quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Retrospectiva 2015: Deus me livre

"2015 foi para mim, o que 1945 foi para o Japão."

Antes de mais nada, a Playlist dessa noite Post Missam de 31 de Dezembro de 2015 é a "Depressão". Com uma seleção toda especial das músicas mais sofridas da música coreana. 

Vou começar com o Post Missam, pois foi lá que decidi que iria escrever esse post. 

Bom, eu tenho um dom estranhamente poderoso me sentir incrivelmente péssimo e absurdamente deprimido em situações em que a maioria das pessoas está transbordante de júbilo, e sim, vou usar muitos superlativos. Seguinte: consegui me deprimir simplesmente com o fato de não ter recebido a atenção que eu queria do **** (Novinho que chegou na igreja recentemente e foi batizado por livre e espotânea pressão de minha pessoa. Muito bonitinho. Confuso.) claro, que nessa equação eu deveria pesar que sou um verdadeiro pé no saco. Se nem eu me aguentaria, não entendo porque cargas d'água fico culpando os outros por me ignorarem. Na verdade, nem fui ignorado, só não fui tratado como queria. E ele não tinha como saber. E talves nem esteja confuso, talves esteja só na dele. Loucuras.

E isso foi só o começo. Na verdade foi o fim, mas eu comecei por aqui. (risos)

Bom, pela manhã eu testemunhei uma verdadeira ressurreição. Um zumbi que ressurgiu da trevas pra perturbar meu juizo. Um demônio cujo nome não deve ser proferido mas que pode ser chaamdo de Ex. Pois é... vei com papo mole de que precisamos marcar de sair e blá blá blá (tradução = tá querendo). #Mereço #ToRezandoPouco

Como sempre, tenho muitos crushes, mas nenhum é meu de fato. Vida que segue. Ainda faltam dois.

Bom, ando balançado também por um jovenzinho, primo de uma amiga da igreja. O bom moço vem visitar a família nas férias de fim de ano e eu fiz amizade numa dessas. Mas esse ano tá sendo diferente... Foi diferente, e na verdade tudo já foi esclarecido. O que aconteceu é que ele parecia estar correspondendo sabe? Ele falava como se também estivesse interessado. Até que por fim eu esclareci tudo... E agora estamos naquele clima estranho... como era de se esperar...

O último é o rapaz das Nudes eternas... Esse é o mais complicado, estamos presos num ciclo eterno. Começamos a falar besteira, vamos pros nudes, parace que vai rolar e ai ele entra em crise de santidade e rompe tudo, fica umas semanas sem falar e depois volta tudo de novo. Mas dessa vez eu cansei, e não estou dando tanta moral, e toda vez que conversamos, acabamos discutindo, no entanto tenho motivos pra acreditar que logo logo estaremos reiniciando o ciclo.

Embora eu tenha colocado o título do post como Retrospectiva, não tinha intenção de escrever uma. O engraçado é que, mesmo no seminário, depois de tudo o que aconteceu, esses meninos ainda me tiram a paciência. Ainda mexem comigo. Talves esse seja meu eterno karma. Talves até eu criar vergonha na cara e parar de sonhar com uma coisa que nunca vai acontecer. Tenho de entender que algumas pessoas simplesmente não nasceram pra ter um relacionamento. Vida que segue.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Lover boy passion for me...

TÉDIO DEFINE

Hoje é um daqueles dias que eu só "queria star morta". Sim, 'star' e morta no feminino por se tratar de um meme de "A culpa é das estrelas". Me julguem.

Ando dormindo bem mais do que o que seria saudável pra uma pessoa do meu tamanho e alguns minutos tomei o maior susto ao ver que estou parecendo um panda, tamanha a brutalidade visual de minhas olheiras. Não importa, pandas são fofos, eu também devo ser. SQN.

Na playlist, Double B21 ou APeace, nem eles sabem qual o nome correto, e como são um grupo flop, ninguém liga.



Na verdade estou em mais um daqueles dias que eu chamei de "Sangue Pombei", termo de um anime que vi a alguns anos e que uso pra me referir a esses dias que estou num mal humor tão profundo que meu sangue parece se tornar veneno, mas, como ele só circula dentro de mim, só acaba me matando mesmo.

É isso ai. 

Ando numa vibe feels like a Santa Catarina de Sena atualmente, então volto e meia me pego em extase por ai, refletindo sobre uma série de questões que vem me tirando o sono. Gostaria de escrever sobre elas, mas não que eu consiga fazer isso, pois assim que penso em coloca-las no teclado, elas fogem da minha cabeça e do meu coração. Talves signifique que essas palavras devem continuar quietinhas lá.

Ultimamente ando bem protelador também. Estou estudando o mínimo que poderia e até mesmo estou escrevendo aqui agora só para não terminar de ler a Exortação Apostólica "Christifideles Laici" do Papa São João Paulo II. Tá tenso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Nome de post bem legal aqui

"Eu quis saber da minha estrela guia, por onde andaria meu sonho encantado...(8)"

Acho que já comecei outro post com essa música, mas que seja. Está na minha cabeça.

Wow, pense num homem cansado. A pastoral esse fim de semana foi puxada. Tive formação de liturgia sábado a tarde, reunião do Conselho a noite e depois resenha com alguns coordenadores. No domingo, duas missas, duas reuniões, um ritual de batismo e a tarde toda ajudando a PJ num projeto. Paulera!

Estou finalmente me sentindo mais a vontade com o pessoal da igreja. Começando a conhecer realmente quem é quem. Isso é bom.  Descobrir em quem confiar e com quem devo tomar cuidado.
E claro, fugir dos rapazes. Não posso arriscar nada.

Agora, estou na aula de hebraico. Minha sessão de tortura diária. Já já eu preciso arrumar as coisas pra missa pública que temos as segundas, mas na verdade, eu só gostaria de dormir. Nem sequer vou para o estágio, pra não aumentar o cansaço.

Estou pensativo também hoje sobre algumas questões mais complicadas aqui da casa, mas até nisso o cansaço me segura.


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Like a White Snow...

Começando a postagem com uma frase da minha música favorita do AAA...  acordei romântico por sabe-se lá o motivo. Talvez seja resultado da noite de ontem, conversando com dois carinhas, e de fato desinteressado em ambos, mas como resultado imprimiram em mim ainda mais carência. Vida que segue.

Esperando a aula começar e hoje a Internet está de brincadeira com minha cara, e eu na verdade só consigo pensar nas coisas que tenho pra fazer e nas coisas que quero fazer. Como disse um filósofo um dia, tem coisa que eu posso fazer mas não devo. Tem coisa que eu não posso mas quero. E tem coisa que eu devo mas não quero.

Essa semana está passando devagar. O exterior está bem, mas o interior... está pior que aquele índio mexicano depois de ter vendido Manhattan pra George Washington por uma foto da Betsy Ross levantando a saia. O sono me persegue por cada minuto e parece que quanto mais durmo, mais sono eu tenho. Mal acordo e já estou cansado. Em contrapartida estou com a matéria atrasada, um monte de livros pra ler (e comprando mais) e ainda passo mais tempo no WhatsApp e no Facebook do que fazendo qualquer outra coisa. Procrastinação define.

Bom, o semestre está no fim, falta pouco mais de um mês pra que eu volte pra casa. Saudades das paróquias de lá, dos meus amigos...  O semestre vai terminar aqui no dia 08 de Dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição. E viva a Imaculada! Estou cansado, preciso de férias. E de acordar tarde e passar o dia vendo séries. Ah, como eu preciso. Bom, de qualquer forma, falta muito pouco.

Mudando da água pro vinho...

Acho que estou amadurecendo um pouco no que se refere ao emocional. Não tenho me apegado tanto as pessoas como temia que acontecesse. Isso é otimo. Chega de ficar sofrendo... Haha
Mais tarde teremos folga hoje de novo. Pelo menos posso diminuir o ritmo é descansar um pouco. E amanhã tem adoração de novo, estou ansioso por ouvir novamente o que Jesus tem a me dizer nas cartas de Santa Catarina de Sena...

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A primeira Missa do novo padre

Uma piadinha um tanto quanto cretina que me enviaram no WhatsApp um tempo atrás e que me fez rir por horas...

O novo Padre da paróquia estava tão nervoso no seu primeiro sermão que quase não conseguiu falar. 
Antes do seu segundo sermão no Domingo seguinte, perguntou ao Arcebispo como poderia fazer para relaxar. E o Arcebispo lhe sugeriu que na próxima vez, colocasse umas gotas de Vodka na água, que depois de uns goles, estaria mais relaxado.

No domingo seguinte, o Padre aplicou a sugestão e sentiu-se tão bem, que poderia falar alto no meio de uma tempestade, de tão feliz e descontraído que se encontrava. 

Na segunda feira seguinte, ao regressar a reitoria da paróquia, encontrou uma nota
do Arcebispo que assim dizia:

Querido Padre:
Na próxima vez, coloque gotas de Vodka na água, e não gotas de água na Vodka.
Não beba no cálice e muito menos coloque limão na borda do mesmo.
O missal não é apoio para o seu coquetel.
O manto da imagem de Nossa Senhora não deve ser usado como guardanapo.
Existem 10 Mandamentos e não 12. Existem 12 Apóstolos e não 10.
Não nos referimos a Cruz como "aquele T grande" que existe no altar.
Não nos referimos ao nosso Salvador Jesus Cristo e seus Apóstolos como "JC e sua banda".
Não nos referimos a Judas como "Filho da Puta".
O Pai, O Filho e O Espírito Santo, não são "O Velho, Junior e o Aparecido".
Judas não enforcou Jesus, e Tiradentes não tem nada a ver com a história.
Backstreet Boys não estava na relação  música da missa.
Tem mais: Aquela "casinha", era o confessionário e não o banheiro.
A iniciativa de chamar a comunidade  para dançar não foi muito plausível, mas fazer trenzinho e correr pela igreja foi um absurdo!
Água benta é para se benzer e nunca  para refrescar a nuca.
As hóstias devem ser distribuídas para os fiéis, e não para ser usadas com o sal do batismo como aperitivo para acompanhar o vinho.
Aquele pregado na Cruz era Jesus Cristo e não Raul Seixas.
O Edir Macedo não é diretor Financeiro da Igreja Católica.
Procure usar roupas debaixo da batina. Evite abanar-se com a batina quando estiver com calor.
O nome do Papa é João Paulo e não Daniel, e nenhum dos dois fizeram dupla com Xororó.
Modere sua linguagem: Os pecadores quando morrem vão para o inferno e não  para a puta que os pariu!!!
Pelos 45 minutos de missa que acompanhei, notei essas falhas. Lembro ainda que uma missa leva em torno 1 hora e não 2 tempos de 45 minutos.
Numa missa não se faz perguntas ao público e nem existem cartas aos universitários.
Aquele sentado no canto do altar, ao qual o senhor referiu-se como "travesti de saia", era eu.

Espero que tais falhas sejam corrigidas no próximo domingo.

Att. O seu Arcebispo.


Prisioneiro do amor

"Ah, como é bom, sentir a doce paz, e o amor que é suave, me leva a sorrir.
 É, você chegou, qual ladrão me fitou e roubou para si, o meu coração... 
E agora sem forças, eu sou prisioneiro, do mais belo amor, 
Do doce Jesus, do meu bem da Cruz..."

Essa musica deixou uma grande marca no meu coração essa manhã... Acabei de sair de minha hora da Adoração Eucarística aqui em casa. E como é bom notar o quanto eu consigo sair alimentado de lá a cada dia.

Antes de vir para cá, essa era uma das coisas que me preocupava. Não era muito adepto da adoração eucarística frequente, e admito ter dificuldade com isso. Não que eu tenha problemas com a eucaristia, mas com um certo obstáculo a forma como costumeiramente conduzem a adoração. Prefiro o silêncio, ou se não for possível, um fundo musical delicado e agradável, nada muito efusivo.

Costumo agora, depois das orações iniciais, fazer uma leitura espiritual de algum livro escrito pelos santos para melhor compreender essa relação de amor entre nós e a eucaristia. Até a semana passada, li "História de uma alma" de Santa Teresinha do Menino Jesus e hoje dei início ao epistolário de Santa Catarina de Sena. E tem sido de grande proveito para minha alma, pois, se na maioria das vezes não consigo entender o que Deus quer de mim, ouvir aqueles que mais próximos dele estiveram pode me ajudar grandemente.

E como tem sido agradável. Santa Catarina é de uma sabedoria incrível. Quanta alegria não sentiria em poder ser aconselhado pessoalmente por ela. Como gostaria que me ensinasse a amar e suportar com paciência e gratidão as dificuldades da vida.



Me sinto envergonhado em falar sobre dificuldade. Não tenho uma vida difícil. Todos os meus problemas se resumem em situações em que minha própria fraqueza me colocou. O bom Jesus, como fazia com Santa Teresinha, cuida tão bem de mim que não me permite sofrer. Talvez por saber que não suportaria, por ser tão fraquinho e incapaz. Em sua grandiosidade então ele olha para seu pequeno menininho com uma doçura tremenda. Quão grato sou a ele por isso, pois ao ver o sofrimento de tantas pessoas, imagino que logo desmoronaria, como aquela casa construída sem alicerces na areia.

Essa é a paz que sinto nesta manhã de Quinta. A paz do doce Jesus que olha para seu mais indigno servidor a ponto de nem sequer permitir a ele o sofrimento para não por em risco sua alma.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

De volta a ativa (!?)

Hey... isso ai, muito tempo sem postar... E admito, pura lerdeza é apenas o que me impede de postar regularmente. Mas, como era de se esperar, quando a situação aperta, aqui eu volto para me distrair e escrever um pouco sobre o que não posso partilhar com os irmãos. Bem que poderia, mas prefiro não faze-lo.

Bom, quanta coisa aconteceu desde o último post, na verdade eu nem poderia falar sobre tudo pois de fato não me recordo da metade, de qualquer forma, vamos tentar...

Estou aqui em meu quarto, o de número 30 do Instituto, agora sozinho, pois o meu colega de quarto, de fato uma das pessoas maus desagradáveis que já tive o desprazer de conviver finalmente foi embora no,  último sábado, pra ser maus exato. De qualquer, cá estava eu, aproveitando as últimas horas de minha folga ordinária para ainda descansar das intensas atividades da festa em honra a São João Paulo II da última semana. Como logo depois da festa fui pra pastoral e depois voltei ao estágio, não me sobrou tempo para descansar, e infelizmente ainda, as mais do que inúteis aulas tem me consumido boa parte da minha já precária disposição.

Tive então o insight de baixar o App do Blogger e postar por aqui, assim, como estou sempre com o celular, posso me desligar dos barulhos constantes dessa casa. Não que eu não esteja feliz por estar aqui, muito pelo contrário.

Inclusive isso me recordou um fato acontecido durante a festa: enquanto eu conversava com um rapaz, um amigo de um irmão, muito bonitinho, mas com muitas dúvidas, ele me perguntou se sou feliz aqui. Cheguei a conclusão que sim, eu o sou. Não que fosse infeliz antes, ou talvez fosse e não tinha me atentado a isso, mas agora sinto estar no caminho certo para a felicidade. Digo dessa forma pois tenho consciência de que a verdadeira felicidade não se encontra aqui, não nessa casa e nem em outras, mas além. Além do céu azul, além de onde o homem pode chegar com seus próprios esforços, além de onde podemos enxergar. Portanto, sou feliz, mais aqui do que em qualquer outro lugar.

Agora que toquei nesse assunto, sinto que devo me demorar um tanto mais em descrever como me sinto. Culpo a Santa Teresinha do Menino Jesus por isso, pois desde que terminei de ler a "História de uma alma" sinto a necessidade de registrar as expansões que minha tem sentido desde que cheguei aqui. Não me estenderei muito no entanto, pous como disse, meu corpo ainda precisa melhor se recuperar para que eu volte a rotina normalmente, sem ficar rastejando pelos cantos como nos últimos dias.

Infelizmente meu corpo é muito frágil para alguém da minha idade. Qualque esforço já provoca em mim crises respiratórias, palpitações e cansaço prolongado, não é de se estranhar portanto que não raramente eu dou a impressão de uma pessoa doente, permanentemente convalescente. Essa debilidade muito me prejudica aqui em casa, pois todos são muito proativos e ágeis, enquanto eu constantemente sou advertido a ter mais atenção para com minhas obrigações. Costumo ouvir pacientemente a essas advertências, mas admito ser difícil, eu que era tão respeitado na paróquia, aqui mal ser levado a sério.

Acredito que isso seja necessário para imprimir na minha alma a humildade. É fácil perceber que, tão logo alcanço algum progresso, seja ele espiritual ou temporal, não me demoro a dele me vangloriar, de modo a tentar me igualar a meus irmãos que, mesmo tendo seus muito defeitos, são todos incomparavelmente mais avançados na caminhada espiritual do que eu.

Fui encaminhado para fazer pastoral em uma paróquia fora de Brasília. Estou numa paróquia da Arquidiocese de Brasília. Fiquei contente em trabalhar na paróquia cujo santo padroeiro é o mesmo da paróquia de minha conversão e Crisma. Tenho um carinho especial a São Francisco por isso. São um povo bom, mas muito parados, engessados, e encontro muita resistência a mudanças por onde passo. Principalmente na questão litúrgica, pela qual sou responsável e que, como já era de se esperar, não encontro apoio a um aprofundamento da formação e nem na espiritualidade que a celebração exige.

O altar é o centro de minha vida, muito embora eu tenha dificuldade em me manter acordado durante as missas de 6:30h da manhã todos os dias. Mas sendo esse centro, é nele que deposito todos os meus esforços, para despertar nos outros, o amor pela liturgia que me fez apaixonar-me pela igreja. Certamente não será uma batalha fácil, pois a beleza que favorece a virtude de uns é a mesma que alimenta a superficialidade de outros,  variando apenas a disposição da alma a que ela é submetida, infelizmente não descobriram ainda o quanto a beleza de uma liturgia bem celebrada pode favorecer uma alma na busca pela santidade. Há, se conhecessem o valor da Santa Missa... o mundo certamente não estaria tão perdido.

Mas perdido também estou. Ao passo que há algumas semanas tive um envolvimento quase amoroso com um de meus irmãos, algo de luxurioso despertou dentro de mim, e me encontro agora constantemente pensando em um rapaz que conheci na internet e que vem me provocando com mensagens bem significativas. A cada passo na escada rumo ao céu que dou, parece que volto outros dois rumo ao chão. Me sinto então frustrado, mas além disso, sozinho. Novamente.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

Texto de um amigo meu, Victor Lucas Asckermann, postado no Facebook, achei belo e emocionante, como muitos outros que ele escreveu.



"Finalmente chegou a sexta-feira, aquele dia que costumo postar algum texto ou desabafo, confesso que hoje estou bastante choroso e emocionado, escrevo em lágrimas, mas corremos o risco de chorar um pouco quando nos deixamos cativar. Como é misterioso o país das lágrimas!

Bom, a estreia de “O Pequeno Príncipe” estava me deixando bastante ansioso e eufórico há um certo tempo e nessa semana de contagem regressiva, decidi reler o livro para recordar detalhes da história e preparar uma semana de postagens especiais no blog.

Foi impossível conter as lágrimas durante a leitura, 12 anos após o meu primeiro contato com essa história que diz muito sobre mim, que me ensinou muito do que sou e do que me tornei, numa profunda mudança de valores, lições sobre amizade, companheirismo e amor.

A narrativa simples de Antoine de Saint-Exupéry me encanta do começo ao fim, desde a ingenuidade do pequeno príncipe e a dedicação com a qual cuida de seu pequeno planeta, até o momento que ressentido pela vaidade e falta de sinceridade de sua rosa, ele decide partir em busca de novas aventuras, novos amigos e compreende que deve retornar para a sua rosa, a quem cativou.

Logo de início, aprendemos que “não se pode conhecer as borboletas sem suportar duas ou três lagartas”, pois faz parte de todo e qualquer relacionamento, as adversidades, assim não importa a situação colocada, mas a maneira como lidamos com ela e nesse momento, apesar de sentirem o amor, o principezinho e a rosa ainda eram muito jovens para saber amar.

Assim, a partida foi inevitável para que o príncipe pudesse compreender o que é realmente importante na vida. Conforme sua passagem pelos demais planetas, conheceu personagens que o fizeram ver como os adultos são pessoas complicadas, estranhas e equivocadas em suas preocupações diárias e incapazes de enxergar quem são e o que podem ser.

No primeiro planeta, ele conhece um rei que apesar da personalidade autoritária, o ensina que “é preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar”, a partir de então, temos o importante valor da obediência e sensatez. Nos planetas seguintes, o pequeno príncipe conhece o vaidoso, o bêbado, um homem de negócios, o acendedor de lamparinas, ambos reféns de vícios, e por fim um geógrafo que o recomenda viajar até a Terra, o nosso planeta.

Ao chegar, conhece a serpente, que além de ensinar que as pessoas podem ser mais solitárias quando rodeadas, do que de fato sozinhas, promete-o o retorno para seu planeta (talvez este seja o momento mais enigmático, polêmico e belo da história, a metáfora que o autor apresenta é, até hoje, pouco compreendida).

Mais adiante, ao chegar num jardim de rosas, o pequeno príncipe tem uma nova decepção, ele percebe que sua rosa não é a única no universo, sente-se então enganado por aquela que tanto ama. Decepção esta que dura pouco, pois surge o momento mais emocionante do livro, que me causa arrepios, que enche o meu coração e me conforta de uma maneira inexplicável. O encontro da raposa e o pequeno príncipe é, para mim, o momento mais célebre da obra de Antoine de Saint-Exupéry, quando esta o ensina o significado de cativar, isto é, criar laços, vínculos de afeto, carinho e amor, a necessidade de um ao outro, mas não por obrigação, sim por entrega e livre escolha, afinal:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

E sabe, esta frase mantém vivo o amor puro que há em mim, me identifico porque da mesma forma que a raposa quis ser cativada pelo pequeno príncipe, eu quis ser cativado pelo garoto que, hoje, eu amo. E bastou uma única oportunidade para que eu pudesse o fazer, assim ele se tornou único pra mim, o meu motivo para sorrir, me sentir seguro e amparado, o lar para onde eu tenho que voltar. E assim, o principezinho aprendeu que sua rosa é SIM única no mundo, porque foi o tempo que dedicastes a ela que a fez tão importante.

Antes de sua partida, a raposa ensina-o o grande segredo da amizade e amor, a frase mais marcante do livro: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. O pequeno príncipe, então, entendeu que o que realmente importa e tem valor é intangível, está dentro de cada um de nós ou em qualquer outro lugar, basta saber como olhar.

E tudo isso só foi possível graças à narração de um aviador, que mesmo desencorajado pelos adultos, manteve viva a criança que havia nele, o pequeno príncipe apenas o despertou.

O filme pode não ter superado as minhas expectativas e me decepcionado em muitos pontos, apesar disso, da falta de alguns detalhes, eu compreendi que o roteiro cumpriu com o seu papel fundamental: ensinar que é possível viver no “mundo real” sem sacrificar os seus sonhos, a sua inocência, é possível crescer sem perder a criança que há em mim, que há em nós, que há em você. É preciso se impor, arriscar e desafiar a si mesmo e a vida, pois quando se deixas cativar, não há obstáculos para o amor."

Victor Lucas Asckermann, 21 de agosto de 2015

Ele escreve umas coisas muito interessantes, tem uns textos bem legais. Pra mais textos como esse, acesse o Blog Revolução Nerd.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

"A geração que tudo idealiza e nada realiza"

Post do blog  "Sábias Palavras" publicado em 7 de agosto de 2015

Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais) para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz.

Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em academias e esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as bicicletas podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do drive-thrru porque temos preguiça de ir até a esquina comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.

Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Pink Memory (!?)

Bom, quem é vivo sempre aparece, e com já fazia vários dias que não dava as caras por aqui, achei mehor escrever um pouco, pra não perder o costume de reclamar da vida pra um Blog fechado onde só eu tenho acesso.

Acho que como o último post foi a muitos dias atrás, eu deveria ter muitas pra contar, mas acho que não funciona assim. Vou escrevendo e o que for surgindo vou acresecentando, mas não acredito que isso seja suficiente pra preencher um grande espaço, é apenas uma tentativa de liberar algum espaço na minha cabeça. Pra me acompanhar nessa empreitada, Girl's Day e A Pink ( o título do post é o nome do álbum que tocava quando comecei a escrever) me acompanham na playlist

Comecemos então com o fim de semana, esse chá de Boldo que a garçonete me empurrou goela abaixo nos último dias.

Bom, eu já sabia que meu ex iria se mudar, já que o irmão dele tinha me contado a algumas semanas, mas eu não tinha levado muito a sério pois ele fala demais, mas parece ser verdade. Bom, na sexta eu saí com um amigo aqui da rua e acabei cruzando com ele numa casa de açaí onde eu fui solenemente ignorado. Mais tarde ele disse que era porque eu estava acompanhado. Ciúmes? Magina... E dai ele jogou a bomba, que na verdade já tinha se mudado. A noite eu fui conferir e era verdade, a casa já estava vazia, as luzes apagadas e um ar de abandono no lote (exagero meu, só estava tudo escuro).

Eu sei que deveria ficar feliz com isso. Ora, desde que terminamos reclamo de ter de passar sempre em frente a casa dele e de ficarmos cruzando com uma frequência absurda e agora com ele mais longe isso praticamente vai se reduzir a zero, mas não tenho como deixar de pensar que eu possivelmente nunca mais vou vê-lo, isso me desespera. Saber que, bom, agora é praticamente impossível ele lembrar de mim, e que logo ele vai ta com vários caras diferentes. E nem ao menos se dignou a responder minha despedida.

É, nem preciso dizer que isso me tira o sono não é?

Bom, dando sequência ao enterro, eu tentei abrir o jogo com dois meninos esse fim de semana também. Não foi exatamente agradável, mas pelo menos acho que agora os dois me dão espaço pra pensar. Não seria justo ficar com nenhum dos dois pensando no outro. Não foram conversas fáceis, e um deles eu acho que nunca mais olha na minha cara, mas tudo bem, eu sobrevivo.

Minha preocupação mais atual é o da sanidade dos meus amigos. Bom, um deles ainda tenta esconder os efeitos do assédio que ele sofreu, e como ele não se abre comigo sobre isso, excetuando o dia em que ele me mandou áudio chorando pois os pais brigavam, ele tenta se mostrar forte, quando é nítido ver que o mundo dele está desmoronando.

Do outro lado está uma amiga minha, que perdeu a avó recentemente e por causa dessas minhas loucuras  eu não conseguir ajudar em absolutamente nada, o que resultou numa conciência mega pesada, claro. Não merece mais nem o amor de minha mãe.

Por falar nisso, preciso me confessar urgentemente. Vou enlouquecer por não comungar... Mas preciso de mais tempo pra trabalhar a contrição. Nem o cilício tenho conseguido usar mais. Tenho me afastado de Deus de uma forma vertiginosa, e penso eu não se tratar de uma noite escura, mas sim de falta de conversão. Não tenho conseguido trabalhar as penitências e estou até digitando aqui ao invés de ler o Catecismo, como me comprometi. Acho que ainda tenho um longo caminho a percorrer.

O clima na igreja também não tem sido fácil de administrar. Muitas confusões e desentendimentos e os ânimos de todos a flor da pele.

Bom, acho que por hoje fica só isso. Essa será uma semana difícil, então eu devo voltar mais vezes por aqui.

sábado, 18 de julho de 2015

Dynamis

Ta, não preciso nem esperar eu terminar de escrever pra saber que hoje não vai render muita coisa. Na verdade, só to escrevendo aqui pois seria piegas demais pra eu dizer qualquer coisa pra alguém, mas no atual momento, sinto um grande e norme vazio dentro de mim, e não, tenho certeza de que não é fome.

Penso em muitas pessoas, penso em querer ficar só, penso que devia pensar em outra coisa, mas não sai nada. Por isso aposto no vazio. Um grande 'NADA', uma grande buraco.


To refletindo acho o desespero da Sinfonia N° 1 do Penderecki que eu to ouvindo agora. Musiquinha pertubadora moço... Sabe aquele sentimento de estar numa floresta a noite, ouvindo o uivo dos lobos se aproximando, com as folhas quebrando debaixo dos pés e a aura de um suicído mal explicado no ar, como se alguém estivesse prester a te derrubar e pisar no seu pescoço, lhe impedindo de respirar. Você corre arfando, desesperado, mas sente que está andando em círculos. Os animaizinhos, outrora engraçados e dóceis, aparentam surpreendente disposição a violência, a presença deles mais aumenta o desepero do que conforta realmente. De repente você encontra uma cabana, mal ela não aparenta ser nada aconchegante, pelo contrário, o som dos ruídos de passos aumentam, mas não é possível identificar de onde vem, quando de repente algo duro te acerta na cabeça. E assim termina a história.

O sangue escorre pela cabeça, quente, a visão falha, e por ser noite a visibilidade se reduz a quase zero ao passo que uma aura de maldade se estende a sua volta como os tentáculos frios de uma mente perturbada.

A inspiração se reduziu a zero, e a irritação só aumenta com o barulho da minha irmã atrás de mim, talvez seja melhor eu ir dormir. Sair daqui.

domingo, 12 de julho de 2015

Sinfonia N° 6 em Si menor Op.74 "Pathétique" - P. Tchaikovsky


Como falei no post anterior, ainda no clima depressivo nesse domingão, mas sem conteúdo suficiente pra escrever em diário, então resolvi postar artigos que traduzam o que estou sentindo, enquando escuto a música do meu amado compositor russo.


Antes do artigo porém, vou começar com algumas informações que podem ser importante a apreciação, texto agora retirado da Wikipédia: 

A Sinfonia N° 6 de Tchaikovsky foi composta entre Fevereiro e Agosto de 1893 tendo sido a ultima obra publicada do compositor (as restantes são obras publicadas após a sua morte). A Sexta Sinfonia foi também a ultima obra que o compositor dirigiu, precisamente a estréia da mesma em São Petersburgo no dia 28 de Outubro de 1893, uns escassos dias antes da sua morte. A sinfonia é dedicada ao seu sobrinho Vladimir Davydov. As circunstâncias que a envolvem e a própria característica da composição – sombria quase sempre com explosões de fúria e de grande lirismo - só poderiam levar a imaginação humana a atribuir-lhe o significado quase autobiográfico. Os poucos fatos que se conhecem e que nos podem ajudar na procura de uma verdade mais fatual, ainda que porventura menos romântica, são relativamente escassos. Sabe-se que o próprio compositor a nomeou de “Pathétique” (apesar de ter sido aparentemente sobre proposta do irmão Modest). A palavra portuguesa “Patética” no seu uso atual não traduz a intenção do compositor que nos queria dar com esta indicação a noção de que esta era uma obra para ser ouvida “com o coração”, uma obra que pretendia desencadear emoções fortes. A segunda pista que temos quanto ao “programa” de Tchaikovsky relativo esta peça pode ser encontrada numa carta que enviou ao seu sobrinho:

“Sabes que destruí uma sinfonia que compunha neste Outono. Durante minha viagem tive uma idéia para uma outra sinfonia, desta vez com um programa, mas uma programa que vai ser enigma pra todos – Deixem-os adivinhar; a sinfonia terá o nome ‘Sinfonia com Programa’... O Programa em si mesmo estará cheio de subjetividade e chorei bastantes vezes na minha viagem enquanto a compunha mentalmente. [...]” 

Como podem ver por esta carta Tchaikovsky chegou a pensar num outro nome para a sinfonia, mas resolveu aceitar a sugestão do irmão, dado que este outro nome apenas iria chamar a atenção para o programa ubjacente que não pretendia revelar, pelo menos não no imediato. Embora em quatro movimentos, esta sinfonia tem como distintivo o ultimo movimento lento.

O primeiro movimento (Adagio–Allegro non troppo) em Si Menor é uma verdadeira montanha russa de emoções, cheia de tensão de passagens sombrias lentas, outras igualmente sombrias mas rápidas que formam um conjunto notável com duas belíssimas melodias, sobretudo o segundo tema do desenvolvimento. O segundo movimento (Allegro com grazia) em Ré Maior é uma extraordinária melodia que contrasta com o primeiro andamento e que serve de contraponto á tensão exercida. É um movimento relativamente alegre no tom, mas que nunca deixa a sensação do destino que se pode abater a qualquer instante. Acalma mas não o suficiente para nos traquilizar completamente.


O terceiro movimento (Allegro molto vivace) em Sol Maior é uma espécie de marcha, sem no entanto ser verdadeiramente triunfante, tal como o segundo andamento poderia ser uma alegre valsa sem nunca realmente o ser, nem pelo tempo que não é exatamente o de uma valsa nem pelo espírito. Numa interpretação pessoal, diria que Tchaikovsky, nestes dois movimentos, procura transmitir-nos metaforicamente a instabilidade, o frágil equilíbrio em que repousa a nossa felicidade e o todo poderoso e tenebroso destino ao qual sempre nos abandonamos. Alias, este andamento acaba de tal forma que muitas vezes as pessoas acreditam que a sinfonia acabou. O quarto movimento (Finale. Adagio lamentoso) em Si Menor retoma assim, novamente, o tom lúgubre do primeiro andamento. A vitória do tenebroso destino, quando se pesava a vitoria. As partituras para a Orquestra são bastante originais, dado que a melodia é partilhada pelos primeiros e segundos violinos (efeitos aliás reproduzido noutros naipes).

Agora o artigo com um "programa" sobre a Sinfonia Patética, minha obra favorita e também a mais complexa do compositor russo.


Nova Visão - Sinfonia N°6 em Si menor Op.74 "Pathétique" - P. Tchaikovsky

O grande compositor russo Peter Tchaikovsky, conseguiu liberar toda sua miséria e angústia através de sua última grande obra sinfônica, que resultou em um prelúdio consciente de uma alma conturbada prestes a cometer o suicídio. A sinfonia n.6 em Si menor op.74 “Patética” é considerada a obra do compositor com idéias musicais mais maduras, que narram, através da sinfonia, uma vida cheia de emoções e sentimentos profundos – A tristeza e desilusão acompanhada da esperança; a felicidade maculada e o amor seguido do desespero – Apesar de tudo, existe ainda algo sombrio que parece tomar conta de toda a sinfonia: a morte.

A estréia da Sinfonia, regida pelo próprio compositor, teve uma recepção muito fria tanto dos músicos quanto da platéia. Diferentemente das formas tradicionais da época, a sinfonia quebrou com os conceitos comuns e parte do público não gostou do final da sinfonia considerando-a “inacabada” (Tchaikovsky tinha inovado com a substituição de um imponente "allegro” por um lento "adágio" que termina em pppp dos cellos).

Segundo relatos dos músicos, a fraqueza da estréia deve-se também ao temperamento de Tchaikovsky, que não é considerado o ideal de um bom regente. Devido ao seu humor delicado e sua dramática insegurança, ele foi afetado pela frieza inicial dos músicos de São Petersburgo, fazendo com que todo o seu entusiasmo fosse destruído, deixando-o deprimido. O fato é que nove dias após a curiosa estréia da sinfonia o compositor estava morto. Acidente? Suicídio?

Na sua estréia, a obra chamava-se “Sinfonia programática”, mas o compositor deu-se conta que iria encorajar curiosidade sobre o significado do programa, o qual ele fazia questão de esconder.  Seu irmão sugeriu então o subtítulo “Patética”, que tem origem na palavra grega “Pathos” e significa paixão, excesso, catástrofe, passividade e sofrimento. Quando a Sinfonia “Patética” já estava sendo publicada, Tchaikovsky enviou uma carta para o seu editor dizendo que queria colocar também uma pequena dedicatória “Para Vladimir Davidov, composto por P.T” mas como estava muito em cima da hora, o editor ignorou o pedido.

Como o próprio Tchaikovsky declarou para seu amigo Rimsky-Korsakov que a sua sinfonia tinha um programa escondido que ele não tinha intenção de divulgar, muitos musicólogos afirmam que a sinfonia conta a história de sua própria vida e alma. Já que ela foi dedicada à seu sobrinho Vladimir Davidov,  podemos acreditar que a música encarna também a angústia do amor sem contrapartida tornando-se um conflito entre uma paixão platônica e os desejos da carne entre dois homens (representado pelos temas românticos) e os ataques hostis do mundo (representadas pelas passagens agitadas). É importante lembrar que esse era sempre um dilema espiritual formulado pelos românticos, principalmente quando se tratava do homossexualismo, proibido na época.


A sinfonia, a meu ver, é a história da vida de Tchaikovsky, contada por ele mesmo. Devido a isso, ela acontece a maior parte do tempo em sua cabeça, através de suas lembranças. O único momento onde sentimos que trata-se do presente é no adágio inicial e no adágio final.  


1º Movimento - Adágio - Allegro non troppo




O primeiro movimento representa claramente as lutas constantes de Tchaikovsky durante toda a sua vida tentando superar seus sentimentos homossexuais. Tchaikovsky era obcecado pelo destino sempre dizendo que ele o condenava.

 “O destino é a força fatal que impede nossa esperança e alegria de serem realizados, e que assiste e vigia enciumado para comprovar que a nossa felicidade nunca é completa.” (P.I. Tchaikovsky)

 Esse sentimento descrito acima parece preencher essa sinfonia. Repare que o primeiro movimento usa muitos motivos descendentes que são associados pelo próprio compositor, como representação do destino.

A música começa silenciosamente com um lento e grave solo de fagote acompanhado pelo obscuro e sombrio “divisi” descendente dos contrabaixos. Esse obscuro tema da introdução (considerada como referência à patética de Beethoven) é formado basicamente por apenas quatro notas e é cercado de uma sensação fúnebre, que será a base para todo o primeiro movimento e principalmente para o primeiro tema.  Essas quatro notas, além de serem chamadas de “tema da crucificação” devido a sua localização no pentagrama (veja a foto acima), poderiam ser considerados como a tradução sonora da palavra russa “pomoghite”, que significa “me ajude/socorro!”

Essa introdução, a meu ver, representa Tchaikovsky em seu leito de morte fazendo um tremendo esforço para contar a verdadeira história de sua vida para seu irmão Modest, a história a qual ele fez questão de esconder a todos. O fagote, na verdade, é o próprio Tchaikovsky e as figuras descendentes dos contrabaixos, como disse no começo do post, representa o destino. O fagote, sem muita força tenta começar a contar sua história, mas não tem nem forças e nem ânimo para chegar até o fim. As violas tentam ajudá-lo a continuar, mas ele não consegue falar. O exausto fagote reúne suas forças para começar outra vez sua história, mas novamente, ele não consegue e acaba desistindo. O anúncio das trompas criam um novo ambiente um pouco mais sereno e claro, onde o tema não é mais feito pelo fagote e sim pelo oboé e o clarinete, que evocam, talvez, os pensamentos de Tchaikovsky. Ele pode estar muito cansado para falar, mas não para imaginar a história de sua vida.  

1° Tema - Diferentemente de suas últimas sinfonias (4 e 5), o primeiro tema é composto praticamente pela mesma melodia da introdução, porém dessa vez muito mais intensa e inquieta. Tchaikovsky está retratando o ambiente do passado, principalmente o caráter psicológico ao seu redor. O destino (escalas descendentes) começa a dialogar com boa parte da orquestra e apesar do início ser até considerado calmo, os violinos entram em diálogo com os cellos e sopros e o ambiente começa a mudar. Aos poucos a intensidade sonora aumenta gradativamente com a introdução de novos elementos, como por exemplo, os anúncios dos metais (uma reminiscência do majestoso tema da 4ª sinfonia?). As anacruses e as melodias bastante talhadas entre todos os diferentes instrumentos da orquestra dão um efeito bastante transtornado. O incrível desse tema, é que ele pode ser tocado ao mesmo tempo com quase todas as outras partes e Tchaikovsky aproveita para moldar o segundo tema apartir disso . Após o auge do tema, uma passagem de viola leva para a próximo tema.

2° Tema - Agora, o ambiente muda completamente e temos aqui o tema da paixão (que na verdade, é uma transformação da ária da ópera favorita de Tchaikovsky: “A flor de Dom José” de Carmen). É o amor a primeira vista, a paixão platônica e nesse caso: um amor impossível.  Tchaikovsky, sem dúvida, conhece pela primeira vez na obra esse sentimento indescritível através dessa atmosfera calma e serene. Tudo é como sonho e o mundo à sua volta parece não existir.

Uma passagem feita pelas escalas ascendentes da flauta e fagote em tercínas acompanhado pelos stacattos das cordas contradiz o destino (escala descendente) criando uma duelo interior entre o destino e o amor. Essa passagem nos sugere também o desdobrar de um amor, isto é, o passar do tempo, o compartilhamento de experiências, vivendo emoções juntos, etc...

Em seguida voltamos para o tema da paixão, porém dessa vez, muito mais intenso representando o amor ao extremo. O fabuloso episódio despede-se e a música desaparece a cada compasso. As lembranças do amor estão se distanciando cada vez mais e após o tema da paixão feito pelo clarinete, o fagote dá um último suspiro: Tchaikovsky, por um momento, abre seus olhos, voltando ao presente e a realidade.

O silêncio é drasticamente interrompido e a sua paixão é massacrada pelo surpreendente fortíssimo do tutti orquestral representando a negação da sociedade diante sua homossexualidade. O tema da “crucificação” (tema n.1),  é tocado agora de maneira mais viva e intensa. Uma espécie de fuga é feita e uma modulação começa. Tchaikovsky está revoltado e uma sensação de raiva e os acordes trágicos vão crescendo e ficando mais agitados e dramáticos a cada compasso. Os metais anunciam novamente uma passagem descendente que lembram também, mesmo que vagamente, um motivo já feito anteriormente.

  No último momento, por um breve instante, ele consegue conter essa emoção, resultando em um tema feito pelos metais baseado em um réquiem russo, que tem como letra “Oh Cristo, dê paz à alma para que ela repouse entre os santos”. Os metais fazem o papel de oradores de um funeral (Após a estréia da sinfonia, Tchaikovsky misteriosamente morreu, e foi exatamente isso que os ouvintes buscaram na segunda apresentação: uma prova de que essa música não era apenas uma sinfonia, mas talvez uma carta suicida do próprio compositor). Logo após um momento relativamente pacífico, Tchaikovsky não consegue simplesmente aceitar e esquecer todo esse seu sentimento profundo que parece remoer seus órgãos internos.

Reparem que curioso: essa passagem vai evoluir e é considerada tanto com a reexposição do primeiro tema quanto o caminho que leva ao clímax do desenvolvimento. Ela é considerada por muitos musicólogos como o momento auge da carreira artística de Tchaikovsky.

Ele precisa colocar tudo para fora e apesar de alguns momentos de negação e receio tudo acaba explodindo em um tormento dramático onde o compositor mostra toda sua amargura, decepção, angústia e martírio. “Por quê?! Por quê?!”. O destino é cruel e parece saborear cada momento de agonia e dor do compositor.

Quando os últimos vestígios da morte e de um ambiente violento e agressivo parecem desaparecer, o segundo tema (da paixão) eventualmente emerge das profundezas do desgosto e da exaustão, porém, dessa vez, de forma mais completa. Tchaikovsky não pode fazer mais nada em relação ao seu amor, apenas resgatar o passado através de suas torturantes recordações tentando trazer esse sonho para a trágica realidade.

O movimento termina com uma calma e solene coda feito com o tema da paixão invertido, feito por um coral de metais e em seguida pelos sopros, acompanhados sempre de um pizzicato descendente dos baixos (A representação do destino saindo vitorioso, destruiu o momento dos dois e virando a paixão de cabeça para baixo?).  O que podemos afirmar é que nesse momento Tchaikovsky responde o discurso feito pela missa dos mortos no desenvolvimento e acaba a primeira parte da sinfonia com a morte, anunciada pelos trompetes.


2º Movimento - Allegro con grazia

Tchaikovsky disse que o segundo movimento representa o amor e apesar de ser muito mais simples que o primeiro movimento, é uma das mais originais e sedutoras valsas em forma A-B-A com um tempo 5/4 não convencional e assimétrico (Possivelmente um retrato da sua agitação psicológica), muito comum na música popular russa.
Essa valsa foi composta de uma maneira tão sutil que por incrível que pareça poucos sentem “falta” do último tempo (são 5 tempos por compasso: 2 + 3 seguido de 3 +2). Tchaikovsky  já havia testado esse mesmo ritmo, por exemplo, em sua "Valsa de cinco tempos" das 18 peças para piano op.72.

Primeiro grupo (A) - A música começa com o charmoso e inocente tema feito pelos cellos e com uma fluência surpreendentemente natural (chamarei de tema A). Em seguida o mesmo tema é feito pelos sopros e acompanhado pelos cellos, que fazem praticamente a mesma coisa, porém de forma invertida. Isso se repete e logo em seguida a melodia é enriquecida com a entrada dos metais. A música começa a crescer e ficar mais intensa, mas apesar disso, nenhum grande clímax é atingido. Uma breve passagem, decrescente serve como passagem para a próxima sessão.

Trio (B) - Um novo obscuro e ameaçador elemento é introduzido (tema B) e a sua tonalidade menor cria um caráter atormentado que lembra bastante o primeiro movimento. A assimetria é agora facilmente identificada talvez graças à nota pedal do tímpano e dos baixos. Esse tema é uma citação ligeiramente modificada de uma canção popular Estoniana chamada “Kallis Mari” (querida Maria). Tchaikovsky estaria fazendo referências à Maria, mãe de Deus, para representar em sua música a figura eterna de sua mãe, que morreu quando o compositor ainda era criança? O tema B, um pouco “vivo” e animado inicia-se e é repetido , logo é seguido do lamento do tema B e de uma pequena coda, que serve de passagem para a próxima sessão.

Primeiro grupo (A) - O apaixonante tema A volta novamente com as cordas e em seguida sopros exatamente como no começo do movimento É incrível ver como Tchaikovsky transforma uma simples escala melódica em genialidade: Repare que os baixos fazem a escala de Ré maior ascendente enquanto os sopros fazem a mesma escala descendente, porém mais lenta. A razão e a emoção finalmente encontram-se e com a tonalidade maior restabelecida e somos levados à coda do movimento, que usa fragmentos dos temas, acabando o movimento de forma bastante abstrata como uma névoa cobrindo as lembranças do passado.


3º Movimento - Allegro molto vivace

O terceiro movimento é um Scherzo feito para representar as decepções do compositor. Todo o movimento possui um caráter festivo, feroz e extremamente irônico devido à tentativa tão prolongada de busca pela felicidade que acabou resultando talvez na futilidade. O que impõe respeito nesse movimento não é a simplesmente sua melodia, mas sim a sua intensidade, que aos poucos começa a tornar-se obsessiva e ameaçadora, levando consequentemente à uma magnificente catástrofe. (Sempre contrapondo 12/8 e 4/4 que resulta em um efeito de “tercinas” no 12/8 contra as simples colcheias no 4/4).

As cordas, através de um belo contraponto em moto perpétuo, servem como introdução para o primeiro e principal motivo do movimento, feito silenciosamente pelo oboé. Uma cavalgada de outro mundo parece se aproximar. Esse tema pode parecer um pouco estranho, pois não estávamos esperando intervalos de quartas ascendentes. (Nosso ouvidos espera talvez um tema com notas do acorde ou de uma da escala...mas não quartas ascendentes!). A música começa relativamente tranqüila, porém com uma agitação interior bem grande as pessoas começam a responder os comandos de Tchaikovsky.



Após um atraente crescendo, o tema volta novamente feito pelo oboé, porém mais quieto, que vai transformar-se em uma marcha com extremo vigor e "stress". Essa melancólica marcha pode não ser considerada completamente militar, está aí o toque de ironia (principalmente pois sua harmonia é bastante simples e em grande se resume basicamente tônica e subdominante). Eventualmente o batalhão orquestral entra no tutti orquestra fazendo a terra tremer com seus passos, reforçado pelo coral dos metais que gritam saudações. A bandeira voa pelo céu e o momento é triunfante. Salve o Czar?! O tímpano e os metais entraram na fúria exuberante e incoerente que resultará na destruição. O majestoso final nos faz perguntar se tudo isso não se tratou apenas de uma grande ironia à realidade política e social da época  e também deixa a impressão que a sinfonia terminou, gerando algumas vezes entre o público aplausos espontâneos.


4ºMovimento - Adágio lamentoso

A marcha acabou e o destino e a morte nos espera nesse movimento. Desde o começo, eles nos aguardavam. Não temos como escapar. A música vai finalmente retornar para a profundeza nebulosa do pathos e o choro angustiado sem esperança do compositor vai reinar até o seu último suspiro de vida.



O artigo termina com as despedidas do autor. Decidi não colocar aqui para não quebrar o clima que estou no momento. Agora darei o Play novamente e farei essa experiência eu mesmo, pois não consegui a profundidade necessária editando o texto.

Sinfonia N° 4 em F maior, Op. 36 - P. Tchaikovsky

Carta de Piotr Ilitch Tchaikovsky a Nadezhda von Meck, sobre a Sinfonia nº 4 em Fá menor Op. 36. Traduzido por Galina von Meck para o inglês – e por Amancio Cueto Jr., do finado Blog Euterpe, do inglês para o português.


A Sinfonia Nº 4 em Fá menor, op. 36, foi escrita pelo compositor Piotr I. Tchaikovsky entre março e dezembro de 1877. Teve sua estréia em Moscou, Rússia, dia 22 de fevereiro de 1878, regida por Nikolai Rubinstein. A quarta sinfonia foi dedicada à mecenas de Tchaikovsky, Nadezhda von Meck, a quem ele se referiu como "minha melhor amiga" na dedicatória. Esta sinfonia é conhecida por seu curioso terceiro movimento, no qual as cordas tocam apenas em pizzicato.

Florença, 17 de fevereiro / 1º de Março de 1878

Quanta alegria você me proporcionou com sua carta hoje, minha incomparável Nadezhda Filaretovna! Quão imensamente afortunado eu me sinto sabendo que você gostou da sinfonia; que, ouvindo-a, você experimentou as mesmas sensações das quais eu estava cheio quando estava escrevendo-a, e que minha música produziu uma profunda impressão em seu coração.

Você me pergunta se existe um programa definido nesta sinfonia. Geralmente, quando este tipo de questão me é colocado sobre uma de minhas obras sinfônicas, eu respondo: “não, absolutamente nenhum”. E realmente é muito difícil responder a uma questão como essa. Como alguém pode exprimir as sensações indefinidas que experimenta enquanto escreve uma composição instrumental sem um assunto definido? É um processo puramente lírico. É a confissão musical de uma alma em que muitas coisas vêm à tona e que, por sua própria natureza, transborda em forma de sons, da mesma maneira que um poeta lírico diz o que ele tem a dizer em poesia. A diferença é que a música tem recursos incomparavelmente mais poderosos e uma linguagem mais sutil à sua disposição para expressar mil diferentes nuances do sentimento interior.

Em geral a “semente” de uma futura composição aparece de repente e de maneira inesperada. Se o solo é fértil, isto é, se há disposição para o trabalho, essa semente germina com força e rapidez inacreditáveis, brota pelo chão, cria um tronco, depois folhas e galhos e, finalmente, flores. Não há outra maneira que eu possa explicar o processo criador a não ser por esta analogia. A parte mais difícil consiste em certificar-se de que a semente apareça e encontre condições favoráveis; todo o resto acontece por si próprio. Não haveria jeito de eu expressar a você em palavras toda a imensa euforia que me invade quando a ideia principal se manifesta e começa a desabrochar em formas definidas. Tudo é esquecido, você se torna quase louco, tudo dentro de você estremece e pulsa, você mal consegue criar um esboço e já vem uma ideia depois de outra. Algumas vezes durante este processo mágico um choque exterior te despertará deste transe. Alguém toca a campainha, ou algum empregado entra, ou mesmo um relógio bate as horas e te faz lembrar de algum compromisso… Interrupções como esta são difíceis, muito difíceis de suportar. Algumas vezes a inspiração voa para longe por um tempo; você tem de ir e procurar por ela, muitas vezes em vão.

Com muita frequência os processos técnicos, racionais e completamente frios têm de ser invocados para prestar sua ajuda. Talvez isto explique por que até nos maiores mestres você encontra momentos onde há uma falta de coesão orgânica, onde uma costura mostra que partes do todo estão coladas artificialmente. Se o estado da alma do artista que é chamado de “inspiração”, o qual eu estou tentando te descrever, continuasse de maneira ininterrupta, seria impossível sobreviver um único dia.

As cordas arrebentariam e o instrumento seria quebrado em pedacinhos! Só uma coisa é indispensável: que a ideia principal e o contorno geral de todas as partes separadas venham não por meio de uma “busca” mas por vontade própria, como resultado daquela força sobrenatural, inescrutável e inexplicável que é chamada “inspiração”.

Em “nossa” sinfonia “há” um programa, isto é, é possível explicar em palavras o que ela tenta expressar, e a você, somente a você, eu posso e irei indicar o significado de ambos, a obra inteira e os movimentos em separado. Desnecessário dizer, eu só posso fazer isso em termos gerais.


1° Movimento -  Andante sostenuto – Moderato con anima

A introdução é a “semente” de toda a sinfonia, sem dúvida a ideia principal.

Este é o “Destino”, esta é a força fatal que impede o impulso para a felicidade de alcançar seu objetivo, que vigia com zêlo para que o bem estar e a paz nunca sejam completas e sem nuvens, que pende sobre a cabeça como a espada de Dâmocles e de maneira inflexível e constante envenena a alma. Esta força é invencível, e você nunca irá dominá-la. Tudo o que resta é ceder a ela e definhar inutilmente...

O sentimento de solidão e desespero se torna mais forte e mais corrosivo. Não seria melhor se afastar da realidade e se refugiar em devaneios.

Oh alegria! Pelo menos um devaneio doce e meigo apareceu. Uma forma humana, graciosa e brilhante, passa esvoaçando e está acenando para algum lugar.

Que coisa boa! Como já soa distante o obsessivo primeiro tema do allegro! Pouco a pouco os devaneios envolveram a alma por completo. Tudo o que era sombrio e sem alegria está esquecido. Aqui está ela, aqui está a felicidade! …

Não! Eram apenas devaneios, e no meio deles o “Destino” te acorda!

Assim a vida toda consiste de um ininterrupto revezamento da dura realidade com sonhos fugazes e visões de felicidade… Não há refúgio… Você tem de flutuar neste mar até ele te engolfar e te lançar em suas profundezas. A grosso modo, é esse o programa do primeiro movimento.


2° Movimento -  Andantino in modo di canzona

O segundo movimento da sinfonia expressa outra fase da depressão. É o sentimento de melancolia que você tem ao final da tarde quando, cansada do trabalho, sentada sozinha, você pegou um livro mas ele escorregou de suas mãos.

As memórias surgem abundantes. É triste saber que tantas coisas vieram e se foram, ainda que seja agradável lembrar-se da juventude. Há saudades do passado, mas não há desejo de começar a vida de novo. A vida te cansou. É agradável poder descansar e fazer um balanço. Memórias transbordam. Houve momentos de alegria quando o sangue jovem borbulhava e a vida era cheia de prazeres. Houve momentos difíceis também, de perdas irreparáveis.

Agora tudo isto está em algum lugar, distante. É ao mesmo tempo triste ainda que um tanto doce mergulhar-se no passado.


3° Movimento - Scherzo — Pizzicato ostinato
  
O terceiro movimento não expressa sensações definidas. Ele é feito de arabescos caprichosos, de imagens evanescentes que passam pela sua imaginação quando você acabou de tomar um gole de vinho e está experimentando a primeira fase da embriaguez.

Seu estado de espírito não está nem animado nem triste. Você não está pensando em nada; você liberta sua imaginação, e por alguma razão ela começou a pintar estranhas imagens… Entre elas veio à mente um pequeno quadro de camponeses numa farra e uma cantiga de rua… Então, em algum lugar à distância, uma parada militar vai passando.
São estas as imagens completamente inconsequentes que correm pela sua cabeça quando você está adormecendo. Elas não têm nada em comum com a realidade: elas são estranhas, selvagens e incoerentes.

4° Movimento - Allegro con fuoco

O quarto movimento. Se você não pode encontrar razões para alegrar-se consigo mesma, olhe para os outros. Saia com as pessoas comuns. Veja que bons momentos elas têm abandonando-se inteiramente aos sentimentos de alegria. Uma imagem do povo comemorando num festival.

Mal você tratou de esquecer a si mesma e ser arrebatada pelo espetáculo da alegria das outras pessoas quando o implacável “Destino” aparece novamente e te faz lembrar de sua existência.

Mas os outros não reparam em você. Eles nem se viraram ou te olharam de relance, e eles nem repararam que você está só e triste. Oh, que momento amável eles estão tendo! Que sorte eles têm de todas as suas emoções serem diretas e descomplicadas. Censure-se a si mesma e não diga que tudo no mundo é triste. Há prazeres simples mas poderosos. Alegre-se na alegria dos outros. Sim, “é” possível viver.

Está tarde agora. Não gostaria de dizer nada sobre Florença nesta carta, exceto que eu sempre terei memórias muito, muito agradáveis dela. No final da próxima semana, aí pelo dia 24 (no nosso calendário), eu planejo partir para a Suíça, onde eu gostaria de passar todo o mês de março escrevendo pequenas peças em várias formas.Isto, então, minha querida amiga, é tudo o que eu posso te contar sobre o sentido da sinfonia. É claro, tudo isto é obscuro e incompleto. Mas é típico da música instrumental desafiar análises detalhadas. “Onde as palavras terminam, a música começa”, como disse Heine.

E assim, quando você receber esta carta, meu endereço será novamente: Clarens, Canton de Vaud, Villa Richelieu.

Muito obrigado, minha querida, pela carta de hoje. Ainda não recebi nenhuma palavra dos meus amigos de Moscou. Eu escreverei para você em detalhes sobre a reação deles.

Seu, P. Tchaikovsky.

PS: Antes de colocar esta carta no envelope, eu a li novamente, e estou horrorizado com a confusão e insuficiência do programa que eu estou te enviando. Pela primeira vez em minha vida eu tentei colocar em palavras e frases meus pensamentos e imagens musicais. Não consegui dizê-los apropriadamente. Eu estava para baixo, abatido no último inverno quando escrevi a sinfonia, e ela é um eco fiel do que eu estava passando naquela época. Mas ela é apenas isto, um “eco”. Como é que isto pode ser traduzido em sequências de palavras definidas e claras? — Não posso, eu não sei como. Há também muitas coisas que eu já esqueci. O que fica são recordações gerais de sentimentos de natureza  apaixonada e horripilante que eu experimentei. Eu estou muito, muito ansioso de saber o que meus amigos de Moscou terão a dizer.

Au revoir,
 Seu, P. Tchaikovsky


E aqui termina sua carta sobre essa poderosíssima composição. Sem igual. Resolvi postar pois muito me identifico com as confusões da cabeça de Tchaikovsky e por estar passando por um momento de delírio agora achei que seria bom fazer de novo essa experiência, de ouvir uma sinfonia com programa. Talves poste ainda hoje sobre as Sinfonias N° 6  e 'Manfred' também, já que estas são as obras mais perturbadoras do mestre e ainda estou no clima...

Fontes: Wikipédia (informações iniciais) e Blog Euterpe (carta).

terça-feira, 7 de julho de 2015

Find me in El Dorado!

Típica tarde de inverno. Terça-Feira. Friozinho agradável, céu nublado e aquela sensação de nostalgia no ar...  

Pra hoje, a playlist conta com o álbum 'EXODUS' do EXO, pois acho que eles tem uma capacidade de transmitir a nostalgia muito bem. Embora essa característica fique menos clara do que a capacidade de cativar através da dança, visto que não é raro ver como os talentos mais frívolos deles se sobrepõem aos demais. Triste, mas talves essa seja a lei do entretetenimento. Dificilmente verdadeiros talentos são reconhecidos, e quando o são, por vezes não são bem aproveitados ou são menosprezados por aqueles que movimentam a industria. 

São mal compreendidos. Isso! essa é a expressão correta pra ocasião.

Como alguém que tem um gosoto um tanto peculiar quando se trata de música, digo com propiedade o que entendo sobre esse menosprezo. A música oriental é extremamente mal vista pela comunidade ocidental. Mesmo com o sucesso considerável de 'Gangnam Style' do Psy, quem se aventura por esse ramo ainda tem de lidar com os olhares tortos, as piadinhas sem graça e o desdém de quem acha que que sertanejo universitário e Raul Seixas são expressões culturais mais importantes do que a MPB ou a Música Erudita. Pobres criaturas manipuladas pela mídia lucrativa. Na verdade, essas fatias da produção musical são sim importantes, mas como sempre, a verdade mão pode ser simplesmente definida pela maioria dos votos, como disse Bento XVI, mas essas pessoas não foram informadas. Acham que a produção musical que pode ser considerada útil é apenas aquela produzida de forma simples, sem um aprofundamento sentimental e que joga no lixo a definição da música como sendo a arte de expressar os afetos da alma mediante o som. Desculpem-me os mais apaixonados, mas a música sertaneja, o Axé e sei lá mais o que que se ouve hoje, embora tendo o apreço da maior parte da população NUNCA se tornará tão signficativo ou profundo quanto uma composição de Beethoven ou Bach. 

De volta a música oriental, esses são negligenciados pela diferença cultural, compreensivo até. A definição de belo ou romântico no ocidente e no oriente diferem de forma assustadora. Por isso o estranhamento. Mas o preconcito continua sendo o maior empecilho das pessoas em ampliarem novos horizontes. Quanta beleza não há que se achar dentre décadas da música coreana, das composições tradicionais chinesas e até mesmo na euforia japonesa?! Há, se as pessoas se esforçassem mais em conhecer novos mundos e se preocupassem menos em criticar uns aos outros, como seria mais fácil. 

Mas, é a vida que segue, enquanto uns tem preguiça de se esforçarem para ouvir a 'Nona Sinfonia' de Beethoven  ou 'Os Concertos de Brandemburgo' do J.S. Bach, ou por acharem ridículos passem bem longe dos vídeos de Berry Koubou ou SHINee, alguns poucos aventureiros se deleitam com um universo completamente novo de sensações que esses artistas nos proporcionam. E viva a diversidade!

Ontem foi um dia e tanto, embora nosso plano de ir a Câmara Municipal participar do debate acerca dos Planos Municipais de Educação tenham sido subjugados pelo horário da sessão de cinema, o passei foi no geral muito bom. Teria sido melhor se eu não tivesse sido acometido por uma crise respiratória violenta, mas ainda assim considero com positividade o que aconteceu. Passei por um noite complicada no entanto, fortes dores na face me deixaram acordado boa parte do tempo e por conta dos remédios eu estou agora com o ânimo comprometido, mas nada que eu já não esteja mais do que acostumado.

Preocupações me acometem diariemente agora também. Meu amigo visitante está com HPV e vai ter de se submeter a uma cirugia em breve. Não gosto nem de pensar muito a respeito.

domingo, 5 de julho de 2015

Hot Like Fire

Domingão, ainda meio sonolento pois acabei de acordar. Fui à Missa cedo, depois teve ensaio da Quadrilha até o meio dia e eu resolvo dormir depois do almoço.

Acho que isso aqui é mais só pra falar de algo ocorrido enquanto eu vinha para casa depois do ensaio. Passei em frente a casa do meu ex, e ele estava no portão, me olhando, depois me ignorando. Sabe quando tudo muda só de ver uma pessoa? Minha manhã foi super divertida, com pessoas que eu gosto de estar e tal, mas quase sempre que eu passo em frente a casa dele, quero só voltar pra casa e ficar no escuro até tentar esquecer. 

Fruto de uma carência descontrolada, claro, pois nem sequer passávamos tanto tempo juntos assim. Mas sinto como se não tivesse lutado o suficiente e ainda assim ter morrido na praia. Sei que não foi culpa minha, mas também não consigo deixar de esquecer. 

Amanhã teremos cinema com a PJ, vamos assistir os Minions, e eu to até que animadinho, mas por uma pessoinha que eu quero que vá do que pelo fime em si. Vamos ver no que vai dar...

PS.: Hot Like Fire é o nome da música que ouvia quando comecei a escrever. Do grupo coreano TEEN TOP.