segunda-feira, 17 de março de 2025

Ofuscados

Uma vez mais grande volume de sentimentos surgem no meu peito, 

contradições, 

dúvidas, 

anseios

e uma mente a girar, perdida, por entre imagens. Imagens que muitas vezes eu tentei reproduzir em palavras, imagens que me encantaram, que me desprezaram e que hoje, eu tento ignorar, que me fazem rir ou que simplesmente me são indiferentes. 

Um presente que não foi entregue, nunca viu o sorriso tímido de agradecimento porque nunca existiu, nunca sequer foi comprado. O outro foi entregue, e houve um abraço e lágrimas, mas eu não esperava nada além disso. 

Agora eu sei meu lugar, sei que eu não devo sonhar, nem mesmo ousar imaginar. A criatividade amorosa é para aqueles que estão no mundo. Eu não sou do mundo, sou uma criatura estranha que apareceu aqui, que assiste Yunchan Lim tocar um Concerto de Rachmaninoff às duas da madrugada. Pessoas assim estão fadadas à solidão, e devem se acostumar com isso.

Há dois dias que não saio da cama, e o fiz hoje para contar, pela décima vez para o décimo psiquiatra, a minha história. Não abri os remédios que me deram, não acho que vão funcionar. Assim como os que tomo para dormir já não funcionam. 

Não desisti de comprar o presente, não consegui sair da cama para fazê-lo. Mas talvez fosse apenas o presente para um amigo. Não sei se vou sair da cama amanhã, quando poderia ver algum outro sorriso, mas também, ver um sorriso que nunca poderei beijar me parece um masoquismo que meu corpo, meu coração e minha alma, já não suportam mais.

Sei que deveria amar, amar, amar independente de retribuição. Amar como Cristo amou até mesmo aqueles que o desprezaram. 

"Salvou a tantos e não pode salvar a si mesmo!" (Mt 27, 42)

Mas não, estou muito distante disso e, batendo no peito e gemendo sob o peso dessa constatação, eu não consigo mais amar assim depois do desprezo, do silêncio, da humilhação. 

Mas o sorriso ainda me encanta, e é por isso que eu fujo dele, ao mesmo tempo que quero presenteá-lo, e torná-lo consciente da minha presença, ao mesmo tempo que não quero sair de casa, ou melhor: não consigo, não consigo nem mesmo sair da cama.

Não, não consigo mais amar, não como antes, quando derramava grossas lágrimas por cada um deles, por cada vez que me apaixonava e por cada vez que recebia em troca esse mesmo desprezo, silêncio e humilhação. A palavra amor, tão doce e suave, se tornou amarga para mim, dela eu fujo, tenho horror. 

Um presente que não foi entregue. E nem deveria, porque não sendo presente não deveria me fazer sê-lo. Ganhei um presente: mais uma desilusão.

"O amor e o ódio não são cegos, mas ofuscados pelo fogo que trazem consigo." (Friedrich W. Nietzsche)

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