segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Mais um punhado de remédios

"... e essa é uma boa lição para aprender na vida: Deixe ir." 
“Liv and Ingmar” (2012)

Essa é a verdade simples que eu preciso aceitar: a sua inevitável e inadiável solidão. Jamais vou conseguir me conectar. O outro é inalcançável. 

Somos inalcançáveis. 
Distantes demais. 

Vamos morrer de frio. 

E a tristeza em dizer isso é ainda maior ao ver o outro se afastando sem poder dizer ou fazer nada. É como se eu gritasse e ninguém me ouvisse. E por isso ele continua se afastando, sem olhar para trás, sem olhar para mim. Porque, em última instância, eu nada significo para ele. 

Para ninguém. 

Até pensei em escrever numa métrica mais bonita, mas percebi que não há razão para isso. Se o que eu digo e como digo já não tem mais nenhuma importância, posso apenas voltar ao objetivo inicial de tudo aquilo quanto escrevi: apenas colocar para fora o que sinto, sem nenhuma outra preocupação estética a mais. 

Não vou mais usar de uma linguagem que tente trazer ao outro algum tipo de percepção da verdade. De como superada a barreira da sexualidade, o sentimento verdadeiro, o amor, essas coisas poderiam suprir tudo o resto. Não adianta dizer se apenas eu creio nisso. É a maldição do oráculo de Cassandra.

Também não quero florear nada, a forma impregnada na minha mente a essa altura será o bastante para traduzir em palavras aquilo que se remexe no meu peito, a saber, um sentimento de rejeição, culpa, com explosões de fúria seguida de melancolia. 

É que eu achava, grande idiota que sou, que se conseguisse convencer as pessoas de que o amor pode superar tudo, elas aceitariam. Ou melhor, abandonando também esse ridículo plural majestático, típico dos que arrogam para si a autoridade de falar em nome da humanidade. Voltando, achava que se eu o convencesse da sinceridade de meus sentimentos, as barreiras criadas sobre a sexualidade seriam desfeitas. Mas quantas vezes eu cometi esse mesmíssimo erro? Esse maldito erro de crer que meu sentimento é capaz de algo?

Não, a verdade é que ele não capaz de nada. Nada. 

Continuo sendo um homem, nojento e desprezível, aos olhos dos outros. E isso o digo atestando sua atitude para comigo. Por trás da imagem de belas moças recatadas e discretas, porém de inteligência aguçada, eles só buscam pelos seus corpos. Querem comer bocetas. Apenas. E não os culpo, nem tampouco os demonizo, afinal nunca escondi que também desejo suas rolas dentro de mim, seus gemidos em meus ouvidos e no olhar uma expressão de desejo e depravação que normalmente espera-se de uma prostituta barata, mas que, a bem da verdade, também nunca escondi estar presente nos meus próprios olhos.

Sexo e boa companhia, sim, esperava por isso. Queria, desejava mais do que qualquer outra coisa. Mais do que minha saúde, mais do que qualquer outro tipo de realização, profissional, intelectual... E sei que com isso traí justamente a intelectualidade que prometi buscar. Não me surpreende que eu seja um hipócrita. 

A minha retórica da superação das distâncias pelo amor mostrou-se falsa. Não existe sentimento capaz de superar a vontade de um homem de enfiar o seu pau numa boceta. E há bem poucas coisas que eu poderia dizer para convencê-los a enfiar no meu rabo. Bem, é assim que as coisas são. Mesmo sabendo que existe, por outro lado, um número sem fim de homens que procuram exatamente o que eu quero, acho que já me desiludi demais para continuar a tentar. 

Há esperança, só não para mim.

E é claro que eu também sei que me ouvir reclamando continuamente da vida, do amor, do tesão acumulado, cansa, então acho que é melhor eu simplesmente não dizer nada. Não quero mais ser o coitadinho. Por isso, já que esse confronto me seria desnecessário, na impossibilidade da vitória, eu prefiro apenas tomar mais um punhado de remédios para dormir. É preferível simplesmente não ver esse dia. O pouco que tenho visto dos dias anteriores já me machucaram o suficiente. Ontem eu fiquei completamente destroçado, e ainda fui acusado de dizer palavras duras.

Mas e o silêncio diante da minha sinceridade em não esconder o que sinto por ele? E o silêncio dos últimos meses, devo continuar fingindo que está tudo bem? Não está. Simplesmente porque ele se nega a enxergar o óbvio diante de nós: estamos distantes demais (literal e figurativamente). E não será o esforço de apenas um de nós capaz de mudar isso. Tudo isso não foi também duro demais?

Sempre começa assim, a distância física precede um afastamento afetivo que, por fim, dá lugar a distância física definitiva. Quantas vezes isso já me aconteceu? Quantos amores se foram e hoje nem sequer lembram meu nome? E eu não nego que fui sincero com cada um deles. Mas talvez a sinceridade só sirva quando se refere aos desejos mais baixos do ser. 

Talvez eu devesse reativar aqueles aplicativos onde os homens buscam apenas um buraco para enfiar seu pau. Como vi que amor, sinceridade, tudo isso é uma grande besteira, que mais eu deveria buscar senão alguém pra enfiar o pau em mim? 

Diante desse cenário, que mais eu posso fazer? Apenas observar, à distância, até que todos se afastem. Só me pergunto quantos mais eu verei partir dessa forma. Vamos novamente: Fernegan, Dramin, Ciclobenzaprina, Zolpidem, Diazepam. Acho que esse punhado de remédios talvez seja pouco para tanta desilusão.

Queria adormecer lentamente, com um livro no colo, sentado na varando, ouvindo algumas crianças passarem sorrindo, sem saber que o futuro que as espera 

é uma desgraça. 

A vida é uma desgraça. 
Isso que chamam de amor é uma desgraça. 

Ao fim, 

ficarei apenas a fitar o horizonte, 

coração vazio, 

em silêncio,

o sol se pondo,

pela última vez.

Fecho os olhos, sentindo o calor que toca meu rosto pouco a pouco diminuir. Junto as mãos e faço uma única e breve prece: que eu não acorde mais. 

E fim.

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