terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Valentine's Day

Hoje é dia de São Valentim e, na internet, os casais estão todos contentes enquanto multiplicam-se as flores, corações e as declarações. É tão bonito ver a felicidade estampadas nas faces angelicais, os sorrisos enamorados, os olhares emocionados. Me sinto um romântico inveterado nesses dias. 

Mas, se eu me levantar da mesa e sair pela porta vou tomar um grande choque com o ar quente. Deve fazer uns 50 graus lá fora nesse momento, e é insuportável ficar na rua a essa hora. Tudo o que eu posso fazer é enrolar vários minutos enquanto espero o fim do expediente para, finalmente, encher a cara com um bom vinho. 

Não será na sacada de casa, entulhada de coisas velhas que a minha família vai juntando, e nem me importa também, eu só quero ter um pouco de prazer nesse dia miserável, onde todos sorriem felizes e, mesmo que não sejam namorados (porque quase tudo ali deve ser fanservice) eu aposto que todos eles ainda têm um ombro para descansar ao fim do dia. 

Eu não faço muito mais do que observar os homens bonitos no terminal de ônibus enquanto volto para casa suado e cansado, onde me jogo na cama, levanto para assistir alguma série até ficar tão exausto que durmo antes mesmo de me cobrir com os lençóis. Não ando com disposição nem pra bater uma punheta antes disso. 

Poderia até falar da tristeza de estar sozinho, de como me sinto solitário principalmente depois da conversa que tive ontem com ele de como esclarecemos as coisas, mas não, prefiro não dizer nada. Eu só quero tomar um porre e fingir que nada aconteceu, esquecer que estou sozinho, talvez ouvir uma música e dormir. 

Estou cada dia mais gordo e menos desinteressado na vida. Amanhã tenho um evento para ir, um concerto de música clássica e, embora eu queira ir, não quero me arrumar, nada de maquiagem ou gravata, só quero me sentar, no chão que seja, e ouvir a música. 

Durante o percurso de ônibus eu passei por um rapaz que quase sempre encontro, e ele tem uma beleza que me chama atenção. Diferente dos outros ele não é exatamente bonito, mas há algo nele que me desperta curiosidade: ele tem uma aura de pureza. Ao menos aparente porque ao ouvir as conversas dos amigos dele eu sei que não o é mas, ainda assim, ele tem uma imagem dessa. Ele tem a pele clara, bem clara, um rosto simples, e muitas vezes dorme no caminho de volta pra casa, mas não tem olheiras. Até suas axilas são claras e limpas, sim eu prestei atenção nisso, e hoje eu notei um volume tímido na sua bermuda que, acho, estaria mais alto se ele estivesse sem cueca. Um devaneio pervertido. 

Ainda no ônibus eu tive outra surpresa, quando me olhei no reflexo do vidro. Estava cansado, há mais de trinta minutos num engarrafamento e um calor infernal e úmido de Santa Catarina mas, ao me ver, eu me achei bonito. E fiquei encarando meu próprio eu a passar pelas paisagens do bairro do Comasa, e continueu me achando bonito, mesmo com os olhos um pouco fundos e a pele macilenta e oleosa. Eu estava estranhamente bonito. 

Mas continuava sozinho, e a única mensagem no meu celular confirmava isso ainda mais. Nenhum daqueles meninos bonitos e cansados do ônibus olhavam para mim, mesmo que eu estivesse bonito, e ninguém me mandava mensagem também. Diferente dos idols do Instagram eu continuava sozinho na memória de São Valentim. 

Esse dia cor de rosa é bonito, mas eu acho uma droga. 

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