sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Contrário

A chuva fina acaricia o telhado, o seu barulho se mescla ao da playlist de flashback que desde algumas horas atrás reproduz sem parar. Ambos os sons, o da chuva e os das vozes roucas e guitarras apaixonadas, conseguem se assemelhar, com muita proximidade, ao caos que minha mente abriga.

Esse caos é a disputa entre o querer e o não querer, ou um não querer mais que bem querer, como disse Camões... Parte de mim deseja se entregar novamente, enquanto a outra briga por uma racionalismo mínimo, que me impeça de cair novamente nas mesmas armadilhas de antes. 

As palavras doces, no entanto, são para mim veneno doce. Como um fruto proibido atraindo por sua beleza, conquistando por seu mistério encantador, e matando com a ferocidade de um assassino impiedoso, que sem pestanejar crava sua adaga de aço frio em meu peito, torcendo-a e fazendo me contorcer de dor para, num movimento rápido e certeiro, fazer minha cabeça voar como um pássaro. 

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor? 
(Camões)

Quando o sol quente reina por sobre a terra deseja-se a chuva, e quando o céu se escurece pelo água nas nuvens e mesma chuva deseja precipitar-se logo sobre a terra, e tornar a limpar o céu para o sol reinar. Assim o coração vazio deseja amar, mas quando ama deseja que não o fizesse... E assim, nessa confusa dicotomia entramos noite a dentro, sem saber se se deve ou não amar... 

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