sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Prelúdio do Desespero

"A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento dos homens." (Friedrich Nietzsche)

Acho que, mesmo depois de tanto tempo, depois de todas as coisas que aconteceram, eu não consegui matar completamente a esperança dentro de mim. 

Será que isso é esperança? É isso que tanto chamam de esperança, que nos faz querer, de algum modo, seguir em frente e acreditar que as coisas vão dar certo?

É que, mesmo sem querer, eu me vejo de novo querendo estar envolto em um abraço, e queria que aquele meu beijo tivesse algum significado para ele, queria que ele entendesse que eu desejo a formação de um laço.

Mas me parece que todos os laços que criei, depois foram usados para me enforcar. E com esse não é diferente. Não é um laço entre nossos corações. É um laço para que eu coloque ao redor do meu pescoço, pondo um fim de vez a esse ciclo interminável de paixões não correspondidas e desespero.

Aquele beijo não significou nada para ele.

Eu não significo nada para ele.

Posso até tentar levar a conversa para outro rumo, tentar manipular as coisas de algum modo. Mas, no fim, essa é a única verdade, brutal, fria e direta: eu não significo nada para ele.

Nem para nenhum outro.

Os últimos dias foram de uma intensa euforia. A canonização de São Carlo Acutis me despertou, e eu realmente fiz muito mais do que imaginei que conseguiria, depois de quase dois meses de uma depressão terrível. 

Hoje o sol amanheceu um pouco mais brilhante. Há dias víamos apenas um céu nublado, e eu achava isso lindo. A presença de tanta luz me incomoda. Ele, por outro lado, ficou feliz com o sol. Acho que isso mostra o quanto estamos distante e incompatíveis.

Quando o sol se mostra dessa forma, dispersa as nuvens e a névoa que recobre o chão. Tudo se torna visível, o dia se torna caloroso, as pessoas mais dispostas. Eu não combino com isso. Prefiro o silêncio de uma noite onde tudo que se vê pela janela é um denso nevoeiro e um ar frio a fazer bater os ossos. Sinto que assim posso fechar os olhos e contemplar o silêncio. 

Não é como se fôssemos andar de mãos dados sob o sol e depois dormir juntos ao cair da lua. Não. 

Então é isso que chama de esperança? Querer continuar desejando, esperando, que meus esforços sejam reconhecidos? Mas o que se ganha com a esperança?

Alguma vez uma guerra se venceu porque o povo tinha esperança? Na verdade, a esperança só fazia com que aqueles pobres durassem mais em meio aos horrores. E desde quando sobreviver as desgraças é uma coisa boa? Não vejo nisso senão causa de desespero. Sim, o desespero é o único filho da esperança. Um homem magro das guerras, fome e tantos terrores que teve de enfrentar. Um homem que já não carrega luz nos olhos, senão uma lembrança opaca e sem vida. Seus passos arrastam pés sangrentos, suas mãos trituradas não seguram mais nada. 

"A esperança é a lua brilhante da desilusão, iluminando o caminho até a queda." (Cioran)

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