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A Shoulder to Cry On |
Para onde quer que olhasse eu via alguém que se destacava na multidão. Uns mais novos, rostos conhecidos, e outros nem tanto. Também poderia só olhar para quem estava ao meu lado, mas, bem, acho que não vai levar a lugar nenhum. Portanto, todos aqueles rostos bonitos na multidão se tornaram apenas borrões perdidos. Já não há mais em minh'alma disposição para sonhar com o amor.
E com isso parece que tudo está em seu lugar. Aquele bobo sonhador, apaixonado, que sorria ao mandar mensagens ao acordar e dormir ou quando simplesmente pensava nele. Assim parece que as coisas estão no lugar certo. Outra prova disso é que ninguém se incomoda, claro, ter alguém apaixonado em seu encalço é que era um incômodo.
O mundo está onde deve estar, sem amor, até porque amor não há. Agora é caminhar, assim, mas sem rumo.
Como Jerusalém via-se desterrada, sem esperança, escravizada aquela que devia reinar entre as nações, me sinto só, e penso em amarrar uma corda, ou tomar todos os remédios de uma vez, e acabar com isso, afinal, me esforçaria para mais um dia simplesmente para continuar sentindo o mesmo vazio? Para continuar sentindo que deveria ficar quieto e em silêncio cada vez, cada vez mais sozinho?
Vejo a chuva cair, refletindo nas luzes de Natal lá fora, e escuto seu som nas telhas de cerâmica, e por algum motivo penso no que vou fazer. Nas férias, sozinho, retornando, sozinho, suportando mais um ano sozinho. O que fazer?
Quando paixões não se concretizam como nas histórias. Quando sentimentos sinceros são uma mentira doce. Quando as pessoas realmente se interessam e vão atrás apenas de outras pessoas bonitas. Quando todos repetem o mesmo discurso vazio. Quando o final solitário é a única perspectiva. Quando aceitar essa realidade é a única opção.
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
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