enquanto eu penso em outros assuntos
que também prometem perdas quase certas.
procuro um cigarro no
painel, este idiota sorrindo
internamente: as coisas nunca foram muito
boas, talvez não tenham mesmo de ser.
Eu odeio esses dias de euforia. Odeio essa eletricidade que parece percorrer meu corpo por baixo da pele.
Mas, seria eletricidade ou fogo? Pois parece que, depois, quando as coisas finalmente se arrefecem, quando passa o furacão que eu me torno dentro de mim mesmo, sobra apenas cinza. Cinza fria. Sinal de algo que explodiu, destruiu, e agora se foi.
Eu odeio esses dias em que fico falante demais, porque sempre acabo chateando alguém, fazendo entender errado, e acabo me chateando mais ainda quando me vejo, como hoje, de novo, numa sexta de chuva em Joinville, sozinho, sem nem ao menos alguém para conversar, sair ou beber. As notificações pararam de chegar, porque as pessoas estão vivendo. Estão namorando, estão sendo elas mesmas, com seus amigos, com suas famílias, namorados, amantes, e até desconhecidos em mesas de bares e camas de um motel barato.
Cheguei em casa com os cabelos gotejando sereno. Participei de uma formação chatíssima que não me acrescentou nada além de horas de um profundo tédio que eu queria poder oferecer a Deus, se eu tivesse sofrido em silêncio. Mais uma vez me culpo por nunca conseguir colocar limites nesses dias.
Limites.
Limites no que digo, no que compro, no que me proponho a fazer.
Limites nos remédios que tomo, no álcool, na pornografia.
Parece que nesses dias essa palavra é simplesmente riscada. E eu não encontro limites. Mas não é verdade. Pois os limites se encontram exatamente nos mesmos lugares em que sempre estiveram: no limiar da minha própria consciência. Na diferença entre mim e os outros. Nisso que nos separa e que nos torna individuais. Nisto que torna nossa comunicação impossível.
Precisei dormir um pouco nos dois últimos dias apenas para fazer diminuir as vozes e evitar maiores danos. Mas as contas desse mês já estouraram o meu orçamento. Me comprometi a ir em lugares que não queria, a ter conversas que não queria, a muitas coisas que não queria. E, mesmo muitas vezes nem sabendo o que eu quero, sei bem que essa euforia não é, nem de longe, o que eu queria.
Passei um leve chá Rooibos e me sentei para escrever. Depois de assistir ao último episódio de Memoir of Rati, com o meu querido Sarin Ronnakiat, um de meus atores mais queridos. Me concentrei no aroma doce do chá, no seu tom avermelhado, no seu sabor, na xícara quente entre minhas mãos e do líquido em meus lábios. Foi preciso isso para desacelerar, embora já sejam quase três da madrugada e eu esteja tão disposto quanto estava às cinco da tarde.
Queria poder sentir o calor de um abraço, ao invés de apenas do chá. O perfume de um corpo querido, o sabor de um beijo. Queria poder ter seu corpo em minhas mãos, e assim me acalmar. Mas não é possível.
No fim o que sobra é apenas isto, minha mente e corpo em desconexão, um cansado e o outro acelerado. E o silêncio.
“Assim termina o mundo: não com uma explosão, mas com um suspiro.” (T.S. Eliot)
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