“Não há nada mais ilusório que o outro. E nada mais cruel que depender dele para ser.” (Simone de Beauvoir)
Preciso admitir que venho sentindo uma coisa que não queria. Por mais que tenha lutado contra, buscado na razão e na realidade das coisas a verdade que deveria aceitar, o meu coração não aceitou. Infelizmente. E agora eu percebo, na noite escura, o meu coração em vivas ânsias inflado. Com temor e tremor eu me prostro diante dessa verdade que eu não queria, mas que uma parte de mim quis e que então, nessa divisão, oposição, acabei me perdendo: eu acho que estou amando.
Isso porque eu jurei a mim mesmo, que na próxima vez que o amor viesse, me chamando baixinho, um sussurro por entre os agrestes escarpados que caminho sem rumo, arrastando os pés sangrentos, que faria diferente. Que que não me deixaria apegar, mas o efeito que o breve abraço dele, e aquele beijo, tem sobre mim mostra que me apeguei sem nem perceber, ou melhor, percebi, mas não consegui conter. Jurei ainda que não falaria meus pontos fracos, porque isso me faz ser visto como inferior, maluco, como alguém com mais problemas do que soluções, e que pode, deve, e vai ser descartado quando não tiver mais propósito. Pensei que conseguiria não falar do passado, mas disse a ele as coisas mais íntimas, e não encontrei a mesma sinceridade em troca. Que não faria promessas, pois elas sempre acabam sendo quebradas. Prometi que, se possível, não amaria.
Mas em algum lugar profundo eu ainda espero, por um daqueles amores das séries. Mesmo sabendo que nada daquilo é real, que as pessoas não se amam daquele jeito, especialmente homens. Que as pessoas não lutam umas pelas outras, não, pelo contrário. É uma triste verdade.
Esse parágrafo ficou patético, nossa.
O que estou tentando dizer é que estamos cercados de ilusões. Conheço muitas pessoas que sonham com um amor perfeito. Homens que sonham com a namorada perfeita: bonita, simpática, safada e que necessite deles, ou do pau deles, quase como oxigênio. Esse desejo não raramente esconde apenas uma necessidade quase patológica de atenção. Ignoram os sentimentos sinceros de outrem, porque essa pessoa não corresponde as expectativas que eles criaram por causa de vídeos na internet. Não é uma acusação gratuita, pelo contrário, eu reconheço que sou cheio dessas expectativas, e que justamente elas são causa de boa parte de meu desespero constante.
Fico chateado quando eles simplesmente vão dormir sem se despedir. Como se fôssemos namorados, com esse acordo prévio. Não somos, nem seremos. A verdade é que eles vão continuar atrás desse sonho ridículo, e no fim se contentar com uma menina medíocre, porque foi o melhor que conseguiram. E eu? Bem, não nego o amor, pois não me é ofertado. Eu sou apenas uma sombra, passando despercebido, em casa, na igreja, nas ruas. Porque ele não existe. Minhas idealizações não foram substituídas por uma realidade medíocre, não, elas foram destruídas, reduzidas a pó.
E eles devem conversar com outras meninas enquanto escrevo sozinho. Vou ao cinema sozinho. Leio livros sozinho. Faço compras sozinho para tentar preencher esse vazio. Tomo chá sozinho. Bato punheta vendo pornô oriental sozinho.
Bem, amanhã será outro dia, outro maldito dia. E o tempo já começa a esquentar com a chegada da primavera, o sol já desponta cedo, com seu calor infernal. Talvez durma o dia todo, sem responder ninguém, afinal... Bem, nem adiante reclamar de novo. O mais que faço não vale nada.
Vou dormir com os olhos pesados, passei o dia todo me arrastando de sono. Nem as várias xícaras de chá-preto ajudaram. Mas não é apenas o sono que pesa, também a constatação de que meu amor também não vale nada para nenhum deles.
O meu sobrinho, no entanto, dormiu no meu colo hoje. O levei para brincar no jardim da igreja, e ele ficou um bom tempo jogando as pedrinhas que ficam no caminho até a imagem de São Francisco. Uma das cenas mais lindas que já vi. Depois ele engatinhou pela igreja inteira, sorrindo por brincar sem que ninguém o segurasse. Depois que ele dormiu, completamente indefeso, mas apoiando a cabeça e as mãos no meu peito, confiante de algum modo em sua mente de criança, que o tio o protegeria, eu não consegui conter as lágrimas, que caem novamente agora. Talvez esse seja um amor que exista realmente.
“Não sofremos por amor, sofremos porque ele nos lembra que estamos irremediavelmente sós.” Fernando Pessoa (parafraseado a partir de seus fragmentos)
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