O meu interior se transformou numa espécie de fortaleza da solidão.
Há dentro de mim um monstro a gritar desesperadamente, isso eu posso sentir, mas não sei onde ele está e nem o que ele quer de mim. Não se parece com os monstros que antes fugiram do meu interior, esse é diferente.
Não sei se este é um monstro ainda pior do que aqueles, ou se é mais poderoso, mas os seus dentes e suas garras não arranham as paredes do meu coração da mesma forma. Mesmo lutando para sair o seu grito é silencioso, e tudo o que eu escuto dentro de mim é isso: silêncio!
Não há mais dentro de mim uma música tocando, nem um sol se pondo. Também não há uma lua e estrelas brilhando. Não há nada, apenas vazio e frio, silêncio. E sua pata pesada a cair por sobre o meu peito, tirando-me a respiração.
Eu fecho os olhos, me desligo do mundo, tentando ouvir a fera que grita, mas nada, não consigo ouvir nada, e no entanto eu sinto ela lutando para se soltar. Mas é como se estivesse sozinho, só eu e o silêncio.
Só silêncio. Não há mais canção, nem brilho, nem amor, apenas o silêncio abrasador e assombroso, assustadoramente assombroso. O silêncio onde se esconde os gemidos do pecado. O silêncio frio.
Como pode o frio queimar tanto?
Onde está o sol?
Onde está a luz?
Onde está a música?
Todos se foram, não vejo mais ninguém, não há ninguém. Morreram? Me abandonaram? Não sei, apenas sei que todos se foram, para nunca mais voltar...
E com eles foi também o sol, e a luz, e a música que antes aquecia meu coração, agora só há silêncio, silêncio e mais silêncio, o mesmo daquela hora dulcíssima do sono, mas também não há sono, apenas medo e desperança, apenas silêncio.
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