quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Fração

Tu também não me vês como me vejo. Para você não sou mais do que um livro a ser consultado, seja quando precisa de uma referência ou quando deseja partilhar suas reflexões. Enxergas meu intelecto mas não a pessoa que por detrás dele se esconde. 

Você fala de máscaras, felicidade, liberdade, mas para me relacionar com você não enxergas mais do que uma pesada máscara que nunca ergui para ti. Não me enxergas como sou, mas como um ser distante e frio, que na verdade é uma projeção de si mesmo em mim. Pensas em mim como alguém sempre disposto a ensinar e a aprender mas nunca como alguém capaz de amar. De fato tua visão de mim destoa de tal forma de quem sou realmente que facilmente poderia dizer-se que trata-se de duas pessoas distintas...

Quem sou eu para você? Algum dia conseguirás me ver como o homem que quero ser para você? Algum dia me verás como quem sou e não apenas uma fração de mim?

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

(In)Percepção da (Tua) Realidade

Você não vê a si mesmo como eu vejo, não é? Não vê a si mesmo como eu vejo por não querer ou por ser incapaz de o fazê-lo? Acho que não é capaz de ver-se como o vejo ainda que quisesse, e não o quer. Não deseja ver-se como todos o veem. E isso é triste, uma triste verdade.

O que você vê quando se olha no espelho? Certamente não vês o mesmo que eu ao olhar a tua imagem, seja numa fotografia ou quando se apresenta pessoalmente a minha frente... É certo que tu não te enxergas como eu o enxergo por encontrar-se demasiado cego, por uma nuvem inumerável de fatores que deturpam o idílico quadro que és tu numa horrenda vista do inferno. 

É como se o mais infeliz dos homens, tendo diante de si o paraíso, só conseguisse enxergar o vermelho e o sangue do inferno, sendo incapaz de contemplar a maravilha da criação que diante de ti se desfralda como uma Avalon de deleites. 

Tu não te enxergas como o deus que és mas, ao contrário, como o demônio que não és, e mesmo que dentro de ti haja algo de demônio, não és demônio por completo, senão que não consegue separar a visão que deveria ter de ti, tua figura real, da figura pessimista que teu destino lhe fez crer ser a real. 

É de fato uma pena, e uma grande infelicidade, que tu, detentor de tão grande beleza, se veja de forma tão medíocre e que diminuas a sua infinita grandeza, numa medíocre e ínfima oposição da realeza... 

domingo, 26 de novembro de 2017

Paixão de verão

O que nos leva a dizer "Eu te amo" para outra pessoa? Como podemos saber se estamos amando? Como saber não ser algo passageiro como uma "paixão de estação"?

Amar é algo demasiado complexo para se definir em poucas palavras sem cair num pedantismo ou numa simples apreensão incorreta. Isso porque amar é mais do que pode ser definido numa meia dúzia de palavras, ou em livros inteiros, que mesmo descrevendo de forma bela ainda não é capaz de abarcar o que de fato significa amar. 

De qualquer forma, mesmo sem saber o que de fato é amar, continuamos dizendo "Eu te amo". Alguns com mais frequência que outros, claro, mas é quase certo que todos já pensaram amar e logo descobriram que se tratava de uma ilusão, uma deficiência de percepção. 

Infelizmente as definições esvaziaram o verdadeiro significado do amor, que precisa ser vivido para depois ser definido e compreendido. Isso já nos mostra um indício para responder a nossa primeira pergunta: O que nos leva a dizer "Eu te amo"?

Dizemos porque não conseguimos nos expressar de forma correta, e imprecisão de nossos sentimentos se une a imprecisão de nossa linguagem, resultando em "amores" vazios. Dizemos amar sem saber que na verdade admiramos, e é bom admirar, mas admirar não é amar. Então quando nos relacionamos com alguém que desperta em nós essa admiração, seja por suas qualidades ou virtudes, dizemos que a amamos, quando na verdade queremos, e deveríamos, dizer que admiramos. Amar implica admiração, mas não se resume a isso.

Dizemos amar sem saber que na verdade desejamos, e é bom desejar, mas desejar não é amar. Nossa carência nos faz desejar, o vazio no âmago de nossa existência nos faz desejar algo que constantemente preencha o vácuo que constantemente nos magoa, e então o desespero em preencher o vazio se torna para nós uma cegueira. É comum ver, geralmente após uma decepção, que esse pode ser um erro fatal. 

O desejo que vem do amor não busca apenas a saciedade dos próprios apetites, mas transcende o Eu e desemboca numa busca pelo outro, não por necessidade, mas por algo ainda maior. Amar implica desejar, mas não se resume a isso, nem tampouco significa desejar da forma como fazemos.

Dizemos amar sem saber que na verdade gostamos. Gostamos da companhia, dos risos, dos carinhos, da atenção, mas nem sempre amamos, ainda que a pessoa nos proporcione tudo isso. Obviamente amar implica gostar, mas também transcende este.

Isso porque amar é transcendental. Amar significa admirar, desejar, gostar e ao mesmo tempo é mais do que tudo isso! 

A cegueira de que falei anteriormente nos faz macular até mesmo as mais belas admirações. Nos faz desperdiçar os momentos de prazer de nossos desejos. E quando vemos amor onde não há, e nos decepcionamos, acabamos por acusá-lo de não existir.

A admiração pode cessar, o desejo ser saciado, podemos deixar de gostar, e assim se caracterizam os nossos amores de verão. Vem, nos encantam por uma estação, como o sol encanta com seu brilho, mas quando dá lugar ao verão, percebemos que não era aquilo que pensávamos ser. 

Mesmo depois do que foi dito ainda continua difícil definir o que é o amor. Bom, para aqueles que querem apenas uma definição, que se satisfaçam com a do dicionário.

Ainda continuamos a dizer "Eu te amo", mas infelizmente esvaziando o seu significado ao confundir com outras coisas. Isso porque o amor, ao invés de definido, precisa ser vivido. E sim, isso pode ser uma desculpa de alguém que não amou para não defini-lo, mas ainda creio que, quando vivido, e demonstrado, o amor se faz entender, e é dito de vários modos, como o ser.

Não dizemos a todo momento "Eu sou assim" ou "Eu sou daquele jeito" mas apenas somos, e o amor não se diz, muito embora possa e deva ser dito por quem ama, mas também não se resume e nem cabe apenas em palavras. Continuamos dizendo "Eu te amo" porque não sabemos expressar de outra forma o que é o amor. 

sábado, 25 de novembro de 2017

Conquistas

Dia de conquistas, embora cansativas... Mas sim, como há muito já não sentia eu me vi contente comigo mesmo e com meu desempenho. Sensação estranha, na verdade, que se opõe ao sentimento de fracasso extremo e absoluto que normalmente ocupa minha mente.

Pela manhã apresentei o TCC de minha última pós-graduação, em Filosofia e Ensino de Filosofia, com o tema "A Insuficiência da Linguagem na Transmissão do Conhecimento sob a ótica do De Magistro de Santo Agostinho" e meu desempenho foi nada menos do impecável, aprovado mais uma vez com nota máxima. 

Me senti satisfeito por conseguir terminar bem algo que gostei tanto de fazer, de fato a Filosofia me mostrou um mundo novo, e vem me ensinando uma nova forma de pensar, e a cada dia é como se me afastasse um pouco mais da escuridão da caverna de minha ignorância. 

O resto do dia foi dedicado a organização dos últimos preparativos para a Primeira Comunhão amanhã, na paróquia onde agora atuo, na Solenidade de Cristo Rei. Foram horas dedicadas a arranjos de flores, livretos para Missa e listas infindáveis de catequizandos. 

O resultado foi primoroso, a beleza da Igreja deve refletir a alegria das crianças que amanhã, pela primeira vez, receberão Jesus sacramentado. Sinto contente por ter contribuído com isso, ainda que tenha sido só um pouquinho.

No mais, agora aqui deitado, fazendo uma recapitulação deste dia, as minhas pernas doem, e sinto-me feliz por isso, sinal de que meu esforço foi empregado em algo que amo. Vale a pena, doar-se assim, dedicar-se assim, ao menos em razão daquilo que se acredita e ama...

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Para fazer história

Nós nascemos para fazer história
É o que dizem

Mas e se não quiser fazer história?
Se quiser justamente fugir e não fazer parte de nenhuma história?

Se todas as histórias apenas lhe ensinaram o quão vazias e más são as pessoas
E quão vazia e má pode ser sua própria essência

Se em si não há desejos nobres
Ou curiosidades intelectuais

Mas apenas a bestial vontade luxuriosa
De desfazer-se em um oceano de gemidos

Se sua vontade mais íntima é expandir o seu ser
E cobrir consigo a totalidade da existência

Preenchendo assim o vazio no âmago de seu pensamento
E deixando de existir para tornar-se pensamento

Não mais como um
Mas como todo

E sendo todo
Não mais sentiria como um

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Eu quero segurar sua mão...

Como lidar quando todos os problemas de um mundo que não é o meu caem por sobre os meus ombros? Como dizer "esse problema não é meu" e deixar aqueles que amo sentirem sobre si mais dor do que são capazes de suportar? Como me preocupar apenas com meus problemas, meus amores, meus dilemas, quando o outro enfrenta dores ainda maiores e que não foram causadas por eles mesmos?

Tenho dificuldade em lidar com a profusão de problemas que recaem de uma só vez sobre meu psicológico que, historicamente falando, não é lá dos mais equilibrados. É a reta final da faculdade se aproximando, com todas as implicações que isso posa trazer, seja a revisão da matéria complexa que certamente será cobrada ou a pressão na apresentação do TCC. Normalmente isso não seria suficiente para me incomodar, mas o problema é que não acaba aí.

Há ainda a pressão de ser o melhor que eu possa ser para os meus pais, que na atual situação complicada em que minha irmã nos colocou, praticamente se faz obrigatório ser o exemplo de maturidade e responsabilidade, ainda que minha vontade seja de apenas dormir e ouvir musica, sem ter de pensar em nada mais.

Outros ainda depositam confiança demais em mim, e sinto que o menor deslize pode decepcionar um grande número de pessoas. Não gosto de ser decepção. Gostaria que as pessoas compreendessem a minha vontade de ajudar, de fazer, de ser melhor... Mas quase nunca consigo ser melhor, antes, sou sempre um dos piores. 

Outros, por sua vez, nem sequer pediram minha ajuda, mas o simples fato de estarem mal e próximos a mim faz com que me sinta atingido. Como se seus problemas fossem contagiosos a menor proximidade. Como seu fosse uma esponja que sugasse para meu âmago as dificuldades daqueles me cercam, e sofresse em seu lugar. Mas é demais para mim, e as vezes, quase sempre, penso que não conseguirei suportar... 

Por fim há aquele que já não mais me deixa, a dor que eu mesmo busco causar em mim, como se constantemente cortasse com uma lâmina em chamas o meu próprio coração. Neste ponto eu apenas me torno carente, triste, e me ponho a pensar em alguém ao meu lado, com óbvias sugestões mentais que nem sequer por um momento escapam minha mente distorcida... Me ponho a desejar uma âncora, não que me levasse para baixo, mas que não permitisse que eu fosse levado para longe com os ventos frios que me atingem...

Oh, please, say to me
You'll let me be your man
And, please, say to me
You'll let me hold your hand
Now let me hold your hand
I wanna hold your hand... 

(I wanna hold your hand - The Beatles)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Anjo de luz

Hoje foi dia de pensar num tempo difícil, de recordar palavras não ditas e palavras malditas... 

De recordar um anjo dourado, que veio, me aqueceu com suas longas asas e depois voou para longe de mim, fazendo com meus olhos lacrimejassem ao fitarem o sol onde findou sua cerviz de luz. 

Sumindo na mesma luz que um dia me envolvera. 

Aquela luz não mais me aquecia, e parecia que ao longe se escondia, e mesmo ainda brilhando não mais brilhava. Aos poucos se apagava, se acinzentava, se esfriava. Até desaparecer totalmente após o horizonte, e um vento forte soprar o frio por sobre a minha pele. 

O calor que ainda restava em mim se foi. 

Restou apenas a frialdade, que combinava com a torrente que despencava sobre minha cabeça, maltratando-me o corpo e com a frialdade da terra, que pôs-se a clamar com os vermes imundos de seu interior pelos meus olhos, jurando deixar-me apenas os cabelos e a promessa de eternidade que se fora com o vento e o sol.

Minha carne putrefata se desfez em meio aquelas moradas, e dela vê-se apenas uma pequena medalha, marcada, ali deixada como sinal perpétuo de um pra sempre que se foi com o sol que se pôs. 

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Impressionismo

O que dizer sobre os últimos dias? Aprendizado. Raiva. Algumas lições. Solidão. Companheirismo. Descobrimento. Redescobrimento. Alegria. Paz. Mais raiva. Impressões, muitas, muitas impressões.

Tentei pensar em como poderia dizer tudo o que senti. Um texto em prosa seria demasiado longo e cansativo, tanto para ser escrito quanto para ser lido; uma poesia careceria de profundidade e de um vocabulário que não domino. Não acredito, no entanto, que domine outra forma de escrita senão a minha já familiar tempestade cerebral, quase sempre sem sentido, mas profundamente libertadora...

Essas são então as palavras que resumem o que senti nos últimos dias. Descrever como senti cada uma delas seria custoso demais, e não creio eu estar num bom momento para tal empreitada. Apenas estou a escrever por sentir necessidade de dizer algo, ainda que não saiba o que dizer, nem tampouco como dizer. 

Creio que todas essas impressões tenham se mesclado dentro de mim, e o resultado seja um fluxo interminável de sentimentos brutos e delicados, que subindo e descendo em todas as direções tornam o meu eu numa cornucópia assustadora, numa tela espantosamente pincelada de modo a não só prender a atenção do espectador, mas de tornar inquieto seu coração. 

Senti coisas que não sentia há tempos. Que não sabia que podia sentir. Sensações novas, outras nem tanto. Senti coisas que tentei esquecer, que tentei apagar. Senti coisas que ainda me machucam. Senti coisas que me fizeram sentir uma doce alegria, que se tornou amarga com o passar dos dias. Senti coisas que não queria mas que precisava sentir. Senti demais, e continuo sentindo, e tudo isso tem me sufocado, me apertado...

Como saber o que devo ou não sentir? Como filtrar? Como parar de sentir? Como saber se o que estou fazendo é o certo? Como saber se tenho trilhado o caminho certo e não apenas outra ilusão que me levará a minha própria destruição? 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O sumiço da mal caráter

Dia cheio, complicado e excessivamente cansativo. Fui levado ao limite de meu equilíbrio emocional, bem como todos da minha família. 

Minha pequena e meiga irmãzinha decidiu que seria divertido cabular a aula e ir com uma amiguinha para qualquer lugar dar uma volta. Não avisou a ninguém e nem sequer atendia o celular, e quando o fazia, simplesmente desligava antes de dizer onde estava. 

A Escola onde ela estuda entrou em contato conosco e disse que elas não tinham aparecido por lá. Eu invadi seu perfil no facebook e descobri nas mensagens que ela e algumas amigas estavam combinando de irem para uma cidade aqui do entorno.

Entrei em contato com dezenas de amigos dela, e alguns me davam alguma informação. Fui aos poucos entendendo como funcionou o plano dela, até que um de seus amigos me procurou e disse que descobrira onde se encontravam, ao que meu pai foi com ele de carro, a encontrando numa cidade vizinha, a poucos quilômetros daqui. 

Claro que a essa altura a Assistência Social já fora acionada, a Escola em alerta, vários amigos nas ruas atrás delas e nada. Aqui em casa a apreensão e o desespero quase que dominaram a todos. 

Ela? Impassível. Ainda se acha na razão de ter cometido tal ato, preocupado a todos, apenas para ir a uma festa frequentada por pessoas bem mais velhas e que meus pais não permitiriam ir. Motivo torpe, ação mais torpe ainda, regada a irresponsabilidade e servida com falta de vergonha na cara fresca. 

O saldo é uma noite cansativa, estressada, com todos cansados demais para tomar qualquer atitude e ansiosos por uma xícara de chá de camomila e uma boa dose de Rivotril. Que Deus tenha misericórdia de nós...

Ao menos nem tudo foi uma tragédia. Acho que certas ocasiões despertam nas pessoas seus instintos primitivos, e isso por ser muito bom...

Quando publiquei no meu perfil pedindo informações sobre o paradeiro da mal caráter vários amigos se mostraram solidários a ajudar. Um em especial, que há muito já não me respondia se mostrou particularmente interessado. Me senti feliz, pois embora estivesse a frente das buscas tudo o que desejava era um forte abraço e, mesmo estando ele distante, sua preocupação foi como um afago no meu já abatido semblante... Obrigado por isso! 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Resenha - Lovesick 2

Mais uma vez tentando superar a famosa depressão pós-serie. Francamente acredito que minha vida deva ser de fato muito vazia para que eu dê tanta importância assim a uma série e me sinta tão mal depois de seu fim...

Dificilmente continuações, de qualquer tipo, me agradam. Sejam filmes, séries ou livros dificilmente eu consigo gostar da forma como as histórias são desenvolvidas e nem com rumos novos apresentados. Acho que ironicamente tenho dificuldade de aceitar o novo, mas muito embora tenha começado a ver essa série com as expectativas lá embaixo as surpresas foram todas tão positivas que mudei completamente essa concepção.

Lovesick - The Series Season 2, ou só Lovesick 2 é simplesmente fenomenal! Faz jus a fama de uma das primeiras séries BLs dessa nova geração tailandesa e mais, sendo a primeira consegue ser melhor do que muitas outras que vieram depois, tendo servido de inspiração clara para muitas delas.

Bom, não vou explicar o plot da série porque ela só dá continuação a primeira temporada, sobre a qual falei aqui. E continuando de onde a anterior parou ela mostra com muito mais calma o crescimento dos muitos personagens.

Se o principal problema da primeira temporada foi muita história pra pouco tempo essa segunda nos mostrou que eles aprenderam bem com o erro. Essa temporada tem 36 episódios, destoando dos tradicionais 12-13 que comumente tem as outras séries do gênero e mais, desenvolve muito bem os personagens em diversos contextos, mostrando um amadurecimento real, típico da adolescência conturbada que eles vivem.

A série tem de tudo, casais gays (que são o foco), héteros, problemas com amigos, traições, vingança. É quase uma Malhação tailandesa só que com problemas que nos interessam. 

A produção, que já era boa, ficou ainda melhor, e exceto pelo roteiro meio fraco em alguns (muitos) momentos os 36 episódios fluem com grande naturalidade. Tive receio de assistir justamente porque temia que a história se arrastasse lentamente demais, e mesmo não tendo muitos fechamentos que esperávamos, ainda consegue entregar uma história boa, bem coesa e cativante, sem a correria de uma temporada curta e com pouco tempo de tela para resolver grandes problemas.

Os muitos personagens são aqui explorados ao extremo e, pelo que me recordo, todos os arcos foram finalizados (obviamente nem todos com um final decente). Francamente senti meio desnecessário usar os créditos finais para mostrar como terminou a história de certos personagens, ainda mais o casal que praticamente dividiu a cena como principal... Mas quanto a isso falarei de cada um mais a fundo logo abaixo.

A minha maior surpresa com essa season foi a trilha sonora. Muitas musicas e melhor, muitas musicas muito boas! A playlist não para de repetir no meu player e já praticamente decorei todas as letras. Super recomendo a quem queira procurar no Youtube (Lovesick OST) e conferir, não vai se arrepender. Destaque para Pass do Gunsmile e para SHAKE do Boy Sompob, que retornou como tema principal. 

Pois bem, vamos ao que interessa: os casais (boys)!

Phun X Noh 
Phumphothingam Nawat (White) e Kongyingyong Chonlathorn (Captain)
O casal principal continua confuso com os seus sentimentos, ao passo que começam a perceber que não conseguirão fugir deles, ainda mais porque os dois vivem se cruzando e pelo fato de suas namoradas serem melhores amigas.

A temporada se debruça longamente então sobre o questionamento dos dois e sobre seu auto descobrimento. Vemos dois garotos incertos do que seja um romance gay perceberem que na verdade se amam e que estão dispostos a ficarem juntos não importando o que fique entre eles.

A química dos dois atores é muito boa e, ao meu ver, formam um dos casais mais fofos e até mais reais das séries. Achei o máximo ver que Noh não só terminou mais seguro de si e ainda capaz de demonstrar publicamente seus ciúmes. Phun na maior parte das vezes se mostrou bem mais resolvido que o outro, muito embora não seja lá muito maduro também. 

Por fim, creio que foram bem trabalhados, e mostraram de longe o maior amadurecimento entre os personagens. Claro, como a série é focada neles não seria de se esperar um protagonismo excessivo as vezes, como por exemplo o fato de metade dos personagens serem apaixonados ou tentarem algo com Noh, meio desnecessário. De qualquer forma ele se consolidaram como um dos casais mais fofos dos BLs, e acho que devem manter esse posto por um longo tempo ainda. 

Earn X Pete
Luangsodsai Anupart (Ngern) e Paisarnkulwong Vachiravit (August)
Primeira decepção, e talvez a (segunda) maior. Durante as divulgações e até mais da metade da temporada eles foram divulgados como possível casal/triângulo amoroso, que colocaria em cheque o relacionamento de Phun e Noh. Mas na verdade eles foram os personagens mais mal aproveitados da série, em especial Pete.

Earn nutria uma paixão por Noh, e era bem mais resolvido do que este, diga-se de passagem. Ele teve coragem de se declarar mais de uma vez e ainda fazia de tudo pelo carequinha, que não tava dando a mínima para ele (ao menos não de forma romântica); Gostei da interação Earn X Noh pois eles souberam mesclar bem o confronto Amor X Amizade. 

Já a interação de Pete com Earn foi um saco! Sério, os dois tinham uns chiliques um com o outro muito desnecessários e as vezes mais afetados do que o norma. Desvio grave de roteiro e desperdício de dois atores até melhores que os dois protagonistas. August, além de um tremendo gato, é também cantor, mas foi relegado ao 10° plano, mesmo sendo anunciado como possível protagonista...

Infelizmente Pete ficou sendo uma grande incógnita até os últimos segundos da série, muito provavelmente de forma proposital. Em alguns momentos ele parecia sentir fortes ciúmes da paixão de Earn por Noh e em outros ele parecia apenas incomodado em ver o amigo sofrer daquela forma, ou talvez sentisse os dois. Ele também mostrou interesse na Yuri, a ex de Noh, mas até o final não ficou 100% claro se ele decidiu ficar com Earn ou com Yuri. Eu, iludido como sou, prefiro acreditar que foi com Earn. Mas sinceramente, repetindo o que disse acima, se a série teve 36 episódios não era necessário esperar literalmente até os últimos 3 minutos para mostrar o final de um dos arcos mais importantes da série. 

Om X Mick
Napian Nanoob (Na) e Thitipat Min
Eles dividem o posto de meu casal favorito ao lados dos próximos. Gostei muito da forma como os dois foi trabalhada... Om, por ser veterano, se tornou o tutor de música do calouro Mick, e o pequeno logo caiu nas graças do mais velho por ser todo atrapalhado, o que despertou o lado paterno dele, fazendo com que ficasse em dúvidas sobre seus sentimentos. 

Fiquei completamente abalado com a fofura do Thitipat, e era quase impossível ver ele em cena sem suspirar profundamente de vontade de apertar aquele rostinho meigo. 

Mick, mesmo sendo bem novinho, conseguiu entender bem antes do veterano que estava apaixonado e ficou chateado quando o mais velho pareceu se importar mais com outro calouro, muito embora só estivesse sendo o bobo que era, já que Om só tinha olhos pra Mick, e fez de tudo para corrigir os erros que cometeu, quando foi mais grosso do que deveria com o pequeno. 

Me entristeci com o final pobre dos dois e, mesmo o tão esperado beijo acontecendo, para quem teve tanto tempo em tela durante a temporada toda ter um final mais bem amarradinho teria sido melhor. Mas tudo bem... Uma pena nenhum dos dois atores terem atuado em nenhum outro trabalho depois da séries, adoraria ver o Min em outro BL, dessa vez como protagonista!

Per X Win
Cheewagaroon Harit (Sing) e Phumphothingam Tharathon (Oat)
Esses dividem com Om X Mick o posto de meus couples favoritos! Per é amigo de Noh, Om e dos outros meninos da banda, e Win é seu vizinho, que tem problemas com o pai violento. Eles são melhores amigos já há bastante tempo e quando vê o amigo em apuros Per parte pra cima do pai de Win para ajudar, sem saber que assim só contribuía pra confusão, já que os pais deste descobriram que o filho é gay e nutre uma paixão pelo amigo.

Foi muito bonito ver a forma como ele defendia o amigo mas, sendo sincero, a forma escrota que Per teve de encarar quando descobriu que Win gostava dele foi bizarra demais. Ele teve a maldade de cantar uma musica super grosseira na frente de toda escola só para fazer o pobrezinho sair de perto dele. Ele abriu as portas pro concorrente e depois ficou se mordendo de ciúmes quando Win começou a namorar outro. E então quando ele finalmente se desculpou, disse que não correspondia os sentimentos românticos dele, embora continuasse agindo como se correspondesse.

Outro casal a sofrer com os problemas de roteiro e que foram finalizados nos créditos finais. O fim foi até engraçadinho, particularmente não achei de todo ruim, mas admito que preferiria que terminassem juntos e com mais tempo de tela.

Destaque absoluto pro carisma dos atores. Sing é sempre uma figura, mesmo muita gente não gostando dele, e aquele jeito maluco completamente afetado foi muito bom. Também mostrou ser bom ator quando precisou ser sério e até frio, ficava com calafrios cada vez que ele era grosso com o outro e comprei bem a atuação dele. 

Oat é simplesmente maravilhoso. Não tem lá muitas expressões, reconheço, mas sabe conquistar. Ele também aparece em Make it Right, mas não me recordo bem dele lá. Fiquei apaixonado pela carinha triste dele, e pelo sorriso tímido. Se algum dia eu for para a Tailândia com certeza vou sequestrar ele e o Min para mim e colocar os dois num potinho. 

Outros Personagens

Yuri (Charnmanoon Pannin)

Tadinha, a mais iludida da turma. Apaixonada por Noh, sabia que o namorado gostava de outra pessoa e ainda assim insistia no relacionamento fracassado. O cara sequer a beijava e deu bolo nela no dia que a pobrezinha tinha preparado para perder a virgindade com ele. Obviamente ela se assustou quando descobriu que o boy tinha terminado com ela pra ficar com outro cara, mas ainda assim eu a admirei muito por ter sido compreensiva e uma ótima amiga na maior parte do tempo. 

Jeed (Hanwutinanon Nungira)

Ao lado de Noh e Phun ela foi quem mais amadureceu na série. Foi traída pelo namorado e pelas amigas, não sabia lidar com os problemas financeiros do pai e ainda foi abandonada quando começou a se vingar de todo mundo da escola. Essa tomou uns bons tapas da vida antes de se emendar e voltar pro caminho da luz. Por sorte ainda terminou com o boy magia de que ela gostava mas se recusava a ficar por ser pobre. 

Pang (Nuchanart Veerakaarn)

Essa ta aqui só porque eu quero criticar: ELA FOI ABSOLUTAMENTE INCAPAZ DE FAZER A ÚNICA COISA A QUE SE COMPROMETEU NA PORCARIA DA SÉRIE QUE ERA CONTAR PRO PAI DO PHUN QUE ELE TINHA UM NAMORADO, e ainda acabou com o casal que era um dos mais fofos só pra pegar o boy de que ela gostava. Detestei!

Considerações Finais

Uma segunda temporada superior em todos os sentidos à primeira. Absolutamente obrigatória a todos os fãs de BL e uma boa pedida para quem ainda não conhece bem o gênero, afinal não tem nada de apelativo e tudo é conduzido com bastante naturalidade, sem perder a mão no humor que também é muito bom. 

Sem dúvidas uma série digna da fama que tem e mais, digna de reinar ainda por um bom tempo no pódio das melhores!

História íntima

As gotículas delicadas de água deslizam pelo seu corpo

Corpo alvo, 
de aparência frágil, 
porém firme

As gotículas delicadas de água deslizam pelo seu corpo

Corpo dourado, 
forte, imaculado

As gotículas delicadas de água deslizam pelo seu corpo

Corpo moreno, 
frio e ao mesmo tempo caloroso

O suor se mistura a água e o som da chuva se mistura ao som de seus gemidos

Gemido de prazer
De culpa
E de curiosa descoberta

O seu sorriso se desfaz numa expressão de medo, e volta a sorrir de luxúria

Graça da inexperiência
Medo da experiência 
Entregue-se a luxúria

A sua mão desliza sem confiança, porém sem escrúpulos

Como um animal devora sua presa
Como quem tem a necessidade de desvelar cada parte de um mundo novo
Como um amado no amante

O coração dispara como se corresse em fuga

As pernas tremem
Os olhares buscam em volta a segurança da relva
E se fecham ao contato dos lábios

O hálito quente entra em contato com a pele úmida

Os sentidos se aguçam
O tato se torna mais delicado
Ao passo que o toque se torna mais exasperado

O seu beijo tremula ante a recordação de quem e do que somos

Mas o desejo não permite o avanço do medo
O amanhã decidirá o que será de nós
Se mereceremos o paraíso nos braços do amante

Ou o fogo que queima incessante

O ato se consuma
O gemido de prazer se desprende
E como animais eles se entregam a própria bestialidade

No fim um contato delicado dos lábios

Sela o contrato
O segredo
O desejo

O silêncio impera como não se recordavam ser possível

A criação suspira 
E uma sinfonia dos amantes é tocada ao fundo
Sob o céu estrelado

O mundo presenteia com a mais bela visão

Por ter sido presenteado com tão bela paixão
O ardor no corpo será a recordação
E no peito o fogo que não se apagou ameça reacender-se

E mais uma vez aquela ave de fogo ressurge das cinzas

E retorna o desejo
O medo
O segredo

E mais uma vez se entregam a paixão

Aos braços do amante
Aos braços do amigo
Aos braços do amado.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Espelho

Sabe quando você se olha no espelho e já não reconhece mais a imagem que ali vê refletida? Como quando olhar um desconhecido a andar no sentido contrário ao seu na rua e, mesmo sendo um completo estranho, consegue perceber que sua expressão é de ódio e rancor? 

Não mais reconheço aquele que vejo no espelho, mas também não sinto saudades daquele que via. A imagem que antes ali se refletia era de um homem sorridente, cujo sorriso se apagou graças a própria ingenuidade em pensar que aquele sorriso poderia conquistar o próximo, em acreditar que suas palavras poderiam tocar o coração de quem quer que fosse. 

Não há mais um sorriso natural, inconsciente, de quem não compreende a própria vida, mas um sorriso de alguém que agora busca ser feliz compreendendo os próprios caminhos. A diferença interna torna a externa perceptível. O sorriso de antes acreditava ser feliz, e o de agora o deseja. 

Se o sorriso de antes foi apagado por lágrimas e caretas de dor o de agora tornou consciente de que essas expressões são todas passageiras, efêmeras demais, para serem permanentemente substituídas. Acontece que na vida os sorrisos, assim como quase tudo, passa, acaba, termina e se transforma em outra coisa. Alguns chamam a isso amadurecimento, eu apenas vejo como um fluxo natural, cujo ponto final não é a nós revelado, afinal não sabemos onde terminaremos e mais, nem sempre evoluímos. Com efeito as regressões são ainda mais frequentes que os aprendizados. 

De qualquer forma aquele velho sorriso, que depositava em todos a confiança e o carinho que a ninguém deveria ser entregue, desapareceu, e deu lugar a outro. Assim como o eu de antes deu lugar a um outro, que deverá dar lugar a outro ainda em pouco tempo...

Íntimas convicções

O aprendizado é um caminho longo, tortuoso e na maioria das vezes dolorido demais para que a gente consiga compreender o que o tempo tem a nos ensinar. 

Aprendemos com a dor, com o amor, com as quedas e também com as vitórias. No entanto, como grande mestra da verdade que é a vida tem sempre em mãos a pedagogia mais dolorosa, que não sendo nem de longe a mais agradável em se suportar é sem dúvidas a que melhor ensina. 

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Com o tempo, após muitas dores, vamos compreendendo, no íntimo, que nem tudo é como queremos, quase nada na verdade, e que as decepções nos ensinam, uma após a outra, a não criarmos expectativa infundadas no outro, pois estas não tem como resultado outra coisa senão a dor. 

O homem lentamente começa a perceber que não deve viver dependendo dos outros, e que sozinhos vivemos todos e cada dia de nossas vidas. Por mais dura que pareçam essas palavras a verdade sentida na pele, ou no coração, dói ainda mais, e nos corta como aço frio. 

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Claro que essas são palavras ditas na frialdade de uma manhã calma, depois de, numa noite tortuosa, chorar por aquele que minha alma e meu coração clamam. Na noite escura é tudo pior, a vista se turva e a mente se distorce de tal maneira que não mais diferença entre o mais erudito dos homens e o mais bruto dos animais. Ambos passam a buscar, desejar e clamar apenas pela saciedade dos seus anseios mais profundos e primitivos. E é na noite escura que o homem abandona a sua casca fina para tornar-se um animal por completo. 

Acumula-se o ódio ao seu desejo e está terminada a receita do homem-besta, sem que nada nesse mundo tenha poder para parar a sua ganância visceral por almas e sangues corrompidos também pela mesma noite escura. 

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Não há por sobre a terra esperança das relações amigas e companheiras que lemos nos romances. Antes ainda há apenas conflitos de interesses que, coincidindo em dados momentos parece ser uma caminhada conjunta mas na verdade esconde a traição que se dará ao cruzar os terrenos frios do abismo dos mortos. Oh, atravessando juntos o vale parecem se tornarem amigos, mas apenas enquanto necessitam de tua proteção. Quando então cessa o perigo a lança arrebenta impiedosamente o coração do mais fraco, daquele que primeiro acreditou ter encontrado um companheiro.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Grandioso é o homem que não aguarda que lhe apunhalem pelas costas. Grande é o homem que não se deixa iludir e ludibriar-se pela palavras doces dos que o rodeiam. Sábio é aquele que entende logo que está sozinho por sobre a terra, e que não há nesse mundo esperança para os seus sonhos vazios. Sagaz o homem que trai antes de ser traído, que mata antes de ser morto, pois esse sobrevive a selva das paixões humanas, que diferenciando-se em forma em nada mais se diferencia da selva dos animais. 

No entanto só é feliz aquele que não deposita sua felicidade no outro, mas em si mesmo, e que não se deixa levar pela luxúria do toque, do beijo, do carinho do outro, mas antes percebe que até mesmo o mais íntimo de seu próximo apenas lhe serve ao próprio contentamento, a satisfação dos próprios apetites bestiais. 

~

Obs.: Linhas em itálico retiradas dos Versos íntimos de Augusto dos Anjos.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Um sonho totalmente novo

Eu continuo andando com o coração tremendo 
Eu não sei se quando essa estrada acabar
Haverá amor esperando por mim? Haverá?

Alguém que procure por amor como eu    
Que busque pelo significado do amor
Eu estou perdido num mundo desesperado
E as estrelas que eu via estão desaparecendo

Até eu perceber que você que está segurando minha mão
E me levando para um mundo totalmente novo
Me mostrando um sonho totalmente novo para mim, 
Que eu nunca pensei que pudesse sonhar...

Você me faz entender o que o verdadeiro amor significa
E porque meu coração bate forte desse jeito
Bem assim, sempre que estamos juntos

Você me faz sentir o calor gentil do seu abraço
Até quando o sol se vai
Até quando tudo desaparece, você me abraça forte
E se eu tenho você comigo, e eu não desejo nada mais

Eu tenho buscado por tanto tempo
E não encontrei ainda nada além das respostas erradas
E sempre que chegava perto não conseguia agarrá-las 

Tradução de "Shake" do Boy Sompob, OST de Lovesick - The Series

Distorção

Fiquei constrangido e desconcertado com um sonho que tive com você. Como se não bastasse evitar seu olhar durante as missas preciso fugir de você também nas imagens criadas pela minha própria mente. E para piorar as imagens criadas pela minha mente distorcida são ainda piores que as reais.

Sua personalidade foi impressa em mim com precisão, de fato em meu sonho pensava realmente estar ao teu lado, a diferença foi o rumo de suas decisões, estas não mais refletindo sua personalidade, mas a minha vontade. 

Acordei assustado, e constrangido, por ter sido capaz de imaginar tamanha bobagem, e pelo meu desvario ter se refletido até mesmo num sonho como aquele. Lamentavelmente não era verdade, nada ali tinha sido real. No fim você não tinha passado a noite comigo, não tinha em dito o que se passava em seu coração e mais, não tinha se declarado a mim. No fim tudo não passou de uma ilusão, algo um pouco pior do que os efeitos colaterais bizarros de uma anestesia mal aplicada. 

A mim restou as sombras do sonho, e a imagem mental do seu beijo, do seu toque, que mesmo não tendo sido reais se fixaram em minha mente de tal forma que levarei dias para esquecer a sensação que tive naquele momento. 

Naquela hora a alegria em mim pulsou, e entrei em êxtase, mas também em choque, por perceber que não se tratava da verdade, nem de uma distorção da verdade, mas de uma completa invenção fantasiosa e doentia. 

domingo, 12 de novembro de 2017

Artimanhas

Será que a experiência é realmente capaz de nos tornar mais resistentes aos desmandos e as intempéries do destino que recaem repentinamente sobre nossas vidas? Os mais velhos costumam valorizar a sabedoria advinda da experiência de longos anos e clamam para que os escutemos. Mas ora, não necessariamente suas vidas se tornaram mais simples com toda a sabedoria acumulada, pelo contrário, a cada novo ano as dificuldades parecem apenas aumentar, na mesma proporção que suas capacidades parecem diminuir vertiginosamente. 

A sabedoria é sim importante, mas não creio que seja capaz de tornar a vida de ninguém mais fácil, pois a mesma vida sempre nos supera em sabiamente nos lançar ao vórtice infinito de dor que é viver. As ocasiões de sofrer vem então nas mais diversas formas e tamanhos, e em sua maioria disfarçadas de pessoas ou situações inofensivas, aparentemente boas em sua superfície, mas altamente nocivas ao nosso coração e a nossa alma.

As armadilhas do destino podem vir como um sorriso meigo, colorido, daqueles capazes de cessar a fúria e acalmar os mares, dada sua beleza, ou ainda como um corpo escultural marmóreo e Apolínio,  coberto pelos mais belos fios louros, tal qual um trigal dinamarquês, luxuriante e inebriante. 

Iludir, conquistar, seduzir, são as armas mais poderosas com que o destino nos atinge. E até mesmo quando calejados pela dor e sapientes das muitas artimanhas por ele utilizadas não conseguimos delas fugir. Não somos macacos que aprendemos a fugir das arapucas, mas sempre seremos vítimas das vontades frias e ácidas de quem controla nossas vidas, não Deus, mas do pecado que habita o íntimo de nosso ser buscando nos pender sempre ao caminho que, aparentando ser bom e correto, na verdade é cruel e só pode nos levar a morte.  

Ao homem não lhe é dada a possibilidade de fugir, mas apenas de silenciar-se, calar-se ante a roda da tortura que lhe espera para trucidar-lhe o corpo e esmagar seu coração. Cabe a esta pobre e infeliz criatura viver apenas para ver-se a cada dia mais destruída e submeter aos desmandos de todas as loucuras do destino. Eis a nossa missão!

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Contrário

A chuva fina acaricia o telhado, o seu barulho se mescla ao da playlist de flashback que desde algumas horas atrás reproduz sem parar. Ambos os sons, o da chuva e os das vozes roucas e guitarras apaixonadas, conseguem se assemelhar, com muita proximidade, ao caos que minha mente abriga.

Esse caos é a disputa entre o querer e o não querer, ou um não querer mais que bem querer, como disse Camões... Parte de mim deseja se entregar novamente, enquanto a outra briga por uma racionalismo mínimo, que me impeça de cair novamente nas mesmas armadilhas de antes. 

As palavras doces, no entanto, são para mim veneno doce. Como um fruto proibido atraindo por sua beleza, conquistando por seu mistério encantador, e matando com a ferocidade de um assassino impiedoso, que sem pestanejar crava sua adaga de aço frio em meu peito, torcendo-a e fazendo me contorcer de dor para, num movimento rápido e certeiro, fazer minha cabeça voar como um pássaro. 

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
(Camões)

Quando o sol quente reina por sobre a terra deseja-se a chuva, e quando o céu se escurece pelo água nas nuvens e mesma chuva deseja precipitar-se logo sobre a terra, e tornar a limpar o céu para o sol reinar. Assim o coração vazio deseja amar, mas quando ama deseja que não o fizesse... E assim, nessa confusa dicotomia entramos noite a dentro, sem saber se se deve ou não amar... 

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Gélida verdade

Gostaria de sentar aqui de frente ao computador e escrever aquilo que se passa em meu coração. Gostaria de poder dizer ao menos o que sinto, ou de outro modo, como me sinto. Mas agora, vário minutos transcorridos desde que aqui me sentei, percebo que não possuo o vocabulário necessário para tal. 

As únicas ideias que me ocorreram terminariam como mais um dos muitos textos onde me debruço acerca da transitoriedade dos relacionamentos humanos. Mas como dizer como me sinto sem cair na repetição de tantas palavras já ditas e que, mesmo sendo numerosas, ainda são incapazes de expressar o vazio deixado no bem no âmago do coração de alguém que foi abandonado? 

Infeliz é a vida de quem, mesmo dedicando-se a escrever, é incapaz de descrever com palavras a dor sentida da solidão advinda do abandono. E é irônico notar que tantas músicas já foram escritas sobre isso, tantos livros, tantos poemas, e essa sensação ainda assola a alma humana como uma mal irremediável. 

Os sábios costumam dizer que na vida a única coisa sem solução é a morte. Discordo de tal afirmação por muitos motivos, sendo o principal deles a crença de que também a solidão não encontra nessa existência possibilidade de solução "porque as estirpes condenadas a cem anos de solidão não tinham uma segunda chance sobre a terra." como disse Gabriel García Marques. Isto é, aqueles nascidos para vagarem sozinhos não encontrarão mais do que companhias fugazes, nunca abandonando seu estado solitário, nunca fazendo parte de algo. 

É uma realidade fria, como a maioria das verdades da vida. E sendo ainda mais dura do que o aço, não se curvará a vontade do homem, não importando o quanto este tente, grite ou desespere-se. Não há uma conclusão otimista, portanto, apenas a constatação gélida de uma verdade insuperável, de uma barreira intransponível. 

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Anjo Esmeralda, Céu Azul

Na tarde fria e escura meu coração se volta para aquele por quem minha alma clama. O meu olhar ao voltar-se para o meu ainda não morto eu se detém no olhar doce e terno cor de esmeralda.

O sorriso de agradecimento foi a prévia do despertar. O despertar seguiu-se da exasperação do delírio rompido. Oh que deleite minha alma experimentava naquele idílio onde sua virtude, ainda intocada, clamava por mim.

Sonhei um sonho inesperado, com um personagem inesperado, sinal de que também meu córtex se encontra praticamente mergulhado em sentimentos complicados, por um anjo completamente inalcançável.

Que poderia fazer eu para alcançar-te, ó anjo de esmeralda? Como poderia voar ao lado de tão grande anjo? Como poderia me aproximar de tal luz sem que minha existência fosse por ela aniquilada completamente?

Uma cobra só pode sonhar em voar pelos céus ao lado da grande águia, enquanto observa essa mesma águia partir sem direção naquele imenso céu azul... De fato não há como te acompanhar, tudo o que posso fazer é continuar a te olhar, e a sonhar...!

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Arauto

O Arauto do Destino tocou sua trombeta e, como aquela tuba gloriosa que no fim dos tempos convocará os homens ao Trono, fez ressurgir das cinzas as criaturas que há muito já não existiam senão em mim. 

A recordação veio buscar-se em mim, e encontrando sua morada fez de minha alma sua pousada. Trouxe consigo um séquito perigoso e instaurou-se em mim uma estranha miríade de sentimentos.

Medo

Dor

Amor

Paixão

Incompreensão

Indolência 

Insatisfação

Desejo

Ardor

O Arauto do Destino fez com meu ser sentisse, por um instante que fosse, capaz de cobrir com sua vontade toda a totalidade da existência, como se pudesse curvar todas as outras consciências à mim. E no momento seguinte fez com que me sentisse o menor de todos os viventes. 

O que sinto é real? O Arauto é real? Ou será o efeito da chuva torrencial ou dos benzodiazepínicos que correm em minhas veias? 

O que sinto é real. O Arauto pode não existir, sendo apenas uma manifestação da minha consciência, que frente a realidade criou essa perspectiva para me proteger dessa mesma realidade. Esse efeito é potencializado pela chuva torrencial e pelos benzodiazepínicos no meu sangue...

Mas e essa reflexão? Ah, essa é apenas fruto de uma onda súbita que me surgiu, e me engolindo completamente se explodiu em palavras, balbucios de uma alma transtornada, confusa e apaixonada...

Manhã de chuva

Levantei cedo, contra meu costume, para observar a chuva cair e as gotículas de água escorrerem pelas janelas. Pode parecer um pouco exagerado mas a beleza única de um dia chuvoso é uma das minhas paixões e, após dormir ouvindo o som delicioso das gotas contra ao telhado, decidi observar como as coisas ficam depois de acariciadas pela frialdade climática.

As ruas amanheceram completamente molhadas, e ainda posso ver fluxos da enxurrada em vários lugares. As folhagens perderam o marro, sofrido, e agora ostentam um verde esmeralda, brilham de forma vivaz e contagiam a paisagem de uma alegria ímpar. A umidade também melhorou, e para aqueles que assim como eu tem dificuldade de respirar no tempo seco isso é um grande alívio. O ar já não entra queimando, ardendo, mas apenas insufla com delicadeza o meu pulmão.

Como numa prece eu levanto os olhos aos céus, e pensando em Deus, dou graças pela camada cinza que impede a passagem de boa parte da luz do sol e indica que a chuva não vai embora tão cedo. Com isso percebe-se o quanto gosto do clima frio, do inverno, pois acho um bom contraste um mundo gélido onde habita o meu coração ardente.

Com efeito se tem algo que parece nunca se apagar são as chamas do meu coração, que mesmo após tempestades e tsunamis ainda insiste em fulgurar como uma bandeira desfraldada num campo de guerra. É com a poesia de um dia chuvoso que inicio hoje minha rotina, animado e inspirado pela forma ímpar que tem o mundo de encantar e de contrastar com o coração dos apaixonados...

domingo, 5 de novembro de 2017

Sobre meu eu atual

Pensamentos de uma noite fria

O período é propício a reflexão, mas não a reflexão com fim em si mesma, mas uma capaz de gerar uma mudança visível, quase palpável. O tempo é de fuga das relações passageiras, que apenas vem e vão sem deixar mais do que marcas negativas. 

Marcas.

O medo das marcas de dor, das cicatrizes me fez querer evitar tudo aquilo que me fizesse sofrer. Mais do que um sinal de fuga da vocação cristã a cruz, é um sinal de uma covardia profundamente arraigada no meu ser.

As marcas são importantes, no entanto, pois as cicatrizes fortalecem o ser, e o aprendizado advindo das dores ensina mais do que a pedagogia das rosas.

As relações fugazes devem ser evitadas, não a ponto de serem excluídas, mas no tocante a não dar a elas a importância que não tem. Com efeito o meu sofrimento sempre acontecia quando colocava no dispensável, no trivial, a importância de uma prioridade.

Prioridade.

Prioridade deve ser aquilo que não apenas terá efeitos a curto prazo, mas aquilo com potência para permanecer, ainda que não seja para sempre, mas que ao menos seja um bom período de tempo. Algo que não seja tão fugaz e passageiro como uma conversa casual, mas mais profundo como uma amizade verdadeira, uma companhia onde possamos abrir o compartimentos mais obscuros de nossa alma e coração. 

Percepções.

Aos poucos vou aprendendo a identificar, e a diferenciar o que é fugaz do que é verdadeiro, do que é prioritário. A solidão advinda dessas percepções é o preço a se pagar pelo afastamento de tantos entes fugazes. Abriu-se espaço para o novo, e enquanto o novo não começa o espaço deve permanecer vazio, disponível a ser preenchido com o importante. 

As percepções também ferem, machucam com a força de suas verdades, por vezes frias e duras como aço, mas que são capazes de me libertar das amarras de falsidade. 

Ação.

Livrar-se do dispensável, trivial. Quem são eles? 

Todos aqueles que passando, passarem sem deixar marcas de verdade, de acréscimo. Todos que passaram sem a intenção de ficar. Amizades e amores passados e atuais que ainda me marcam. Todos que chegaram, deixaram suas marcas de dor e se foram sem olhar para trás. Todos aqueles que, mesmo após tanto tempo ainda despertam o sentimento profundo, e com ele a tristeza, a dor do inalcançável.

Apegar-se com o firme, o sólido, o que demonstra potencial em ser melhor, maior. Esquecer o que não merece ser lembrado. Valorizar o que precisa ser valorizado, e aqueles que nos valorizam, mutuamente. 

Descobrimento.

Mais do que apegar ao sólido, é preciso aprender a diferenciar o sólido do supérfluo. Esse descobrimento será a base dos projetos futuros principalmente. Descobrir é aprender, e aprender é desanuviar as potencialidades escondidas pelas ideias ultrapassadas. 

Singeleza

Na manhã fria de domingo o sol se esconde por entre as nuvens grossas, que anunciam a chuva que logo correrá por sobre a terra. A tão esperada chuva haverá de tirar das coisas o tom marrom, cansado, sinal do calor que há mais de cem dias nos queima a face e nos entristece o semblante.

Muito me agrada a dicotomia de um dia nublado em que escondendo-se o astro rei dos olhos dos homens o mundo revela-lhes a alegria. Uma alegria diferente daquela brilhante, quente, que os dias ensolarados nos dão. Nesses dias são comuns os ditames de festejos, de dias nas praias e de ensolaradas tardes. Mas em dias como hoje as alegrias são mais discretas, mas exatamente por isso são mais completas. Elas nos chegam delicadamente, como uma voz doce a nos chamar para a manhã que desponta, e ficando marcada em nosso coração carregamos aquela voz ao longo dos dias, contrapondo o frio com o calor que ela deixa em nós...

Um brinde as alegrias delicadas, as pessoas delicadas, que na contramão do mundo impedem que todos embarquem rumo ao esquecimento do bom, do belo, do puro. Alegrias doces, tão pequenas que não são notadas por ninguém além de nós mesmos, alegrias poéticas. Encontradas num sorriso, num olhar e até mesmo num silêncio, elas são também capazes de nos transformar, ainda que seja por apenas alguns instantes, em pessoas melhores. 


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Noite, morte e amor

A noite quente impera por sobre as luzes amarelas e brancas das cidades, o azul aveludado recobre o mundo como um grosso cobertor, e o calor por ele retido encharca os homens com o próprio suor, translúcido, frio. É a dicotomia da temperatura, do corpo que tenta esfriar a si enquanto o mundo o embebe em uma lufada de ar quente.

Também a mente sofre com as intempéries, e esta faz o coração tornar-se vulnerável a outras mudanças, estas de origem mais ideal do que aquelas. O coração sofre com o amor, e levanta os olhos aos céus, esperando encontrar ali alento, mas apenas se depara com a gigantesca demonstração de sua pequenez frente aos mistérios de sua própria existência. 

Assim como um guerreiro sem armadura expõe ao seu inimigo a fragilidade de seu corpo, um coração vulnerável fica mais propenso aos ataques da lâmina do destino que, sedenta por sangue, o golpeia fortemente na espera de que o homem caia de joelhos e, implorando por sua vida, veja o céu acima de sua cabeça fechar-se em uma eterna negritude. 

O que difere a noite da morte? Serão no fim dos tempos a mesma coisa? Ao que me parece a noite tem em si certa semelhança com a morte... Além de ambas carregarem o manto escuro trazem consigo o mistério do desconhecido, e sua aura inspira medo e curiosidade a todos que a contemplam igualmente. 

Deitando-se o homem sobre a relva em algum campo distante ou na cidade mais movimentada e voltando seu olhar para o céu estrelado tem em si a mesma inquietude que um observador experimenta ao fitar um corpo inerte, já sem vida, a repousar em seu féretro.

Também o féretro é adornado para receber seu hóspede, e a noite é coroada pela lua, acompanhada pelas miríades estrelas. A noite é a representação universal da morte, que convida à contemplação os homens aqui na terra. 

Olhem para o alto, vejam na imensidão infinita, obscuríssima, da noite a mesma incompreensível e desconhecida verdade, escondida na tenebrosa capa da morte!

A incompreensão da verdade desconhecida, obscurecida pela noite e pela morte, deixa no coração do homem uma triste sensação, de medo e de vazio, e esse vazio aflige o entendimento do mesmo gênero humano de tal forma que pode-se dizer que o desespero pela sua vulnerabilidade lhe aterroriza desde o primeiro pensamento. Isso relaciona o primeiro pensamento do homem, o do medo, com o mesmo medo que ele sente ao deparar-se com uma situação nova, onde despido das armaduras de seu intelecto seu coração mole e frágil fica exposto a lâmina fria do inimigo.

A noite encerra dentro de si o mistério da morte, do desconhecido, e também recorda o homem de sua vulnerabilidade, a única coisa de fato grande, e assim a morte e a noite revelam sua semelhança com o amor, capaz de levar o coração ao extremo do desespero frente ao obscuro futuro. 

Presentinho

Ontem foi dia de receber presentes, não no sentido materialista da palavra, mas no sentido de que quando algo bom demais ocorre em nossa vida, sem que necessite para isso do concurso de um esforço hercúleo de nossa parte, é verdadeiramente um presente!

Tratou-se de um dia fácil, onde não precisei lutar contra mim mesmo para saber como agir, o que fazer, e nem deixar de ser exatamente como sou. Simples assim! 

Também digo que tratou-se de um presente pela naturalidade com que agiram comigo. As últimas semanas foram tensas em vários sentidos, e acabei por me concentrar nos estudos não por necessidade, mas por falta de vontade de continuar a socializar como de costume. Temia que a reunião fosse um momento de desconforto para mim e para os outros, mas não, não foi mais difícil do que uma conversa amigável, do que algumas brincadeiras sobre qualquer coisa.

Já faz algum tempo que aprendi a valorizar as coisas pequeninas que a vida me oferece, e ontem foi assim, um pequeno presente de valor inestimável... Simples, único, mas ainda mais valioso e feliz que dias inteiros de esforço para ser feliz!

Como um simples sol poente, pois nada pode ser mais ordinário que um sol poente que acontece todos os dias, mas as almas poéticas que já tiveram o interesse ou a sorte de assistirem sabem que pouca coisa pode ser tão linda quanto o espetáculo natural do sol poente, cuja ordinária frequência não lhe tira o brilho imperativamente hipnótico e deslumbrante... Oh, se todos pudessem contemplar a beleza de um sol poente conseguiriam se alegrar com os pequenos presentes da vida!