sexta-feira, 21 de agosto de 2015

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

Texto de um amigo meu, Victor Lucas Asckermann, postado no Facebook, achei belo e emocionante, como muitos outros que ele escreveu.



"Finalmente chegou a sexta-feira, aquele dia que costumo postar algum texto ou desabafo, confesso que hoje estou bastante choroso e emocionado, escrevo em lágrimas, mas corremos o risco de chorar um pouco quando nos deixamos cativar. Como é misterioso o país das lágrimas!

Bom, a estreia de “O Pequeno Príncipe” estava me deixando bastante ansioso e eufórico há um certo tempo e nessa semana de contagem regressiva, decidi reler o livro para recordar detalhes da história e preparar uma semana de postagens especiais no blog.

Foi impossível conter as lágrimas durante a leitura, 12 anos após o meu primeiro contato com essa história que diz muito sobre mim, que me ensinou muito do que sou e do que me tornei, numa profunda mudança de valores, lições sobre amizade, companheirismo e amor.

A narrativa simples de Antoine de Saint-Exupéry me encanta do começo ao fim, desde a ingenuidade do pequeno príncipe e a dedicação com a qual cuida de seu pequeno planeta, até o momento que ressentido pela vaidade e falta de sinceridade de sua rosa, ele decide partir em busca de novas aventuras, novos amigos e compreende que deve retornar para a sua rosa, a quem cativou.

Logo de início, aprendemos que “não se pode conhecer as borboletas sem suportar duas ou três lagartas”, pois faz parte de todo e qualquer relacionamento, as adversidades, assim não importa a situação colocada, mas a maneira como lidamos com ela e nesse momento, apesar de sentirem o amor, o principezinho e a rosa ainda eram muito jovens para saber amar.

Assim, a partida foi inevitável para que o príncipe pudesse compreender o que é realmente importante na vida. Conforme sua passagem pelos demais planetas, conheceu personagens que o fizeram ver como os adultos são pessoas complicadas, estranhas e equivocadas em suas preocupações diárias e incapazes de enxergar quem são e o que podem ser.

No primeiro planeta, ele conhece um rei que apesar da personalidade autoritária, o ensina que “é preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar”, a partir de então, temos o importante valor da obediência e sensatez. Nos planetas seguintes, o pequeno príncipe conhece o vaidoso, o bêbado, um homem de negócios, o acendedor de lamparinas, ambos reféns de vícios, e por fim um geógrafo que o recomenda viajar até a Terra, o nosso planeta.

Ao chegar, conhece a serpente, que além de ensinar que as pessoas podem ser mais solitárias quando rodeadas, do que de fato sozinhas, promete-o o retorno para seu planeta (talvez este seja o momento mais enigmático, polêmico e belo da história, a metáfora que o autor apresenta é, até hoje, pouco compreendida).

Mais adiante, ao chegar num jardim de rosas, o pequeno príncipe tem uma nova decepção, ele percebe que sua rosa não é a única no universo, sente-se então enganado por aquela que tanto ama. Decepção esta que dura pouco, pois surge o momento mais emocionante do livro, que me causa arrepios, que enche o meu coração e me conforta de uma maneira inexplicável. O encontro da raposa e o pequeno príncipe é, para mim, o momento mais célebre da obra de Antoine de Saint-Exupéry, quando esta o ensina o significado de cativar, isto é, criar laços, vínculos de afeto, carinho e amor, a necessidade de um ao outro, mas não por obrigação, sim por entrega e livre escolha, afinal:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”

E sabe, esta frase mantém vivo o amor puro que há em mim, me identifico porque da mesma forma que a raposa quis ser cativada pelo pequeno príncipe, eu quis ser cativado pelo garoto que, hoje, eu amo. E bastou uma única oportunidade para que eu pudesse o fazer, assim ele se tornou único pra mim, o meu motivo para sorrir, me sentir seguro e amparado, o lar para onde eu tenho que voltar. E assim, o principezinho aprendeu que sua rosa é SIM única no mundo, porque foi o tempo que dedicastes a ela que a fez tão importante.

Antes de sua partida, a raposa ensina-o o grande segredo da amizade e amor, a frase mais marcante do livro: “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”. O pequeno príncipe, então, entendeu que o que realmente importa e tem valor é intangível, está dentro de cada um de nós ou em qualquer outro lugar, basta saber como olhar.

E tudo isso só foi possível graças à narração de um aviador, que mesmo desencorajado pelos adultos, manteve viva a criança que havia nele, o pequeno príncipe apenas o despertou.

O filme pode não ter superado as minhas expectativas e me decepcionado em muitos pontos, apesar disso, da falta de alguns detalhes, eu compreendi que o roteiro cumpriu com o seu papel fundamental: ensinar que é possível viver no “mundo real” sem sacrificar os seus sonhos, a sua inocência, é possível crescer sem perder a criança que há em mim, que há em nós, que há em você. É preciso se impor, arriscar e desafiar a si mesmo e a vida, pois quando se deixas cativar, não há obstáculos para o amor."

Victor Lucas Asckermann, 21 de agosto de 2015

Ele escreve umas coisas muito interessantes, tem uns textos bem legais. Pra mais textos como esse, acesse o Blog Revolução Nerd.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

"A geração que tudo idealiza e nada realiza"

Post do blog  "Sábias Palavras" publicado em 7 de agosto de 2015

Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais) para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz.

Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em academias e esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as bicicletas podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do drive-thrru porque temos preguiça de ir até a esquina comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.

Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.