo que parece que eu não sei o que estou fazendo quando tudo foi cuidadosamente planejado. Não gosto como as pessoas descontam em mim sua ignorância, como se nunca tivesse lido um livro na vida, sem conseguir interpretar as nuances de significado de uma única palavra. Não gosto como querem distorcer tudo e fazer parecer o mais protestantizado ou tosco possível. 

Me incomodo quando as pessoas tentam eliminar todo vestígio de tradição. Hoje não vivemos uma Igreja em saída que se adapta aos tempos e as novas linguagens, vivemos uma igreja sequestrada por uma liturgia teatral, vazia, repleta de lágrimas e emoções, mas carente da presença do Senhor. Não percebem, por exemplo, a simplicidade de uma oração feita de verdade. Quando rezamos, de frente ao Santíssimo, "Serás profeta do altíssimo, ó Menino, pois irás andando à frente do Senhor para aplainar e preparar os seus caminhos" e erguemos o olhar e vemos o Altíssimo diante de nós, na hóstia consagrada, cumprida a profecia. 

Lamentos, meus lamentos... 

Não posso dizer que me uno aos sofrimentos que se aproximam do Cristo na Semana Santa, meus pecados me afastam demais disso, mas, de algum modo, eles me fazem também padecer pela distância, minha paixão é fruto desse pecado, não a Felix Culpa de Adão, mas a baixeza da minha vontade que me fazem sofrer. Não posso pedir a Deus que afaste de mim esse cálice quando eu mesmo busquei beber o veneno e comer o fruto fatal. Que o Criador tenha pena e me permita olhar aquele lenho que pode me curar desse mal...

Um jovem sorridente, apaixonado por doces, que anda sempre colorido em tons pasteis. Num momento de vulnerabilidade ele vira para aquele que quer caminhar ao seu lado e diz que não merece, que não merece namorar ninguém, e que alguém como ele, devia buscar alguém que fosse capaz de cuidar e fazê-lo feliz. Palavras cruéis para dizer a si mesmo. Mas ele as disse e, antes disso, as tem internalizadas consigo, como uma tatuagem ou cicatriz. Ele carrega isso consigo há muito tempo. Ele vem se deprimindo assim há muito tempo. Uma grande injustiça, pois qualquer um que o veja sabe o quanto ele é esforçado e merece, sim, o melhor amor. Um amor louco, talvez, mas que o ame de verdade e que e que cuide dele.

Embora na história seja uma injustiça, na vida real, existem pessoas que não foram feitas para o amor. Elas até cuidam dos outros, elas são esforçadas, mas elas não conseguem se conectar. Essas, independente do sorriso e do carinho que tragam consigo, estão destinadas à solidão. E essas pessoas, embora caminhem por aí, sorriem e até escrevam, não estão realmente vivas. 

Lamentos, meus lamentos...

Fenece toda a beleza,
Sião, tão desfigurada,
Seus chefes são cães sem dono,
Parecem rês enxotada,
Caminham cambaleantes,
Tocados qual vil manada.

Lamentos de Jeremias

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