sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cinza

A verdade, dita em sua totalidade, dói. Mas do que conheço da verdade posso dizer que ela não machuca tanto quanto a mentira e quase sempre, é melhor sofrer por uma verdade dita, do que por uma mentira desmascarada. 

O fato é que estamos estranhamente habituados a esperar sempre o bem das pessoas, sendo que somos todos incapazes de fazer o bem todo o tempo. No máximo ficamos sem praticar o mal, mas isso não significa fazer o bem. 

Infelizmente, nos esquecemos então que todas as pessoas, sem exceção, estão sujeitas aos erros e aos tropeços e muitas vezes nossa comunicação é truculenta demais, mesmo estando na declarada Era da Comunicação, e as verdades ditas de forma seca e crua, costumam doer. Não sabemos como dizer e nem mesmo como entender, por isso nos machucamos. Mas ainda penso que seja melhor sofrer por um tempo por uma verdade dita com palavras duras, do que o sofrimento de quando se descobre que as palavras doces eram na verdade mentiras. Então, pensando dessa forma, eu agradeço pela minha cruel sorte, por ter sido feito vítima de suas setas, mas que não estavam impregnadas de veneno. 

Eu gosto dessa expressão da cruel sorte, a ouvi pela primeira vez numa ária do maestro Handel num arranjo orquestral no terceiro DVD do Super Junior e desde então, a escuto em várias ocasiões, principalmente nessas onde a depressão toma do conta da minha mente regada a muita música triste, resultado do meu cérebro que se encontra nadando num verdadeiro oceano de torpor. E então a sorte, uma das faces do destino, se aproxima de nossas vidas e nos manipula sem que possamos enxegar a presença dos seus tentáculos a nos envolver e nos guiar conforme sua vontade sombria. 

Ela se aproxima como uma névoa misteriosa que se move lentamente para encobrir seu alvo. Uma vez dentro desse nevoeiro, absolutamente tudo passa a ser controlado por essa força maligna que gosta de se disfarçar para enganar os homens que acreditam levar uma vida completamente feliz, apenas para, justo no seu momento de maior felicidade, tirar-lhe a alegria das mãos e assim garantir seu desespero e sua dor. Mas da maldade da sorte e do destino eu já falei muito em várias outras postagens e a dor que sinto hoje não é diferente da que sentia quando os escrevi, mas é apenas a continuação da mesma.

Numa perspectiva um pouco mais realista no entanto, acredito que apesar de toda dor e sofrimento que a sorte possa lançar contra nós, de tudo podemos aprender algo que nos sirva de lição e que nos auxilie no crescimento para enfrentar as adversidades futuras. Trata-se daquele velho, batido e extremamente piegas conceito de que, com toda coisa ruim, podemos aprender algo bom. Sim, pode até ser verdade, mas como já disse, isso numa perspectiva realista, coisa que eu não sou. Aliás, se tem uma coisa que eu sou, assumidamente e com vontade, é pessimista. E nem me venham com aquele discurso bobo de que pensamentos bons atraem coisas boas pois acho que isso é só uma desculpa pra vender livros de auto-ajuda e litatura com mensagens semelhantes. Coisa que aliás, detesto, pois essas obras parecem querer nos empurrar sempre garganta abaixo os mesmo ensinamentos que, nos momentos de real dificuldade, de nada adiantam. 

Quando sentei pra escrever aqui, tinha em mente uma postagem um tanto quanto otimista, colorida até, mas foi só pensar na noite devastadora de ontem que esse quadro logo se modificou, e francamente falando, penso que eu seja muito mais produtivo escrevendo sobre desgraças e tragédias do que sobre sentimentos bons. Exceto talvez quando estou muito apaixonado, e sendo correspondido, o que me faz escrever muito bem também sobre as belezas do amor. Não é o caso de hoje. Aliás, se o post de hoje tivesse uma cor, seria aquele cinza desbotado, sem graça e que lembra um dia triste e gelado. Essa impressão vem do sentimento de prisão que tenho dentro de mim, de nãos ser capaz de me livrar das grades que me prendem e me impedem de ser feliz. O que fazer então?

Bom, geralmente eu tenho três possíveis reações a tomar quando sou atingido de súbito por sentimentos como desânimo, tristeza, decepção e afins: o primeiro deles é escrever aqui. O segundo envolve escrever e chorar. O terceiro já tem a ver com escrever enquanto choro e depois dormir sob efeito de algum benzodiazepinico, que aliás, deveria ser colocado dentre as melhores coisas inventadas pelo homem. Afinal, o que pode ser melhor do que um Rivotril com uma boa taça de vinho e chocolate amargo num noite de sexta não é mesmo? Só espero conseguir me manter acordado até o término do post.

Voltando. Eu poderia até escrever sobre o que aprendi com a experiência que me deixou assim, e falar sobre as atitudes que eu deveria ter daqui pra frente, usando o gancho do início da postagem, mas acho melhor não. Afinal, seria uma grande mentira de minha parte dizer que acredito no amor, na felicidade, quando na verdade essas coisas se tornaram apenas conceitos abstratos e sem nenhum sentido pra mim. 

Acho que a única coisa que de fato tem dentro de mim agora é um sentimento de vazio pelo desconhecimento. Por ficar imaginando o que mais o futuro pode reservar pra mim e o que mais há de me acontecer, pois acredito que o atual estado em que me encontro já não tenha muito mais o que me ofercer. Na verdade só estou em mais um daqueles momentos de confusão por não saber o que fazer. 

O que esperar então? Que o destino bata a minha porta com uma nova fornada de oportunidades na vida pra eu tomar as decisões erradas mais uma vez? Fica no ar o mistério... No mais, me uso da palavras do Maestro Handel:

"Deixe, que eu chore pela minha sorte. 
E que eu suspire, pela liberdade!"

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