terça-feira, 29 de julho de 2025

Entre o Silêncio e o Asco

Tem um monte de coisas que eu queria falar com você, mas não é possível. Meu interior quer partilhar com você, por que é isso que os amigos deveriam fazer não é mesmo? Mas eu não posso, e percebo isso quando você vem em minha direção como um tsunami prestes a destruir tudo, sem deixar espaço pra mais nada. Você é um fenômeno da natureza em mim.

Sei bem que esse sentimento é resultado da aglutinação de vários elementos, os quais preciso graduar com relação à realidade e não a minha resposta emocional. O primeiro desses elementos é a sociedade ao meu redor, que me induz por todos os lados a mediocridade da personalidade, valorizando a subjetividade ao invés da realidade, tornando-me um homem incapaz de amadurecer. Essa imaturidade resulta numa falta de senso das proporções, e percebo isso com uma clareza brutal ao ver a importância que dou a essa parte da minha, desperdiçando uma energia que poderia com muito mais proveito ser aplicada ao estudo do que a mera ruminação sentimental. 

Por fim, não menos importante, é a dificuldade que é enxergar as coisas como elas são quando até a química do meu cérebro se desajusta a todo momento. Vivo sempre nessa montanha-russa. Tendo impressões erradas a todo instante que me levam a atitudes que, por fim, me deixam só. 

É mais uma madrugada fria. Embora eu goste do inverno, o acho particularmente solitário. Ainda mais quando olho no espelho e tenho nojo do que vejo, e imagino o nojo que os outros teriam ao ver o mesmo. Por isso venho tentando desaparecer. Acabo então guardando também mais coisas para mim. 

Não disse a ninguém que, tendo engordando, e ficado tanto tempo deitado nesse episódio depressivo, que minhas virilhas estão sujando minha roupa de sangue. Também não disse que ao trocar fotos com um semi desconhecido num aplicativo de mensagens ele me bloqueou assim que me viu nu, ou seja, uma confirmação do asco que sinto de mim mesmo. 

É mais uma madrugada fria. Saí de alguns grupos porque não quero conversar muito com ninguém. Talvez na outra semana, ou quando receber meu próximo pagamento, eu vá ao cinema sozinho de novo.

É mais uma madrugada fria e eu, fera muda, já não grito Eu no coração do mundo.

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