terça-feira, 5 de agosto de 2025

Sopro Seco num Poema Sem Pele

Um sopro
Sopra um hálito ofegante
Por sobre a pele arrepiada do amante

O amado, há muito enamorado
vê dissipar como um sopro
o pensamento um dia aprisionado

Como uma dança então
eles se entregam aquela ação
que nada mais é do que a materialização da paixão

O pobre poeta solitário
fumando um cigarro velho 
ébrio de um vinho barato

Apenas imagina a cena
olhando a imagem de dois amantes
que mentem posando em cena

Mas aqueles amantes de mentira
não são diferentes das muitas vezes 
que o pensamento dele não passava de mentira

Sonhava, iludia-se e se admirava
das miragens que seu peito criava
e então a elas como n'água mergulhava

Por fim já nem sabia
dizer o que era verdade ou mentira
só sabia que nunca conseguiria

A verdade se revelou não como o sopro 
no corpo suado do amante
mas como um soco

Forte bem à altura do estômago
tirando-lhe o fôlego que ele desejava
perder apenas num sexual afago

Os atores continuam sua cena
infinda se nunca cessa o espectador de assistir
mas o poeta agora se encontra na real arena

Onde até pode até perder o fôlego
em sexo, carícias e loucuras
mas que para ele ficam apenas em aceno

As mensagens cessam
como cessam os sopros
e como os amores cessam

Cessam ainda as amizades
e os olhares para a eternidade
ficam apenas a vontade

E então o que deveria ser um poema de amor
ou erótico se preferir o editor
verte apenas a dor

De alguém que um dia
por vezes incontáveis amou
mas agora tem apenas uma pele fria

Onde nenhum amante vai soprar
com hálito quente e desejante 
fazendo-lhe o membro pulsar

Sem rosto enrubescido
corpos e membros retesados
respiração em frêmito

Sem suor a perfumar o ar
sem a avulsão nívea
e as mãos a trepidar

Finda assim a poesia
a masturbação e a orgia
sobrando apenas a parestesia.

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