segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Metafísica da Ausência

"A angústia revela o ser-no-mundo em sua totalidade." (Martin Heidegger)

Foi uma noite de fúria, é verdade, e sentia que não havia mais sangue correndo nas minhas veias, mas algo como veneno, ou lava. Sei que, depois daquela explosão, consegui respirar um pouco melhor, como se a pata pesada de uma fera fosse tirada de cima do meu peito. Essa é uma imagem comum, gosto de usar, algo nela me faz sentir familiar. As palavras sangue, veneno, fera... De algum modo refletem algo dentro em mim. Agora, no entanto, restaram apenas cinzas.

Isso porque, às vezes, a decepção com a vida, a desesperança, o olhar para o horizonte sem nenhuma perspectiva, ao invés de resignação, provoca uma onda de ira. E então um horror é liberado do peito. 

Senti raiva por parecer estar sendo usado. Odiei isso. Porque, de novo tornando a esse assunto, eu me esforço nas coisas que me proponho a fazer, e parece que querem tirar sempre proveito disso. Quando senti que ele poderia me usar para se aproximar de outras pessoas, ao invés de valorizar o que eu estava fazendo... Parece que algo se desfez. Talvez de novo um dos altares que ergui aos meus ídolos ruiu? 

Uma parte de mim acha que isso é só paranoia. Afinal, muitas das ideias que temos são minhas, mas parece, e isso eu sei que não é paranoia, que ninguém nunca olha para mim. Mas olha para frente, para outras pessoas. 

No fim, me incomodei por sentir que estava sendo usado por outra pessoa que só queria ser aceita, quando eu também faço muito do que faço apenas para ser aceito pelo meio. Um sinal bastante claro da imaturidade, de alguém que ainda não saiu da quarta camada. 

Ele não entendeu que as imagens pessimistas em alguns trechos de Bukowski que enviei eram, na verdade, analogias para algo que parece bom, mas que pode ser destrutivo se você voar perto demais, o que parece ser o desejo de todos. Não gosto do sol, nem do calor, porque isso me lembra as pessoas que amo, e todas elas, acabaram me machucando quando me aproximei demais. Como Ícaro eu fui lançado ao chão por tentar voar perto do sol. Hoje eu o vejo com desprezo. Porque há de iluminar um mundo nojento. 

Por isso eu tenho preferido ficar quieto. Meus planos de regular meu sono não se cumpriram completamente. De noite estou dormindo melhor, estou conseguindo me acalmar mais cedo e, por isso, a qualidade do sono tem sido melhor. Infelizmente, talvez pela redução abrupta dos sedativos na semana passada, eu tenha ficado demasiado sensível, e isso se refletiu num abuso dos remédios nessa semana. Seja por um motivo ou outro, acabei ficando deprimido, e isso me fez ficar doente. Não nego que me tornei dependente desses remédios, e que teria gasto três vezes mais se tivesse esse dinheiro. Qualquer quantia é válida para impedir que eu veja, que eu responda, que eu seja. 

Quero voltar a dormir. Não há um só dedo de Deus nessa existência miserável que justifique ficar acordado para ver essas desgraças. 

E a minha ausência nem sequer fez diferença. 

Não é como se eu estivesse surpreso. 

Se presente, eu sou útil. Se não estou, não faz diferença. 

Continuam cantando, rindo, sorrindo, falando das carnes das mulheres. Comigo nunca é assim. Eles não dão a mínima!

Então, se vai ser assim, diga a Maricotinha que mandei dizer que eu não tô. Nem vou. Triste, sim, mas não surpreso. Mas a tristeza não é uma novidade, é uma velha companheira. Formamos um trio: eu, a tristeza e a desesperança. 

Como se fôssemos um só.

E o resto é vazio.

" - Estou trabalhando em um poema para você.
- Um poema de amor?
- Sim, se é para você, é um poema de amor." 

"Paterson" (2016)

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