Não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares,
e seu aspecto não podia seduzir-nos.
Era desprezado como a escória da humanidade."
(Is 52, 14; 53, 2-3)
Onde é que há alguma fonte de energia que eu possa encontrar e ligar em mim? Um desânimo extremo toma conta de mim, como se tivesse carregando o mundo nas costas. Mas não, tudo que tenho é uma imensa e profunda decepção.
Eu nem sequer consigo descrever como é. Talvez se tivesse essa habilidade poderia escrever uma obra monumental, como uma enciclopédia da melancolia ou uma sinfonia que se comparasse com a Trágica de Mahler ou a Patética de Tchaikovsky.
É só como se, um cristal fosse quebrado em mil pedaços e esperassem que eu o remendasse. Assim. Como consertar uma dor tão profundamente marcada na minha alma que poderia dizer que foi gravada a ferro e fogo?
Meu próprio coração foi despedaçado, e eu remendei como pude. O resultado foi uma aberração. Me tornei um arremedo de ser humano. Vejo que, ao mesmo tempo em que reclamo de não ter amigos, acabo por me afastar de outras pessoas. Mas é que o relacionar-me com o outro se tornou penoso. Eu sempre acabo criando dependência das pessoas e, como isso não pode ser recíproco, eu me decepciono.
Reconheço, por exemplo, que os golpes que levei essa semana doera, e me derrubaram, mas eu já devia esperar, e mais: devia saber que não foram estritamente golpes porque não foram direcionados a mim. Eu apenas esperava algo impossível, de novo, pela enésima vez.
O que me resta depois disso é apenas olhar no espelho e me fazer aquela dolorida pergunta de sempre: por que eu não sou bom o bastante? Por que eu sou apenas aquele que procuram quando precisam de algo? É porque nasci homem? É porque estou gordo e feio? O que há de tão errado em mim que me torna tão repulsivo ao outro? Por qual razão nunca olham para mim como olham para as belas meninas?
Perdoem-me a tautologia, mas mesmo sendo algo de obviedade gritante, ainda desperta em mim profunda revolta.
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