quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Autópsia dos Lábios Rosados

Notas sobre luxúria, ingratidão e outras feridas incuráveis

Tentei assistir um pouco, era a série de um dos meus casais favoritos, mas nem os lábios rosados do Dunk Natachai me convenceram a ficar acordado mais tempo. As coisas são assim. 

Os lábios rosados ganham fama, alguns buscam satisfação nas drogas, no álcool. Alguns se enganam com o trabalho e o cansaço e encontram nisso o sentido de sua existência. Alguns tentam encontrar uma foda pra noite. Vejo então que não há muita diferença entre os outros e eu. No fim somos todos simples. Do mesmo jeito que fui várias vezes me encontrar com desconhecidos pra transar e me esquecer deles no dia seguinte. Somos todos iguais. Ridículos. E nos negamos a ver aquilo que é óbvio. 

Tudo bem, é melhor para de falar nesse falso plural de humildade, que de humilde não tem nada, mas falar em nome do único que posso falar: eu mesmo! Eu sou ridículo, e me submeto as mais diversas situações na tentativa de frear os instintos libidinosos, naturais da luxúria masculina e da queda do homem. Mas eu não sou o único. Muito se submetem ao prazer em locais sujos e inapropriados, que só não são mais nojentos que meu próprio coração e a minha vontade, arrastadas no mais putrefeito lodaçal. 

Sair com um amigo que ficou ao seu lado num momento difícil? Não. Encontrar uma desconhecida para foder em qualquer lugar? Que horas devo sair? Somos assim. Gays ou héteros. Mas quando nos chateamos, quando precisamos de algo, recorremos ao amigo que ignoramos ou até mesmo ao amor que dele rejeitamos. É, as coisas são assim. 

E algumas outras, quando se quebram, nunca mais têm conserto. A madeira, se não for de bom porte, logo enfraquece e se esfacela. Um cristal quebrado, como o da amizade, não se cola. E eu vivi essa mesma lição anos atrás, quando aquele homem me obrigava a aceitar que ele não me amava, mas sim uma mulher vil que o desprezava. Depois, amei outro que, a despeito de toda minha devoção, ignorou meu quebranto e o faz ainda hoje, perdido em seus pensamentos e compromissos, sem nunca me dar uma resposta firme sequer. Hoje, me deparo com isso, a visita da ingratidão, a pantera que, na visão do poeta, é minha única companheira inseparável. 

A vida se resume a esperar: esperar para foder, esperar para morrer, esperar para ver se no meio do caminho aparece algo que valha a pena. Tem gente que bebe para esperar esquecer, tem gente que fuma para relaxar… ou fode para adiar o tédio. Mas a verdade que poucos dizem, mesmo que todos saibam, é que você pode foder todos os corpos da cidade e ainda assim sentir aquele vazio brutal te consumir sozinho, seja na mesa de trabalho ou na cama com os lençóis fedendo a corpos que nunca mais se verão. 

O problema é que todo mundo quer foder, mas ninguém quer encarar a bagunça que sobra depois. Isso porque foder é a moeda mais barata que circula por aí. O difícil é encontrar algo que compre o resto. A gente fode por querer, por carência, por tédio… e ainda chama isso de amor. No fim da noite o bar fecha, o copo esvazia, a pele esfria… e então você percebe que foder não resolve nada. Você chega em casa e percebe que a velha cadeira continua quebrada.

E, por falar em coisas quebradas, tudo nessa casa está quebrado. Mas continuamos buscando alguém pra foder.

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