Já faz algum tempo que não escrevo sobre mim. Há momentos em que até o silêncio se cansa de me ouvir. Queria partir para uma fase menos autorreferencial que, finalmente, condensasse aquilo que venho observando em tantos anos de enriquecimento do imaginário por meio das séries que costumo ver. Consegui até traçar o esboço do que pode vir a ser um estudo sobre a sociologia do entretenimento em alguns países da Ásia, relacionando as características dos povos e suas representações, no sentido reflexivo ou crítico da coisa, ou seja, aquelas que querem mostrar o lado íntimo e verdadeiro e aquelas outras que buscam na arte um meio de alertar para alguns aspectos culturais.
Mas bem, tem uma pequena pilha de livros na minha cama, e não tenho conseguido ler. Na verdade, não tenho conseguido escrever direito também, e isso tem mexido um pouco comigo, com aquela sensação de inutilidade, que só piora quando vejo o quadro geral da minha vida e percebo que, mesmo afastado do emprego desde fevereiro, ainda não me sinto pronto para conseguir outro trabalho, o que vai pesar ainda mais o orçamento de casa, que já não anda muito bom. Tudo o que sou escorre pelas frestas de um mundo que já não me suporta. Durante a agitação do dia, penso em aproveitar o silêncio da noite. Quando chega a noite, não encontro sentido em permanecer acordado. E o ciclo se repete indefinidamente.
Ando caminhando com um zumbi de um cômodo para outro, e tenho sido de bem pouca ajuda. Não é o abismo que me encara, é o eco vazio do que eu já fui. Ando meio deprimido por isso e só piora quando tento ajudar mais e não consigo. Acho que esse é um dos motivos de não querer falar de mim. Encarar essa realidade de modo cru assim é ainda pior.
Fui testar o que acabei de dizer. Abri um livro e tentei ler um pouco, chegando ao fim do capítulo sem saber do que se tratava. É bem como eu temia. E agora o que eu faço com esse tanto de livros de filosofia, teologia, acumulados? É ruim me sentir inútil. Até as aulas de antes agora são apenas vozes que me fazem dormir e em nada se retêm. Dizem que é efeito dos meus episódios depressivos e também da medicação. ]
Consigo ouvir música. E, se conseguisse um pouco de silêncio, diria que consigo prestar atenção nelas. Mas, infelizmente, estou rodeado de pessoas que falam alto, crianças chorando, desenho animado tosco em volume alto no quarto ao lado e cães latindo, de modo que, se aumento a música até que consiga ouvir, só vou criar mais barulho e confusão, então nem mesmo as músicas têm sido opção.
E assim vou permanecendo, imóvel, sem voz, como um caderno que nunca será aberto. O dia segue, mas nada em mim desperta. Sou apenas esta sombra que respira por hábito e que, mesmo respirando, não retorna. No fim, descubro que não é o mundo que se afasta, sou eu quem vai sumindo, pouco a pouco, até restar apenas a poeira de alguém que tentou permanecer desperto e falhou.
E, para além disso, não há muito o que dizer.
Apenas o vazio que deságua na completa desesperança.

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