Alguns sentimentos conflitantes surgiram numa combinação misteriosa. Por um lado, ao assumir o meu ímpeto luxurioso ao entrar no que, me parece, um episódio misto de oscilações de humor, apareceu também, como numa contraparte, um ou "Eu" em contraste com a fera, que sentia vergonha daquilo que queria vir à luz.
Que pode um canteiro de delicadas flores contra uma fera destruidora? É assim que me sinto ao tentar refrear os impulsos que aparecem nesses dias. Como se eu pudesse quase literalmente devorar a carne dos rapazes que me cercam. E quando esses rapazes são pessoas próximas ou importantes, e me vem a mente todos os que se foram porque horrorizados com esse monstro não puderam mais olhar para mim... Bem, isso me enche de vergonha.
E então eu pedi desculpas a um amigo, na pessoa dele queria me desculpar com todos com quem já fui grosseiro, desrespeitoso, por conta dessa intensidade hipomaníaca que tantas vezes me faz falar e fazer coisas horríveis.
Mas, que pode um jardim de delicadas flores contra uma fera violenta? Apenas esperar que alguma outra força aprisione a fera para que não as destrua de todo.
Bem, é mais ou menos isso que acontece comigo nesses dias em que é melhor dormir e me afastar do que acabar perdendo mais um amigo. Acho que já estou sozinho demais para perder mais amigos por conta desses impulsos incoercíveis.
Por fim, já que, me parece, faltar-me-á lirismo para me demorar mais, fica nos recessos de minha mente o questionamento da terapia dessa tarde: o que há por trás desse duplo movimento meu em relação ao outro, em querer obsessivamente quando não posso ter e, ao contrário, quando sinto, até mesmo de forma intuitiva, que há uma chance real de aproximação efetiva que vai demandar um verdadeiro esforço emocional, eu me afasto, me protejo, fugindo como um gato medroso. Será que por trás de toda intensidade no sentir há, na realidade, medo de me comprometer, de me machucar mais uma vez, e por isso eu invisto apenas onde não posso vencer?
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MISANTROPIA
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