terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Espada

Caminhadas são sempre um exercício revigorante para o corpo e para a mente. Ao que parece o ar fresco renova as energias que gastamos normalmente e acalmam também nossa mente... Não sou muito ativo no que se refere a exercícios físicos mas as vezes faz bem renovar os ares... 

Hoje enquanto caminhava os pensamentos que tive logo cedo se marcaram ainda mais fundo na minha mente. Eu percebi com mais clareza que o mundo corre numa velocidade que não consigo acompanhar, e que isso significa que eu por vezes fico para trás. A vida de todos vai passando, todos vão crescendo, amadurecendo, e parece que eu continuo parado no mesmo lugar, sem crescer, sem evoluir ou amadurecer. 

Olho ao meu redor e os fatos que comprovam isso só vão se mostrando cada vez mais perceptíveis. As pessoas vão aprendendo com seus erros, superando seus obstáculos, usando suas cicatrizes como motivo para não repetirem os mesmos erros, e eu não. Enquanto todos crescem eu continuo com a mente estática, crescendo apenas no exterior. Mas o interior continua o mesmo, sempre com medo, sempre fugindo, sempre se escondendo e se acovardando, sempre chorando. 

Continuo cometendo os mesmos erros sempre. Me apego quando não deveria, sou incapaz de sentir algo saudável por outro rapaz, quem quer que seja ele, sempre sentindo tudo com o máximo de intensidade possível, sempre apostando todas as minha fichas em apostas impossíveis de se vencer. Sempre perdendo. 

E a história vai se repetindo todos os dias, mudando apenas os personagens. Como se a roda do destino nunca parasse de girar, mas que no meu caso possui apenas um pequeno ciclo fechado, E a espada desse mesmo destino sempre cai no mesmo ponto, nunca errando, nunca se desviando, sempre caindo sobre o coração da mesma vítima, no entanto sendo empunhada por inimigos diferentes, que eu mesmo escolhi.

Assim, depois de cair golpeado mortalmente, o destino se encarrega de me ressuscitar, para apenas ser golpeado novamente, repetidas vezes, dia após dia, até que um dia a morte seja definitiva e eu não mais precise sobreviver a esse inferno que eu mesmo provoquei... 

E dessa forma eu aos poucos vou compreendendo o alto preço que eu tenho de pagar por não ter crescido, por ter ficado estático, quando o mundo exigiu que eu crescesse...

Por isso a espada do destino continuará a cair. Ela vem de outro mundo, de um universo perdido no meio das nuvens, longe das luzes, inalcançável para qualquer pessoa, mas quando ela cai, sempre acerta seu alvo num golpe mortal.  E ela cairá té que eu consiga romper com esse seu ciclo demoníaco que vem destruindo minha vida... 

Mas como conseguir fazê-lo, se ela é lançada de um nível superior, onde ninguém jamais esteve? Isso significa que para evitar o golpe da espada eu preciso subir até por entre as nuvens, no nível superior? 

Corre corre

Alguns dias reservados a uma reflexão mais profunda... Dias de uma concentração interior onde o exterior teve de esperar para ser contatado?! Nem tanto, na verdade era só preguiça mesmo... Mas não preguiça de escrever, preguiça existencial, preguiça de viver...

O mundo inteiro passou a andar numa velocidade que eu não consigo acompanhar, rápido demais para mim e meu coração. E então eu vou andando no meu ritmo, mas ainda assim vai ficando cansativo ver todos a sua frente, andando apressadamente sem observar nada ao seu redor. Mas eu não sou melhor por andar lentamente. Na verdade não o faço para aproveitar a vista do meu caminho, mas o faço para voltar-me para meu próprio interior e assim eu também perco a visão da paisagem. 

As pessoas correm, e correm em busca de seus objetivos, tanta gente passa o tempo todo e eu estou só...

Não entendo o mundo ao meu redor nem tampouco o meu mundo interior, não entendo nada, eu não sei de nada, e não consigo fazer nada, absolutamente nada. Sou apenas um miserável condenado a viver eternamente sob o peso de dúvidas sem respostas. 

Dúvidas

Respostas

Na verdade acredito que eu apenas tenho medo, muito medo de crescer, encarar tudo de frente e por isso me fecho em minha própria mente, na busca de algo que seja capaz de me levar a felicidade, mas dentro de mim não há mais nada, nada que possa me ajudar, nada que possa me levar até lá, que eu não sei onde é. E por isso fico andando por aí... Sem rumo, sem destino, sem futuro... Sem saber o que fazer nem para onde ir. 

Essa situação é horrível, é um sentimento de deriva, de estar vagando sem um objetivo, sem saber o que quer. Horrível... Como uma bússola quebrada ela não aponta para nenhum lugar e assim não pode guiar seu portador. Assim é como se sente quem não tem um objetivo, quem não tem uma ambição clara na vida... E assim eu vou tentando sobreviver, mas ainda não comecei a viver de verdade... 

sábado, 28 de janeiro de 2017

Personagens

"Dizem que somos possuídos pelo que possuímos. Não é bem assim. Somos possuídos por aqueles que amamos. Somos reféns eternos desse amor." (Harlan Coben)

Pra começo de conversa eu não faço a mínima ideia de quem seja Harlan Coben, só achei essa frase pouco antes de sair de um fórum que eu entrei por acaso, mas achei bem interessante. Enfim, mas não é sobre ela que eu quero falar, mas quero começar minha reflexão partindo de outro ponto:

Uma pessoa me sugeriu que eu escrevesse histórias, ou melhor, estórias, com personagens e tudo, como forma de explorar ainda mais minha sensibilidade literária. Achei interessante, não que eu já não tenha tentado, e acho que pode ser que dê certo. Claro que é inevitável um começo infantil e inexperiente, afinal estou familiarizado em ler o gênero, não escrever, mas acho que vale a pena tentar. 

No entanto, enquanto pensava sobre isso comecei a pensar no que uma ficção precisa. Comecei pensando no básico, um personagem principal, um interesse amoroso, um enredo interessante, um cenário bem delimitado e personagens coadjuvantes, que ao meu ver, são o que dão um tom profissional a história. Os meus livros favoritos são aqueles que me fazem interessar também pelos personagens secundários. E geralmente são os que menos são desenvolvidos, justamente para dar ênfase ao personagem principal. 

Pensando nisso eu comecei a me dar conta que nossas vidas por vezes são como na ficção, o famoso a vida imita a arte, ou a arte imita a vida. Temos personagens principais e coadjuvantes. Temos histórias principais e histórias secundárias que, embora menos importantes, contribuem e muito para a principal. 

Eu obviamente não posso ser coadjuvante na minha própria história, mas o mundo também pode ser considerado um grande livro e ai sim, novamente nos dividimos em atores principais e coadjuvantes. Em meio essa grande biblioteca formada pelas vidas de todos quanto caminham por sobre a terra não é incomum as vezes nos aproximarmos de histórias de outros, que parecem mais belas, ou que simplesmente tenham personagens que nos agradam mais. 

No meio dessa confusão toda eu vi uma história que aos poucos foi me chamando atenção. Uma história que, como uma espada de dois gumes, possui um lado doce e delicado e um lado forte e corajoso. Trata-se de um herói, um guerreiro, que aos poucos passa a ocupar o lugar da minha história, para que eu possa me ocupar em observá-lo. 

Quando o vi pela primeira vez, um certo preconceito tomou conta do meu juízo, e o classifiquei como uma pessoa comum, cheia de ideias erradas na mente e visões turvas sobre coisas que pra mim eram claras. Mas com o tempo eu fui percebendo que eu era quem estava com a vista turva, e com o coração aos prantos. Aos poucos então eu fui observando de longe as batalhas daquele guerreiro, escondido, sem que ele me notasse. 

Como uma criança distraída eu fui aos poucos parando de chorar enquanto olhava aquele bravo cavaleiro lutar em sua armadura de ouro, combatendo os espectros que buscavam perder o mundo. E eu nem notei me levantar e aos poucos começar a caminhar em sua direção...

Ele me fez querer levantar e lutar também, me fez querer caminhar ao seu lado. Me fez querer desejar ser um coadjuvante a ajudá-lo a alcançar seus objetivos. Ainda não o alcancei, ele se encontra lutando no topo de uma grande colina, e eu estou na base ainda, sem armadura, apenas com o coração ardendo em chamas de desejo de lutar ao lado desse bravo guerreiro cuja beleza resplandece entre o céu e a terra. 

Quem sabe se eu me esforçar conseguirei um dia caminhar ao seu lado, protegê-lo de seus inimigos e juntos alcançarmos o topo da colina que chega aos céus? 

Você me permite, oh belo guerreiro, que eu caminhe e lute ao seu lado contra os inimigos desse mundo? 

Claro, isso pode ser só mais um sonho, e eu posso morrer aos pés do primeiro inimigo que surgir a minha frente, antes mesmo de conseguir uma armadura, mas eu não vou morrer por ficar parado no mesmo lugar... Não mais...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Fio de esperança

Eu me derramei inteiramente no chão. Eu entreguei completamente a ti o meu coração, mas você não o reteve consigo, pelo contrário, permitiu que ele saísse voando por aí sem destino. E ele não voltou, perdeu-se pelo mundo, já não sei mais onde posso encontrá-lo, talvez esteja perdido para todo o sempre.

Por você eu me fiz amor, eu me fiz canção, eu me fiz poesia. Mas você não apreciou a arte que nasceu do meu coração. Você apagou a chama do amor, abaixou a canção e rasgou a poesia. Nenhuma dessas formas de demonstrar meu amor foram suficientes para alcançar o seu coração. Para mim ele continuou fechado, duro e frio. 

E eu continuo em busca daquele amor que me foi prometido. Aquele que dizem juntar todos os pedaços partidos do coração ferido. Esse é o amor que eu busco. 

O mundo chama coisas como desejo e sexo de amor. Não posso dizer que o amor tenha em si mesmo essas coisas, mas ele é bem mais do que isso. Eu busco um amor que se sente comigo embaixo de uma arvore e que fique horas e horas conversando comigo sobre qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Falemos sobre nossas desilusões políticas, sobre nossos gostos musicais, ou ate mesmo sobre a roupa estranha da senhora que acaba de passar. 

Quando disse que me amava, disse que era o amor que os amigos sentem uns pelos outros, e no entanto até isso parece ter morrido. Se eu não puxo conversa não há diálogo, se eu o faço, recebo respostas curtas e frias, preciso alimentar sozinho toda a conversa, e isso não é amizade, é piedade. Se vejo algo que toca meu coração, gosto de enviar aqueles que amo. Se te mando uma musica ou uma poesia, ou uma frase que seja, é porque há nela algo que traduza o que se passa em meu coração. Não o faria se não brotasse do mais íntimo do meu ser, mas você nunca deu importância para nada disso, nem sequer dignou-se a responder na maioria das vezes. E ignorar a poesia de um poeta é ignorar seu próprio coração, seu próprio amor. É como dar-lhe um tiro a queima roupa, como golpeá-lo no peito, impiedosamente. 

Eu buscava em você um amor, você disse que não poderia ser mais do que amigo, pois bem, seja esse amigo! Mas seja o amigo que quando tudo parecer perdido, vai me oferecer um sorriso, e eu retribuirei. Seja o amigo que fica ao meu lado quando as coisas se complicarem, e não aquele que simplesmente esquece um pedido de horas atrás, mas recorda-se de um convite feito por outra meses atrás. Seja esse amigo, seja de verdade um amigo, pois amizade supõe também amor verdadeiro, mas ao que parece, apenas um de nós tem amado, e quando isso acontece, o único final possível é a morte dessa amizade, já que ela é nutrida pelo amor e sem amor não há nada!

E mesmo assim eu já me preparo para o dia do derradeiro golpe final. Para o dia em que finalmente me transpassará com uma lança e que destruindo inteiramente o meu coração você tomará a decisão firme de ser feliz sem mim. Nesse dia eu não sei o que serei capaz de fazer, mas acredito sinceramente que não conseguirei mais insistir com essa vida se assim for. Não há motivos para viver sem você, e o que tem me mantido de pé é pura e simplesmente o pequeno fio dourado da esperança que há em mim de que um dia você poderá ainda me amar. Mas se antes desse dia eu for obrigado a ver-te sendo tocado e possuído por outra pessoa, já não serei capaz de continuar a viver, e penso que nesse dia darei um fim a essa existência tão miserável. Naquele dia da ira, tudo isso terá um fim!

Vislumbre

É uma tarde fria, deitei por alguns instantes enquanto me deixava levar pelo ritmo alegre e dançante das musicas que na playlist tocava. Fechei os olhos e como num passe de mágica eu vi a sua imagem refletida sobre mim. Era como se meus olhos de repente tivessem se transformado em portais para uma outra dimensão. 

Mas acho que minha criatividade tirou férias, pois o mundo para o qual ela me levou não era muito complexo, pelo contrário. Apenas tinha um céu azul e frio um conjunto de construções de concreto cinza. Estradas, prédios, templos, tudo era frio e triste. Tudo era de concreto e passava uma aura de tristeza que eu não sei explicar. Mas no meio de tudo isso surgiu uma figura de luz.

Lá estava você, parado de frente para mim, alto, imponente, com olhos confiantes e profundos e ao seu redor, uma enorme força, que no entanto passava uma calma e uma paz diferentes da do resto do mundo. Você não se encaixava naquela paisagem, era belo e perfeito demais para aquele lugar. Uma beleza marmórea em meio uma selva de concreto e uma aura divina em meio a terra dos homens pecadores. 

Foi apenas um vislumbre. Não conversamos, não fizemos nada, e eu logo estava de volta ao mundo real, novamente consciente do meu corpo e da musica que tocava. Mas agora com uma estranha imagem gravada no meu peito. A daquele anjo de mármore no meio de um mundo de concreto. A daquele sol a brilhar num mundo frio e a aquecer a minha pele e o meu coração, a sua imagem.
O que significará essa visão? Será um vislumbre de um novo sentimento que aos poucos vem crescendo dentro de mim? 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Como vai ser?

E então, como vai ser? Será que eu tenho uma espécie de sinal verde e posso me aproximar de você? Será que tenho permissão para acreditar que não serei apenas mais um maravilhado com sua beleza e sua retórica e que terei diante de ti algum valor real? Ou essa será apenas mais uma oportunidade de eu me machucar? E então, como vai ser?

Percebo que embora de grande sabedoria e inteligência, você ainda tem consigo muitas dúvidas, algumas das quais eu sei que os outros não conseguem enxergar, pois estão ocupados demais contemplando o que você tem para os oferecer. Mas eu as vejo, pelo menos algumas delas. Eu vejo sua insegurança, mesmo quando você sorri de forma a se mostrar confiante. Eu vejo sua irritação mesmo quando você fecha os olhos para o mundo. Eu vejo seu medo, mesmo quando ergue os ombros em sinal de batalha. Será que os outros percebem isso em você? 

Mas eu tenho medo de me aproximar, afinal a distância entre nós é mais do que física, é cultural. Mentalidades completamente diferentes, de mundos completamente opostos. Será que daria certo? Será que eu não me entristeceria, ou será que não seria apenas motivo de desgosto para você?

Apenas estou começando a conhecer você, e você a me conhecer também. Já pareço um completo desocupado em comparação a você, e a diferença entre nossa maturidade é gritante. Pareço uma criancinha perto de você, mas espero que entenda que é apenas uma alegria infantil e pura que brota do meu coração ao contemplar os seus olhos. É como seu eu dissesse, mesmo sem querer, que gosto de estar com você. 

Mas vamos com calma. Vamos nos conhecer, vamos nos permitir. Vamos caminhar lentamente, a passos firmes, para evitar possíveis sofrimentos futuros... Vamos aos poucos vendo, como vai ser...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Visão romântica

Passar o dia inteiro esperando aquela pessoa se lembrar de você... Pensar a todo momento o que ela estaria fazendo e se estaria pensando num outro alguém. Se entristecer porque num momento passou por sua mente que aquela pessoa especial tem em seu coração outra pessoa especial.

Pensar que, enquanto você pensa, aquela pessoa entrega seu corpo e seu coração aos braços de outro alguém, e que esse outro alguém vai ter em mãos tudo àquilo que você desejou do fundo de sua alma e que provavelmente nunca dará a ela o valor que você daria. Ou talvez dê, talvez essa pessoa também a ame. Talvez eles se amem reciprocamente, diferentemente de nós. Talvez eles sejam muito felizes juntos, talvez sorriam juntos, talvez nem sequer vejam o tempo passar quando estão juntos. Talvez eles tenham tudo aquilo que você um dia sonhou ter e que sentiu seu coração doer de tanto que você pensava naquilo.

Às vezes é normal que os ciúmes nos faça querer desejar a infelicidade do nosso amado só porque ele não estará ao nosso lado, mas acho que se for assim, não procede de um amor verdadeiro. Não. Um amor verdadeiro deseja a felicidade do amado mesmo que isso custe a própria felicidade, mesmo que isso signifique precisar matar a si mesmo e ao sentimento que habita dentro de cada um de nós. Significa assassinar o próprio amor, pois o outro não é capaz de nos amar, e encontrou seu amor nos braços de outro alguém.

Claro que imaginar essa dor já é um esforço inimaginável. Mas as vezes esses pesadelos nos assombram mesmo acordados. As vezes basta ficar sozinho num lugar vazio para começar a pensar que o outro está sendo feliz e está amando sem precisar de sua presença, ou ainda pior, sem precisar do seu amor. Pois as coisas são assim, as pessoas não precisam do nosso amor, nós é que precisamos do amor delas. É bem simples, e essa necessidade cria em nós a ilusão de que o outro busca também por aquilo que podemos oferecer. Mas isso não é verdade. O outro as vezes não quer amor, só quer sexo, ou amizade, ou apenas deseje desesperança. Talvez o outro também esteja em busca de preencher os próprios vazios, mas ele ainda não sabe com o que e apenas tem a certeza de que não é com nosso amor. Talvez nosso amor não queira ser amado. Ou talvez ele só não precise de nós...

Essa é a forma como os desiludidos enxergam o mundo: olham para as cerejeiras em flor, mas só conseguem ver a estação de trem vazia do outro lado da rua.

Mas que serventia pode ter destilar essas doses de desilusão? Acredito que seja o meso efeito que o álcool tem no metabolismo de um alcoólatra. Sabemos que ele mata, e bebemos pois acreditamos que há algo dentro de nós que precisa morrer. Assim como um tarja preta que nos oferece momentos de torpor em meio a toda aquela dor, para o poeta escrever, mesmo que seja sobre essa mesma dor é como ter injetado nas suas veias o mais poderoso dos benzodiazepínicos, que por breves momentos suspende a percepção da dor.

É uma visão romantizada do sedativo, claro, mas em meio a toda essa desgraça, o que mais poderíamos fazer senão romantizar um pouco da escuridão em que nos encontramos. Nós poetas precisamos falar sobre a dor em nossas poesias, mas nossos amados não precisam de nosso amor. Bom, pelo menos sobra um pouco mais para as poesias não é mesmo?

Hora dulcíssima

Quando penso em você, é o mesmo que pensar no silêncio. Eu acordo, penso em você e no meu coração eu só sinto o silêncio. Mas não aquele silêncio da hora dulcíssima do sono, não, mas o silêncio do vazio. 

Eu penso em você a todo momento, e por isso se tornou automático associar sua imagem com aquela canção de amor que os apaixonados escutam quando pensam em seu amor. Mas a minha canção se silenciou em meu coração, e por isso quando me volto para dentro de mim mesmo, não escuto mais nada ao pensar em você. É apenas silêncio que habita o meu coração junto com sua imagem, mas eu não queria que fosse vazio, não, eu queria que fosse amor, que fosse canção, que fosse uma idílica visão...

Com o silêncio só me vem a dor e tristeza que vem com o desejo de seu amor... Ah, certamente, pois quando minha alma não escuta essa canção, mas é obrigada a cantar para si mesma, e se põe então ela mesma a quebrar o silêncio do seu vazio, o silêncio do seu desamor. E enquanto minha alma canta para consolar a si mesma, ela começa também a sonhar, e sonhando ela viaja pelo universo, na procura por um mundo onde ela encontre em seus braços o calor para aquecê-la nesse frio e a canção para acabar de vez com esse silêncio...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A cegueira das cores

Dias de chuva são quase que um convite do universo a reflexão... Para mim é quase automático parar para pensar  na vida, e como hoje ta fazendo um friozinho gostoso, sentei um pouco depois de passar o dia distribuindo alguns currículos e resolvi pensar em algumas coisas, tentar organizar alguns pensamentos que já há alguns dias vem fazendo um certo barulho na minha cabeça... E eu me vi novamente pensando em significados.

Significados.

Fiquei me perguntando, qual o sentido para as coisas que acontecem a nossa volta? Tanto as coisas ruins quanto as boas... Tudo tem de ter um significado não é mesmo? Tudo precisa acontecer por um motivo, penso eu, e esse motivo é o que lhe dá significado, bem como suas causas e consequências. É assim desde as pequenas coisas da vida, como decidir comprar um doce ou se apaixonar por alguém. Tudo precisa ser um significado...

Mas hoje tudo, ou ao menos as coisas ao meu redor, parecem tão vazias de significado. As vezes, ou melhor, quase sempre me sinto como se vivesse num mundo vazio de tudo, onde apenas eu fosse capaz de sentir, mas como o mundo já não possui mais nada, apenas sentia esse vazio. É como se no mundo, todos fosse cegos, e apenas eu fosse capaz de enxergar as cores, mas quando abro os olhos vejo que num mundo inde todos são cegos, não há cor, tudo é de um tom cinza triste, sem vida e nem significado, ou talvez a tristeza seja seu único significado.

As pessoas que rodeiam parecem não pensar nisso, ou se pensam não se deixam abater com essas coisas, mas comigo é diferente, pois as respostas dessas perguntas são essenciais para a minha felicidade. É como se eu precisasse disso para viver e ser feliz. Por isso agora eu digo que não estou mais vivo, estou morto, apenas continuo existindo como uma casca vazia, se vida e nem significados. Como um jarro, buscando com o que preencher-se. As vezes com água, as vezes com lama, mas sempre em busca de algo para preencher o meu vazio. 

Por isso não sei afirmar ao certo se o que está vazio é o mundo, ou se sou eu... 

Quando sinto que as pessoas não sabem mais amar, penso que o mundo se esvaziou desse amor. No entanto ao mesmo tempo eu me volto para o meu interior e penso que, talvez eu tenha me machucado no meu passado, e por isso me esqueci do verdadeiro significado do amor, e me esquecendo do amor, e depois que me esvaziei, no vazio me angustiei e passei a duvidar de tudo. De certo, quando eu estava cego pelas cores do mundo e do amor, não questionava nada do que acontecia ao meu redor. Tudo estava bem, tudo estava colorido. Mas eu na verdade estava apenas contente por ser capaz de ver tão belas cores, mas cegado por elas eu fechei os olhos para a realidade, e quando as cores se foram, o tom cinza e frio me assustou. Eu dei de cara com o dia de ira, aquele dia, que volverá o mundo em cinza fria, mas não estava preparado para encará-lo. Por isso as cores me cegaram!

Depois, quando pude voltar a vislumbrar o oceano de cores e sabores que se escondia no horizonte eu fui capaz de voltar a acreditar no amor e no seu significado, mas não fui capaz de senti-lo novamente, e sinceramente não sei se um dia serei capaz de sentir aquilo de novo. As cores cegam pois hipnotizam e nos atraem cada vez mais para a sua fonte. Mas ninguém é capaz de ver e sentir tanta coisa, por isso quanto mais eu me aproximava das cores, mais queria senti-las e mais eu me cegava com elas. 

Agora eu penso que devo encontrar uma forma de alcançar um equilíbrio entre a cegueira e o ofuscar que as cores que me deram. Cores demais ofuscam, nenhuma cor entristece. 

Nesta ilha em que eu estou não consigo ver aqui nenhuma cor. No horizonte se encontra aquele mundo de cores e luz que me ofuscou e me cegou. No entanto, em algum lugar entre este e aquele mundo, deve haver algum lugar onde eu posso viver sem precisar estar aqui ou lá. Este lugar é o lugar da sobriedade de vida, o lugar onde eu não fique cego por conta dos meus sentimentos, embora ainda os sinta, e também onde não me angustie apenas com o vazio de tudo. 

Equilíbrio.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Mais sonhos

E novamente sonhei com você nessa noite... Acho que essa foi a terceira ou quarta vez essa semana, e isso já está começando a me incomodar, pois sinceramente, muito embora eu me esforce para parar de pensar em você, ou ao menos diminuir a quantidade de vezes ou a força com que eu penso em você... 

É sempre assim, no fim da noite, quando estou talvez mais sensível aos meus pensamentos, começo a sonhar com você, e fico sonhando repetidamente até acordar em definitivo. Mesmo cada sonho sendo único, uma coisa é comum a todas: você está sempre lá, sempre!

As formas variam muito. As vezes estamos andando e conversando. As vezes não. Mas sempre quando eu acordo a força da cicatriz é sufocante. É como se eu tivesse sido tocado por uma brasa terrivelmente quente, e as vezes é impossível conter as lágrimas ao acordar. Já tinha de lidar com elas ao dormir, mas agora estão se tornando companheiras quase permanentes. 

Alguns são mais delicados, e me surpreendo com a capacidade da minha mente em criar coisas. Como quando caminhamos numa floresta onde todas as folhas eram de tons violetas. Mas alguns me assustam também, quando acordei assustado por ver-te morto aos meus pés. E alguns deixam em mim mais do que impressões sentimentais, se tornam físicas também. 

Enfim, é fato que meus sonhos tem refletido o que meu pensamento tem evitado fazer: lembrar-se de você! Talvez tenha reprimido meus sentimentos, mas eles estejam procurando uma forma de sair e agora encontraram nos sonhos uma forma de me fazer pensar em você. 

No fundo o sonho só tem demonstrado o que eu tenho evitado dizer em voz alta: que eu ainda amo você. Que não vou deixar de amar tão cedo e que eu desejo, ainda do fundo do meu coração, que você também me ame... 

É só isso, meus sonhos se tornaram um reflexo do meu desejo mais profundo. E o que há de mais profundo em mim é o meu amor.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Apenas lágrimas

Eu amo você, me desculpe.
Mas eu nao posso mais fazer isso!
Eu nem sequer tenho o direito de me aproximar de você.
Não me ame...
Eu não tenho facilidade pra dar a você o meu coração,
Eu vivo cada dia além das minhas forças,
E cada dia tem sido muito, então eu choro.

Oh, eu... Eu não tenho nada para dar a você,
(Mas eu) Estou sentindo sua falta...
Eu nem mesmo posso te dizer palavras de amor,
Mas eu estou sentindo sua falta...
Eu nem mesmo posso ousar desejar que você seja minha,
Mas eu estou sentindo sua falta...
Então eu te afastei, 
Pois eu sou um cara que não tem nada além do próprio coração...

Eu estou me segurando, ainda que isso doa,
Até as lágrimas são um luxo para mim...
Eu nem tenho o direito de olhar para você,
Não olhe para mim!

Eu sei que o meu coração está onde você está,
Perto o suficiente para nossas respirações se tocarem,
Sempre no mesmo lugar...

Oh, eu... Eu não tenho nada para dar a você,
(Mas eu) Estou sentindo sua falta...
Eu nem mesmo posso te dizer palavras de amor,
Mas eu estou sentindo sua falta...
Eu nem mesmo posso ousar desejar que você seja minha,
Mas eu estou sentindo sua falta...
Então eu te afastei, 
Pois eu sou um cara que não tem nada além do próprio coração...

Mais do que qualquer pessoa no mundo
Eu amo você, então eu aguentei...

Oh eu... Eu não posso segurar sua mão,
Mas eu estou sentindo sua falta...
Estou preocupado em segurar apenas as minhas lágrimas
Então eu estou sentindo sua falta...
Eu não posso dizer para você ficar comigo
Mas eu estou sentindo sua falta...
Isso é demais, mas no final
É porque eu sou um homem que não tem nada além do próprio coração...

Tradução (minha) de Only Tears do Kim Sung-Kyu.
Postei por motivos de que (eu quis) achei bonita e resolvi traduzir...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O séquito das estrelas

O sol vai se escondendo por entre as nuvens e logo a tarde também vai se acabando... A brisa se torna mais fria pouco a pouco e o breu da noite vai lentamente cobrindo o céu de um azulado camurça. Logo depois de avançar com seus lençóis por sobre o mundo o silêncio vai também se espalhando por toda a terra, como se tudo reverenciasse aquela que logo se tornaria a soberana a reinar nos céus durante a noite.

Tão logo a rainha surge nos céus e o seu salão também se torna repleto de seus fiéis, são as estrelas que salpicam a noite com sua beleza nos mostrando oceanos de pontos brilhantes que, quando olhados atentamente, formam acima de nossas cabeças um conjunto único que só poderia ter sido plasmado pela mais divinal das mãos.

Mas junto com toda beleza e com todo esse silêncio, na noite escura, como um fantasma a assustar as almas também avança sobre nós o pensamento. Como um fantasma pois o pensamento também assusta e arrepia a alma. E esse fantasma sempre toma por sobre si um véu de beleza humana, criado especialmente para domar e manipular a alma até levá-la ao completo desespero. 

O sono domina o corpo, o sonho manipula a mente, e o amor é que manipula a alma. Todos este seguem as ordens do Destino, que numa noite como essa decidiu por fazer mais uma vítima de seus planos abstratos na busca pelo sofrimento da humanidade.

Eles então colocam em prática seu minucioso plano, levando a alma do pobre viajante a se perder olhando as luzes hipnotizantes da lua e das estrelas, vendo-se viajando por toda aquela imensidão, sendo assustado por uma metálica voz, mas que esconde por trás daquele timbre algo de conhecido. O jovem desviando então seu olhar do luar e olhando para o lado o encontra finalmente, uma imagem divinal de uma frieza marmórea capaz de congelar a alma e paralisar o corpo de medo e pavor. O homem estranha esses sentimentos que o assomam poderosamente. Se seus sentimentos são de amor e afeto, a imagem do seu objeto não deveria ser algo prazeroso? Mas no lugar disso apenas passou a correr por suas vezes o medo e o pavor.

Seu sangue tornou-se modificado e transformado pela luz da lua e mudou-se num veneno poderoso, por correr dentro das veias do próprio envenenado e por usar desse mesmo sangue para matar sua própria vítima.

Mas aquele que se encontra de pé frente o jovem não é objeto de seu amor. Este se encontra longe dali, a cuidar de sua própria vida e a pensar em seus próprios amores. Aquela imagem não é outra coisa senão um engodo, para fazer o pobre modificar seu próprio sangue em dor e terror. Com a garganta em chamas ele busca então implorar pelo amor daquele que ali se mostrou. Mas as chamas o consomem de dentro para fora e no chão ele implora pela ajuda daquele que dentro de seu coração mora.

O Destino fez do desespero um aliado na morte de sua vítima e assim, ao entrar em pânico tendo seu interior pulverizado pelas chamas daquele veneno da lua, ele se ri no corpo daquele que antes era apenas um simbolismo do amor. Na mente do pobre rapaz ele só consegue ver e entender que seu amado se diverte com sua dor e sua morte iminente. Mas a morte corporal é apenas uma consequência da morte espiritual. E esse jovem não está mais vivo. Morreu de amor seu coração, e antes de morrer seu corpo também, ele se sentiu ainda mais desvalorizado por esse mesmo amor que um dia ele tanto amou.

Longe dali seu amado dorme, ou pensa, ou vive, mas o certo é que, mesmo distante, seu amado não o ama, e nem mesmo sentirá tristeza, ao receber as noticias  da morte daquele que sempre o amou. 

Esse foi o fim de uma breve história de amor, que sob a luz da lua encontrou seu derradeiro fim, e que sob a luz da lua se silenciará por toda a eternidade, fazendo da própria lua e de seu séquito de estrelas, os únicos testemunhos dessa covardia.

Peter Pan

Eu preciso sair da minha zona de conforto, ou isso vai acabar me matando... Pelo menos foi o que me disse a minha terapeuta. Claro que, num primeiro instante, uma coisa chamada zona de conforto deveria ser em si mesma uma coisa boa, mas parece que não é bem assim.

Ela também não me disse nada que eu já não soubesse, mas acho que isso me dá uma segunda opinião, além da minha própria, de que algo ta errado com isso.

Venho pensado muito ultimamente no que significa realmente crescer, amadurecer... Primeiramente penso que tenha algo a ver com as relações e experiências que adquirimos em vida, isso significa crescer. Amadurecer já significa aprender com essas relações e experiências, conseguir tirar de cada uma delas uma lição, um valor, algo que possa servir num outro determinado momento ou situação.

Claro que isso é um ponto de vista romântico, e a vida não é romântica, não, a vida é real... E na maioria das vezes admitir isso significa dizer que precisamos enfrentar de frente justamente aquilo que mais nos machuca, o que mais nos dificulta a ter uma vida feliz e completamente realizada.

É preciso romper algumas barreiras que se colocam a nossa frente e nos impedem de avançar, enfrentar medos... 

Medos

O medo é uma reação natural do corpo frente alguma situação desconhecida ou potencialmente perigosa. É um instinto de proteção e graças a ele o homem foi capaz de sobreviver num mundo cheio de perigos desconhecidos.

Mas medo demais é também prejudicial, pois ele obviamente pode acabar nos privando de alguma situação prazerosa ou importante.

Um exemplo claro disso? Medo de crescer!

Não penso que seja o único que se encontre nessa situação mas eu faço parte do grupo dos que tem medo de crescer. Medo de crescer, de sair de casa, de ter de arrumar um emprego, assumir maiores responsabilidades... Medo de tudo isso, medo de viver.

Enquanto as pessoas ao meu redor buscam sua independência, eu busco me esconder cada vez mais, busco me afastar do mundo cada vez mais... E isso é perigoso. Os meus pais podem morrer num acidente hoje mesmo, e eu posso não ter mais ninguém para me sustentar amanhã. Isso é uma realidade, e eu preciso estar preparado para isso. Preciso crescer, assumir a idade que carrego e amadurecer.

Mesmo sendo difícil, mesmo que a simples imagem de precisar conseguir um emprego que não corresponda exatamente com as minhas expectativas fantasiosas seja para mim tão doloroso quanto ter uma brasa acesa no coração, e que por essa dor fique paralisado como uma criança indefesa.

Essa é sem dúvida a maior barreira que preciso superar. Vencer esse estranho medo que me impede de seguir em frente.

Seguir em frente...

Crescer significa seguir em frente.

Amadurecer significa seguir em frente.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Resenha - SOTUS

Bom, às vezes algumas pequenas coisas aparecem em nossa vida e mudam completamente o nosso destino. Pode ser uma pessoa, uma música ou uma pequena pérola, mas é certo que são todas coisas pequenas que provocam em nós grandes reações em cadeia e se tornam verdadeiras avalanches em nossa vida.

Uma pequena pedrinha vai deslizando e aos poucos empurrando pedras um pouco maiores do que ela e quando percebemos, uma grande rocha foi arremessada a nossa frente fez com que nossa paisagem mudasse completamente. O jardim que antes continha apenas flores agora é formado por rochas e flores. Não deixou de ser um jardim, mas está diferente. Não necessariamente se tornou mais feio ou mais bonito também, mas está diferente. Assim também acontece com cada um de nós, mudamos, ficamos mais bonitos ou não, mas não continuamos sempre os mesmos. 

Assim foi a história que acabei de ver. Duas pessoas que viviam suas vidas, cada uma em seu jardim, mas que se tornaram reações em cadeia uma na vida da outra e logo se tornaram uma só. 

As pedras que se deslocaram provocaram sim muito barulho e fizeram certo estrago ao cair naquele jardim, isto é, eles sentiram muita dor em sua jornada, mas é certo que hoje já não são mais os mesmos. 

Engraçado como as vezes uma série pode despertar na gente tantos sentimentos assim. Claro que isso é devido em parte a minha sensibilidade exagerada, mas é também certo que foi uma história que me marcou profundamente, e deixou em mim belíssimas cicatrizes.

Como parte do meu plano de férias de ficar em casa sem ver ninguém eu baixei alguns filmes e uma série pra ver enquanto meus pais viajam e a casa fica mais vazia e tranquila. Entre esses está a série Sotus, que eu acompanhei o lançamento pelo Facebook mas que ainda não tinha me interessado em baixar, sabe-se lá porquê, provavelmente preguiça. Então, como ela foi encerrada recentemente e um dos fansubbers que acompanho terminou as legendas eu resolvi vê-la, e não poderia ter sido mais feliz em minha escolha: QUE COISA MAIS LINDA!

Tudo nela é lindo: o elenco é lindo. um sapão mais gato que o outro, e afinal, quem reclama de ficar 15 episódios olhando pra duas coisas fofas aprendendo a se amar? Sério, Ruangroj Prachaya (Kongpop) e Sangpotirat Perawat (P'Athit) são mais fofos que filhote de panda, sem mas. A trilha sonora é linda, aliás você fica cantando horas depois de assitir. E até o elenco de apoio foi bem escalado, que atire a primeira pedra quem não suspirar pelo Khunatipapisiri Korn (Tew) que também participou de Love's Coming e Love love you ou pelo Thitipoom Techaapaikhun (Em) que deveria levar o troféu de "Lábios mais bonitos da Tailândia" ou pelo menos competir com o Perawat por ele... (Agora sério, joguem esses nomes estranhos no google e suspirem comigo)

Voltando...

Em resumo, ela fala de dois rapazes que se conheceram num trote universitário onde os veteranos tem total controle disciplinar sobre os calouros, e exatamente aí foi onde os destinos deles se cruzaram: um veterano sério e extremamente apegado a suas regras e um calouro cheio de opinião e que em nenhum momento abaixou a cabeça para o mais velho. Não seria de se estranhar que houvesse muito atrito entre os dois e muito menos que não se apaixonassem, afinal, dizem que a linha entre o amor e o ódio é tão tênue que muitas vezes se torna imperceptível. 

Enfim, depois de muito implicarem um com o outro, ambos começam a se entender melhor e a alimentar os sentimentos que viam nascendo daquele atrito. 

O maior diferencial dessa história foi a forma como os personagens foram evoluindo ao longo de apenas 15 episódios. O amadurecimento do sentimento de cada um deles foi notável e penso que quando algo é bem conduzido assim, quem assiste acaba evoluindo também. 

Admito, eu assisti todos os 15 episódios em apenas 2 dias e já estava psicologicamente preparado para um final triste, afinal, as produções orientais não são conhecidas por seus finais felizes e eu esperava que o casal principal terminasse separado por algum causa bizarra e absurdamente escrota, como costuma acontecer, já que geralmente eles matam um protagonista ou mandam ele pro fim do mundo pra estudar e acabam separados pra sempre. Mas não, DESSA VEZ O FINAL FOI FELIZ!

Ta, não só feliz, foi tipo, MUITO FELIZ, eles terminaram bem, juntos, felizes e se amando MUITO!

Sério, não consigo nem escrever direito tamanha minha empolgação aqui, ainda ouvindo os temas de abertura e encerramento da Trilha Sonora Original, que aliás, conta com a participação do mesmo estúdio e cantor da abertura de Make it Right, ou seja: selo de qualidade reconhecido pela casa (no caso eu).

Momento adolescente aqui, mas eu to praticamente aos prantos tentando dizer ao mundo que todas as pessoas constituídas de inteligência precisam ver essa série. 

Tá, exagero meu, nem todas, acho que nenhum hétero ia tolerar tanto fanservice, mas ok... 

De qualquer forma, essa série foi uma pequena pérola que, começando a rolar provocou uma enorme reação em cadeia na minha vida, jogando sobre o meu jardim enormes rochas que mudaram a paisagem do meu coração.

Agora Kongpop e P'Arthit fazem parte da minha vida, deixaram em mim cicatrizes profundas, porém belas. Em poucas horas fizeram de mim uma pessoa melhor, me mostraram que se realmente insistirem, podem conquistar quem amam, mostrando a força do seu amor. Isso é importante, acho que hoje no mundo falta justamente a coragem e a persistência de Kongpop em conquistar seu amado. Se todos lutassem por seus amores como ele, o mundo seria um lugar melhor.

No entanto eu também escrevo com uma tristeza no coração. A série não tem indícios de que haverá uma continuação. Não que não tenha sido boa, mas porque a jornada dos personagens já se completou. Só tem um pequeno probleminha:

NÃO TENHO MAIS RAZÃO PARA VIVER, O QUE EU VOU FAZER DA MINHA VIDA MISERÁVEL AGORA?

É o lado ruim de devorar a série inteira em dois dias e agora ter de lidar com o vazio existencial que a ausência dela vai provocar na minha vida. 

Mas vida que segue, a alegria que eles me proporcionaram não será esquecida, e para sempre vão aquecer meu coração quando eu já não mais quiser acreditar na vida e no amor. Essa é a reação em cadeia que provocaram em mim: eu apenas ia assistir para matar o tempo ocioso, e acabei mergulhando de cabeça na história que por fim, acabou me ensinando a não desistir do amor.

Obrigado por isso Sotus!

"Não tenho medo, não tenho medo de tempestades,
Eu sigo em frente se estiver ao meu lado!
Está tudo bem porque não vou mais soltar a sua mão.

Vamos deixar o amor nos mostrar o caminho.
Nosso objetivo não será apenas um sonho!

Contanto que eu e você permaneçamos juntos, 
Nosso alvo não ficará fora de alcance!

Ainda que eu tropece, meus olhos não perdem o foco!
Minha mente nunca se desvia do sonho que eu tenho. 

Ainda que eu tropece, minha mente nunca se desvia,
Ainda que eu seja derrubado, eu nunca irei soltar a sua mão.

Ainda que haja obstáculos no nosso caminho, 
Se você estiver comigo em minha jornada
Eu irei continuar não importa o quão cansado eu esteja

Vamos deixar o amor nos mostrar o caminho.
Nosso objetivo não será apenas um sonho!

Contanto que eu e você permaneçamos juntos, 
nosso alvo não ficará fora de alcance!

Ainda que eu tropece, meu olhos não perdem o foco!
Minha mente nunca se desvia do sonho que eu tenho. 

Ainda que eu tropece, minha mente nunca se desvia
Ainda que eu seja derrubado, eu nunca irei soltar a sua mão."

(Trecho da tradução de Soh Sut Soh Say de Keng Thachaya, tema de abertura de Sotus - The Series)

Penso que a escolha dessa faixa como tema de abertura tenha sido muito, muito feliz, pois ela mostra bem o espírito que a série nos passa. Espírito que, aliás, é destaque na série no episódio de captura da bandeira, o que em minha opinião foi o melhor episódio, onde aprendemos finalmente o significado por trás do sistema de trotes.

Esse é portanto o espírito da série, o espírito de Kongpop, que mesmo enfrentando a dificuldade de ter de fazer um curso do qual ele não gosta, ele se sente impelido a continuar para ficar ao lado de seu amado e assim final conseguir conquistá-lo. 

Aprendemos com essa reação em cadeia então sobre perseverança e sacrifício, afinal, no fim o esforço foi recompensado. E deve ser assim também em nossas vidas, mesmo que a gente caia, tropece, não podemos perder de vista o foco nos nossos sonhos, se não conseguirmos acreditar neles, nunca se tornarão realidade. E também precisamos de alguém ao nosso lado, alguém para nos dar a mão e nos ajudar quando a caminhada se tornar difícil. Se segurarmos firmemente nas mãos de nosso amor, nada poderá nos desviar. 

É uma lição valiosa, mais pessoas deveriam aprendê-la, ou talvez não, talvez não tenha para mais ninguém o significado que teve para mim. Talvez essa seja a minha lição, lição que agora se tornará o meu sonho, e que segurando na mão do meu amor eu irei perseguir com todas as minhas forças!

O fato é que não serei mais o mesmo quando acordar amanhã. Levarei comigo a partir de agora esse aprendizado, tanto é que nems equer consigo parar de escrever e finalmente ir dormir, pois preciso levantar cedo amanhã, mas é isso, uma lição de 15 episódios pra toda a vida, mais uma vez:

Obrigado por isso Sotus!

Homem e coração

As vezes o coração sonha, e o homem sonha também. As vezes o coração chora, e o homem chora também...

As vezes o coração se sobrecarrega, e acaba transbordando, repleto de sentimentos, e eles acabam se transformando em lágrimas, que descem pela face e brilham quando entram em contato com o sol, ou caem despercebidas numa noite escura e fria, onde recolhido em si mesmo um homem chora pelo amor que não lhe ouviu.

Elas caem e molham as vestes de quem as chora, e o homem sente-se abraçado pela pele fria do seu amor. Quando isso acontece, é como se o coração quisesse abraçar o homem como forma de pedir perdão por não ter sido capaz de tocar o coração do amado apenas com a força de seu sentimento. 

E então o coração sente-se incapaz de qualquer coisa pois não conseguiu nada com seu único objetivo: amar! E por amar sem conseguir ser amado ele chora, e o homem também chora, por não ter conseguido cumprir com sua única missão nessa terra. 

Assim o coração e o homem choram, um abraçando o outro através de lágrimas geladas, sendo essa a única forma de conforto que encontram nesse mundo, pois perceberam serem eles membros da estirpe dos condenados aos 100 de solidão, e por isso nunca terão um descanso sobre a terra. Eles só tem um ao outro, o homem só tem o seu próprio coração, e se entristece por não ter o coração de seu amado.

E ele sente-se despedaçar por dentro, sente-se quebrado em milhares de pedaços, e espera no chão pelo dia em que alguém o ajudará a reconstituir-se, a reerguer-se, e que mostre a ele que é sim possível amar novamente nessa vida. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Esperando o download completar

Quem disse que mente vazia é oficina do diabo estava coberto de razão. Acho que poucas máximas no mundo são tão acertadas quanto essa, aliás...

Basta ficar 10 minutos que seja sem o mínimo de ocupação que minha cabeça já passa a flutuar automaticamente para o centro daquele mar de águas impetuosas do qual eu tento fugir. Funciona mais ou menos como uma bússola, que gira e gira mas sempre acaba apontando na mesma direção... E nem preciso dizer que direção é essa.

Por isso uma tempestade cerebral é mais do que necessária para que eu consiga sobreviver a essa tempestade e finalmente fugir desse mar, pois se continuar a navegar por ele, serei devorado por suas águas frias e geladas, e morrerei a deriva, sem nunca provar os doces frutos das praias.

Importante então é investir na ocupação. Esse é o foco. Então o que eu fiz? Procurei um emprego? Não. Baixei séries, que é o que toda a nossa juventude depressiva faz. Pra que melhor não?

Revi Make it Right - The Series e Grey Rainbow, chorando horrores em ambas diga-se de passagem. Baixei também uma porção de filmes tailandeses, coreanos e japoneses daqueles tipo O Amor de Sião e A Vinda do Amor pra melhorar a situação sabe e pra completar, atentendo a recomendações de desconhecidos na internet eu resolvi baixar Sotus - The Series também, já que me disseram seguir o padrão Tumblr internacional de atores lindos e sem talento algum de Make It Right e semelhantes. Aliás, nada do que eu tenho visto é um primor de obra cinematográfica, mas ainda ta me surtindo mais efeito que qualquer coisa que já tenha sido indicada a algum prêmio da Academia. Fazer o que né? O coração quer o que ele quer...

O que eu aprendi com tudo isso? Primeiramente que os tailandeses precisam urgentemente fazer um tratamento coletivo pra ver essa mania que eles tem de matar os personagens principais. Sério isso é bizarro! Segundamente eu estou me tornando especialista nesse tipo de produção, e convenhamos, não é bem esse o projeto de vida de um garoto de 21 anos que deseja ser bem sucedido. Mas cá entre nós, lá na Tailandia quem trabalha nesses filmes são sempre adultos e como eles fazem um baita sucesso por lá, tecnicamente eles são considerados bem sucedidos. Ufa, to me sentindo menos culpado agora. Mesmo ignorando completamente o fato de que eu não trabalho com isso, nem com porra nenhuma, só gosto de assistir mesmo.

Do que eu falava mesmo? Ata, ocupar a mente. Pois é, isso é o que eu tenho feito pra tentar não pensar muito naquela criaturinha lá que despertou meus sentimentos... Funciona? Nem sempre, mas acho que só de eu estar conseguindo fugir de algum modo já é um começo. Não sei se seria esse um bom começo, mas é um começo, e isso já é alguma coisa. Dessa forma eu espero chegar lá, que eu não sei onde é, mas deve ser algum lugar...

Enfim, não precisava nem queria dizer nada disso, mas como os downloads estavam demorando a completar eu resolvi escrever, mas já eu volto pra frente da televisão, onde já estou me tornando parte da mobília, inclusive escolhendo roupas que combinem com o sofá e a cortina da sala...

Mas Gabriel, que lógica tem tudo isso que você acabou de escrever?

Nenhuma.

Não é pra ter lógica, o blog se chama Devaneios Pessoais, eu tive devaneios, estava sozinho, então foram bem pessoais e então resolvi escrever. Só isso. Obrigado, de nada.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Ganância

Orgulho

Gula

Luxúria

Preguiça

Ira

Inveja

Ganância

O que dizer sobre um experiência que divide seu coração e sua alma com sentimentos tão contrastantes entre si que muito bem poderiam ser referentes a coisas completamente diferentes?

Como o Yin e o Yang, as forças opostas que vivem em harmonia, dentro de mim os sentimentos se encontram numa complexa dicotomia. Assim como quando o mal nasceu o bem já havia nascido, os dois vivem num eterna harmonia, pois um não destruiu ainda por completo a existência do outro, o eterno confronto pode ser considerado uma harmonia? Acho que em se tratando dos meus sentimentos sim!

Enquanto me sentia bem, como uma dos homens mais felizes do mundo, sem dúvida, por poder observar tão maravilhoso sorriso, por poder contemplar tão idílica beleza e por poder compartilhar de tão construtiva companhia eu me sentia como um vencedor, um vitorioso, alguém que conquistou o maior prêmio de todos e por isso mesmo não desejaria mais nada, apenas deveria viver gozando de sua eterna alegria num jardim de rosas perfumadas e deleites sem fim...

Mas as coisas não são bem assim...

Eu desejava mais, eu desejo mais... Assim a ganância dominava minha alma e meu coração aos poucos... O amor que estava recebendo se tornou pouco ao meu ver e eu passei a desejar mais.

Não queria apenas ver, queria tocar, queria provar, mas aquele fruto não poderia ser provado. Trata-se do fruto proibido do pecado, cuja desobediência pode, e vai, me conduzir a morte certa se nele persistir.

A ganância que passou a me motivar naquele momento é exatamente a mesma que motivou Adão a comer do fruto proibido por desejar querer ser como Deus.

O fruto proibido existe, e para cada um de nós ele se apresenta de uma forma diferente. A mim, ele se mostra como aquele que amo, mas que não posso ter devido o imenso abismo que nos separa. Mesmo tocando seu braço, seu ombro, num gesto automático, a proximidade física era apenas um reflexo invertido da proximidade afetiva que nos separa. Embora estivesse a poucos centímetros de mim, as vezes ainda mais próximos, sentia que a distância entre nós era de centenas de quilômetros.

No entanto minha ganância se mostra contida numa coisa, e isso acho válido lembrar: geralmente ela se manifesta de forma violenta, brutal, provocando na vítima um desejo incontrolável do ter que faz com ele tome as piores decisões com o objetivo de conseguir o que deseja.

O que caracteriza a ganância é o mesmo desejo incontrolável de preencher no coração do homem um vazio que o incomoda desde o primeiro pensamento das mais diversas maneiras. A luxúria o faz transformando o homem num escravo, a ira o transforma numa besta, e a ganância o transforma num dependente químico, que precisa sempre mais daquilo que lhe faz mal para viver.

Mas eu não desejo seu corpo. Não desejo noites de torpor e suor. Isso seria luxúria, e o que sinto é amor, e o que desejo é tão somente isso: amor. Um amor que não precisa ser gritado aos quatro cantos do mundo, nem tampouco estampado em capas de revista, mas que se for impresso em nossos corações já será mais do que o suficiente. O amor que desejo é apenar um sinal de afeto, um abraço apertado e sincero, um beijo no alto da testa ou andar com os dedos entrelaçados sob a luz do luar.

Queria segurar sua mão, olhar no fundo dos seus olhos e dizer o quanto o amo, o quanto é importante para mim. Queria beijar seu rosto e fazer você entender que eu quero estar para sempre aqui com você... Queria poder te fazer entender o quanto eu amo você...

Eu amo você

Eu amo você...

Eu amo você...!

EU AMO VOCÊ!

Mas seu amor é algo que não posso ter.

E esse é o amor que desejo, essa é a minha ganância!

E a ganância destrói da mesma forma que a gula, de forma lenta, pois cega o homem para o que ele já tem e a felicidade que já possui e o faz desejar sempre mais e mais. Já tenho sua amizade, sua atenção, sua consideração... 

Mas ainda quero mais? 

Isso é ganância, isso é pecado, isso é errado, e isso certamente me conduzirá para a morte. 

Do meu coração e de minha alma!

sábado, 14 de janeiro de 2017

Ódio

Há alguns anos trago comigo na ponta da língua uma frase do mestre Kishimoto que disse que “Sentimentos são fraquezas, eles nos cegam e nos desviam do sentido do dever”¹ eu gostaria de começar a reflexão dessa noite dizendo que na verdade, ao menos pra mim “sentimentos são fraquezas, que nos cegam e nos desviam do sentido da vida.”

Por vezes somos dominados, ou nos deixamos dominar, por sentimentos que nos fazem mal, sentimentos ruins que apenas podem trazer dor e destruição se alimentados. Esses devem ser enterrados, bem fundo, para que jamais venham a machucar ninguém. Se não for possível fazê-lo, ao menos os guardemos dentro de nós mesmos, sem que eles façam mal a alguém.

Hoje estou dominado por um sentimento que há muito acreditava não possuir nenhum domínio sobre mim: 

ÓDIO.

É com lágrimas nos olhos e no coração que escrevo essas palavras pois pela primeira eu sinto ódio de verdade. Já me disseram que por vezes confundimos sentimentos como rancor e decepção com ódio, mas esse não é o caso, nada mais poderia ser tão ruim e poderoso quanto o ódio que agora domina meu coração e transforma meu sangue no meu veneno que continha naquelas rosas diabólicas reais do jardim secreto de Peixes.

O ódio é o filho predileto da ira, o pecado que liberta nosso monstro interior sedento pelo sangue de nossos inimigos. E o gosto que sinto na minha boca nesse momento é exatamente do sangue que eu gostaria de provar. O sangue daquela que ousou tocar no fruto proibido do meu jardim da vida e que por tal pecado merece a morte. No entanto, sua culpa não como a de Adão, uma culpa tão feliz que há merecido a graça de um tão grande redentor², mas a sua culpa é apenas passível de punição, uma punição eterna de dor, choro e ranger de dentes pelo sofrimento que jamais há de cessar, sofrimento esse que minha alma, manchada pelo ódio, desejar infligir a ela pessoalmente.

Ela ousou cruzar um umbral que havia sido erguido para a sua própria segurança, mas ela o atravessou e pisoteou os jardins do meu castelo interior sem misericórdia. Aquela mulher é um monstro que ousou invadir o santuário onde repousava meu amor, e ali ela profanou aquela terra pura com seu desejo imundo e chafurdou na lama o piso alvo por caminhava o meu amor a observar a luz da lua e das estrelas numa noite clara.

Enquanto isso, eu me encontrava caminhando naquela noite escura, de amor em vivas ânsias inflamada, feliz pela ditosa ventura de sair já estando minha casa sossegada². Mas era uma engano meu, enquanto abandonei minha casa em busca daquela secreta escada disfarçada, ela fora invadida pelo monstro que ousou destruir a única coisa realmente boa e pura que havia ali: aquele que eu amava.

De volta a minha casa, depois de no jardim secreto apenas ter encontrado o leque dos cedros e as açucenas que nada tinham do que cuidar, deparei-me com a mais horrenda das cenas: as vestes brancas haviam sido maculadas pelo sangue da impureza daquela criatura imunda que ousadamente tocou no amado.

Ela, com suas garras, arranhou sua pele branca e delicada e com seus dentes apodrecidos pelos vermes da terra pressionou os lábios vermelhos como pétalas de rosas e macios como a pela das gueixas num átimo de lascívia incontrolável. E agora, essa filha dos vermes da ruína anda a espreitar minha alma para destruí-la também após devorar meu coração e jogar minhas entranhas na frialdade inorgânica da terra.

E agora eu, como disse Augusto do Anjos, "filho do carbono e do amoníaco que enfrento desde a epígenese da infância a influência má dos signos do zodíaco"*¹ encontro o meu verdadeiro nos braços do demônio do ódio, que me faz desejar a morte de uma inocente. 

Não poderia eu ter me tornado um homem pior, influenciado pelas criaturas plasmadas pelas mãos do próprio mal me tornei o tigre a querer devorar com força e impiedade o pescoço do cordeiro inocente. Mas para mim esse cordeiro disfarçou-se de lobo para então atacar aquele cordeiro de pelos dourados que com tanto carinho eu guardava. 

Mas o dourado não é mais símbolo da pureza, pois a perdeu ao sentir o gosto do sangue daquela desonrada senhora que nada mais fez do que deflorar e desfolhar pelo caminho por onde eu passaria o mais puro dos lírios. 

Já não posso mais recuperar também aquela beleza e aquela pureza que antes eram o símbolo daquele cordeiro, pois em mim restou apenas o veneno a correr por minhas veias e que, me destruindo de dentro para fora, acaba por amargar também a vida dos sentem no ar o perfume de minhas rosas.

Mas o monstro impiedoso ainda clama por mais. Ele quer dor, quer desesperança, que e deseja a morte. Quer que ela sinta na carne a mesma dor que eu senti quando soube de tão tórrida notícia. Quer enfiar a espada nas entranhas de sua inimiga. E assim, com o gosto metálico do sangue que a aura da ira imprimiu e oprimiu sobre o meu ser, eu vou dormir com a certe za que sou hoje a pior e mais desprezível das criaturas, por odiar aquela que colheu as flores de um jardim que nunca seria meu.

E agora esse dia de ira, aquele dia, que transformará o mundo em cinza fria se aproxima, e eu pobre que farei? Que patrono invocarei quando naquele triste dia, das cinzas em que jazia resurgir o homem, o réu? Condenados os malditos, sob o fogo ácido e infinito, não serei chamado com os benditos. Por isso gemo tal qual réu envergonhado, sob a minha culpa a tremer prostrado...*² 

~

Notas:

1. Alusão ao Código de Conduta Shinobi citado por Haruno Sakura em Naruto, obra de Masashi Kishimoto.

2. Alusão ao Precônio Pascal, cantado na Solene Vigília Pascal, na noite do sábado santo.

3. Alusão a Noite Escura, poema de São João da Cruz.

*1. Psicologia de um vencido, de Augusto dos Anjos.

*2. Alusão a alguns trechos Dies Irae, hino da liturgia romana para a Missa de Requiem.

Ilusão

Dizem que os sonhos são reflexos dos pensamentos que temos durante o dia. Nunca tive argumentos para contradizer isso pois quase nunca me recordo dos meus e quando o faço, é sempre sobre algo que realmente fiquei pensando durante o dia, logo acredito que seja uma afirmação verdadeira.

Mais uma vez eu me vi sonhando com ele, mesmo sabendo que deveria acordar quando fosse levado para esse tipo de mundo. Mas ainda não tenho esse tipo de domínio sobre meus sonhos, não consigo fugir deles somente por querer. Infelizmente.

Até então o momento em que eu consiga ter controle sobre os meus sonhos ou sobre os meus pensamentos eu devo ser afligido com essas viagens forçadas para vê-lo.

Isso me irrita.

Me irrita ser levado em sonho e pensamento para ver alguém que não se importa comigo. 

Me irrita não ter controle sobre nada. 

Me irrita quando as coisas saem dos trilhos e eu não tenho experiência suficiente pra saber que atitudes tomar nem sei onde tudo vai acabar. 

Não saber me irrita. 

Não conseguir agir me irrita. 

Não ter controle me irrita. 

Não ter força me irrita.

Andei percebendo que tenho ficado irritado com muito mais frequência que antigamente. Não que eu fosse um primor de paciência antes, mas o nível do meu nervosismo chegou a pontos extremos.

Quando perco a paciência, a razão também vai embora. Eu me vejo então num beco escuro e vermelho como sangue. Quando recupero a razão, depois e alguns momentos, só me vem o gosto de sangue e ferro na boca e dores por todo o corpo. Minha cabeça parece querer explodir depois de um acesso de fúria e minhas mãos ficam roxas pela força com que pressiono as unhas sobres as palmas.

Os motivos que me levam a esses acessos são sempre variados, mas possuem em si uma gênese em comum. Sempre são situações em que eu não tenho controle algum sobre o resultado de minhas ações.

Podem ser desde situações simples, como ser acordado no meio da tarde ou que me peçam para sair quando estou quieto até situações mais complexas, como uma reunião onde os ânimos se exaltem e eu tenho de controlar a todos. Isso tudo me irrita.

Pessoas desleixadas me irritam. Não ter zelo e nem cuidado com o que é importante é imperdoável pra mim. Costumo perder sempre a paciência com isso. Infelizmente quero que as pessoas pensem e façam as coisas como eu penso e faço. Toda vez que perco a paciência é motivado por algo assim.

Isso me fez perceber uma coisa: meu nervosismo está ligado diretamente a minha imaturidade. O fato de eu me irritar tanto com coisas bobas e pequenas só mostra que eu não sei lidar nem com os mínimos problemas de uma pessoa madura.

Essa imaturidade faz com que eu tenha sempre a reação de uma criança frente aos problemas da vida adulta e por consequência, por obviamente não ser possível resolver nada dessa forma, eu me angustio, e nessa angustia me vem a raiva que num acesso de fúria quer destruir tudo ao meu redor.

Se quero tratar a minha paciência, preciso tratar primeiro a minha imaturidade, pois uma está ligada a outra. Acredito que conseguindo compreender como resolver o problema da imaturidade, estaria resolvendo também o problema da falta de paciência.

Tudo está ligado a isso. Por isso eu me sinto atraído por rapazes mais novos, por pensar como eles, de forma imatura. Por isso me irrito com situações do cotidiano, por pensar como uma criança já sendo um adulto. Por isso encontro problemas onde não existem e por isso me irrito com facilidade. Por ser uma criança que não cresceu, com medo do mundo lá de fora que me assusta.

O resultado é exatamente esse: uma criancinha assustada, se escondendo debaixo da cama e fazendo barulhos para tentar assustar quem quer que se aproxime dali. Essa criança pensa ser um monstro, um tipo de demônio que pode assustar a todos, mas na verdade quem a vê sente pena, por ver o quão grande é sua ilusão.

Ilusão.

Querer ter controle sobre tudo é ilusão. 

Querer ter domínio sobre tudo é ilusão. 

Querer viver para sempre num mundo de fantasia também é ilusão. 

Tenho vivido todo esse tempo num mundo de ilusões. 

Tudo ao meu redor é ilusão.