Um sopro
Sopra um hálito ofegante
Por sobre a pele arrepiada do amante
O amado, há muito enamorado
vê dissipar como um sopro
o pensamento um dia aprisionado
Como uma dança então
eles se entregam aquela ação
que nada mais é do que a materialização da paixão
O pobre poeta solitário
fumando um cigarro velho
ébrio de um vinho barato
Apenas imagina a cena
olhando a imagem de dois amantes
que mentem posando em cena
Mas aqueles amantes de mentira
não são diferentes das muitas vezes
que o pensamento dele não passava de mentira
Sonhava, iludia-se e se admirava
das miragens que seu peito criava
e então a elas como n'água mergulhava
Por fim já nem sabia
dizer o que era verdade ou mentira
só sabia que nunca conseguiria
A verdade se revelou não como o sopro
no corpo suado do amante
mas como um soco
Forte bem à altura do estômago
tirando-lhe o fôlego que ele desejava
perder apenas num sexual afago
Os atores continuam sua cena
infinda se nunca cessa o espectador de assistir
mas o poeta agora se encontra na real arena
Onde até pode até perder o fôlego
em sexo, carícias e loucuras
mas que para ele ficam apenas em aceno
As mensagens cessam
como cessam os sopros
e como os amores cessam
Cessam ainda as amizades
e os olhares para a eternidade
ficam apenas a vontade
E então o que deveria ser um poema de amor
ou erótico se preferir o editor
verte apenas a dor
De alguém que um dia
por vezes incontáveis amou
mas agora tem apenas uma pele fria
Onde nenhum amante vai soprar
com hálito quente e desejante
fazendo-lhe o membro pulsar
Sem rosto enrubescido
corpos e membros retesados
respiração em frêmito
Sem suor a perfumar o ar
sem a avulsão nívea
e as mãos a trepidar
Finda assim a poesia
a masturbação e a orgia
sobrando apenas a parestesia.
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