“Há um cansaço da carne, e um cansaço da alma. O da carne nos leva à cama, o da alma, ao nada.” (Machado de Assis)
Recebi um ultimato na terapia: ou me esforço mais para diminuir o uso dos remédios para dormir ou vou acabar sendo internado para desmame dessas medicações. Isso significa que eu vou precisar de uma série de estratégias para alcançar isso.
A primeira delas foi conversar com a minha família, e explicar os momentos que fico mais tenso e dos motivos que me fazem recorrer aos remédios. Eu já deveria ter admitido há tempos que eu não conseguiria fazer isso sozinho. Além dos meus descontroles emocionais, há uma série de situações que acabam me deixando agoniado, especialmente quando há muito barulho...
Nesse momento, são quase seis da tarde, a brisa fria mudou, o anoitecer já se anunciar e um monstro começa a crescer, e eu sinto como se ele colocasse suas patas pesadas em meu peito. É difícil respirar, é a ansiedade chegando. Acho que vou na Igreja, mesmo com preguiça, participar da novena. Não gosto muito de novenas, e nem tenho um motivo pra isso. Acho que não gosto de compromissos fixos demais.
Mas não são só os remédios. Não sei como vou explicar pra minha família a dúzia de compras que vai chegar nos próximos dias, nem o rombo no cartão de crédito deles. Acho que vou precisar começar a tomar chá mais cedo, pra dormir mais cedo e, regulando o sono, não querer dormir tanto durante o dia. Quanto aos momentos de ansiedade, bem, ainda não sei o que fazer com eles. As pessoas falam que eu preciso me exercitar, mas a paróquia fica na esquina da minha casa e tem dias que nem lá consigo pisar, elas não se dão conta do absurdo que é dizer isso.
E hoje foi assim, conforme a tarde ia caindo, o vento mudando um pouco, fui sentindo mais e mais...
Queria companhia, um abraço, um afago, de novo, de novo, e de novo, sempre essa maldita carência mesclada com ansiedade, como se nos braços de alguém eu fosse encontrar algo.
Não vou, porque não há algo, e sequer haverá braços a me envolverem. Meu único destino é como o daquele lavrador, numa cova grande pro meu defunto parco, e ainda mais que no mundo me sentirei largo.
Lá só haverá a terra fria e os vermes, se assim o quiserem, a me devorar.
“O resto é silêncio.” (Shakespeare)
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