Hoje eu fui completamente inútil.
Dormindo todo o tempo, como tem sido nos últimos dias, eu apenas acordei brevemente, e ouvia as vozes das pessoas distante. Mas elas estavam ali, perto de mim, e precisavam de ajuda, e eu não pude fazer nada. Parece que eu nunca posso fazer nada. Esse sentimento de incapacidade me corrói completamente. Isso tem me matado tanto quanto os remédios. Me tornei um pária, completamente desprezível.
Nem sei se isso é já um sintoma de privação, mas, apenas dois dias sem tomar remédio para dormir e me senti tonto, irritado. A todo momento meu pensamento é apenas este: eu quero dormir.
No dia seguinte ao primeiro parágrafo, no entanto, eu saí, fui ao cinema, comi fora com amigos. Hoje passei a maior parte do dia cuidando do meu sobrinho e lendo, mas, aí veio a queda agora no fim da tarde. Precisei me deitar, ficar quieto, em silêncio, ainda que sóbrio.
Sei que é um silêncio perigoso, ainda mais quando cheio de medicamentos e álcool, mas eu não suporto a sobriedade do mundo, encarar essa realidade sem estar chapado é para espíritos mais fortes que o meu.
Força.
Um atributo importante para muitas coisas. Daqui do meu lugar eu vejo um móvel lascado em várias pontas, sinais das nossas constantes mudanças de bairro e cidade. Eu estou quebrado, após ter o coração quebrado,
a alma quebrada,
o orgulho quebrado,
a confiança quebrada.
Eu sabia que ainda podia sentir alguma dor. Só não sabia que doeria tanto. Eu não devia me surpreender. Mas móveis, vasos, instrumentos, tudo se quebra sob a força de um impacto poderoso como um raio ou um martelo.
E, pensando bem, tudo nessa casa está quebrado.
Percorri todo o caminho da Divina Comédia nesses últimos dias. Estava no inferno, subi uma montanha cinza, me alegrei por instantes e então caí novamente nos círculos do inferno.
Tudo retorna ao nada.
"O cigarro mais forte, o whisky mais antigo e o amor mais intenso; sinto atração por qualquer excesso que possa acabar me matando." (Fernando Machado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário