quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Um copo de chá esquecido entre mil garotos

Antes de me sentar aqui no chão, com uma caneca de chá fumegando ao meu lado e perfumando levemente o ambiente, ouvindo algumas músicas do Stray Kids baixinho, me veio a ideia de um texto menos óbvio, com imagens etéreas, quase como sombras e luz apenas. Infelizmente, como parece ser a sorte de alguns espíritos criativos menores, as primeiras palavras desapareceram no ar como a fumaça leve do chá. Com as gotículas de água nas bordas da caneca, eu começo a escrever com o que sobrou. 

Estou no fundo do poço do desânimo, mas não engano, sei que ainda posso ir mais fundo, cavando com minhas próprias mãos, manchando minhas unhas de lama e arrastando os pés sangrentos. 

Caminho com uma profunda desilusão estampada nos olhos opacos. Meus olhos são como bandeiras, mas não acredito que alguém os veja tremular ao vento. Estou sempre em busca da poesia ao redor, que possa fazer com eles brilhem novamente, se é que um dia brilharam, não me recordo dessa época que, embora tenha hoje trinta anos, parece ter sido há tantas eras que não sei se de fato existiu ou se é obra da minha imaginação. 

Sinto-me como um espírito, o corpo pairando de modo etéreo. Não é possível afirmar que há vida em mim. 

Não sabia ser possível para alguém acabar tão sem perspectiva assim. Muito embora minha condição financeira seja melhor que de muitas pessoas, não é a isso que me refiro. Penso nas pessoas que passam fome, frio, abandonadas por suas famílias e esquecidas pela sociedade. Elas, por vezes, tem esse olhar vazio, de quem já não vê possibilidade. Elas sobrevivem a um dia depois do outro, e isso é tudo. 

Menti na terapia quando disse que já pensava no próximo emprego, em voltar para a sala de aula. A verdade é que tenho medo de acabar achando tudo aquilo insuportável como nos dois últimos lugares em que trabalhei, o que significa que o problema sou eu. Não excluindo, claro, a boa parcela de culpa daquelas duas vagabundas. 

Gostaria de algo que me desse liberdade. Eu consigo se produtivo e responsável, mas tenho dificuldade com os horários fixos, com certas cobranças idiotas e superficiais. 

Também comentei na terapia essa semana da imensa dificuldade que enfrento nos relacionamentos. De como sempre busco e desejo companhia, mas, ao fim, acabo por afastar as pessoas, me isolando novamente. Acabei por me aproximar de um amigo que, na semana passada, acabou me deixando bem paranoico quanto ao estado da nossa amizade. Como era de se esperar, eu havia confundido tudo. O estado de nossa amizade não mudara, e nem mudaria. Mas qual foi minha surpresa quando ele se aproximou de um jeito ligeiramente mais íntimo. Conversamos sobre sexo! Achei, mais uma vez erroneamente, que algo havia mudado, apenas para, alguns dias depois, ser novamente surpreendido com a verdade simples: tudo continuava igual. 

Busquei companhia.
E encontrei o abismo do meu próprio gesto.

Um amigo, quase íntimo,
quase amor.
Conversamos sobre sexo,
e eu pensei que o mundo mudara.

Mas nada mudou.
Era só a minha tola esperança
vestida de engano.

E fiquei sozinho,
com a ternura que espanta
aquilo que mais desejo.

Ele vai se apaixonar pelas próximas mil garotas que surgirem na vida dele e eu, bem, pelos próximos mil garotos. Negócio inteligente para ambos se ele percebesse que o carinho que tem por mim e o amor que tenho por ele poderiam superar as barreiras de orientação sexual entre nós, mas a ideia é utópica demais. 

Eu nem sempre consigo identificar os gatilhos, e há cada vez menos pessoas para me ouvir. Meus amigos, que sempre contei nos dedos, estão piores que eu. Falar em voz alta ajuda a organizar pensamentos, quase como escrever. Mas falar dá a possibilidade de perceber absurdos com mais facilidade. Até as minhas sessões com a psicóloga do Centro de Apoio Psicossocial estão contadas, e não tenho dinheiro para pagar terapia em outro lugar. Então sempre estou fugindo de um monstro, mas onde quer que eu vá, ele está lá. E então busco um lugar onde ele não possa entrar. Ao menos durante o inverno, ficar na cama não é tão desconfortável quanto ficar suando sem roupa no verão, com o ventilador soprando um ar pesado, úmido e quente sobre meu corpo. Mas agosto está no fim, e logo o tempo vai esquentar. E eu vejo essa passagem de estações com profundo pessimismo, como se o universo olhasse pra mim em tom zombeteiro e dissesse: "não há nada que você possa fazer, seu verme."

De fato, não há nada que eu possa fazer. 

X

"Eu podia ver a estrada à minha frente. Eu era pobre e ficaria pobre. Mas eu não queria particularmente dinheiro. Eu sequer sabia o que desejava. Sim, eu sabia. Queria algum lugar para me esconder. Um lugar onde ninguém tivesse que fazer nada. O pensamento de ser alguém na vida não apenas me apavorava como me deixava enojado." (Charles Bukowski)


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