quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Artéria


"É no beijo recusado que o amor se prova." (Marguerite Duras)

Em uma manhã fria
enquanto minhas mãos tremiam
não era pela chuva que caía
que meus ossos quase se partiram

porque à distância de uns passos
eu poderia me entregar bem mais 
do que um simples abraço
ao fim daquela cantoria

os sorriso ecoavam pela capela
e uma fraca luz pelas janelas
mas em contrário
meu coração ardia

e eu sabia que não podia
permitir que vissem ou sentissem,
que entre sorrisos e aclamações
meu coração se abrisse

ainda assim, movido por força
que eu não podia resistir
venci àquela distância
de poucos passos

para então me deparar com a 
distância invencível.
E mesmo assim, 
diante do impossível

abracei aquele corpo branco
no meio de um enorme sorriso
e num amplexo amado
um beijo apaixonado

ao pescoço lhe foi dado
tocando brevemente meus lábios
por aquela artéria onde
seu sangue passava.

Pergunto eu
no silêncio do meu coração,
se ao separarmos os nossos braços
os sentimentos que imprimi

em meus lábios
e que toquei sua pele
se teriam chegado pelo sangue
ao coração dele.

No entanto, é com aquela normal
tristeza e repugnância
que eu enfrento a cruel dureza
da verdade daquele instante.

Mesmo que não tenha demonstrado
para além da indiferença
a única coisa que ele pode ter sentido,
foi uma contida repugnância.

"E o que em mim sente está pensando." (Cecília Meireles)

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