domingo, 13 de abril de 2025

Desejos e Virtudes

Não quero estar no meio da multidão, quero o silêncio, quero sentir a brisa fresca do outono, não quero sentir todo o pânico de ali no meio de todos. Nem a pressão de fazer tudo certo. Não quero. Quero a tranquilidade da noite, me fundir com ela e, ao amanhecer, desaparecer junto aos pontinhos de luz das estrelas, e me tornar distante, inalcançável, apenas as reminiscências de algo que há muito já morreu.

Como eu pensei que aconteceria, mas não com tanta força: tudo se esvaiu. Tenho mais uma missa para cantar e não tenho forças nem para sair da cama. E entenda: o problema não é a missa, nem uma ou outra pessoa desagradável, não, o problema sou eu. Eu só não sei como resolver. Parece que não tem como, já que a cada dia me dão mais e mais pílulas... Parece que só estão adiando o inevitável. Eu também sinto que venho fazendo só isso, adiando o inevitável fim. 

Numa tarde chuvosa como essa, seria ideal para desaparecer, sumir como a água que escorre e penetra o solo. Não seria uma morte, mas um retorno. Um retorno ao todo, alguns diria, mas eu, por outro lado, desejo um retorno ao nada. 

Mas, antes disso, uma infindável onda de chatices parece me levar de um lado a outro, e não há muito que possa fazer. Vejo uma certa tendência estoica ao meu redor, de aceitar o que vem, as dores e as alegrias, de modo a compreender que a dor é quase permanente e as alegrias aparecem apenas em alguns poucos momentos, mas também percebo que, aceitar essa premissa sem a dose certa de cristianismo, é cair no niilismo de crer que não há um bem maior ao fim de tudo e que, como as coisas são assim e pronto, não há que se fazer. Filologicamente falando a diferença é sutil, os mais modernos poderiam até dizer que se trata de um jogo de linguagem, mas, pelo contrário, é uma diferença que se encontra na base de como se encara não apenas a vida e aquilo que dela se segue e se sucede, mas toda a cosmologia e como vemos o ser. 

Ao fim da segunda missa senti como se um peso imenso fosse tirado de mim. Talvez a letargia que me atingiu durante todo o dia fosse mais do que apenas depressão, mas também ansiedade, a Semana Santa sempre tem esse efeito em mim e, por alguma razão, as pessoas continuam depositando sua confiança em mim, de que sou capaz de um bom trabalho quando, em retrospecto, tudo que fiz sempre foi medíocre. Estoicamente poderia aceitar isso e continuar, pois sei que é tudo que posso fazer. De modo cristão preciso me obrigar a buscar a virtude e melhorar, em vários sentidos: buscar a humildade de aceitar que, o que há de bom em mim vem de Deus, buscar a temperança que controla os impulsos e assim melhorar, buscar a fortaleza que me concede paciência nas provações e assim sucessivamente. 

Por falar em virtudes, não posso deixar de pensar novamente naqueles que encontro na igreja, e nas inevitáveis relações que lá se formam. Amizade, admiração, afetos, e até mesmo aquele sentimento que temos ao ver uma pessoa distante e querer falar com ela. É engraçado. Hoje eu queria evitar uma mulher a todo custo, abracei uma moça e apoiei minha cabeça no seu ombro, observei um rapaz de longe e pedi um abraço para outro. 

Eu precisava de um abraço, 
daqueles apertados,
bem apertados
que pudesse me restaurar, 

ainda que um pouco. 

Mesmo que aos trinta, me vejo na descrição de Nelson Rodrigues de um jovem: tem todos os defeitos do adulto e mais um: a imaturidade. Quanto aos amores, que já não sou mais capaz de amar, mas que parece represar de algum modo esse sentimento, fico com a descrição de Van Gogh: o moinho já não existe, o vento continua, todavia.

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