quinta-feira, 31 de julho de 2025

Entre Leituras Inacabadas e Campos Amarelos


Não consegui me ater a uma leitura mais complexa, e me senti um pouco frustrado por isso, mas talvez ainda não seja o momento. Ao contrário do que pensam aqueles idiotas que outrora eu deveria obedecer, eu não estou de férias no CAPS, mas me tratando, enquanto noto inclusive alguns sutis sinais de esquizofrenia na minha conduta.

Me contentei em abrir um pequeno livro de eclesiologia, nada muito extenuante, que consegui vencer em poucas horas e que, felizmente, se encaixa bem com minha linha de pesquisa maior. Ainda fazem parte desse todo que eu quero explorar o simbolismo oriental e a perda do simbolismo no ocidente, bem como seu impacto na teologia cristã, de modo que, por meio do esvaziamento daquele, se deu o esvaziamento do próprio cristianismo. Fato facilmente verificável na futilidade teológica que vemos em nossas paróquias. Bem, ao menos não fiquei completamente paralisado e dei um passo, ainda que mínimo, no que, penso, possa me resultar num livro futuramente, ou uma série deles. De todo modo, se não acontecer, ao menos eu entendi, e estando minha consciência em paz, já estarei grato. 

Imaginei caminhar por um campo de girassóis, estão floridos nessa época do ano. O amarelo daquelas flores contrasta com o céu opaco. Embora algumas pessoas estejam comigo, sinto mais a presença de cada uma daquelas plantas, e tão somente elas. Um belo rapaz caminha no caminho ao meu lado, estamos separados por alguns metros de pés de girassóis, mas é mais do que isso. Ainda que eu corresse por entre as flores, eu jamais poderia alcançá-lo.

Andei um pouco por um bairro mais movimentado aqui, e me arrependi dessa decisão menos de dez minutos depois de ter saído de casa. Sei que passei a maior parte do tempo apático, mas já foi uma evolução, eu acho. Ao menos eu saí não é? Talvez seja isso que chamam de funcionalidade, conseguir cumprir as demandas, no caso comprar presentes pra minha irmã e meu pai. 

Fui direto pra cama quando voltei e dormi um pouco. Ainda estou um pouco travado na leitura, embora considere a lentidão na leitura ainda melhor que leitura nenhuma, ou quase isso. Como comecei falando, não tenho conseguido me concentrar em nada muito complexo, como o livro de Victor Frankl que comecei, mas estou conseguindo acompanhar aos poucos as Vinte Mil Léguas Submarinas de Julio Verne. Mas a reunião de hoje, essa eu vou adiar. Não estou com paciência pra encarar todas aquelas pessoas que acham justo fazer uma reunião para organizar uma festa enquanto fazem aquele teatro ridículo que foi o Cerco de Jericó. Objeção de consciência com pitadas de fobia social.

E já tinha até aceitado que iria, mas, de repente, me sobreveio uma melancolia profunda e, atendendo ao chamado grave do abismo, resolvi fechar os olhos e ouvir a poderosa Sinfonia da Ressurreição de Mahler. Quem sabe eu ressuscite também? 

Há dias em que o coração
amanhece com um pranto
guardado no canto

Um pranto manso, que não grita
mas insiste em escorrer - silencioso - 
por algo que nem sei se foi, se é, ou se será.

Choro pelo que já se desfez.
Choro, talvez, pelo que nunca chegou a ser.
E também por tudo aquilo que existe só no pensamento...

... nas mil possibilidades que a vida poderia ter tomado ou ainda pode tomar.

Não é tristeza. 
É uma melancolia que me visita com as mãos vazias
e ainda assim consegue me tocar inteira.

É um lamento sem nome, sem forma,
como uma saudade de algo que nunca tive.

(Alma Poética)

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