segunda-feira, 29 de abril de 2024

Algo a sonhar

"Esse coração que a sisudez recobre com uma armadura impenetrável está cheio de ternuras e de dedicações sem destino." (Honoré de Balzac)

Eu sei que você sente alguma coisa, eu só não sei dizer exatamente o que, ou talvez tenha medo de dizer em voz alta aquilo que já confessei em meu coração. Mas eu sei que você sente alguma coisa, e você também, mas não consegue dizer, porque as palavras parecem diminuir, ou aumentar, e isso torna tudo impreciso. Como uma tela em aquarela ficamos assim, com as cores mescladas, mas sem contorno. E eu, que tantas vezes pedi que falasse comigo, que fosse sincero e claro, tive medo de ouvir as suas palavras sinceras e claras. Mas ainda assim, pelo menos ao saber que para você também é difícil dizer, eu sei que não é algo que existe apenas no meu coração, que não foi uma invenção ou coisa do tipo. Eu sei que você também sente alguma coisa, mas não conseguimos dizer o que é.

Eu não queria dizer isso, não queria voltar a isso, mas sinto ela se aproximando cada vez mais. Seja na rotina que a cada dia assume uma escuridão pouco a pouco mais sufocante ou até mesmo naquelas coisas extraordinárias que já não consigo mais lidar. Sinto ela rodeando minha mente, como tentáculos gelados, nojentos, se aproximando e me tocando. 

Minha rotina por um lado tem sido até equilibrada: trabalho, estudo e assisto séries. Mas parece que isso já começa a apertar meu peito. Cheguei a um momento no trabalho que já não consigo mais lidar com novas informações, senão que vou adiando coisas importantes por simples incapacidade de lidar com elas. 

É aquela antiga depressão, essa inimiga silenciosa e brutal, que me incapacitou por tanto tempo, e que agora volta, a cada dia um pouco mais, e um pouco mais e sempre mais. 

Sinto de novo uma névoa ao redor da mente, e parece que todos querem respostas rápidas que eu não consigo dar. E ninguém vai entender se eu explicar. Aliás, eu nem consigo explicar. E também é egoísmo da minha parte querer falar só disso quando você tem outras preocupações, quando em vista do todo é tudo assim tão frágil...

Eu não quero pensar nisso, em nada disso, eu simplesmente não consigo mais lidar com nenhuma informação, então eu não vou fazer nada. As atitudes também falam, então isso indica que eu devo seguir em frente, mas eu não sou capaz de fazer isso agora, então só o que posso fazer é fechar os olhos, sentir os tentáculos gelados da morte ao meu redor e, com isso, esperar desaparecer. 

Ah, se há em mim ainda algum sonho, é apenas esse: desaparecer ou, ao menos, fazer sumir esse vazio, essa angústia…  

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