É um fato, observado ao menos comigo, que não somos tão importantes assim. Passamos boa parte de nossas vidas tentando parecer limpinhos, baluartes resplandecentes da razão e da moral, pináculos de evolução. Mas, no fundo, ninguém se importa.
Esteja você feliz com as suas conquistas financeiras, viagens com excelentes programas culturais, ou absurdamente deprimido, sentido dor por causa de qualquer palavra, a verdade é que você continua invisível aos olhos de todos. Ainda que alguém te olhe por alguns instantes, e sorria ou lhe cumprimente em tom de admiração, não se engane, no instante seguinte esse olhar poderá se converter em desprezo absoluto.
Trabalhe competentemente, chegue sempre pontual, faça mais do que lhe peçam, e pode ser que te elogiem, sem aumento é claro, mas no momento que ficar doente, você deixa de ser um funcionário e passa a ser um pária. As mensagens que transmitiam confiança, e que na realidade era apenas um abuso de poder, agora foram substituídas por silêncio. Qualquer coisa será dita por intermediários medíocres. É que, no fundo, somos todos assim. Eles apenas estão enganando a si mesmos que são mais importantes, mascarando o medo de serem, como todos os outros, ridículos.
Amantes, se entregam aos abraços apaixonados. Aqueles que ainda sonham, sonham justamente com o inalcançável, negam o que está diante dos olhos e que não lhes parece ser o que buscam, sendo exatamente o que querem. Tão logo terminam, sofrem em silêncio ou buscam conforto em outros braços. Também são esses ridículos.
Amigos, muitas vezes vivem apenas uma relação de conveniência. Enquanto o outro lhe é útil de algum modo, ainda que sutil, como massageando o ego ou lhe dando o conforto que não encontrou nos seios fartos das mulheres. Mas, quando mostram a imagem de uma realidade diferente daquela querida, também converte-se em indiferença. Abafam a voz do a amigo com o ruído da multidão sem perceber que tentam abafar a si mesmos, a voz profunda que espreita a sua consciência e que mostra com cruel riqueza de detalhes a verdade que não querem ver.
E, por fim, eu digo a mim todas e cada uma dessas palavras. Me vejo como o cego, o ridículo, enganando a mim mesmo que a próxima vez será diferente, que as coisas serão melhores, que alguém vai se importar, que alguém vai perceber que eu sou capaz de dar o amor desejado.
Mas nada disso vai acontecer.
Continuarei sendo única e tão somente esse miserável, mendigando afeto, buscando nos lugares e nas pessoas mais vazias e torpes algo que preencha um vazio que eu nem sei do que é. Continuarei me irritando com o outro e suas decisões idiotas, e as minhas decisões mais idiotas ainda ao esperar desse mesmo próximo, que seja diferente de todos os outros. Continuarei a me sentir traído e abandonado, quando, na verdade, eu me traí e abandonei ao menor sinal de atenção, me julgando merecedor de uma atenção que, em si mesma, não tem valor algum a não ser o de abafar a minha própria voz, que grita o quanto eu sou ridículo.
Estou sozinho, e a solidão é inevitável. É inerente a condição humana. E essa é a verdade que tento encobrir, dando amor a quem me entrega um pouco de atenção. Mas a verdade é uma das coisas que não ficam escondidas por muito tempo. Logo se revela que, aquele melhor amigo escondia de mim sua verdadeira personalidade, revelando apenas o que lhe era conveniente. Outros, se mostram próximos apenas quando fui útil. E digo isso não com soberba, mas até com certa ironia, porque não acredito que nada do que eu faça outra pessoa não possa fazer melhor. Ou talvez por isso pediram que eu fizesse, por ser tão ridículo e sem importância que ninguém mais, além de um idiota como eu, aceitaria fazer.
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