Todo o mundo da dor tenho de suportar!
Suporto o insuportável, e no meu peito
Sinto o coração que me rebenta.
(Franz Schubert)
Talvez nem tenha notado, ou talvez seja tão proposital e já tão automático, que você faz isso sempre. Ergueu um muro ao seu redor, tentando se proteger de tudo e todos, inclusive daqueles que te amam e querem te ajudar. Sempre nos deparamos com essa barreira. Você ergueu um muro que não permitiu que meu amor passasse, e agora já enxergo em você as consequências dessa escolha: sua solidão, muitas vezes não notada nem por você, o sentimento de não se compreendido por ninguém, o isolamento que, fechando-o para tudo e todos, o faz como atlas, carregando o mundo sozinho. E nem nota aqueles que o rodeiam, a quem relega apenas silêncio, e distância. Enquanto tenta o mundo suportar.
Digo isso como alguém que já não suporta nada, tampouco o peso do mundo, mas que já vê o caminho que vais tomar, já sente as dores, a infelicidade, e eu temo que se torne como eu... Mas você não permite que eu o veja, é sempre um muro, um filtro, palavras calculadas, eu nunca sei com quem estou falando, nunca sei o que você está escondendo. Quem é você? O que você quer? Do que precisa? Do que tem medo? O que deseja? Quais são, não seus pecados, mas suas covardias? Quando você será um homem desse mundo?
"Desejou um mundo fechado. Que fosse confortável pra você. Você o desejou para protegê-lo de sua fraqueza. Para proteger seus poucos prazeres. Isso é simplesmente o resultado do seu desejo. Sem seu mundo fechado. Num mundo onde só você ter permissão pra estar outros não podem viver com você! No entanto, você desejou fechar o mundo que o cerca. Seu desejo ejetou coisas que você não gostava e criou um mundo isolado e solitário. Esse é o mundo que seus desejos criaram. Um céu particular nos recessos da sua mente." (Neon Genesis Evangelion)
X
Acabei caindo de novo na escuridão. Essas palavras já foram repetidas por mim até a exaustão. Mas voltei a solidão. Como numa cela vazia, tudo que vejo são grossas barras de ferro. Me pergunto o que importa. Acho que nada. Não quero falar sobre isso com ninguém, pois, de que adiantaria? Quero um abraço forte, onde possa dormir. Mas, ao mesmo tempo, estou sujo, minha cama uma bagunça, reflexo do meu coração que já não se importa com mais nada.
Caminho pelas praias de um mundo sem ninguém. Estou nu, sinto frio e um gosto metálico de sangue nos lábios. O sol se esconde por grossas nuvens e posso ver, ao longe, uma violenta tempestade se aproximando. Não importa, me deito na areia e espero que ela chegue logo. Vou adormecer, quem sabe esteja no fundo do mar quando ela passar, e já não exista mais, ou melhor, ou esteja tão distante de tudo e todos que já não seja mais lembrado, apenas uma maré, como tantas outras, esquecida assim que a próxima se quebra nas pedras da orla.
Solitário
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Não era esse que a carne nos contorta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
E eu saí, como quem tudo repele,
– Velho caixão a carregar destroços –
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
(Augusto dos Anjos)
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