segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Na orquestra dos dias, um murmúrio de beleza

“O peso de estar consciente é maior que o peso de viver.” (E.M. Cioran)

Talvez eu esteja procurando algum consolo nas músicas que venho ouvindo repetidamente nos últimos dias. Tenho preenchido não só o ar da casa mas também minha atenção com as notas dos Concertos para Piano N° 1 do Chopin, Tchaikovsky e os de N° 2 e 3 do Rachmaninoff. Há algo de reconfortante nas notas, tanto dos instrumentos principais quanto das orquestram, que parecem tornar a atmosfera um pouco mais respirável. É como se as linhas das partituras fossem filtros de ar por onde o meu pulmão consegue de novo um pouco de frescor, por entre o peso constante a esmagar meu peito, numa interminável melancolia. 

Mas não é apenas na música que venho buscando algo. Não. Também nas conversas, parece que vou tentando encaminhar sempre para algum campo em que me sinta mais confortável, ao passo que venho também fugindo de outros, não tão agradáveis assim. Como se falar de sexo com um amigo hétero antes de dormir pudesse mudar algo na forma dele de olhar para mim. Mas também é algo catártico, já que minha libido se encontra em franco declínio, é uma forma de me sentir um pouco, não sei, vivo? Não, isso é demais. Normal? Se for no sentido biológico, como um homem normalmente safado, pode ser. Embora a química do meu cérebro também se recuse a ser classificada como normal. De todo modo, não posso nem, como um homem normal, simplesmente deitar e tocar uma punheta antes de dormir. Não tenho vontade e nem autoestima pra tocar meu próprio corpo.

Não é como se buscasse sentido. Mas acho que ao menos busco distração. 

Beleza. 

Isso, busco um pouco de beleza em meio a tudo isso. 

As conversas, aos barulhos, as notificações que não param de chegar. Mas, é como se, girando nos ventos impetuosos de uma tempestade, eu conseguisse encontrar uma pequenina flor, de delicadas pétalas alvas, a resistir bravamente ainda de pé, enquanto eu mesmo há muito já caí por terra, me encontrando sujo de lama. E então olhando essa flor, pudesse sentir seu perfume, como se não fosse apenas uma pequenina, mas sim todo um canteiro repleto das mais belas e perfumadas flores. 

Ah, a beleza, talvez o desejo da beleza seja a única coisa que ainda exista em mim. A beleza de uma flor, de um arpejo ao piano, do sorriso de um amigo, de um amor não correspondido ou de desconhecido que nunca mais tornarei a ver.

“E contudo, apesar de tudo, a vida, essa velha infame, continua.” (E.M. Cioran)

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