sábado, 25 de fevereiro de 2023

Resenha - My School President

Um clichê quando é bem servido mostra os motivos de terem se consagrado não é mesmo? E é exatamente essa a proposta de My School President em resgatar os velhos shorts e camisas roxas do uniforme colegial tailandês e, com uma proposta de romance inocente, se inovar com o carisma de um elenco novo e uma história bem desenvolvida. 

Gun (Fourth Nattawat, de F4) é o líder da banda Chinzhilla, que sonha em vencer o Hot Wave, famoso concurso de bandas colegiais da Tailândia. Tinn (Gemini Norawit) é apaixonado por ele há alguns anos e, desde que sua mãe assumiu a diretoria da escola, a banda está ameaçada de ser desfeita por causa de algumas confusões dos membros, e então ele decide se tornar o presidente do conselho estudantil para ajudar o outro, mesmo sem que ele saiba pois a banda tem uma tradicional regra de que os membros não podem namorar a menos que vençam o concurso. 

Com uma atmosfera doce que combina muito bem esse sentimento do primeiro amor, das brincadeiras entre amigos, insegurança com o futuro e a expectativa dos pais com a temática musical e um drama na medida certa. 

Em cada episódios tivemos o lançamento de uma ou mais músicas, originais e covers, que mostraram a versatilidade do elenco, formado em sua maioria por nomes da última adição da GMM TV. O cover de Just Being Friendly de Tilly Birds e MILLI foi realmente sensacional, assim como Smile Please que contou com todo o elenco dançando, até uma emocionante balada que teve  participação da mão de Gun ou a incrível Come Closer, na voz de Ford Arun. As músicas acompanham a dinâmica dos episódios e muitas vezes ajudam a expressar o que os meninos estão passando. 

Fourth e Gemini foram a grande surpresa, pois souberam entregar uma atuação muito firme e que flutuou muito bem entre a comédia típica das séries colegiais, com momentos de maior peso dramático, e isso em um de seus primeiros trabalhos. Todo o elenco conseguiu passar esse frescor da nova geração mostrando grandes promessas e já entregando uma temporada divertida, emocionante e romântica do primeiro ao último capítulo. Aliás, ao mesmo tempo também podemos ver os dois arrasando em Moonlight Chicken ao lado de Mix e Earth e logo mais veremos os dois juntos de novo como casal secundário em 23.5 e de volta como Gun e Tinn em Our Skyy 2.

Impossível não suspirar com as tentativas de Tinn de dar em cima do Gun sem que os amigos dele percebam ou com Thiu (Mark Pakin) sempre inventando um jeito de deixar os dois juntos com a desculpa de ser em prol da imagem da escola nos eventos da banda promovidos pelo conselho. Tinn é um romântico de marca maior e fanfiqueiro em tempo integral, fantasiando um relacionamento inteiro na cabeça em cada interação com Gun que, apesar de começar não gostando muito do novo presidente, acaba logo percebendo que ele só quer ajudar e que está sempre ao seu lado. 

O casal secundário também conquistou pelo carisma no estilo enemies to lovers, Winny e Satang conseguiram passar toda a transição do casal que se odeia mas que acaba se aproximando e aceitando as diferenças um do outro. 

Os diálogos são doces, simples e sinceros, todos os problemas são resolvidos conversando e colocando em pratos limpos o que incomoda e machuca. A forma como todos se apoiam, sejam Tinn e Gun ou os membros da banda e o conselho, é bela de se ver, realmente amigos que tentam alcançar um sonho juntos. 

Enfim, se equilibrando muito bem entre a comédia e o romance My School President renovou o estilo colegial tão desgastado nos BLs entregando um resultado maduro e incrivelmente cativante, emocionando e fazendo rir e conquistando uma legião de fãs. Obrigatória para quem procura aquela série tipo conforto que te abraça e diz que vai ficar tudo bem. 

Nota: 10/10

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O pó e o querubim

Torno a falar dessa figura simples e, ao mesmo tempo, estranhamente fria e angelical que passou por mim várias e várias vezes nessa manhã de quarta-feira de cinzas e pareceu não notar a minha presença. Ou melhor fingiu não notar, porque eu percebi bem o seu olhar se demorar junto ao meu por um átimo de segundo a mais do que o normal. Sabe quando o olhar passa diretamente e, por instante quase imperceptível ele se detém num ponto conhecido, familiar? Foi assim comigo mas, enquanto eu me detinha propositalmente, ele tentava me reconhecer (pois acho que é a primeira vez que ele me vê de cabelo curto) ou tentava chegar a uma conclusão sobre mim: se sou amigo ou um perigo. E acredito que ele nem mesmo tenha se dado conta de ter feito isso, foi mais como um pequeno deslize do olhar enquanto a mente processava rapidamente o que a minha presença significava.

E então eu senti aquela frialdade do seu olhar que passou diretamente por mim. Mas, ao mesmo tempo, eu segui a sua figura doce e sobrenatural, andar em passos lentos pelo presbitério, entre hosanas e améns. O cavanhaque se destacava mas, embora ele seja um rapaz novo, algo nele me sugere realmente a presença de um anjo, como se um querubim caminhasse por entre os bancos da igreja e, ao passar por mim, enxergasse todos os pensamentos impuros que eu tenho ao vê-lo.

Talvez seja justamente por isso que eu sinta essa aflição toda vez que o vejo. Me lembro de quanto toquei delicadamente seu braço no ônibus para lhe indicar um lugar ou quando pus a mão ao seu redor para impedir que caísse enquanto procurava por algo na mochila, ou ainda quando ele me cumprimentou pela primeira vez, tímido e sonolento, sério, como quem não deveria falar com um pecador como eu a não ser para lhe purificar os lábios com brasas acesas, e assim como brasa meu coração se inflamou em sua presença. E ele me lançou um olhar desconfiado enquanto abraçava uma de suas conhecidas à porta da matriz. 

Mas eu não posso deixar de esquecer que estamos agora na quarta-feira de cinzas, e eu deveria usar dessa presença para me inspirar a ser melhor e tentar realmente purificar meu olhar de todas essas imagens absurdas. Muito embora eu admita que, exceto naquelas emergências noturnas onde ele aparece com razoável frequência, os meus pensamentos que o envolvem são puros. Claro que a segunda afirmação já contradiz a primeira mas essa tensão é também parte do que sinto. 

Há então essa batalha dentro de mim: de um lado a batalha pela pureza, que há muito parece perdida e, de outro, os pensamentos que fazem os anjos quererem me transpassar com uma espada de fogo. De todo modo isso culmina num Eu que olha o mundo com profundo desencanto pois, de um jeito ou de outro, eu me vejo sozinho e sendo motivo de zombaria, desprezo e nojo daqueles que eu admiro. Talvez a grande espada de fogo seja meu único futuro. 

E quem também me olha com desprezo é meu próprio reflexo. Ao ver a minha pequenez e ter a certeza da minha condenação como alma solitária eu deveria aceitar esse destino, e abraçar como cruz. Mas eu ainda nutro esperanças, mesmo disfarçadas e perdidas por entre as linhas niilistas do meu lirismo, e essa esperança é que me faz olhar o outro. Se eu realmente soubesse meu lugar, soubesse e estivesse sempre consciente da minha condição de pó que ao pó há de voltar, eu nem sequer me atreveria a olhar para qualquer outra coisa além da cruz de Cristo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Coisas desconectadas

Reconheço que sou um péssimo entendedor, eu não consigo interpretar o seu silêncio e, mesmo quando sei que você não está bem, eu não consigo fazer nada para que você se sinta melhor. Eu queria que você pudesse recostar sua cabeça no meu ombro e dormir um pouco, esquecendo o peso da rotina esmagadora e simplesmente sentindo a brisa fresca do mar ou o perfume do campo, enquanto uma música baixinha toca ao fundo. Eu queria muito ser um local de segurança e conforto para você mas, não só estou longe demais como também há uma falha intrínseca em mim que me impede de ser bom o bastante para você. 

É ai que reverberam na minha mente os versos de São João da Cruz, da alma enamorada ao Amado, que gentilmente apoia sua cabeça no colo e sente o frescor dos cedros do jardim secreto da alma, no carinho suave de afagar a cabeça de quem se ama, em completa intimidade, tranquila e inseparável. 

É estranho que a imagem de um dos maiores místicos da Igreja seja tão calma e tão contemplativa, e o mesmo vale para as imagens de Santa Tereza ou Santa Catarina, que são mais ativas: todos concordam que a união com o divino, o amor verdadeiro, é uma calmaria do mar revolto. Ao ir nas igrejas tudo que sentimos é o mar revolto. 

Mas onde essas duas perspectivas se encaixam? Ou melhor, o que tem a ver o fato de que eu queria ser para você um porto seguro e a loucura que se encontra hoje nas nossas paróquias travestida de um cristianismo brega?

Bom, essas coisas são inconexas entre si mas encontram unidade na minha consciência. O eu que foi a missa de manhã e se incomodou com a superficialidade do barulho e o eu que durante a tarde quente e úmida se sentiu insuficiente para cuidar de você são o mesmo. Ens et unum convertuntur, ou algo assim. Só sei que a minha consciência se inquieta com essas situações. 

Me imagino então conseguindo me aproximar de você realmente, e enxergando você de modo transparente como eu tento me mostrar, já que nunca minto sobre o que estou sentindo, muito embora a compactação verbal limite muito o que eu quero dizer. 

Por exemplo, quando digo que te amo ou quando digo que não sei dizer o quanto é importante para mim, o que estou querendo dizer é o que eu sinto transcende e muito toda capacidade de expressão, pela limitação normal da linguagem mas pela natureza mesma dos sentimentos que são, por definição, uma experiência tão profunda que não pode ser compreendida de outro modo a não ser nessa mesma profundidade, não conseguindo ser totalmente expressa em palavras senão por um gênio literário, algo muito acima da minha capacidade. 

De outro modo também me vem a inquietude frente ao indiferentismo religioso de nosso tempo, mas não digo isso quanto ao mundo que já vive como se Deus estivesse morto, não quero chegar a tanto, na realidade me refiro a como eu vivo como se Deus estivesse morto, e o quanto só consigo me conectar a ele no sensível. O problema é que eu sei que isso não é de todo errado, afinal se Deus criou o mundo é claro que deixou nele sua antiga assinatura, e na liturgia muito mais do que isso, pois é nela onde ele se dá inteiro como Pão. Então é por meio do tangível e visível que se dá a presença do intangível. No Pão se esconde a humanidade e a divindade de Cristo, mas crendo em ambas é a partir dela que eu posso me conectar com o que eu não posso ver.

Daí então aparece o problema, afinal tudo ao meu redor compete para que eu não olhe para o alto, mas que fiquei com os olhos bem presos a terra, vendo o quanto a missa se tornou apenas um culto de si mesmo, não raramente beirando o delírio psicótico que acha que Deus só pode se manifestar nas palavras desesperadas de um canto tão sentimental quanto vazio, que canta de modo exagerado justamente para convencer os outros e a si mesmo de que ele não é vazio, e se consegue cantar desse modo é porque há algo dentro dele. Mas não há, e essa é apenas uma fuga psicótica. Quanto mais alta a nota maior a presença de Deus, parece ser esse o mantra que eles seguem, e assim tornam impossível qualquer um se conectar com o divino por meio do visível, já que todos conectam-se no máximo consigo mesmos e com a sugestão daqueles que estão comandando a situação. Lamentável. E eu vou voltar a isso em outro oportunidade.

Por enquanto deixo aqui apenas essa dupla impressão desse domingo caloroso. A sensação de que queria ser pra você alguém em quem você pudesse se apoiar, de que pudesse me conectar com você e o lamento pela incapacidade das pessoas de se conectarem, ou permitirem se conectar, com o divino. Por fim, uma autoacusação: se não me conecto a você que é próximo e visível, como posso me conectar com o Divino?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Intensidade

Depois de uma semana de intensidade baixíssima, com a produtividade altamente questionável, eu finalmente recuperei um ritmo mais acelerado, infelizmente acelerado demais, me deixando naquele estado de euforia e inquietude de um fluxo de energia que parece fluir da terra a entrar em mim se conseguir encontrar para onde dar vasão. Acabei tomando uma xícara bem grande de café no trabalho, porque a estava usando para fazer umas fotos e isso resultou em uma eletricidade ainda maior, cheguei a ficar tremendo por um tempo. 

Mais uma vez eu torno a tocar no assunto de que isso também me incomoda, muito embora eu saiba que a maior parte dos bipolares prefiram essa hipomania ao invés das crises de depressão. Concordo que a depressão é terrível mas essa fase também não me agrada em nada senão que me deixa um pouco mais disposto então as pessoas ficam com a impressão de que sou mais produtivo, fora isso eu acho um incômodo. 

O que muito me incomoda é a dificuldade de foco nesses dias, já que muitos pensamentos vêm e vão o tempo todo num vórtice infinito de ideias, lembranças e perspectivas. Talvez eu devesse ter corrido um pouco hoje de manhã antes de começar a trabalhar. Agora é tentar conseguir me acalmar um pouco antes que todos percebam que não estou normal e que posso, a qualquer momento, explodir. 

É engraçado pensar que ontem mesmo eu estava impaciente e sem vontade de fazer nada, tanto que simplesmente tomei uma porção de remédios e dormi metade do dia. Hoje eu adiantei parte do meu trabalho, tive ideias pra explorar nos próximos dias e já estou agoniado. Em dias assim eu queria ser um pouco, só mais um pouco, estável. Acho que é o desejo de todos que são como eu. 

E se na semana passada eu estava sem sentir nada, agora eu estou sentindo com redobrada força. Uma única palavra pode me fazer querer chorar ou me fazer inflamar de amor ou até mesmo me excitar. Tudo está à flor da pele, tudo está latente. É como se me tornasse um barril de pólvora. Um exemplo bobo: ao mencionar uns nudes armazenados no drive um amigo me aconselhou a apagar, no mesmo momento fui tomado de assalto por pensamentos luxurioso e vergonhosos, bem como de uma crescente paixão que, embora existente, eu consigo manter sob controle na maior parte do tempo. Mas não hoje, e falar disso com ele me deixou inflamado, me fez suspirar e me fez estremecer. E eu odeio ficar refém dos meus instintos assim. 

Acho que acabei falando demais, e ouvindo demais também. Confrontado com a verdade agora o meu coração dói, e chora desconsolado por não encontra em quem se encostar. Toda a energia se transmutou em angústia, numa tristeza por perceber, em poucas palavras, o que já sabia mas fingia não saber. 

Eu sabia da minha maldade, e sabia que eu não sou para ele o que ele é para mim, mas ouvir isso, ainda que indiretamente, me foi um choque. Necessário, porém um choque. Mas agora eu preciso digerir isso, no silêncio e na solidão, e esperar que essa verdade se assente de uma vez por todas no meu coração, mudando a minha conduta e me permitindo crescer. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Valentine's Day

Hoje é dia de São Valentim e, na internet, os casais estão todos contentes enquanto multiplicam-se as flores, corações e as declarações. É tão bonito ver a felicidade estampadas nas faces angelicais, os sorrisos enamorados, os olhares emocionados. Me sinto um romântico inveterado nesses dias. 

Mas, se eu me levantar da mesa e sair pela porta vou tomar um grande choque com o ar quente. Deve fazer uns 50 graus lá fora nesse momento, e é insuportável ficar na rua a essa hora. Tudo o que eu posso fazer é enrolar vários minutos enquanto espero o fim do expediente para, finalmente, encher a cara com um bom vinho. 

Não será na sacada de casa, entulhada de coisas velhas que a minha família vai juntando, e nem me importa também, eu só quero ter um pouco de prazer nesse dia miserável, onde todos sorriem felizes e, mesmo que não sejam namorados (porque quase tudo ali deve ser fanservice) eu aposto que todos eles ainda têm um ombro para descansar ao fim do dia. 

Eu não faço muito mais do que observar os homens bonitos no terminal de ônibus enquanto volto para casa suado e cansado, onde me jogo na cama, levanto para assistir alguma série até ficar tão exausto que durmo antes mesmo de me cobrir com os lençóis. Não ando com disposição nem pra bater uma punheta antes disso. 

Poderia até falar da tristeza de estar sozinho, de como me sinto solitário principalmente depois da conversa que tive ontem com ele de como esclarecemos as coisas, mas não, prefiro não dizer nada. Eu só quero tomar um porre e fingir que nada aconteceu, esquecer que estou sozinho, talvez ouvir uma música e dormir. 

Estou cada dia mais gordo e menos desinteressado na vida. Amanhã tenho um evento para ir, um concerto de música clássica e, embora eu queira ir, não quero me arrumar, nada de maquiagem ou gravata, só quero me sentar, no chão que seja, e ouvir a música. 

Durante o percurso de ônibus eu passei por um rapaz que quase sempre encontro, e ele tem uma beleza que me chama atenção. Diferente dos outros ele não é exatamente bonito, mas há algo nele que me desperta curiosidade: ele tem uma aura de pureza. Ao menos aparente porque ao ouvir as conversas dos amigos dele eu sei que não o é mas, ainda assim, ele tem uma imagem dessa. Ele tem a pele clara, bem clara, um rosto simples, e muitas vezes dorme no caminho de volta pra casa, mas não tem olheiras. Até suas axilas são claras e limpas, sim eu prestei atenção nisso, e hoje eu notei um volume tímido na sua bermuda que, acho, estaria mais alto se ele estivesse sem cueca. Um devaneio pervertido. 

Ainda no ônibus eu tive outra surpresa, quando me olhei no reflexo do vidro. Estava cansado, há mais de trinta minutos num engarrafamento e um calor infernal e úmido de Santa Catarina mas, ao me ver, eu me achei bonito. E fiquei encarando meu próprio eu a passar pelas paisagens do bairro do Comasa, e continueu me achando bonito, mesmo com os olhos um pouco fundos e a pele macilenta e oleosa. Eu estava estranhamente bonito. 

Mas continuava sozinho, e a única mensagem no meu celular confirmava isso ainda mais. Nenhum daqueles meninos bonitos e cansados do ônibus olhavam para mim, mesmo que eu estivesse bonito, e ninguém me mandava mensagem também. Diferente dos idols do Instagram eu continuava sozinho na memória de São Valentim. 

Esse dia cor de rosa é bonito, mas eu acho uma droga. 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

O novo Tântalo

Uma voz clama no deserto, e mesmo que ninguém escute os seus gemidos inefáveis em favor das colinas que deverão ser abaixadas, a pedras serão testemunhas do que aquele homem fez e falou. Em algum lugar, em algum ponto memorial do cosmos, as suas palavras ficarão marcadas, e aquilo dito e que aparentemente se dissipou ao vento como as cinzas do seu corpo ficará gravada nas placas do Ser. Aquilo que entrou no ser por um instante sequer, por mais infinitesimal que seja, jamais retornará ao nada. E eu escrevi na minha própria pele que "tudo retorna ao nada" porque, embora esse seja o sentimento gnóstico que eu tenha ao contemplar a minha vida vazia, essa é a maior mentira que há, porque nada pode jamais deixar de ser. 

Também o amor, uma vez que começa a existir, que é gerado no coração dos homens, e que deseja o bem supremo. Amar é o desejo de eternidade do ser amado, ensinava Santo Tomás. E mesmo que eu caia no fogo ainda quero que aqueles que amo possam estar na bem aventurança. Porque eu sei que já é tarde demais para mim pois, saturada de males se encontra minh'alma, como diz o salmista. Mas eu ainda sou capaz de amar e, contemplando amorosamente a Verdade eu apenas peço que ela acolha gentilmente aqueles que amo e que faça por eles o que eu não posso fazer. 

E o que posso fazer? Eu só posso apontar o caminho, aquele que, como um poste, ilumina mas não vai por aquele caminho por estar preso onde se está. Assim sou eu, eu só posso indicar mas as minhas raízes são profundas demais. 

E o que mais posso fazer? Posso amar, amar com toda a minha força, amar com tudo o que tenho e desejar todo o bem. E o mais que faço não vale nada. É apenas pó. 

Que você encontre a Verdade e que eu possa ver, pelo menos, com a misericórdia divina, você de frente para ela, pois a sua pureza, a sua beleza, elas merecem ser recompensadas pela eterna verdade. E então morrerei feliz.

Me impressiono com a força que algumas narrativas tem sobre mim e como elas conseguem traduzir, mesmo que em menos palavras, a experiência que tenho hoje. Em especial os mitos têm essa potente carga simbólica que faz com que, apesar da passagem dos milênios, eles ainda continuem significando a experiência humana. 

Uma vez mais torno a trazer aqui o mito de Tântalo, e como minha vida parece se identificar tanto com a existência miserável daquele pobre ambicioso que quis usar-se da malícia para se tornar maior que os deuses. 

Tântalo foi punido pelo seu orgulho, pela sua extrema arrogância em querer ser mais esperto que os deuses e, usando do artifício humano da esperteza, foi descoberto pelo poder dos deuses, que não precisaram usar nenhum truque para perceber o seu engodo. 

O fato é que ele desejou mais do que deveria, mais do que a sua condição humana, mesmo que lhe fosse permitido a companhia dos deuses, lhe era devida. Muitas vezes eu sinto como se desejasse muito mais do que mereço, e exatamente por isso eu sofro por sentir que estou eternamente correndo atrás de algo que, por não me ser destinado, simplesmente me foge. Essa é minha condenação, é a paga devida pelo meu desvario. E então dia após dia, por incontáveis anos, eu sou perseguido pela solidão, vendo os homens passarem diante de meus olhos, despertando o meu amor mais profundo, e sempre se distanciando em seguido, porque nenhum deles quer ficar comigo. 

Tântalo vive ainda hoje, na minha carne, e cada força da sua vontade vaga pelas minhas fibras, a vagar pelo fabuloso jardim das delícias divinas mas, para mim, trata-se apenas de um grande jardim das aflições, onde ando sem rumo em busca de saciar minha fome e minha sede mas sem nunca conseguir provar dos doces frutos que ali crescem ou da cristalina fonte que ali regata, a qual em seus semblantes prateados, esboça os reflexos do meu distante amado. Tântalo vive a desejar o impossível em uma existência miserável. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Viver segundo a Natureza

Maybe they just don't give a damn...

Já há algumas semanas que ele nem sequer olhar para, mas eu sei que ele me reconhece. Parece que mais uma vez eu fui rejeitado antes mesmo de demonstrar que poderia fazer bem a ele. Por várias vezes ele passou sério, em sua túnica branca, e nem pareceu perceber minha existência, quanto durante toda a celebração o meu olhar se fixava no dele.

Eu não quero mais fazer as coisas para agradar aos outros e passar uma imagem feliz ou bem sucedida. Eles não dão a mínima. Se tem algo que eu aprendi com anos de depressão e meses de relativo sucesso após a mudança é que eles não dão a mínima, ninguém tá nem ai realmente pro fato de você estar bem ou não. 

Por isso eu quero fazer o que quiser, quero ficar na sacada ouvindo música e tomando um vinho barato enquanto vejo as nuvens passarem pela lua, quero continuar vendo meus BLs e sorrindo com os belos casais de meninos tailandeses, quero chorar de vez em quando com alguma coisa emocionante, tomar café e tirar umas fotos legais... Quero estudar e tentar entender um pouco da situação ao meu redor, do mundo em que vivo e das pessoas que fazem as coisas serem como elas são. Eu só quero isso. E o mais que faço não vale nada.

Também quero me envergonhar das minhas ações ao ver que tenho sido apenas um animal atrás de satisfazer vontades baixas e mesquinhas, de ver que quero poluir a pureza com minhas próprias mãos, que eu tenho sido causa de queda para aqueles que eu deveria erguer, e tudo isso por culpa das minhas paixões desordenadas, do meu impulso incoercível para tudo aquilo que é baixo, vazio e fechado em si mesmo. 

Sou um homem cego pelas minhas paixões e pelos meus vícios. Alguém que, como um poste de luz, não consegue trilhar o caminho que indica. Vivo de modo desregrado, aspirando a malícia e a luxúria sem limites, espargindo os clarões do fogo que arde minha carne e consome minha fibra até as cinzas. Me envergonho profundamente dos pensamentos imundos e torpes com as pessoas mais claras e puras que, muito diferente de mim, lutam para melhorar e vencer seus ímpetos demoníacos. 

Quero me envergonhar de minhas ações porque meu julgamento não decorre de outros homens, mas de um juiz eterno.

Oh que existência baixa e vazia aquela que não aspira nada superior e continua como serpente a rastejar o ventre pela terra e a morder o calcanhar da alva criatura. Não olha aos céus e não tenta alçar voo como a águia que, do alto, a tudo vigia. Águia não sou e dela não trago nem sequer o olhar. Estremeço com as coisas que nós percebemos e que não dizemos justamente por medo de torná-las reais. 

Por fim deixo um trecho referente justamente ao que não tenho vivido, que consegue descrever com mais eficiência do que eu, a essa experiência de baixeza moral e espiritual:

"Agostinho também retoma a ideia de uma transgressão da natureza própria como critério do mal. Ser virtuoso e conduzir uma vida exitosa significa para ele, tanto quanto para Platão e os estoicos, viver segundo a natureza (secundum naturam vivere). Ele, no entanto, fundamenta a determinação da natureza do homem, por exemplo como ser vivo racional, pela noção da condição de criatura. Fundamentalmente, a natureza do homem consiste em ser criado por Deus. O homem que reconhece isso vive segundo a natureza. Ele concebe Deus como sumo bem e se torna feliz na obtenção desse bem. Em contrapartida, o homem que deseja ser como Deus e, em conformidade com isso, procura a quietude e a felicidade em si mesmo cai numa contradição com sua própria essência, que provoca desordem da alma, conduz a equívocos a respeito da verdadeira hierarquia dos bens e, por fim, à infelicidade." (Johannes Brachtendorf – Confissões de Agostinho p.81)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Uma semana, um episódio

Hoje foi um dia profundamente frustrante. Acordei meio disposto, ainda sentindo aquela melancolia que sentia ontem à noite, mas ainda assim pensei em levantar e ir ao centro comprar algumas coisas. Nem tinha terminado de tomar banho e já havia mudado de ideia, a única vontade que tinha era de voltar pra cama e ficar lá, até passar o dia todo. Ainda consegui estudar e começar uma série, tirei uma ou duas fotos e é claro que as pessoas não perceberam a mudança sutil no meu olhar mas, ao mesmo tempo, meu corpo pesava como chumbo de novo e eu queria a todo custo dormir e apagar. Não tem nenhum motivo pra isso ter acontecido, digo, nenhum gatilho ou algo assim, apenas um episódio depressivo que chegou e que agora veio com força. Não queria um abraço, não queria açúcar, não queria comprar novas taças de vinho, só queria dormir mesmo e apenas acordar quando voltasse a ter disposição e não um corpo pesado e os olhos se fechando a todo momento, a mente se recusando a se fixar em qualquer informação e desejando apenas o silêncio solitário. 

X

Continuo indisposto, e foi uma grande dificuldade levantar e vir trabalhar. Praticamente me arrastei do quarto até o banheiro e depois até a parada de ônibus. Fechava os olhos e já queria dormir, sem nem pensar em nada, e nem no rapaz bonito que sempre encontro eu consegui prestar atenção. Estou apenas tomando café e chá preto na esperança de conseguir um pouco mais de disposição. 

X

Me arrastando de um lugar a outro, sem sono mas também sem disposição. Quero dormir pelo obscuro silêncio mas também quero ouvir alguém cantar. Quero tirar fotos que ninguém vai ver e quero fazer compras que vão me endividar sem necessidade. Ontem a noite eu quis entrar em algum aplicativo e procurar por sexo fácil, mas ao mesmo tempo eu não tinha vontade de sair de casa, embora quisesse contato. Percebi então, agora pela manhã enquanto notava minha inquieta caminhada pelo jardim, que estou procurando algo que me desperte e que me dê alguma emoção e, sabendo ser isso o grande causador de problemas para pessoas com quadro de bipolaridade, eu preciso me conter. Não sei se tomo um chá calmante ou se faço um café. Terminei um longo livro de poesias e estou com alergia para tentar limpar as obras das exposições, então tenho que continuar lendo, é o máximo que posso fazer. 

X

Quarto dia assim, e hoje meus olhos começaram a queimar porque continuo com sono mesmo tendo dormido bastante. Ontem foi excepcionalmente cansativo porque, além de já me sentir assim o movimento no trabalho foi bem grande, cheguei em casa desesperadamente cansado e capotei em poucos minutos depois de me deitar. Percebo agora como só consegui escrever de modo picotado esses dias justamente porque minha consciência está ainda mais fragmentada do que o normal. Estou apenas tentando levar e esperando que passe. 

Um pequeno alento nesses dias de mente anuviada é o carinho que recebo e que me deixa melhor. Um pequeno sorriso no meio da tempestade me aquecendo um pouquinho. Queria poder retribuir com um abraço apertado, ou talvez eu só queira um abraço mesmo, mas infelizmente a distância não me permite. 

Infelizmente não consigo fechar os olhos e imaginar uma narrativa nem minimamente mais longa, apenas me surgem pequeninos trechos, mas também nada que se possa comparar com os aforismos de outrora. Acho que o cansaço me exauriu também a fonte de palavras e a torrente de pensamentos que me possibilitavam a expressão. 

X

Já é hoje sexta-feira, e durante uma semana eu só consegui registrar o que normalmente escrevo num único dia, o que só demonstra o quanto esse tempo é marcado por um silêncio constante e nada acolhedor. Se eu normalmente gosto de ficar quieto em dias assim a quietude é apenas sufocante, porque a angústia é crescente e o sentimento é que me foram cortados os membros. E eu nem sequer consigo expressar de um modo melhor o que se passa, é apenas um vazio e apenas um silêncio esmagador, uma agonia angustiosa e crescente, uma marcha fúnebre que nunca encontra termo... 

X

Hoje é a segunda que se seguiu a esse episódio depressivo que, aliado a uma maior carga de trabalho acabou me deixando ainda mais fechado por alguns dias. Meus planos para hoje incluíam fazer as unhas, a barba e a sobrancelha para, na semana de estreia de uma nova exposição eu esteja mais apresentável. Consegui pintar as unhas, e gosto sempre do resultado, mesmo que muitas vezes grosseiro. Mas quanto ao resto? Eu não quero pensar nisso. Me desgastei pensando na confusão envolvendo aquele ator que gosto e que tem recebido severos ataques, Build Jakapan. Não só por isso mas por conta de uma nova onda de desânimo, não um novo ciclo mas apenas uma continuação daquele, que me deixou desanimando. Me olhei no espelho e resolvi aceitar, a barba que se estende até as bochechas, as sobrancelhas se unindo numa expressão de desleixo... É o que eu posso oferecer pois não há de onde tirar dinheiro e nem disposição para cuidar disso. E então eu me viro, aceito o que vi, e sigo como se não tivesse nenhuma importância, pensando vagamente se aquele jovem estudante de arquitetura que visitou o trabalho vai algum dia entrar em contato comigo.

Epílogo 

E você, como foi seu dia? Conseguiu acompanhar o ritmo das aulas? Encontrou seus amigos do grupo católico? Espero que firme boas amizades com eles, parecem ser melhores exemplos para você do que eu, e então eu vou aprender com você a ser um pouco melhor. Se sente cansado? Você me disse que sentia assim e eu sinto muito que não possa ser pra você um porto seguro onde você pode simplesmente encostar os ombro e chorar, recuperando suas energias. Estou longe e, pior que isso, ainda há uma barreira natural da nossa relação que me impede de ser pra você aquele que você precisa. Só me resta então fechar as feridas do meu coração e torcer para que encontre alguém que consiga te consolar e te incentivar como você merece.

Eu me peguei, mais de uma vez hoje, pensando em nós dois levando um tipo de vida doméstica. Pintei minhas unhas de preto mais uma vez e imagino como isso seria um contraste para as pessoas que nos vissem andando na rua, você de suéter a camisa abotoada até em cima, calça cáqui. Eu sorrindo e contando histórias sobre algum livro do século XX que poucos da nossa idade leram. 

Em alguns dias eu assisto meus BLs enquanto você estuda, e as vezes você vê um ou outro episódio comigo. Em outras noites nós vemos filmes juntos, e ficamos conversando sobre eles tomando uma taça de vinho ou algumas latas de cerveja, depois de preparar algo juntos na cozinha, sorrindo com medo do olho respingar em nós, sem camisas e talvez um pouco alegres demais por causa do álcool. Nos outros dias revezamos em pedir comida, frango frito, pizza ou hambúrgueres. 

Depois deitamos juntos, quase sempre me deito sobre seu peito, em outras noites apenas nos abraçamos, algumas vezes conversando sobre como foi nosso dias, sobre os problemas no trabalho e na faculdade ou apenas os planos para o próximo passeio no parque ou na praia, e em outras noites só ficamos em silêncio ouvindo música baixinho. 

É, é uma bela visão. A menos assustadora que tive todos esses dias. 

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

O não olhar

Eu queria que ele tivesse olhado para mim mas passou reto e sério em todas as vezes que cruzamos caminhos. Só queria um olhar e um sorriso, algo que indicasse que ele se lembra de mim, mas nada, eu apenas o observei à distância, e fiquei olhando sem poder dizer nada, nem ao menos sorrir, somente imaginando como seria se eu conseguisse me aproximar, mas infelizmente essa aproximação está cada vez mais e mais distante. 

É um domingo infeliz e preguiçoso, e depois da missa pela manhã eu dormi o dia todo, acordando assustado pela movimentação da minha família que tinha começado uma festa sem que eu fosse informado. Eu estou de corpo presente apenas, sorrindo e acenando em afirmação pra tudo o que dizem sem realmente prestar ao atenção em nada, apenas no gosto da cerveja barata que compraram e que, no entanto, corresponde exatamente ao gosto que sinto da minha vida nesse dia. 

O ar do lado deles é de euforia com o jogo de futebol, um clássico segundo eles, como todos os que acontecem toda semana. Eu não tenho a mínima paciência pra futebol e, por isso mesmo, resolvi vir pra cá, na sacada, onde o céu ameaça despencar em chuva de verão, com um copo grande de cerveja e olhando na direção da casa daquele jovem acólito. 

Muito embora todos estejam animados com o churrasco, o bolo decorado com bandeirinhas do Flamengo, a cerveja e as risadas por causa dela, o clima é de melancolia, e não acho que seja só por causa dos remédios para dormir que tomei mais cedo. 

E na internet continuam as imagens dos belos homens formando belos casais, em imagens tão bonitas que eu jamais conseguira descrever aqui, e eu sozinho e triste enquanto os outros sorriem. É... Eu realmente só queria que ele tivesse me olhado mais cedo. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Quando olho para você

Você disse que temia que eu parasse de falar com você, e eu fiquei chocado ao saber disso porque, em nenhum momento isso passou pela minha cabeça. Como te disse, eu não consigo colocar em palavras o que você significa para mim porque transcende e muito a minha capacidade de expressão. Só o que consigo dizer é que você é para mim mais valioso que o amor de todos os homens, como era aquela amizade entre Jônatas e Davi. E sim, como também já o disse, tenho medo das coisas que percebemos e que nos assustam e que, por isso mesmo, não dizemos. 

Sabemos que podemos nos afastar, e sabemos os motivos que nos levariam a isso, mesmo que não digamos em voz alta, mas eu quero deixar isso claro. Eu sei que se trata dos meus sentimentos desregrados, sei que eles podem deixar você confuso na sua caminhada e, valha-me Deus, podem te desviar da Verdade. Sim, seria melhor que a gente se afastasse mas seria melhor ainda lutar ao seu lado, e superar as dificuldades juntos, partilhando, caindo e levantando juntos. E isso é a essência da amizade, no objetivo comum ajudar o companheiro nessa luta. Embora a salvação seja apenas da alma individual o cristão não vive isolado e a tônica dessa vivência é a comunidade, como nos primeiros séculos em que os missionários eram enviados de dois em dois, assim nós também somos enviados e buscar juntos essa santidade, mesmo quando algo em nós diz o contrário. 

Mas também aceito a verdade, cruel, de que um futuro é incerto e, assim como meus melhores amigos são hoje desconhecidos, a tragédia burguesa das relações com o outro podem nos afetar.

Eu me apego então a verdade do que sentimos. Nessa amizade construída sob a confiança, na partilha das dores e dos medos e na comemoração das vitórias, como os primeiros cristãos que viviam juntos e tinham tudo em comum. 

Reconheço que tenho me do de me afastar, tenho medo dessas coisas que percebemos e que não dizemos, e reconheço com dor que isso iria me destruir mas, a despeito de discutir um problema que nem apareceu ainda, o nosso trabalho deve ser o de nos empenhar com a sinceridade do coração para que isso não aconteça e para que nosso amor desregrado não nos corrompa. 

A minha única certeza, quero você ao meu lado pra todo o sempre e, se possível, ainda que fisicamente, onde poderia sempre te dar um abraço apertado depois de um longo dia. 

Você consegue ler, o que há nas entrelinhas e no brilho do meu olhar quando olho para você?