quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Resenha - I Told Sunset About You

Atenção: contém spoilers, prossiga por conta e risco! :) 

Quando Billkin e PP apareceram em My Ambulance, discutindo e trocando agulhadas, os fãs não esperaram por mais do que um episódio para perceber que havia ali mais do que implicância, mas que era o comecinho de algo um pouco maior, que não chegou a ser porque a série decidiu que o fim dos personagens não seria ao lado um do outro, o que foi bem triste. Mas a alegria foi imensa quando a Nadao Bangkok confirmou que, para felicidade geral da nação, os dois ganhariam um BL só deles. 

A promessa ficou logo carregada de expectativas. Não é querendo desmerecer não, mas as produções da Nadao são, ainda que focadas no público jovem, bem mais sérias, lidando com sentimentos e situações com uma complexidade bem diferente daquela que estamos acostumados nas séries da GMM TV. Mas qual a razão de comparar as duas? Bom, além de que ambas fazem parte do Conglomerado GMM Grammy, o maior da indústria do entretenimento tailandesa, a GMM TV gosta muito de explorar o fanservice dos BLs, mas sem explorar tanto assim o mundo gay propriamente dito. Como assim? Embora séries como SOTUS e Theory Of Love tragam personagens e situações de uma complexidade emocional grande, no geral, o tom geral das produções ainda é mais leve, ao que a proposta da Nadao veio para oferecer um bom contraste com as da colega. 

I Told Sunset About You é um drama, daqueles, e já foi anunciada assim desde o primeiro dia, e cumpriu a promessa até o último segundo, só deixando subir as letrinhas dos créditos depois de extrair a última gota refinada de lágrima dos fãs. Não há razão para enrolar com o veredito: é de longe A MELHOR produção do ano, talvez de toda a indústria BL Thai. 

Antes de explicar o veredito vamos ao plot não é? Okay. A história se passa no litoral tailandês e conta sobre a amizade, a vida e as descobertas de Teh e Oh-aew. Os dois eram melhores amigos na infância mas uma briga acabou por afastá-los, deixando cicatrizes profundas. Anos mais tarde eles se reencontram, como rivais, competindo pela mesma vaga no curso de artes cênicas na universidade. Depois disso, algo mais forte do que os dois, faz com que eles se reaproximem, revivendo a amizade e algo ainda maior entre ambos, que precisam lidar com as dificuldades da vida de estudantes, em perspectiva do futuro, e da vida amorosa, em perspectiva de suas próprias identidades. 

Pois bem, pra começo de conversa a construção da história, desde os primeiros minutos, já foi simplesmente impecável. Nós somos apresentados a dois personagens com muitas questões, com sonhos, desejos e uma juventude que grita pela descoberta do eu. Cada episódio mostra um crescimento enorme de ambos que, pouco a pouco, vão descobrindo como é viver a própria vida. 

Oh-aew (PP Krit) é um garoto que sempre desiste de tudo, enjoa fácil das coisas, mas ao ser escolhido como protagonista na peça da escola ele percebe que gostou daquilo, de verdade, e que finalmente achou algo do qual não vai desistir. Mais tarde, já decidido, percebe que gosta do melhor amigo e, com muito mais intensidade, que é apaixonado pelo antigo melhor amigo, que voltou para sua vida revirando tudo de cabeça para baixo.

Teh (Billkin) é um moleque que sonha em ser um grande ator, ele conhece de cor todas as falas da sua novela favorita e, quando se dedica a fazer alguma coisa, é sempre o melhor no que faz. Ele fica triste quando percebe que o amigo resolveu "roubar" o seu sonho e isso acabou levando os dois a discutirem depois da apresentação que ele tanto ajudou o amigo a fazer. Os anos se passaram e eles nunca voltaram a se falar, com uma mágoa acumulada e empoeirada que escondia um grande amor, amor que ele ainda não entende, mas que não consegue ignorar, quando sente ciúmes ao se reaproximar de Oh-aew e ver que não consegue ficar longe dele mais uma vez.

A jornada dos dois é algo que muitos homossexuais, senão todos, se identificam. Teh não se aceita, e nega, mesmo percebendo que não consegue fingir que não sente nada. Ele quer, deseja, e se detesta e se culpa por isso. Oh-aew já é mais esclarecido quanto à sua sexualidade. Desde o começo já parece confiante de que gosta de Bas, o melhor amigo que o acompanha sempre. Mas, quando ele percebe os sentimentos que têm pelo antigo amigo, e vê que ele também sente algo forte os aproximando, ele precisa lidar com o medo de não ser amado como é, com o desejo de querer ser o suficiente, com a dificuldade que é estar entre os dois, tão diferentes, mesmo sabendo claramente quem ele ama de verdade. 

Outros dois personagens importantes que eu quero mencionar são Tarn (Smile Parada) e Bas (Khunpol Pongpol), os outros interesses dos meninos. Tarn é uma garota com grande paixão por desenhos que quer estudar arquitetura, e Teh já vem dando em cima dela há vários anos, e ela começa a corresponder o rapaz. Infelizmente quando ela percebe isso ele já está confuso com o que sente pelo antigo amigo. Bas é o melhor amigo de Oh-aew, e seu motorista particular, além de nutrir uma paixão, não muito, secreta pelo amigo. É compreensivo e tem um grande coração, mesmo tímido sabe como apoiar e ficar ao lado de Oh-aew, mesmo quando isso significa ver o que o amado sente por Teh.

Esses dois se mostraram o pináculo da maturidade e do amor verdadeiro. Eles desejam a felicidade dos meninos acima de tudo e, melhor do que ninguém, conseguem entender que o amor é algo que não se pode controlar e, se as coisas são assim, é melhor não lutar contra ele.

O primeiro episódio já é suficiente para derramar lágrimas, e o resto então, nem se fala. A produção toda é simplesmente impecável, e eu não vou me cansar de dizer isso nunca. A fotografia é belíssima, cada cena foi construída com muita atenção e cria um diálogo entre o interior dos personagens e o ambiente que os cerca, e essa aura é passada ao espectador numa experiência de sinestesia impressionante, combinando as cores, as formas, os sons e, claro, a atuação dos meninos, que é simplesmente fenomenal!

Billkin é um ator incrível, e consegue mostrar uma gama gigantesca de pensamentos, dramas, sofrimentos, alegrias, incertezas, apenas com olhares e uma linguagem corporal inquieta. Suas lágrimas o traem o tempo todo, e são o reflexo daquilo que ele quer gritar ao mundo inteiro. PP é igualmente maravilhoso em tela, o que não parecia ser o caso em My Ambulance (ao menos pra mim ele só sabia fazer cara de irritado lá), mas ele também é capaz de mostrar várias e várias camadas de uma personalidade que vai se descobrindo e se construindo pouco a pouco. Tem um olhar poderoso, um sorriso misterioso e uma aura sonhadora, alguém que só quer ser feliz. É dele a cena que, na minha opinião, é a mais impactante da série, quando Oh-aew questiona seu próprio corpo por causa das dúvidas de Teh, chegando a conclusão de que ele não é capaz de satisfazer o outro.

A trilha sonora, em sua maioria cantada pelos próprios protagonistas (pra jogar na cara dos meros mortais que atuar não é suficiente, precisa ser cantor e modelo também) é também um show à parte. O tema principal, em thai na voz do Billkin, é uma das músicas mais lindas do ano, seja na versão normal, a capella ou piano, é simplesmente sublime. Chorei várias vezes não só quando ela tocava na série mas também quando ouvia em outros momentos, parte fixa da minha playlist de todo dia. 

No fim o que temos é uma série cuja primeira parte, curtinha com cinco episódios, consegue entregar mais do que muitas séries com o dobro disso. A história não é corrida, o roteiro é bem feito e tudo tem um ritmo calmo como o mar, outro personagem importante, mas que ao mesmo tempo é poderoso, arrebatador. Tudo transcorre de modo linear mas ao mesmo tempo inevitável, como o próprio pôr do sol.

Já havia sido anunciada uma segunda parte, mas ninguém tinha entendido por aqui porque o pôster estava em tailandês, mas ao final do último episódio já deixaram marcado nosso reencontro com os meninos, em março de 2021, enfim, a ansiedade.

Espero, terminando por aqui, que essa série seja de fato um marco na indústria BL Thai, já que os filipinos tão vindo com tudo também, e que seja explorado um mundo mais profundo e complexo, sem medo de chocar ou parecer afetado demais ao público. Uma história de amor gay não é diferente de uma história de amor, aliás, o último adjetivo é desnecessário, pois não tem problema nenhum em uma história ter dois protagonistas.

Nota: 15/10

8 comentários:

  1. QUE RESENHA MARAVILHOSA, COM CERTEZA VOU CORRER ASSSITIR DEPOIS DESSA RESANHA.

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    1. AAAAh, que bom que gostou, depois volta aqui pra dizer oq achou! <3

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  2. Não tenho palavras pra essa resenha. Sério!!! PARABÉNS. Falou tudo no último parágrafo. TUDO 👏👏👏

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  3. Nosssa, acabei te de conhecer e já te amo mto! Sério! Caaaaaara, amei mto sua escrita, vc sabe usar mto bem as palavras a seu favor, mas de uma forma linda e sutil, até pareceu o roteirista de ITSAY kkk que falando nisso, NOSSA, que obra de arte! Até hj eu tô tentando entender o encontro que tive com essa obra! Nossa, com certeza saí mto diferente do que eu era, pq em cinco horas da minha vida eu aprendi oq não aprendi em 25 anos de vida! CARA, se eu fosse fazer uma resenha sobre, ia ser só assim: Caraaaa, SÉRIO, MDS, NOOSSA, PERFEIÇÃO kklkk não ia dar certo haha entao obrigada pela resenha!! Já virei fã!

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    1. Aaaaah, olha, vc não imagina a emoção que é ver um comentário como esse. Muito obrigado mesmo, fico muito feliz de conseguir passar minha visão sobre essa obra épica e mais feliz ainda em saber que ela tocou o coração de outras pessoas como tocou o meu. Bjoo <3

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