terça-feira, 5 de agosto de 2025

Quando a Ternura se Tornou Ruína

 "É preciso reconhecer os escombros." 

Li isso em algum lugar, nem sei quem escreveu ou se eram essas as palavras exatas. Mas a palavra "escombros" ficou, porque me identifiquei com ela. 

Como as ruínas de uma antiga civilização pujante me restam apenas rastros de algo que um dia foi. E não me refiro a uma decadência, em se tratando de mim. Sempre fui um fracassado. Medíocre, melhor dizendo. Sempre fui medíocre em tudo que fiz. Mas, até um prédio qualquer pode fazer barulho ao cair. Analogia tosca para combinar com o início do texto, vê só? Até como escritor eu sou medíocre. 

No grupo da terapia hoje falamos sobre sonhos, coisas assim, que não necessariamente eu preciso querer publicar e vender milhares de cópias para ser bem-sucedido se minha paixão é, de fato, escrever. Mas a verdade é que, mesmo a despeito de ser minha paixão, eu ainda queria vender milhares de títulos, no entanto, nem sequer tento começar com medo do fracasso. Fracasso, pois então duas vezes, por não tentar e por não ser bem relacionado o bastante.

Nisso, aqueles idiotas que me davam ordens até pouco tempo atrás são melhores que eu, e me sinto péssimo em saber disso, e reconhecer isso. 

Dois jovens estão sentados numa mureta durante o intervalo das aulas. Ambos usam uma camisa branca e um suéter creme, uniformes. Um deles passou a madrugada jogando, tentando subir de nível, acordou tarde e se atrasou, saindo sem comer. O outro, ao perceber, divide seu lanche e, pouco a pouco, se aproxima para que o menor se deite em seu ombro e adormeça. É um gesto simples, porém guarda uma infinidade de sentimentos. Com a ternura de um amante, ele observa o outro dormir, sem nem ao menos entender aquele sentimento, mas ainda assim ele tem consigo essa certeza: quer para sempre estar ao lado do outro, lhe emprestando o ombro, fazendo-o sorrir, cuidando dele.

Voltando para minha realidade, é como se essa imagem se tornasse uma escultura, em pedra se transformasse, e então, uma cidade inteira se ergueria ao seu redor e, depois de muitos séculos, desaparecesse, restando apenas escombros e pedaços. A estátua desses dois, pedaços onde dificilmente se reconhecem aqueles jovens que se amavam, mas eram muito novos para entenderem seu próprio amor. 

E então, ainda na realidade, percebo que estou mais uma vez eufórico, com a mente viajando a mil por hora. Odeio isso porque não consigo conter e nem sequer entender o fluxo de pensamentos. Escrevo sobre escombros depois de ter visto um episódio romântico, mas quero fazer outro poema erótico, mas sem saber por onde começar. Quero conversar, contar piadas, dormir, tudo ao mesmo tempo. Para piorar, tomei energético, o que certamente não ajuda muito, pelo contrário. Não consegui me concentrar nas séries e, por falhar nisso e em tudo o mais, vou dormir com um gosto amargo e a sensação de incompetência que já me é tão conhecida.

Reduzido a escombros, pela minha própria euforia, eu encerro então, pela enésima vez, com o primeiro verso dos Lamentos de Jeremias:

"Ah, como está tão deserta,
quem já foi tão povoada.
Parece pobre viúva
quem antes se orgulhava.
Rainha entre as nações,
hoje ao imposto obrigada." 

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