O paralelo que encontrei a nossa situação não poderia ser menos cristão, mas pela proximidade artística acho que vale a pena comentar. Ao olhar para nós, você e eu, vejo uma relação complexa como foi aquela entre Unohana e Zaraki em Bleach.
Comecemos com a Mestra dos Oito Mil Estilos:
Unohana Retsu era a assassina mais notória da Sociedade das Almas, e entrou para o Gotei 13, um tipo de guarda, para poder lutar contra bandidos atrás de oponentes fortes. Nisso ela aprendeu a arte da cura para poder aproveitar melhor as batalhas, mas nunca achou um oponente que a desafiasse de verdade. Ela se deu o título de Yachiru, a que domina oito mil estilos, pela proficiência nas técnicas de batalha, e passou a ser conhecida como Kenpachi: a mais forte.
Um dia, após destruir uma gangue inteira e continuar entediada, ela encontrou uma criança que queria lutar, no bairro miserável de Rukongai, e ele tinha tanta sede de sangue que quase conseguiu derrotá-la. No momento que ele conseguiu feri-la, causando aquela única cicatriz no peito em meio as milhares de batalhas que nunca sequer chegaram a lhe dar algum trabalho, ele percebeu que não encontraria outro oponente tão forte, então ele sem nem perceber, selou o próprio poder, para assim conseguir encontrar outras pessoas e enfrentar elas no mesmo nível, sem saber que estava se limitando. Ela percebeu isso, e viu que ele tinha se fechado tanto que ela também não quis mais lutar, porque quando ela finalmente achou alguém forte o bastante, ela acabou por fazer ele limitar o próprio potencial. Suas lutas jamais seriam justas, com um oponente que se recusa a usar seu potencial.
E eu fiz isso com você, limitei seu potencial ao fazer com que sua visão fosse demonizada no todo. E você o assume e comprova isso em nosso diálogo:
- Eu fiquei pensativo com uma passagem da história de São Lucas. É que estou numa parte em que ele se torna protegido de Tibério César e nisso ganha um quarto e escravos. Daí fala que quando ele está no quarto vêm os escravos, exuberantes e nus para o servir. E ele olha admirado para o corpo dos escravos... Eu não sei admirar um corpo sem vir na minha cabeça notas de pecado, você sabe disso. Eu penso tipo, ah... não sei… Quando vejo uma arte, que seja, que tenham corpos nus, eu automaticamente já busco evitar olhar. Não busco contemplar por conta da minha imaginação e memória. E por que parece que tem sempre algo me indicando "cuidado!" "Alerta, alerta!" Eu acho bonito tudo isso, e admiro a admiração de Lucano. Queria ser assim. Ao mesmo tempo, algo me faz repelir esse pensamento.
- É que acho que a forma de ver a coisa toda está errada, muito em parte por culpa minha, quando coloquei em você a consciência do pecado contra a castidade.
Nós devemos romper com todo pecado, como já disse, e é ato de bravura fugir também das situações de pecado. Mas existem muitas coisas que não são pecados em si, mas o são no uso que fazemos dela. Exemplo perfeito você tem melhor do que eu ao ia à academia: quem cuida de sua saúde cuida do que Deus nos deu, quem cuida por um culto ao corpo peca, ainda que faça os mesmos exercícios.
Na vida intelectual o mesmo, quem estuda para encontrar na verdade o Deus criador de todas as coisas, encontra no estudo a virtude. Quem o faz para conquistar títulos num culto a si cai na vaidade...
São Francisco e São Domingos viveram em épocas difíceis em que negavam toda e qualquer coisa boa que vinha do mundo material, eram os cátaros e albigenses. Eles, por uma mentalidade que vinha de um gnosticismo distante, dizia que tudo que era material era ruim, chegavam a afirmar que os sacramentos eram desgraça pra Igreja por serem realidades visíveis que poderiam influenciar o espírito. Mas surge Francisco de Assis que canta louvores às criaturas.
especialmente o meu senhor irmão Sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumias.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Lua e as Estrelas:
no céu as ascendeste, claras, e preciosas e belas."
(São Francisco de Assis)
Ele canta louvores ao Sol, não pela luz do sol, mas pelo reflexo que ela é da luz de Cristo, coisas que os cátaros e albigenses não entendiam, eles viam tudo que é criado, feito por outro deus, um inferior, e por isso negavam que os cristãos deviam ter filhos, porque isso seria levar mais gente ao corpo de pecado... Digamos que você se encontra mais ou menos aqui.
São Francisco louva as criaturas porque encontra nelas reflexo e vontade de Deus e, portanto, bondade nelas. Se fechamos nossa mente para essa realidade, caímos em pecado e usamos o mundo, no culto ao corpo, ao dinheiro, aos títulos, mas se em tudo enxergamos algo de Deus, conseguimos então purificar nossa visão. Não vou curar você nesse conversa, nem teria capacidade para isso, e talvez leve muito tempo, e peço ainda perdão por fazer isso contigo. Mas aos poucos, o mundo pode te revelar a beleza de Deus. Você percebe isso na natureza com sua visão espetacular, só precisa ver isso no corpo também. e o próprio Francisco continua e aponta essa diferença:
à qual nenhum homem vivente pode escapar:
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que cumpriram a tua santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal."
(São Francisco de Assis)
Ele (São Lucas) admira, e percebe o perigo do luxo da situação, mas perceber o perigo não o faz expulsar os escravos como você expulsa os pensamentos de sua mente... Ao menos que eles se tornassem perigosos demais. Há o limite, e é aqui que você tem encontrado dificuldade, todo e qualquer corpo você age como se fosse um pornô, e a diferença entre a beleza real e àquela apelação pornográfica é de um abismo... claro que não vou sugerir olhar foto de gente pelada, mas até nessa arte um pouco mais sensual há beleza verdadeira. Lembra quando apontei nas fotos do Andy Bian uma série de conceitos artísticos e até filosóficos numa foto dele seminu?
- Preciso meditar algumas coisas...
- Sim, e sei que são coisas difíceis, como seu próprio corpo. você sempre teve vergonha de roupa de banho, você deve se limitar a olhar para você com medo de voltar aquela tentação, mas você tem medo de algo criado por Deus que você tem cuidado! Tem uma diferença entre seu corpo e seu corpo como objeto de pecado.
Vejo nas suas fotos que você sempre me enviou, com todo cuidado para eu não ver nada impróprio, mas, na verdade quem tinha medo do que aparecia ali era você. Não estou dizendo para compartilhar fotos sem camisa ou algo assim com todo mundo, mas ao negar isso até a si e aos mais próximos, você age como aqueles que consideravam toda a criação uma perversão de um deus inferior.
É uma meditação séria, que leva tempo e que pode ocorrer em recaídas, mas que faz parte do amadurecimento. Se você visitar o Vaticano, por exemplo, todas as igrejas lá têm imagens e quadros de gente com o pinto de fora. Você se negaria a entrar nas igrejas mais importantes do mundo! Se fossem pecados puramente pela forma delas, não estariam ali sob os olhos dos homens mais santos do mundo durante séculos.
São Francisco ficou nu em praça pública para demonstrar sua conversão: ele faria isso se soubesse que levaria as mulheres ali a pecar? Ele fez aquilo porque seu testemunho de conversão era maior que o desejo que seu próprio corpo poderia provocar.
E aí eu compartilhei uma foto das minhas pernas tampando meu... não era uma provocação, era porque eu queria te mostrar minhas pernas, não era um convite a um pornô caseiro. Saber balancear isso é que é o ideal: as ereções em público são espontâneas, numa praia talvez nem todas sejam, mas aí você pode, e deve, desviar o olhar, seguir um perfil de fotos sensuais já é ignorar a prescrição de fugir as ocasiões de pecar, mas admirar o Torso Arcaico de Apolo ou as pinturas em que a Virgem Maria aparece com o seio de fora amamentando Jesus são para edificação da sua alma, e são coisas completamente distintas.
O que desejo deixar claro é isso: uma coisa eram os pornôs que você assistia, outra são fotos como as do Andy, outras ainda mais diferentes são imagens da Virgem Maria amamentando, ou de São Sebastião nu morto a flechadas...
Unohana Kenpachi |