sábado, 30 de julho de 2016

De decisões e esperanças

Deve ser uma grande felicidade para alguém, ao final de sua vida, olhar para sua própria história e ver como suas obras foram grandiosas, e se sentir realizado por tê-las feito. No entanto, se no futuro, nossa história será composta dos fragmentos que hoje vivemos, como será que nos reconheceremos então? Como grandes homens, ou pessoas que apenas passaram pela vida sem deixar nela marca nenhuma?

Particularmente tenho medo de, na minha velhice ver o quanto meus erros superam em números meus acertos. Talvez porque hoje, eu viva mais das consequências de escolhas ruins do que das boas, e por isso o futuro me soe tão aterrorizante. Pensar no que ainda me espera, e principalmente numa longa e reflexiva velhice é algo que me deixa profundamente preocupado e que, em algumas ocasiões, chega até mesmo a me paralizar. 

Sei que a juventude é o momento do aprendizado por excelência, e que não existe uma fórmula perfeita ára crescer e amadurecer, ou os adultos nos obrigariam a segui-la. Sendo assim, as escolhas erradas são tão necessárias e importantes quanto as corretas e nos dão o ensinamento necessário aquele tão almejado crescimento que nos leva à vida adulta. 

Uma coisa é certa e clara pra mim nesse momento: a vida é repleta de caminhos, e as nossas escolhas definem onde chegaremos, e qual caminho tomaremos. Alguns são fáceis, iluminados e a brisa leve do vento nos acompanha em sua travessia. Outros se mostram verdadeiros agrestes escarpados, desertos sombrios e mares revoltos, e a solidão parece ser nossa única companheira na jornada de superá-los. Seja qual for o caminho, nossas decisões nos levaram até ele. E nem sempre é possível voltar atrás e escolher outro caminho. Pra dizer a verdade, na grande maioria das vezes, temos de viver com a escolha que fizemos e assim, percorrer até o fim o caminho que escolhemos. 

Todos sabem que não deveríamos em nenhum hipótese, tomar decisões importantes sob influência de forte tristeza ou alegria, pois ambos desviam nossos sentidos do sentido de realidade. O mesmo se pode dizer de qualquer sentimento que tenha força sobre nós. Sentimentos nesse caso são fraqueza, pois nos cegam e nos desviam do sentido do dever. Portanto sobriedade é obrigatória para uma decisão coerente e consciente. Depois de então tomada, os sentimentos nos servem como alimento nessa jornada. Então afirmo que os sentimenos devem ser então o combustível da caminhada, mas nem sempre o motivo da mesma.

Digo isso hoje, pois, ao olhar pra trás de minha ainda jovem passagem por este mundo, percebo agora o quanto me deixer ser cegado, ofuscado pela rutilante luz dos sentimenos que inflamavam em meu coração. E as decisões mais importantes de minha vida foram tomadas nesses momentos de suspensão da razão. E agora, mais calmo, e já tendo de suportar as consequências dessas decisões, eu vejo o quão imaturo eu fui, e o quanto me deixei ser enganado por minhas próprias criações. 

O amor que achei que ser eterno e recíproco durou poucos meses, e a vida de sonhos que eu tinha abandonado para seguir esse amor desmoronou bem na minha frente, sem que houvesse nada que eu pudesse fazer para recuperá-la. O sentimento que outrora acreditei ser puro e sem mácula, se mostrou a maior fonte de sofrimento e dor que já suportei e onde por diversas vezes eu quase me afoguei, e ainda hoje, admito, ainda me atrai como que com um canto de sereia, que atrai a todos para a morte e que, mesmo sabendo aonde me conduzirá, ainda posso ouvir, e quero, ouvir essa doce melodia da morte, esse acorde noturno poderoso, capaz de me furtar os sentidos e me fazer cair no mais profundo abismo de escuridão, ao invés de me levar aos braços do meu amado, como promete. As folhas daquela grande e frondosa árvore que representa minha vida caíram. Aquelas que um dia brilharam no mais belo dos verdes, hoje estão caídas ao chão, de um triste tom alaranjado, prestes a serem comídas pelos vermes da terra. Assim como os sonhos que um dia alimentaram essa mesma árvore, hoje secos e sem vida, esperando um fim indigno de sua grandeza. 

Esse sentimento tolo e infantil cegou-me a razão e me impediu de tomar as decisões certas no momento em que me foram propostas e agora, calmo e novamente em posse das faculdades mentais, posso dizer que foram as piores decisões possíveis. Mas naquele momento, nenhum conselho fazia sentido e nenhuma voz era ouvida além da minha própria. Bobinho. Era justamente ai que deveria ter sido prudente, sagaz, ter evitado beber desse ópio que é a imaginação e ter sido firme em minha posição de avaliar com a razão aquilo que só o coração insiste em opinar. 

Talvez hoje minha vida fosse completamente outra. Talvez eu estivesse seguindo aquele outro caminho que havia escolhido, e que, quando questionado se nele permaneceria, decidí fugir. Talvez eu também tivesse deixado de viver alguns dos momentos mais felizes da minha vida. Mas talvez ter considerado viver na certeza que tinha fosse a coisa certa.

Infelizmente o parágrafo anterior contém 'talvez' de mais. Achismo demais. E a vida não é feita apenas de achismos, pelo contrário, é feita de verdade frias e duras que são lançadas contra os telhados de nossa consciência e que, obrigados a tomar uma decisão, podemos escolher ou não agarrá-las ou deixá-las escapar. 

De nada adianta então continuar a me lamentar e a reclamar das consequências que hoje vivo. Suportar firmemente as consequências das próprias decisões é uma das mais importantes características de um homem de verdade. Logo, encarar de frente à realidade que hoje tenho é o meu dever, senão minha única forma de sobreviver. 

Outro fato, somos escravos das decisões que tomamos. A liberdade é pra mim um conceito abstrato demais pra defini-la como algo existente em plenitude ou inexistente. Acredito sempre no equilibrio. E acho que a vida é mais branda com aqueles que tendem a não correr sempre aos extremos, que prefere viver na tênue linha do equilibrio do destino. 

Tenho então o péssimo hábito de fugir de decisões. Caracteristica adquirida após tantas burradas disfarçadas pelas poéticas palavras dos sentimentos. Aprendi que não devo mudar minha vida por alguém pois não tenho como saber se a pessoa pretende mudar também ou apenas diz aquilo por um ou outro motivo passageiro. No entanto, pensar que largou tudo por alguém que logo se esquece de você é devera um bom enredo para uma daquelas óperas trágicas monumentais, dignas de ser incluida no Hall das grandes tragédias. 

Quem sabe um dia então eu não inclua uma versã musical de minha autobiografia ao lado de grandes nomes como Madame Butterfly e Tristão e Isolda? Lembro que peças com um teor trágico são sempre as minhas favoritas, justamente por me identificar tanto com elas. A primeira obra mesmo, umas das mais aclamadas de Puccini, o mesmo compositor de Turandot, minha ópera favorita, que irônicamente tem um desfecho feliz, trata de uma jovem moça que larga tudo em função de seu amor por um lord inglês. E que, mais tarde, mesmo depois de lhe conceber um filho, é por ele abandonada e trocada por outra mulher. A jovem então, tomada de fúria e decepção, comete o suicídio ritual dos guerreiros que falharam em sua missão.

Talvez eu ainda tenha algumas batalhas a lutar nessa grande guerra. Mas é certo dizer que, por hora, estou caído e derrotado, esperando o término da convalescenção para então poder continuar a lutar. Um brilho surge ao longe. Pode ser o reflexo de algo pequeno, ou  luz do sol que poderá um dia voltar a brilhar para mim. Fruto de uma pequena esperança que vem se mostrando à mim. Dessa vez, penso que a razão deva ser aquela que tomará as decisões, mesmo que o coração puxe para si as responsabilidades de viver com elas. 

Claro, essa é ainda uma afirmação ousada. Razão não é bem o meu forte, e faço parte daquele grupo dos que se deixam mover e levar pelo coração. Coração que não conhece os limites do amor, embora já tenha sido cruelmente entregue aos limites da dor, e que ainda tira forças dessa mesma esperança pra continuar sendo capaz de amar. Simplesmente amar. Parece ser esta a única condição a que estou irrevogavelmente preso e que, mesmo ssendo também escravo de minhas decisões, é a essa condição que meus pés pesam por seu julgo pesado. 

Que eu consiga tomar boas decisões, que eu tenha maturidade pra pensar antes de agir e falar, mas que eu também seja homem o suficiente pra viver conforme a decisão que eu tomar. 

sexta-feira, 29 de julho de 2016

A fortaleza dos nossos sonhos

Minha sempre dizia que "nem tudo o que reluz é ouro" e me recordo que, na minha infantil inocência, ela me comprou um livro sobre expressões populares, quando lhe perguntei o que aquilo significava. 

Jargões à parte, acredito que a máxima "nem tudo é o que parece ser" seja uma das mais acertivas da vida e que sua aplicação se dê aos mais vastos campos do relacionamento humano. Principalmente quando insistimos em permitir que nossa mente continue a criar ilusões de uma realidade existente e nos esquecemos de contemplar essa verdade, mas a abandonamos em função de uma inventada por nós, ainda que inconcientemente. 

O que se dá é que estamos muito acostumados a nos perder imaginando realidades e fantasias cor de rosa, e nos esquecemos de fitar o outro de verdade que está bem à nossa frente. Acontece assim: as dificuldades e decepções da vida tendem a se acumular no nosso coração, e a cada novo obstáculo difícil de superar, acabamos adquirindo uma coloração um tanto quanto acizentada em nossa vida... Como uma cidade colorida, mas que perdeu sua cor nos séculos que se passaram e hoje, ao fitarmos uma fotografia antiga, nos parece triste e fria aquela que outrora já fora acolhedora e alegre. Da mesma forma é nossa forma de perceber o mundo que nos cerca.

Vamos então perdendo a cor, e logo mais o sabor, e isso se segue até que nos sintamos como que desensiblizados dos sentidos, levando, ou empurrando, uma vida sem graça e cada vez mais triste. Com isso, é normal que as vezes sejamos pegos a imaginar uma realidade melhor, onde os problemas se resolvam com mais tranquilidade e onde sejamos mais felizes. Esse devaneio por sua vez, vai ganhando força e maiores proporções, a medida que nos libertamos dele e somos obrigados a voltar a encarar o mundo real. Dessa forma, a realidade imagina caba deixando um marca em nossa alma, uma mescla de desejo e saudade. Essa mescla então, dentro de nós, se mistura às potências da imaginação e da memória, e acabam por criar um monumento, uma fortaleza, por assim dizer.

Essa fortaleza da fantasia, nosso conto de fadas particular, é então recheado com nossos sonhos mais íntimos e desejos mais latentes, bem como de nossas memórias mais agradáveis. Logo, essa realidade se torna tão agradável à vista e ao tato, que não demoramos em fugir com mais frequência para esse mundo cor de rosa. Ora, se aqui nossas dores não doem mais e se nossos problemas se vão ao menor de nossos eforços, porque motivo deveríamos então preferir voltar aquela realidade fria e sem vida? 

Então pode-se dizer que essa fortaleza seja produto de nosso desejos mais secretos e profundos. Que assim seja. Digamos então que o nosso maior desejo seja o de finalmente encontrar aquela pessoa tão importante para nós e que, assim a concebemos em nossa imaginação, tenha determinada caracteristica. Que seja amiga, companheira, carinhosa, enfim. Todos já imaginaram uma pessoa ideal. Todos. Sem exceção. Nem que tenha sido pra satisfazer uma necessidade noturna urgente. E então o que encontramos nessa fortaleza, não é apenas uma, mas um mundo de pessoas que correspondam à nossas expectativas e anseios. 

Fungindo permanenemente para esse mundo, não seria de se estranhar que logo estranharíamos esse outro mundo, tão difícil e complexo. O problema está quando, deixamos de viver completamente em função de nossos sonhos. E não digo que estamos correndo atrás desses sonhos, mas apenas daqueles que se limitam apenas a sonhar, e que usam dessa habilidade tão sedutora pra, como num reflexo condicionado à todas as adversidades, fugir do mundo real e construir uma vida inteira nesse parque da fantasia.

Falo isso com propriedade pois, antes de tudo, todas as linhas que aqui escrevi, se tratam primeiramente de mim. Tão habituado a fugir que as vezes até esqueço como viver no mundo real. Meu universo imaginário é tão repleto de pessoas perfeitas e de qualidades maximizadas ao extremo que me assusto em notar que ainda não tenha sido internado, por fuga da realidade. Bastam apenas alguns segundos para que eu saia de órbita completamente, e por horas fique vagando sem rumo, num universo que é todo fruto de minha imaginação e desejos. 

Voltando, por vezes inclusive, algo que procuramos possa estar a nossa frente, e acabamos que ignorando justamente por não corresponder as alucinadas expectativas criadas. Fora de qualquer controle. Acontece que determinadas caracteristicas são elevadas pela imaginação de tal modo que seria completamente impossível que existem no mundo real. Mas ignoramos essa verdade, acreditando que um dia, aquela outra verdade se mostrará. E nisso, perdemos as melhores chances que tínhamos de, colocando o pé de volta na realidade, ser feliz de plano, no sentido real do termo, não do fantasioso, que traz uma vida repleta de alegrias e deleites e nenhuma adversidade. 

Outra armadilha muito comum a que caem essas pessoas fantasiosas, é a de trasnportar certas verdades concebidas e maximizadas num plano superior, para essa realidade. É quando depositamos no outro, expectativas que o mesmo nunca poderia corresponder, e quando notamos isso, acabamos nos decepcionando. Daí nascem as decepções. Dessa imagem concebida no plano imaginário de nossa fortaleza cor de rosa, e transportada para o mundo real, onde seria impossível a ela existir sem a constante presença e influência de nossa imaginação. 

Para evitar cair nesse mundo tão sedutor, mas que na verdade acaba que por cegar os nossos sentidos e nos entorpecendo para a realidade, devemos aprender a enxergar também aqui, que nem tudo são tristezas e melancolias, e nem que tudo são rosas. Nos cabe então uma visão equilibrada do mundo. E é essa visão que nos dá a motivação necessária para ir atras dos nossos sonhos. Pois vemos e percebemos aquilo de ruim que precisa ser mudado e aquilo de bom que, com algum esforço, pode ser obtido. Sonhar então não é ruim, mas fugir da realidade para um completamente fantasioso é inflizmente pedir para sofrer. Pois, quanto maior for a fortaleza de nossos desejos, maior será o barulho e a ruína de quando a mesma for detruida pela força implacável da realidade.

Sonhemos, portanto, e nos deixemos ser levados por esses momentos de alegria e prazer, mas não façamos deles nossos refúgios, e nem os usemos como pretexto pra fugir e não enfrentar o mundo real. Esse mundo, realmente traz muitas dores e as vezes, poucas cores, mas cabe a nós saber enxergar sua beleza até onde não se vê beleza nenhuma. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Inspiração

E a busca pela inspiração para a obra perfeita continua...

Antes de mais nada, eu estou impressionado comigo mesmo e essa minha capacidade de romantizar e poetisar todas as coias. Algo de muito belo tem acontecido dentro de mim e não sei bem como lidar com isso. O fato é que, não consigo mais ver o mundo com a simplicidade de antes e agora eu vejo uma poesia, ou uma linda melodia a cada esquina.

Isso não se deve a um acontecimento especial, e por mais que pareça, também não se deve à uma pessoa especial. Não. O que está acontecendo comigo é algo ainda mais profundo. Trata-se do tipo mais profundo de transformação que uma pessoa pode sofrer: uma mudança na percepção da vida. Minha forma de enxegar as coisas está mudando, e espero que essa mudança continue a acontecer por muito tempo.

Recentemente eu aprendi que a forma como observamos as coisas quase nunca é a forma real das mesmas. Claro, como disse Freud, as vezes um charuto é só um charuto, mas dificilmente a forma de encarar esse charuto será a mesma pra sempre. Acho fantástico ver como as minhas percepções mudaram, e estão a mudar, nos últimos tempos. Conversando com pessoas que achei que nunca conversaria, e gostando do conteúdo que elas me oferecem. Ouvindo músicas que nunca achei que iria gostar e lendo coisas que nunca atrairam minha atenção até então.

Penso que a acertiva de ser uma "metamorfose ambulante" se aplica muito bem aqui. Irônico lembrar ainda, que na minha tenra infãncia, "metamorfose" foi minha palavra favorita. Depois passou a ser "cornucópia", "melífluo", "orgia" dentre outras... hoje, creio que minha palavra favorita seja "Rosa" (a flor, não a cor). Pois essa tem sido minha fonte de inspiração mais profunda. Ao lado da música, claro, minha eterna companheira. Me pergunto se seria capaz de escrever uma linha sequer em completo silêncio, sem a companhia calorosa dessa ninfa que domina meu coração. 

A inspiração se faz então como um motor. Alguns dias ela me impulsiona de tal modo que em poucos minutos consigo dar conta de um grande volume de postagens e atividades. Em outros momentos, fico pensando e pensando por um longo. Troco a música, fico dando perdido no Facebook e respondendo o WhatsApp até conseguir algma coisa. E é interessante notar como a inspiração também é orgânica. Digo, se fosse sempre fácil demais, eu não daria valor. 

E assim também acontece em muitos campos de nossa vida. Infelizmente só damos valor aquilo que perdemos. A forma de se valorizar então uma coisa, ou uma pessoa, é lutando por ela. O mesmo vale para a Inspiração. Já que aqui ela se mostra como uma bela e formosa dama, mas que por timidez, deve ser cortejada corretamente para que dê ao mundo o ar de sua presença. Ela também pode ser chamada de Motivação. Pois dá ao mundo o movimento. Nem sempre sua presença é percebida e notada, e quase sempre é difícil encontrá-la por vontade própria. Ou seja, mesmo exigindo um esforço de nossa parte, a inspiração vem naturalmente, sem depender necessariamente do nosso esforço e de nossas potências. 

Ela no entanto, quer ser buscada nos recôditos mais profundos do mundo e de nossa alma. E só ela é capaz de despertar os nossos potenciais adormecidos pelo cotidiano. A Inspiração então nos espera sentada à frente da fonte da poesia, onde jorra uma límpida e cristalina água, de onde beberam os grande mestres da humanidade. Essa fonte se revela porém, uma espada de dois gumes, pois quanto mais se bebe, mais sede se adquire. Como um músico que, ao tentar escrever uma canção à sua amada, quanto mais escreve, mais percebe em sua musa inspiração para escrever mais, e escreve não apenas uma obra, mas todo um ciclo de canções declarando seu amor. Essa fonte tende então a sempre mudar de lugar, como se buscasse fugir daqueles que a desejam só pra si. Por isso encontramos inspiração em tantas coisas diferentes. 

Alguns a encontram ao contemplar a beleza da natureza. Ao então uma rosa ou um belo cachorro à brincar pelo parque, pensam então em mil canções de deleite e alegria, de exaltação da natureza e de júbilo, em contentamento por ter vislumbrado tão sublime visão. Falam então do belo, do colorido e do sentido. Outros encontram sua musa na tristeza. São os que tendem ao pessimismo ou foram deveras machucados pelas duras mãos do destino e que tiram dái os seus versos de destruição e solidão. Falam estes da dor, da superação e da morte, com propriedade. Por fim, não importa se o artista tira daqui ou dali sua inpiração, sua obra é sempre expressão daquilo que traz em seu coração. Por isso diz-se que a arte, é a forma de se exprimir os afetos da alma através de diferentes formas. E tantas são as possibilidades quanto o são a coragem do artista em investir. Ora, quem haverá de duvidar da alegria de Beethoven ao escrever a sua Nona Sinfonia, ou da tristeza de Tchaikovsky ao compor sua Patética, ou por fim, dos sentimenso de Berlioz ao pensar nas notas de sua Fantástica

Algumas obras, pertencem ao panteão de toda a humanidade. Seríamos uma raça triste sem as obras citadas, elas foram também reponsáveis pela transformação do mundo, pela construção do Homem. Outras, pertecem ao elenco de obras pessoais, pois servem apenas ao seus autores e á algumas poucas pessoas, como esse blog. Não faz mal que assim o seja, muito pelo contrário, pois aqui, longe dos olhares maldosos que insistem em impor suas limitações ao próximo, a inspiração pode assumir a forma que lhe convém. Ou não assumir forma nenhuma, ela o sabe. De qualquer maneira, em ambas as situações, a arte cumpre o seu dever, de manifestar aqui nesse mundo, os afetos do nosso mundo ineterior, do nosso mundo pessoal, de nossa alma. Dessa forma, desenvolvemos ferramentas que nos permitem o acesso a esse lugar fantástico que é nosso mundo interior. Cada um então usa aquilo que mais o leva perto de cumprir com esse objetivo. Alguns produzem, outros consomem, e todos são atingidos em algum nível, 

Particularmente, sou agradecido a esse mundo que me permite visitar tantos diferentes e igualmente ricos e belos como o meu próprio mundo particular. E ainda que eu não seja capaz de tocar esses mundos, a visão que me é dada deles me permite aprender o necessário, para assim, unir a visão que o outro tem da verdade, a minha própria visão da verdade, e assim poder formular uma nova versão dessa minha verdade. Por isso a Inspiração também pode ser considerada o motor que faz o mundo girar. Não no sentido estrito da palavra, mas no que se refere a construção e manutenção das ideias que fazem o mundo ser o que ele é. 

Nossas ideias então, transformadas umas pelas outras vão moldando a cada um de nós nessas peças eternamente maleáveis e miscíveis entre si e assim, vamos também todos moldando o mundo à nossa volta. Cada um de uma meneira pequena e particular, mas que gera um onde desconhecida que em grande escala, muda todo o mundo.

Que a nossa inspiração sirva então ao nosso crescimento pessoal e que sejamos constantemente transformados pela verdade e que assim, um dia, movidos pela arte, consigamos alcançar tamanho grau de expressão de nossos afetos que poderemos dizer: "eu conheço meu próximo, pois vi com meus próprios olhos o mundo que há dentro dele."

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Jornada

Hoje eu me vi sonhando acordado com você... e olha, foi um sonho bem louco, daqueles que você acorda e se pergunta do motivo de não ter continuado sonhando.. Eu não estava sonhado de verdade, mas também não estava completamente acordado, eu só estava ali, e nesse estado de tênue entre o real a o mundo de Morfeu, eu tive o vislumbrar de um mundo psicodélico e etéreo, mas ainda assim, que provocou em mim uma experiência sensorial muito rica e que quase me levou às lagrimas...

Não me recordo de como cheguei a esse mundo. Também não consigo imaginar como farei para daqui conseguir fugir. Quando me dei por mim, já estava aqui...

Esse é um mundo muito estranho. Tudo que consigo ver é um grande parque de diversões no meio do nada. Nos limites desse parque só existe areia e o resquício de uma luz do sol que há pouco se foi e que deixou apenas um brilho alaranjado que, contrastando com o breu da noite que caia, fazia o ambiente criar uma atmosfera lúgubre um tanto quando sombria. Aquele ambiente solitário e inóspito podia ser um reflexo do meu coração solitário e áspero, e talvez seja uma materialização dessa caracteristica. 

Na entrada desse parque eu olhei pra trás, e quando não consegui ver mais nada além de escuridão, decidi entrar. 

Entrei onde não soube e quedei-me não sabendo, e aqui dentro o medo tomou conta do meu ser. Não consigo entender que tipo de lugar é esse. Os brinquedos todos pintados de estranhas tonalidades, descascavam gastados pelo tempo. Como se estivessem ali à decadas. Não só os brinquedos. Mas as construções estavam todas mal tratadas pelo vento e pela poeira e já datavam de muito anos sem que ninguém se preocupasse com elas. 

Me estremeci ao notar as pessoas que enchiam aquele lugar. E quis correr dali e fugir, mas já não sabia mais onde estava a entrada. O parque estava cheio de pessoas, que andavam por todos os lados mas não diziam nada umas com as outras e nem brincavam, ou paravam em lugar algum. Quando me aproximei de uma mulher que andava segurando a mão de uma criança eu então me assuste ainda mais: percebi que nenhum dos dois possuia rosto. Não haviam olhos, boca ou nariz, só uma espaço da cor da pele sem mais detalhes. Um retrato grotesco, bizarro, que me arrepiou até a alma e me fez estremecer e correr, desesperadamente.

Depois de muitos brinquedos, pelos quais passei rapidamente, me deti somente em frente ao carrosel. Que imagem bizarra. Os animaizinhos com a pintura gasta rodopiavam enquanto subiam e desciam numa dança macabra e tinha a impressão de que seus olhos brilhavam num vermelho vivo, como sangue. Depois do carrossel, eu vi um grande picadeiro na minha frente... Não sei ao certo o motivo, mas já não tinha mais controle sobre mim e entrei. Ali, dezenas de pessoas sem rosto asssitiam a um show de horrores. Os palhaços eram os únicos a ter rosto ali, mas eu desejava que não o tivessem. Era uma visão infernal... a maquiagem descorada, as roupas puidas e aquele ar de mistério.

O mais estranho era estar ainda semi consciente de que era um sonho e não estava de fato dormindo. Eu consegui ouvir as pessoas a minha volta, mas também tinha a impressão de que podia tocar em qualquer coisa ali naquele lugar, que também seria real. A musica era alta, e eu reconhecia todas, como se eu mesmo estivesse escolhido a dedo o que tocaria naquela noite.

Voltei pra entrada desse circo dos horrores assim que cheguei ao centro e olhei pros palhaços, temendo que alguma coisa ali criasse vida. Quando me virei, foi aí que eu te vi... De pé, olhando pra mim por detrás da lona do picadeiro, e quando notou que eu também o observava, fugiu.

Corri logo atrás em seu encalço, e entrei sem pensar num lugar onde nem em circunstâncias normais eu entraria: Um labirinto de espelhos. O pânico de não conseguir ver uma saída e o espaço fechado em si mesmo fazem desse uma péssima forma de tortura pra um claustrofóbico como eu. A música agora era ouvida ao longe, mas ainda abafava qualquer outra possibilidade que eu pudesse ter de gritar, em uma eventual necessidade.

Entrei bem atrás dele e ainda pude ver o seu reflexo sumir por dentre os espelhos. No entanto, eu agora cansado e ofegante, só contemplava a mim mesmo em todos os ângulos possíveis. Virei pra vários lados, procurando uma saída até que ouvi uma risada infantil e sombria. Eis que então daria início ao jogo da vida. brincaria comigo até que eu estivesse acabado, insando, debruçado por sobre o chão.

Os espelhos se viraram todos ao mesmo tempo, como se alguém puxasse fios de algum lugar, longe dalí. Revelaram então, sua imagem refletido por inteiro. Ou talvez ele estivesse mesmo de pé bem ali na frente e eu não conseguira diferenciar sua imagem verdadeira dos reflexos. Um pouco mais baixo que eu. Roupas infantis. Me aproximei do espelho mais próximo que devia refletir também a minha imagem, mas que por algum motivo, ignorava a minha existência ali, à frente dele. Contemplei então sua imagem projetada na minha frente. Rosto infantil, doce. Usava uma calça marro. E uma camiseta verde, com as mangas cáqui. Olhar negro e profundo. Me perdi então no seu olhar e sem perceber como e nem porquê, comecei a chorar desesperadamente. Senti como se um golpe poderoso fosse desferido contra meu estômago. Minhas forças vacilaram, as pernas falharam e eu caí, desesperado, sem conseguir levantar e gritando desesperadamente de dor. Como uma criança perdida dos pais. Depois de muito chorar, levantei com algum esforço e tentei lentamente tocar o reflexo na minha frente. E como era de se esperar, os espelhos giraram de novo, revelando um caminho escuro a minha frente, e no fim dele a sombra de uma pessoa a correr. Corrí então de novo atrás dessa estranha figura, mas a cada vez que eu virava, os espelhos viravam também. Ora refletindo o meu semblante assustado com aquela situação, ora apenas um beco escuro, ora sua a visão daquele anjo de olhos negros.

Continuei a correr pelo que me pareceram horas, e nunca conseguia me aproximar do anjo. E nem da saída. Chegava a duvidar se existia mesmo uma forma de sair daquele lugar maldito. Novamente ao chão, molhado de suor e já desesperado, ouví novamente a risada macabra de antes e vi novamente o seu reflexo nos espelhos. A voz vinha do anjo. Ao me disse que estava atras de mim, e quando me virei, fui lançado com força para trás, quebrando um dos espelhos com a força do meu corpo. Quando recuperei a visão, depois de ter batido a cabeça com força. Ouvi a risada novamente e dessa vez todos os outros espelhos se quebraram, deixando uma mar de cacos aos meus pés. Olhei em volta do grande salão escuro então a procurar pelo anjo, e pude vislumbrar sua sombra, no único lugar iluminado na grande sala: a saída.

Comecei a correr em direção à saída, esmagando os estilhaços dos espelhos e sentindo o sangue quente descer pela minha testa e braços, resultado dos muitos cortes. Claro que mal tinha chegado à porta e a imagem do anjo correra novamente. Identifique-o em meio à multidão, e corri, dessa vez fitando o alvo que até então ficava imóvel. Parei ao notar que algo estava ainda mais errado alí. Olhei a minha volta e não reconheci mais o grande parque. O lugar todo parecia ter saltado ainda mais no tempo, viajado por séculos, e se antes parecia velho e mal cuidado, agora era apenas um monte de ruinas aqui e ali, a maior parte enterrada na grossa areia do deserto que obviamente avançara por sobre o parque, engolindo tudo num oceano de secura laranja. Mas a multidão ainda estava ali e o anjo também. Corri novamente atrás dele e quando o alcancei, finalmente consegui fazê-lo se virar pra mim, e querendo ver de novo aqueles profundo olhos escuros, entrei em pânico mais uma vez.

Sua face tinha sumido. Dera lugar ao mesmo rosto que os outros não tinham. Sentí o golpe novamente, dessa vez como uma batuda forte de um martelo de madeira numa superficie fria. Um golpe seco, poderoso. Um golpe do destino. E a risada do demônio ecoou novamente estridente pelos meus ouvidos quando eu acordei do sonho.

Não sabia então diferenciar se estava agora de fato acordado, ou ainda a sonhar. Ou se de fato estava a dormir ainda mais profundamente agora. Mas uma grande angustia se apoderou de mim e me privou de todos os sentidos. Não sentia mais nada de onde estava. Não via nem ouvia nada. Só conseguia imaginar a figura do anjo de olhos negros à minha frente.

De quem se tratava? Era um conhecido? Eu só sentia que sabia quem era, e que deveria voltar pra ele, mesmo que ele fugisse. Mas não o conhecia. Aquele anjo seria alguém de meu passado? Alguém que ainda vou conhecer? Porque fugira de mim? O que todo aquele lugar quis me mostrar e porque o diabo se divertira as minhas custas na Casa dos Espelhos sem que me desse a chance de entender o que acontecera comigo?

Penso agora que o sonho reflita o meu interior. O lugar desconhecido e as pessoas sem face, são fruto da minha falta de expectativa, da confusão de nçao saber onde estou ou o que devo fazer. A casa dos espelhos, a consequência dessa confusão: a loucura. E por fim, a busca pelo anjo de olhos negros, seria uma busca por uma pessoa desconhecida. Ora um alvo específico, ora uma busca desconhecida. Uma cornucópia de convulsões imaginadas por uma alma inflamada de amor. 

terça-feira, 26 de julho de 2016

Do cansaço de todo dia

Parece que a atidez continua a me perseguir... ando estranhamente cansado (fisicamente) nos últimos dias e acho que isso tem se refletido no meu psicólogico. E o psicológico também não está lá essas coisas, mas acho que o físico tem se sobressaido dessa vez. Acho que preciso de dar uma repaginada nos horários... dormir entre 1h e 3h da manhã e acordar por volta do meio dia não é a rotina mais saudável a se seguir. Não que eu seja uma pessoa saudável ou tenha a pretensão de ser, mas também não posso passar pela vida dormindo mal e comendo pior ainda.

Ah... passar pela vida. Hoje cheguei a conclusão de que meu objetivo na vida é achar um lugar pra sentar porque olha, não tem sido fácil. Mas penso que quando as aulas da pós graduação começarem isso mude, pois ai eu realmente vou ter de cumprir uma rotina mais correta pra conseguir dar conta do fluxo de matérias de forma decente. 

No mais, tirando as traumatizantes aulas de direção que continuam me tirando a paciência, tudo corre tranquilamente... mas, assim como um rio também pode correr silenciosamente até suas águas se precipitarem cachoeira abaixo, eu aprendi a não me conformar muito com isso. E esse estado de privação dos sentido tem acabado comigo. Me sinto vazio, seco. Penso até que estou só a experimentar a minha real essência, e que os meses que se passaram na verdade foram só uma onda criativa que me presenteou com algumas poucas palavras acertadas. Claro, algumas imagens metais tem se formado aqui e ali, mas só são devaneios rápidos, lapsos de pensamentos que até poderiam render algo mais, mas que não consigo aprofundar. Então, tenho me esforçado ao máximo pra extrair algo de minha mente retraída. 

Há alguns minutos mesmo, me passou a mente aquela imagem sobre a qual escrevi muitas semanas atrás no post sobre Um Martini com Coleman Hawkins e que me foi muito agradável. Particularmente gosto muito de simplesmente apreciar uma boa bebida enquanto aprecio uma boa música. Vario muito em ambos. Hoje no caso, estou a encher minhas veias com o açúcar de um guaraná Jesus (meu refrigerante favorito aliás, deixo claro) e alguns albuns da Crystal Kay que baixei na noite passada. Baita arrependimento aliás, ter esperado tanto assim pra ouvir a discografia completa dessa que eu considero uma das vozes mais belas que já tive o prazer de apreciar. 

Penso ser esse sempre um bom exercício, depois de um dia cansativo, e espero conseguir levá-lo comigo por um bom tempo. Ao invés das muitas informações ultracoloridas e bagunçadas que as redes sociais nos oferecem, uma música e algo pra divertir o paladar continuam sendo uma alternativa bem mais prazerosa. Acredito ainda que o poder terapêutico da musica tenha seus efeitos ampliados quando apreciada corretamente, dessa forma. O mesmo serve para o paladar. Estamos sempre tão apressados e afoitos correndo pela vida que não sabemos dar um tempo e respirar. E nem nos damos conta que a rotina, se não administrada corretamente, pode ser um terrível dreno de toda e qualquer disposição. Logo nos tornamos pessoas tristes, vazias e completamente estressadas com a vida. 

Levantamos cedo, nos arrumamos rapidamente porque já explodimos a quantidade de sono que poderíamos ter. Trabalhamos e/ou estudamos durante todo o dia até a exaustão. Voltamos para casa em tranportes públicos quentes, apertados e bem mal frequentados ou encaramos um trânsito lento e igualmente extressante enquando nos ensurdecemos com o som dos carros. Chegamos em casa cansados, preparamos algo rápido pra comer e o fazemos as pressas. Tomamos banho pra tirar o suor do corpo e sentamos na sala pra esperar o sono bater e urrar por entre as vinhetas das novelas, enquando nos dedicamos a olhar as redes sociais até a exaustão. Quando temos um fim de semana pra descansar ou feriado prolongado, logo nos impomos uma série de limites ao lazer pra impedirem o nosso cansaço, a fim de termos mais disposição pra trabalhar no dia seguinte. E não a temos. A disposição não vem, e sabe o motivo? 

O viver a vida está no ordinário do cotidiano. Está no fazer as pequenas coisas concentrando nelas a atenção devida e assim extrair dela o que há de melhor. Por exemplo, um simples banho depois de um dia puxado pode simplesmente relaxar mais do que qualquer fim de semana. Mas não damos atenção a ele pois nossa mente ainda está mil pensando no que há pra fazer, nas contas há se pagar e no descanso que nunca chega. Esquecemos de fechar os olhos por alguns instantes e sentir a água quente cair em nossas costas, lavando não só o corpo mas também a alma. 

Deveríamos comer com mais calma e ter mais atenção no que e como comemos. Não digo que deveriamos dar lugar a uma dieta exclusivamente saudável, cheia de folhas e fibras até porque eu detesto comer mato. Mas sim que deveriamos priorizar o prazer desse momento, ao invés de comer apenas por estar com fome. Apreciar com cuidado o sabor, as texturas e o perfume que vem dos alimentos. 

O mesmo digo do nosso momento de descanso. O mesmo deveria ter um ritual, pois é nosso momento mais pessoal. Uma boa musica, um ambiente limpo, perfumado, agradável e aconchegante. Pequenas coisas que fazem toda a diferença. Deitar e ouvir uma boa música acompanhada de um vinho antes de dormir pode ser muito mais relaxante do que simplesmente se jogar na cama ou no sofá e se entregar a exaustão.

Por fim, acredito que deveríamos filtrar mais as muitas informações que o mundo nos obriga a processar diariamente. Exercitar-se para esquecer o trivial e dispensável e apenas permanecer com o que nos faz bem também pode ser uma boa pedida. O ponto principal é aprender a abstrair do mundo o que ele nos oferece de melhor, e não deixar que a rotina do cotidiano nos esmague. Porque ela o fará. Tão logo a gente se esqueça do que é realmente importante, seremos pessoas andando por ai e trabalhando diariamente vivendo apenas no famoso modo automático, que drena nossas forças de forma absurda e ainda nos impede de adquirir novas. Claro, não me atrevo a dizer que isso funciona pra todos, mas é como eu tento viver. Quando se tem um corpo frágil e delicado, assolado por várias doenças e um tratamento farmacêutico permanente que suga todas as forças na esperança de apenas me manter vivo, é isso que se aprende, a apreciar as pequenas coisas do dia a dia. 

Nossos sentimento merecem aqui um destaque especial. Muitas vezes damos as nossas vidas pessoais apenas o 2° plano, em detrimento da horrível mania que adquirimos de trabalhar pra pagar contas, ao invés de viver também no trabalho. Claro, fazer isso sendo obrigado é extremamente chato, mas não deveria ser. Os negócios teriam bem mais progresso se os funcionários executassem seu serviço de bom grado, ao invés da infelicidade generalizada que assola nossa população. E acho que parte desse quadro lamentável se deve a essa prática desumana que é esquecer a vida em função de um não sei quem que paga o meu salário. Falar isso é fácil quando se é sustentado pelos pais e nunca trabalhou de fato num serviço fisicamente exigente. Mas o que vejo enquanto caminho pelas ruas são pessoas que se esqueceram de amar, e o que pode ser ainda pior, esqueceram de se amar. Destruiram suas vidas tentando conquistador algo, e nas poucas vezes que alguém consegue conquistar algo, simplesmente não vive o suficiente pra aproveitar. 

Temos de viver o hoje, o agora, com a máxima intensidade possível. Que se dane se no dia seguinte a ressaca se prender a nossa roupa, ou se o sono atrasar nossa resposta motora, se na noite anterior eu pude ser feliz isso é o que importa. Não podemos permitir que o mundo sugue nossa vida enquanto tentamos justamente conseguir viver. Não faz sentido. 

O amor, a amizade, devem ser cultivados no centro de nossas preocupações. Ora, de que vale matar-se de trabalhar e estudar pra se ter um grande futuro, se quando esse futuro chegar eu vou estar triste demais por não ter vivido e nem sequer vou conseguir começar a viver porque ainda tem mais coisa a se conquistar? E quando eu finalmente estiver satisfeito com as minhas conquistas, já é hora de passar deste mundo para a eternidade e eu não pude apreciar de nada os frutos do meu esforço? 

Lógico, ainda muito novo pra finalizar algo complexo como esse assunto, mas por hora, são as impressões que tenho de um mundo que tem pressa pra ganhar dinheiro, mas que não tem pressa de viver a vida que passa bem em frente aos nossos olhos.

Por uma vida com mais vinho, com mais musica, e com mais amor, por favor!

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Sorriso bobo

Pelo título já é possível imaginar o sorriso largo com que escrevo nesse final de tarde... A segunda é um dia odiada a nível internacional, e assim como a raposa fica contente desde as 3h da tarde porque o Pequeno Príncipe vai vir às 4h, também os brasileiros já entristecem pelo primeiro dia da semana desde que a mesma começa a uivar por entre as vinhetas do Fantático, na noite de domingo. Mas não pra mim, e não hoje, especialmente. 

Qualquer pessoa que me conheça ou que já tenha lido mais de 2 postagens aqui sabe dizer que eu adoro reclamar, até quando está bom eu reclamo, é mais uma diversão do que incômodo mesmo. Então eu posso dar a impressão de estar sempre de mal humor ou pior, de não estar feliz. Claro, as vezes estou realmente bem infeliz e com péssimo humor, mas na maior parte das vezes não. Na verdade, a maior parte do tempo só estou num estado intermediário de interesse na vida que eu costumo chamar de "Sei lá". E é assim que eu estou a maior parte do tempo, sei lá.

No entanto, algumas vezes isso muda lentamente e eu acabo indo me sentar num dos cantos extremos desses octógono sentimental que é a vida de uma pessoa regida pelos hormônios, vulgo homem. E como é bom ocupar o canto iluminado pela doce luz do sol pra variar. Bom estar tranquilo, e olhar pela janela e não enxergar uma cena triste, mas contemplar a doce paisagem do dia enquanto a forte claridade se reflete no verde das folhas e dá alegria ás cores das flores. O canto dos pássaros ao longe e a brisa delicada que bate na janela se encarregam da trilha sonora desse momento, através de uma delicada sonata da natureza.

O motivo dessa poesia toda em plena segunda, quando todos estão fartos de seus chefes e tendo de conciliar as responsabilidades do trabalho com a ressaca do fim de semana? Bom, as surpresas que a vida nos reserva tem esse brilho especial e essa capacidade de nos fazer rir e ver a vida com um tom mais cor de rosa. Como eu não gosto de rosa, o tom que eu to vendo é verde fluorescente, porque sim. 

O destino tem dessas coisas. Por vezes nos permite entrar por beco escuros e caminhar por estradas tristes e cinzas, mas quando menos esperamos, sentimos o brilho das cores bem à nossa frente. Esses momentos nos fazem acreditar novamente na esperança e fazem a vida valer a pena. Como sempre digo, não é necessário muita coisa pra fazer de um dia um grande dia, mas apenas um sorriso sincero e uma companhia pra uma boa conversa por entre alguns quarteirões já fazem valer a pena de viver. 

Engraçado notar como então se pinta à nossa frente o quadro de nossas vidas. Mesmo que as tintas sejam de tons escuros e tristes, basta que um outro artista nos apoie com sua opinião pra vermos que a tela monótona e deprimente se transforma num quadro claro e cheio de vida, capaz de aquecer o coração dos que o observam. E essa é exatamente o poder que adquirimos ao assumir essa felicidade. Qualquer um que nos observe é também contagiado por esse sentimento puro e também pode passar adiante essa felicidade. Muito interessante notar como as melhores coisas da vida não foram feitas para serem apreciadas sozinhas. Até mesmo dormir é mais prezeroso ao lado de quem se ama, que e poderá dizer então de outros prazeres que a vida nos oferece.

O inesperado se desabrocha então à nossa frente como uma bela rosa vermelha, que bem cuidada, se manterá com sua beleza radiante e quando se for, apenas o fará para abrir espaço para que outras rosas, ainda mais belas que ela, se abram em seu lugar. E então até mesmo eu, que até poucos dias caminhava por um beco sem luz e ra oprimido por suas paredes altas e frias, agora desfruto da bela visão desse jardim. E partindo então desse jardim, passo a contemplar novamente também a visão que tive na última madrugada, enquando ouvi música e conversava, tendo no rosto o sorriso mais bobo de todos.

Estava numa praia, e por ser minha única referência, me remeti à viagem que fiz até Maceió, anos atrás. E nessa praia, era noite, importante ressaltar, eu podia contemplar a grandeza da beleza da natureza. Ver o mar pela primeira vez é emocionante e eu fiquei tão empolgado que ficava saindo do hotel de madrugada pra olhar essa visão tão espantosa. E lá eu fiquei, andando pela orla, com os pés ora dentro da água, ora apenas pisando sob a areia quentinha, aquecida pela água morna da noite. E a visão era sublime pra todos os sentidos. A espuma da água fazia carinho nas minhas pernas, meus olhos contemplavam a luz dos prédios se refletirem no mar em contraste com o brilho da brilhante lua que reinava gloriosa nos pés. Podia ouvir musica calma aqui e ali, aquelas típicas de estabelecimentos noturnos mais familiares e românticos, MPB em sua maioria. Sentia também a brisa fresca do mar tocar meus cabelos e fazer cócegas no meu nariz. Já tinha mes esquecido dessa visão, que adormecera na minha mente, ofuscada pelo tempo que se passou. Me lembro agora o quanto eu desejei ter aquela visão pra sempre. Poder viver ali e contemplar aquela beleza toda vez que sentir vontade. Sim, sinto que poderia passar a noite inteira a contemplá-la e nunca iria me cansar.

Ontem tive o resgate dessa memória tão preciosa, mas ela também se renovou, pois ao mesmo tempo que eu me recordava de algo que se passou realmente, me via desejar uma nova experiência, dessa vez não sozinho. Encaro estas experiências, a viajem e a de ontem a noite, como algumas destas surpresas da vida e que me fazem ainda crer na felicidade. Claro, não poderia também falar dessas experiências e ignorar a situação que me permitiu vivê-las. No entanto, aquilo que não é dito também fica protegido e acho que a pessoa que me levou a sorrir assim merece ficar guardada em meu peito, pelo menos até as coisas definirem seus rumos. Por hora, me contento em partilhar essas experiências, que sem dúvida, tornaram a noite de ontem, uma das mais especiais que tive em muito tempo.

Por fim, penso nas consequências das mesmas: o sorriso que agora estampa minha face corada. Vejo o sorriso como sendo uma manifestação exterior do afeto que transborda da alma. O riso de verdade, aquele dado com gosto, é belo mesmo quando quem sorrí não o é, e exatamente por isso é que ele é como um medidor da felicidade, quanto maior a alegria, maior o sorriro e consequentemente, mais bonito e contagioso. 

sábado, 23 de julho de 2016

Verdades

A vida é realmente uma constante de icógnitas que tentamos em vão decifrar e quanto mais mergulhamos nesse mistério, mais percebemos que nem sequer começamos a arranhar a sua superfície.

Novamente, me remeto ao discutível capitulo final de NGE, onde ouvimos que "existem tantas verdades quanto existem pessoas." eu penso que isso é apenas a superficie do problema. Não é nem questão de dizer que cada pessoa tenha a sua própria verdade, mas dizer que uma mesma pessoa pode reconhecer diferentes verdades e que essas verdades estão em constantes mudanças, e que vão construindo novas verdades e moldando a pessoa em questão, se transformando em sua verdade absoluta, que antes de tudo não é imóvel, apesar de receber o nome de absoluta, mas que é constamente maleável e está num constante estado de metamorfose. 

Não significa que estou dizendo que o mundo não contenha em si uma verdade absoluta, imutável, mas só que ela é inacessível as pessoas justamente por só conseguirmos processar uma quantidade muito pequena de verdades, que formam as nossas verdades particulares. 

Se alguém nos diz desde pequenos que tempo quente é bom, é assim que vamos crescer, pensando que o calor é o melhor. Mas se nesse meio tempo tivermos contato com uma opinião contrária, dizendo que o frio é melhor, temos aqui um impasse. E como então chegamos a conclusão de que frio ou calor é melhor? Bom, penso eu que vários são os caminhos que nossa mente pode percorrer para chegar a uma conclusão e assim formular uma verdade. Podemos nos embasar em qual clima tivemos uma experiência mais agradável. Qual das duas pessoas que opinaram sobre o clima tem nossa maior confiança. Qual a impressão mais forte... Enfim, infinitas são as possibilidades, como infinitas são as respostas.

Da mesma forma são nossos sentimentos. Se apresentam numa infinidade de pessoas de forma completamente diferentes. Me divirto vendo como as pessoas reagem as mais diversas situações. E me incluo nessas observações, quando paro pra pensar nas reações e decisões que eu mesmo tomei e o que me motivou a isso. Por exemplo, conheço pessoas completamente aversas a todo e qualquer tipo de apego ou sentimento, tamanha foi a decepção, ou decepções, que sofreu. Da mesma forma, vejo pessoas, Eu, que mesmo tendo a pior de todas as sortes no amor, continuam correndo atrás e se metendo em situações inusitadas atrás da pessoa tão almejada. Parece até enredo de filme da sessão da tarde, baseado naqueles livros feitos pra mulheres de meia idade que nunca se casaram sonharem com o grande amor. 

Algumas surpresas no caminho também costumam ser decisivas nessas mudanças de perspectiva. Muito interessante notar como as coisas que ocupavam nossa mente como prioridades anos atrás, hoje não passam de fantasmas do passado, quase sem nenhuma importância além do fato de já terem sido importantes. Como costumam dizer os mais velhos, quando as coisas dos jovens já não os atraem mais e que agora os seus olhos só se voltam para a vida de verdade. Talvez isso signifique que a medida que crescemos, adquirimos sabedoria, e por isso conseguimos uma visão mais ampla da vida e com isso conseguimos desenvolver uma espécie de foco, ou um filtro, que nos ajuda a selecionar as coisa de fato importantes na vida, e as pessoas também. 

Essas são as que passam com mais facilidade. A dor do término do namoro, por exemplo, embora ainda exista e ainda se inflame as vezes, já não dói tanto quando antes e eu cheguei a pensar que nunca passaria. Imaturidade a minha de pensar daquela maneira. Mas as pessoas passam. Elas vem e vão o tempo todo, e é inútil a gente se aborrecer por isso. Mais maduro é aceitar, que algumas pessoas estarão sempre aqui, mas não se culpar quando a maioria delas se for, por sua culpa ou não... Até porque, como um luz no fim do túnel, ou como se a vida nos desse uma segunda chance, pra cada pessoa que se vai, espaço se abre pra que outra ocupe seu lugar. Não estou dizendo que todos são superficiais a ponto de serem logo substituidos, mas que ninguém é eterno a ponto de nunca poder ser substituído. 

"Existem tantas verdades quanto existem pessoas." e se as verdade são mutáveis junto as pessoas, as pessoas podem sim, serem substiuidas por outras, assim como substituimos as verdades por outras que nos parecem mais verdadeiras.

De conexões e obras primas

Starry Night de Vincent Van Gogh
E parece que a onde de aridez criativa que me assolou na última semana permanece comigo. E ontem, enquanto lutava contra meus próprios impulsos de simplesmente ir dormir, eu percebi uma coisa que ainda não tinha me dado conta.

Já há um bom tempo eu venho falando o quanto desejo que as pessoas fossem capazes de alcançar o coração umas das outras e como isso poderia melhorar o nosso relacionamento com o próximo e como isso faria do mundo um lugar melhor, um pequeno trecho da minha visão utópica, ou distópica, de uma futura humanidade melhorada, complementada. Esse assunto já está inclusive bastante esgotado por aqui, penso eu. No entanto, um novo prisma se abriu ontem à minha mente, e que pode me oferecer um novo ponto de vista acerca de nossa consciência, do nosso próprio eu e o do próximo.

Primeiramente, nos últimos dias tenho experimentado uma onda de aridez tremenda. Em muitos sentidos, inclusive, criativa, espiritual... Enfim. Provavelmente seja um efeito da leitura de São João da Cruz que tenho realizado nos últimos dias. Até porque, todas as outras vezes que me aventurei pela mística sanjuanista eu experimentei sentimentos semelhantes. Acontece que as palavras do Doutor Místico tem quase que o poder de nos tranportar, ainda que num sentido bem menor, a Noite Escura da alma de que trata o santo em seus escritos. Qualquer que seja o motivo, a privação dos sentidos é algo assustador e deveras doloroso de suportar. Dando seguimento, o que tem se sucedido é o seguinte: não tenho experimentado um vazio dos sentidos a ponto de não ter o que escrever, muito pelo contrário, mas na verdade experimentado um vazio que simplesmente não me permitia escrever, é como se as palavras simplesmente fugissem de minha mente simplesmente ao pensar em começar a escrever e aí me surgiu o insight: Não conseguimos por vezes sequer alcançar nosso próprio coração! 

A conclusão a que cheguei foi a seguinte: Meus sentimentos estavam ali, não poderiam ter simplesmente sumido ou adormecidos, estava ali, mas por causa de uma série de fatores, entre eles a Noite Escura, a aridez e a crise criativa, me impediram de alcançar meu próprios sentimentos, e isso faria com as palavras que por ventura saíssem de mim fossem completamente vazia de sentido e significado. Como acho que foi o caso do último post, onde meu esforço é notável e risível, e mesmo depois de muito tempo só consegui expressar uma série de fragmentos sem o mínimo sentido.

Isso também me fez pensar acerca da limitação que as palavras nos dão. Creio que a língua uma arte limitada, assim como também o éa pintura, quando o artista, por mais que tente não consegue a perspectiva desejada para expressar determinado aspecto de sua alma. Penso eu que talvez a música seja a que mais ofereça liberdade a expressão dos afetos da alma, mas ainda assim, sem o conhecimento necessário também pode se tornar um fracasso. Por fracasso aqui, não penso em obras que não despertem o meu interesse, até porque o interesse tem caráter estético que é muito particular, logo, a mais bela canção do mundo pra mim pode não passar de barulho para o meu próximo e assim também com as palavras, o melhor livro de poesia do mundo nas mãos de alguém que não entende nem se interessa pela arte dos poetas não passaria de um amontoado de palavras deconexas vazias de sentido. Quando pensm em fracasso, penso no sentimento de vazio ao olhar para uma página repleta de palavras e ver que o que ali se encontra não passa de uma tentativa infantil de expressão e que jamais pdoeria expressar com exatidão a alma do escritor. Assim como, mesmo por mais espiritualizado com o sentido da obra que eu esteja, a interpretação de determinada peça do repertório erudito sempre vai ser poluída por traços da minha personalidade a realidade daquele instante, ou seja: nunca será possível reconstruir assim a consciência de alguém apenas através de sua obra, pois como já disse, as artes tem sua limitação. 

Um outro aspecto também merece atenção por um breve instante: não estou apontando no entanto, o fato de as artes serem limitadas, como se algum dia eu pudesse ousar afirmar que a música ou a sejam imperfeitas. Mas então porque não conseguimos chegar a totalidade da expressão? Acredito que podemos sim chegar a essa totalidade, e chego a essa conclusão ao contemplar obras onde é possível sentir as vibrações da alma de seu criador, ainda que o mesmo já esteja morto à seculos. Mas isso não acontece sempre. Funciona mais ou menos como uma turnê de uma companhia de balé que vá apresentar uma peça de cunho romântico e, na segunda noité após a estreia, a estrela principal seja abatia por forte aridez, motivada ou não por fatores externos ligados direta ou indiretamente a sua apresentação, mas que o seja, de fato. Por mais que se esforce, não conseguirá a melhor apresentação porque ainda que seu corpo esteja de fato dando o seu melhor, sua mente e se coração estão desconectados. No entanto, antes do término da mesma turnê, algo se sucede e a mesma recupera o seu estímulo perdido, e na noute seguinte, realiza a melhor apresentação de sua vida. Ainda que exteriormente a apresentação tenha sido muito próxima de todas as outras, realizadas com o espirito abatido, o que difere esta das demais é justamente a conexão que estava completa. Todas as harmonias estavam combinadas, mente, corpo e espirito, que aqui eu também chamo de coração, estavam conectadas fazendo dessa a melhor performance. O mesmo ocorre portanto nas outras artes.

A própria expressão de Arte me chama a atenção para essa ligação, pois penso que todas estão intimamene ligadas, e ainda que em todas as pessoas se encontrem a preferência por essa ou aquela expressão artistica e que as formas de se expressar e de alcançar sejam tão variadas quanto as pessoas na terra. Mas nem todas conseguem sempre conexão dentro de si mesmas afim de conseguirem a famosa "obra de suas vidas". Essas obras que nos são passadas de geração em geração são então frutos dessas conexões tão raras de se acontecer. E se conectar-se a si mesmo já é algo tão raro que quando acontece é lembrado pela longa posteridade, conectar-se ao outro é ainda mais difícil e complicado. Pois ao passo que há que se manter essa conexão sempre ligada, a nossa conexão interior também estar sempre a funcionar perfeitamente, do contrário ambas são quebradas e por vezes, interrompidas de modo irremediável. 

As muitas tranformações a que somos submetidos então diariamente tem papel fundamental na formação dessas conexões, e os sentimentos e momentos de privação sensorial nem sempre são de todo ruins. Ora, Rachmaninoff passou por um colapso nervoso antes de se recuperar e compor a sua obra prima, seu Concerto N° 2, e ainda assim, quem é capaz de imaginar o quanto sua alma estava destruída durante esse período? Ou o quanto Tchaikovsky estava debilitado ao escrever sua própria obra póstuma, sua Patética? Esses momentos portanto foram de cruciam importância na concepção dessas idílicas peças e não significaram o fim de suas conexões, muito pelo contrário, apenas se recolheram para conectarem-se melhor. Como o famoso jargão da medicina homeopática que diz que antes de melhorar, temos de piorar e assim conseguir alcançar a cura. 

Essa recessão das conexões é então necessária ao seu restabelecimento e crescimento, penso eu, e não significam que devem ser vistas de forma ruim, mas apenas como períodos onde as ideias se escondem e se reunem, apenas para retornarem ainda mais fortes.

Por fim, isso só deixa claro o quanto estamos distantes de conseguir dominar completamente os potenciais da mente humana e como somos tolos em imaginar que podemos impor limites a mente do outro, o controlando ou o modificando. Pois a mente é formada por essas conexões deveras complexas de se entender e controlar em nós mesmos e quase impossível de se controlar no outro. O que não significa que seja impossível. Mas penso eu que, se alguém fosse realmente capaz de estar o tempo todo conectado consigo mesmo e com o próximo, o quanto de amor essa pessoa seria capaz de expressar e será que sua vida seria sua própria obra prima? 

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Dopada candura

Alguns dias sem postar... culpa da preguiça, essa novinha sem coração que te conquista na porta da escola só pra sulgar seu dinheiro e a disposição que você já não tem, e também da falta de criatividade, essa novinha igualmente sem coração que te deu um golpe em parceria com a primeira novinha. O lado bom da preguiça é que é um pecado que nos impede de cometer outros pecados. Por preguiça. Vida que segue. 

A verdade é nos últimos dias eu estou realmente sem inspiração pra escrever. Também, depois de quase dois meses ininterruptos, era de se esperar que uma hora a fonte iria se esgotar; Ou talvez seja só uma aridez temporária, sempre é, afinal, em se tratando de minha pessoa, a bed nunca se afasta por muito tempo, e ela só se afastou agora pra deixar espaço pra minha crise respiratória se achegar mais um pouquinho. Hmm, delícia, aridez e alergia... Menino de sorte não é mesmo?

No entanto, acho que pelo menos brevemente alguma coisa eu consigo extrair de minha mente nesta noite nebulosa de sexta. Meus momentos de dopada candura sempre me geram engraçadas reflexões acerca de acontecimentos passados, muitas vezes reflexões essas motivadas, óbvio, pelos efeitos dos remédios que eu tomo junto com os remédios de alergia, asma e semelhantes. 

Ontem mesmo, enquanto ouvia umas músicas sugeridas por um amigo no WhatsApp, e curtia a lombra de um coquetel que nem me lembro mais o que que tinha, e terminava de ver mais alguns episódios de um anime, eu comecei a pensar: eu virei um personagem de anime yaoi?

Calma, não to dizendo que eu virei um tarado desesperado que coloca os interesses sensuais acima de qualquer coisa. Ou talvez esteja... Enfim, é que eu notei alguns aspectos nesses personagens que são muito semelhantes com esse que vos escreve. 

Quando falo em yaoi, eu penso naqueles que vi mais recentemente... Junjou Romantica, Sekai-ichi Hatsukoi, Super Lovers e Love Stage... não necessariamente nessa ordem. Mais especificamente eu estava vendo Super Lovers, um anime recente e que eu simplesmente amei desde o primeiro episódio. Antes de falar a respeito, uma pequena sinopse: Logo no começo, o japonês Haru, ao visitar a mãe biológica no Canadá, acabe se apegando ao garotinho de quem ela cuidava, o pequeno e estranho Ren, e alguns anos depois de voltar ao Japão, ele descobre que o pequeno garoto foi adotado também por seus pais adotivos que morreram no acidente, entao Haru é agora responsável pelo menino de passado desconhecido. Embora a diferença de idade seja até grande, o sentimento de proteção do mais velho logo se torna maior que apenas cuidado por seu irmão. Até o final da 1° temporada, que tem apenas 10 episódios, vemos o carinho de Haru pelo irmãozinho se desenvolvendo em um romance, e sendo correspondido pelo pequeno, o que é simplesmente muito fofo de se ver. 

Deixando de lado os meus óbvios problemas pra escolher anime, uma coisa que sempre me deixou fascinado em todas essas obras, foi o cuidado extremo de um pelo outro. A importância que um dá ao outro, na maioria das vezes levando a extremos de auto abandono, em detrimento do amado é impressionante, e deveras, inspirador. 

O fato é que, eu sempre me vi desse jeito meio exagerado de demonstrar carinho e afeto. Claro, isso significa também que eu tenha de ser hiper mega trouxa em 99% das situações, mas faz parte... Entretato, mesmo que eu seja taxado de bobo por mim mesmo e que muitas vezes se aproveitem dessa minha caracteristica pra tirar vantagem de mim, isso é um defeito das outras pessoas, não meu, o que significa que essas situações não vão mudar quem eu sou de verdade. Obviamente a gente vai ficando um pouco mais experiente conforme as coisas vão se revelando, mas de qualquer forma, a essência continua.

O que estou querendo dizer é que, pessoas carinhosas as vezes são confundidas. São usadas e muitas vezes mal compreendidas. Eu mesmo spu interpretado como tarado muitas vezes, quando na verdade só estou carente querendo dormir de conchinha e comer brigadeiro de colher com mozão. Só isso, mas as pessoas acham que na verdade eu sou um bobo que pagaria qualquer coisa pra sustentar um macho que de fato não está nem ai pra mim. E estou mesmo.

Na minha nada humilde opinião então, o sentimento verdadeiro é expressoa através do carinho e do afeto para com o amado. Não basta dizer "Eu te amo", muito embora também não seja necessário grandes demonstrações publicas de amor, mas o sentimento verdadeiro é expresso em ações pequenas, simples e as vezes até bobas, mas de um significado gigantesco.

Acho que amar de verdade é isso. Não é ser grandioso em tudo o que faz, mas saber demonstrar a totalidade desse sentimento nas mínimas coisas. Quem ama, consegue amar pelo olhar, pelo sorriso, pela forma de conversar e abraçar. Claro, não se ama só com isso, tem também a compreensão, o companheirismo e muitas outras coisas que não são necessérias de enumerar, mas acredito que o principal do amor seja a sua forma tão simples e tão pura de se demonstrar.

Talvez por esse motivo eu seja um apreciador tão fiel do chamado amor platônico. Já que em sua concepção, ele não se referia só ao amor não correspondido, como é aplicado hoje em dia, mas sim falava do amor em seu estado mais puro e nobre. E nesse caso, acho que o amor se expressa melhor sendo puro, desinteressado. Mesmo que não receba nada em troca ele aida está lá, emanando do mesmo coração como se não precisasse de um amor em troca também.

O amor em si é complicado, pois as pessoas dificilmente querer dar, mas apenas receber, quando na verdade, amar é doar-se sem pedir em troca, e quando esse sentimento é forte o suficiente, ele toca o coração da outra pessoa, que também começa a amar, e assim, como num círculo, os amantes se amam até o fim!

Apelo então pra esse amor que vejo nos animes, puro, que se doa sem pedir nada em troca, e que é capaz das maiores demonstrações até nas menores situações, Por um amor de verdade, um amor sonhador, um amor que acredite na esperança, e não um amor que já tenha se perdido em mágoas e tristezas. Um amor imortal, forte e inabalável como a rocha, mas puro como a água de uma fonte cristalina, tocada delicadamente por uma pequena e colorida borboleta, que mesmo fazendo uma pequena ondulação na superficie, a mesma volta a seu estado inicial de pureza que volta a conquistar a borboleta.

Por isso o amor é também contraditório. Pois ao mesmo tempo que abrase e aquece como uma chama queimando num ímpeto de ardor e calor, também acalma como uma brisa leve ou como as águas de uma rio, que correm lentamente rumo ao seu destino. O amor tem dessas coisas, se mostra nos lugares mais improváveis e sob as mais diferentes formas.

Acredito que esse tenha sido o post mais viajado dos últimos meses, não deve fazer o menor sentido, mas faz jus ao nome e a intenção do Blog, que é justamente expressar esse monte de pensamentos desconexos dentro de mim. Essa é a minha mensagem de hoje, movida pelo charme de minha dopada candura, que possamos amar, sim de verdade e com toda a nossa força, mas que saibamos demonstrar o nosso amor na delicadeza de um olhar e que saibamos reconhecê-lo também, no bater de asas de uma borboleta. 

terça-feira, 19 de julho de 2016

A História de Uma Rosa

Cícero disse que "Não há nada mais gratificante do que o afeto correspondido, nada mais perfeito do que a reciprocidade de gostos e a troca de atenções" e bem, pelo pouco que eu conheço da vida, me arrisco em dizer que ele está coberto de razão. Passamos pelo mundo então em busca dessa reciprocidade, em busca de alguém em que possamos tocar à alma e o coração, bem como alguém que toque nossa alma e nosso coração. 

Começo então essa postagem de início de noite de terça a refletir sobre alguns dos afetos da alma e do coração. Ao som da obra que exprime com maestria a alma de quem a compôs: a fabulosa Nona Sinfonia de Beethoven. Dispensa maiores comentários, claro, mas com certeza as falas de hoje serão dosadas de acordo com os andamentos dessa que é provavelmente a maior de todas as obras musicais de todos os tempos. Nas palavras do último anjo de NGE, "A música é a mais alta realização da cultura humana." Concordo. Pois bem, passemos aos afetos.

Quando penso em sentimentos, eu quase sempre imagino uma roseira a crescer num jardim, ao lado de uma pequena casa porém confortável casa de madeira num bosque. Rodeada então de plantas belas e com as mais variadas tonalidades de verde, a roseira cresce tímida em meios as grandiosas arvores que se erguem ao redor da residência e se perde em meio as pequeninas e coloridas flores que cobrem o chão das clareiras em tons de um amarelo vivo, um branco delicado e tantos outros tons que transmitem calma e alegria ao sentidos. A roseira então sentindo-se deslocada em meio a tantas belas criaturas se rodeia de espinhos, para evitar que qualquer um se aproxime dela, temendo que lhe arranquem por pensar que é apenas um arbusto grosseiro que ali cresceu sem ser plantada. De fato, não pertence aquele lugar, mas fora ali deixada pelo vento. 

As outras plantinhas então, não se aproximam da pequena roseira, pois temem que seus espinhos machuquem suas próprias flores, tão delicadas e tão importantes para a beleza natural do lugar, que enchia os olhos dos moradores que ali viviam. A roseira então se destaca em meio as outras plantas à medida que vai crescendo, e seus espinhos se multiplicando, mas a distância com as demais plantas lhe entristece e ela sente que não faz parte do jardim, mesmo estando ali, contra sua vontade. Ela então observa as tantas cores que a rodeiam. Flores rosas, roxas, amarelas, brancas, de todas as cores, e tudo que ela tem são suas folhas e espinhos que em nada chamam a atenção, visto que de verde o bosque está completo. 

A roseira decide então reunir aquilo que ela tem de mais profundo em si. Ela junta a saudade da terra onde estava sua família de rosas. E ao se recordar do lugar onde estavam antes plantados, um roseiral, ela se recorda que também tem algo a oferecer àquele jardim. Reunindo então todas as suas forças e vontades, em seu galho mais alto surge um pequeno botão. As outras plantas se perguntam se aquela arvorezinha espinhenta seria capaz de dar algo além de espinhos e folhas ásperas. E qual não é sua surpresa ao ver que num belo dia de sol, onde os pássaros cantam alegremente a roseira desponta com o desabrochar da mais bela de todas as flores: A Rosa. Mesmo com seu caule espinhento e suas folhas ásperas de medo pelo jardim desconhecido, a Rosa reuniu os afetos mais profundos de sua alma, os sentimentos de querer fazer parte da família daquele belo jardim, e deu a ele o seu melhor. Uma flor como nenhuma outra havia sido plantada ali. Com suas pétalas macias e delicadas, de um vermelho vivo que se destacava em meio as outras flores mesmo à distância e que exalava um doce perfume, que preenchia o coração dos moradores que por ali passavam, depois de um dia cansativo de trabalho, se renovando de energia somente em vislumbrar a beleza daquela Rosa que surgira ali.

As outras plantas que antes evitavam a roseira e temiam lançar-se próximas de seus espinhos agora cresciam vistosamente ao seu redor num composição colorida única, fazendo daquele jardim o mais belo de todos os jardins, com flores de todas as cores e tamanhos e uma única Rosa Vermelha, da cor do sangue mais carmesim, reinando gloriosa em seu meio. Até mesmo as árvores, grandes e imponentes, que só permitiam a passagem da luz do sol necessária ao crescimento saudável de todo o jardim, reverenciavam à beleza da Rosa e deram as suas próprias folhas um verde ainda mais vivo, animados pela nova moradora. Aquela pequena rosinha, que antes se sentia triste, sozinha e deslocada, agora estava rodeada de amigos que a amavam.

Um certo dia então, qual foi a surpresa de todos no jardim, um jovem que por ali passava se deteve em frente ao jardim, e com os olhos marejados de lágrimas, adentrou o mesmo, pisoteando muitas das pequenas flores em direção a roseira, e sem se preocupar com os espinhos, arrancou a Rosa de lá. Tão logo o jovem desapareceu no horizonte com a mais bela das flores que um dia nascera naquele jardim, o mesmo foi tomado por uma súbita tristeza. Todas as flores, em sinal de companheirismo a jovem rosa, deixaram que suas pétalas caíssem ao chão e até as arvores foram tomadas de um verde triste e frio. A roseira, sentia muito a perda de sua única rosa, e sentia ainda mais ao ver que até suas companheiras haviam perdido suas belas cores. E novamente se recordou do antigo roseiral onde vivia, e reunindo novamente todos os afetos que tinha dentro de si, ela fez brotar inúmeros botões. Caiu a noite, e todas as plantas dormiam tristemente, enquanto a roseira apenas se concentrava em trazer seus sentimentos à tona. Pensava ela então na alegria que sentiu ao ser aceita pelas outras flores e em como eram belos em seus dias de glória. Na manhã seguinte, a surpresa do jardim foi a maior que podiam imaginar. A roseira havia feito desabrochar em si, não apenas uma como antes, mas 7 das mais belas Rosas que o mundo já vira. E novamente o jardim foi tomado pela cor daquele vermelho vivo, que mais uma vez dera vida ao jardim que animados pela ressurreição da Rosa, agora sim poderia ser chamado de o mais belo de todos os jardins, com flores de todas as cores, e uma roseira que crescia vigorosa e que, mesmo que lhe arrancassem todas as rosas, no outro dia fazia-lhe brotar outras tantas no lugar, a fim de nunca mais permitir que a tristeza chegasse ali, ao seu pequeno mundo. 

Creio que me alonguei demais em devaneios ao imaginar a história da Rosa, mas como disse, a música de Beethoven tem esse poder.  E assim como a Rosa é a flor mais bela do mundo, a Nona, sendo a música mais bela do mundo também tem o poder de dar vida ao jardim dos nossos corações. 

Digo isso pois mais cedo estava a nutrir uma confusão tremenda dentro de mim. Inquieto, não consegui ler, e divagando em pensamento até mesmo caí em sonhos desagradáveis quando por alguns minutos me encostei à cama. Então, como num insight, me veio o refrão da Canção da Alegria à mente, e então decidi escrever enquanto me deleitava com a obra do grande mestre alemão. 

Estou agora absorto em meus próprios sentimentos. Como se eu mesmo, sentado debaixo dos Cedros, fitasse aquele belo jardim, onde nossa Rosa cresce gloriosa, levando cor e amor a todos que a contemplam. Como que embriagado de vinho, me vem a mente o rosto de várias pessoas queridas, muitas das quais tem feito meu coração sangrar, queiram ou não, outras que apenas me trazem alegria, e outras ainda que tem em mim o mesmo efeito que a Rosa produziu naquele jardim: faz desabrochar em mim o que há de melhor em meu interior. Penso especialmente naquele que, mesmo sabendo não sentir nada por mim, ainda me arranca o mais doce sorriso. Ah... o amor... 

Retornando então à frase com a qual iniciei essa breve reflexão de hoje, eu penso que, enquanto a rosa, triste por estar ali contra sua vontade, só conseguia exteriorizar sentimentos ruins, e por isso afastou as outras com seus espinhos. Mas quando decidiu trazer de seu interior aquilo que tinha de melhor, o sentimento foi reciproco, pois as outras flores também deram o seu melhor. Assim penso ser a vida. Requer de nós o nosso melhor, pra que possamos cobrar do outro o melhor que ele possa nos dar. Claro, nem sempre teremos mais flores em troca de nossas cores, e podemos acabar por receber espinhos em seu lugar, mas quem garante que aqueles espinhos, não são o melhor que aquela pessoa possa nos dar naquele momento? 

Penso que as vezes exigimos demais do outro, quando na verdade deveríamos exigir mais de nós mesmos. Façamos como a Rosa e, mesmo quando nos machucarem, e arrancarem de nós o que temos de melhor, deixemos brotar no lugar outras tantas flores no lugar, e assim, preencher todos os vazios com o doce perfume e a bela cor de nossos afetos, e assim, quem sabe um dia, receber em troca também a melhor flor que alguém possa nos dar. 

Sobre o jovem que arrancara a Rosa com os olhos marejados, este se viu tendo de tomar uma difícil decisão, em arrancar daquele jardim a sua flor mais bela e a de desistir de seu grande amor. Com uma certa dor no coração ele então resolveu arrancar dalí a Rosa, para num gesto de ternura, ofertá-la a seu amado num pedido de perdão. O jovem trouxe sofrimento ao jardim, mas não o fez de todo pelo mal, pois afinal, assim como a Rosa, também era o que ele poderia fazer para expressar o seu amor.

Com isso pretendo dizer que precisamos pensar bem nos dois lados de uma determinada situação. As vezes a reciprocidade por si mesma não é possível, mas insistimos nela e nos decepcionamos. Se o jardim soubesse porém, do que passava o rapaz, teriam ofertado de bom grado também suas flores, a fim de que ele pudesse oferecer  não apenas uma rosa, mas um ramalhete das mais belas flores que ele podia encontrar. 

Pensemos então em nossos afetos. Que possamos dar ao jardim que nos cerca sempre as mais belas rosas, e mesmo quando a esperança parecer perdida, devolver ao próximo o amor e a alegria, nas pétalas de nossos afetos mais interiores. E assim, possamos ser as flores que ornam os jardim dos Campos Elíseos, onde nunca murcharemos ou morreremos, mas somente passaremos a eternidade a cantar à alegria da vida junto com toda a criação.

Por fim, toda vez que escuto a Nona de Beethoven, fico a pensar no fato de que ele já estava praticamente surdo quando ela foi executada pela primeira vez. E ainda que não o estivesse completamente debilitado da audição, certamente a mesma estava muito comprometida. Ainda assim ele foi capaz de terminar essa que é a maior de todas as obras. Não precisava mais do sentido da audição. Já passara dessa fase do espirito, ele agora compunha com a alma. Assim como alguns dizem que Santa Catarina de Sena escrevia muitas coisas sendo que mal sabia escrever, em completo extase. Assim também é com as almas que deixam vir a tona aquilo que tem de mais profundo em si mesmas, desabrocham em afetos que se marcam na história. Posso dizer com certeza que mesmo em meioa s dificuldades envolvidas na mesma, Beethoven amava a música, e esse era o afeto mais profundo de sua alma, marcado agora nas páginas da história, e assim também acontece com quem ama sem impor limites, a quem ama apaixonadamente. Quem ama assim, é torturado na roda, como nos dizem os Carmina Burana, mas também imprimi no coração de homens de todos os séculos o seu amor. E isso, é o verdadeiro poder desse amor. 

Cantemos então à alegria com Beethoven:

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir 
O que o costume rigorosamente dividiu. 
Todos os homens se irmanam 
Ali onde teu doce vôo se detém. 

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo. 
Mas aquele que falhou nisso 
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e 
Um amigo leal até a morte; 
Deu força para a vida aos mais humildes 
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora.

(Tradução de AN DIE FREUDE - ODE TO JOY ou Canção da Alegria)

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Mais do mesmo

Nessa vida eu sei que nós não podemos ter certeza de quase nada, mais uma das poucas coisas que consegui aprender é que cada pessoa é um universo único e particular, um mundo singular, ondem em nenhuma parte se encontrará igual, e justamente dada a complexidade de cada um é que nossas relações com o outro são tão complicadas e por vezes dolorosas. 

Penso eu que quando nos relacionamos, e aqui não generalizo nenhum relacionamento, falo de namoro, amizade ou família, isso parte de um princípio interno-externo, algo parte de dentro de nós, que toca a consciência do próximo, que em resposta emite um sinal semelhante. Por exemplo, um diálogo entre um casal, ele fala, ela escuta, ela fala, ele escuta, simples não? Não mesmo.

Por sermos todos mundos particulares, temos nossas infinitas peculiaridades. Eu por exemplo, detesto que me façam perguntas, mas adoro perguntar até a cor da roupa íntima da pessoa. Todos temos maluquices, manias estranhas e bizarrices que muitas vezes queremos esconder uns dos outros. Outros, em um nível mais avançado, tem neuras e paranóias demais. E aguentar manias engraçadas, como a de apagar e acender a luz quatro vezes antes de deixá-la pagada de fato, pode até ser divertido, mas conseguir conviver com uma pessoa difícil pode ser um desafio deveras pesado pra quem não tem uma paciência inquebrantável ou um amor muito grande pra suportar. Agora, aguentar um neurótico perturbado daqueles pesado mesmo não deve ser nada fácil. 

Conviver é uma arte, e uma das mais complexas, eu diria. Suportar o próximo requer um conhecimento de si mesmo muito grande e uma paciência igualmente forte pra aprender a lidar com as excentricidades alheias. E olha, quem consegue viver com um paranóico no meu nível deveria receber um prêmio. Claro, ninguém nunca ficou tempo suficiente pra merecer um, mas acho que ainda ta valendo. Mas deixando esse devaneio de lado, e voltando as complexidades pessoais, fico imaginando, se explorar um mundo finito como o nosso planeta leva tempo, imagina desvendar tantos universos infinitos quantos são as pessoas... 

Em uma conversa no WhatsApp agora pouco, eu disse que as vezes, é como se os sentimentos que saem de nós em direção ao coração do próximo acabassem por se perder no caminho e ficassem por aí, vagando sem destino, mas sem nunca chegar ao coração que era seu objetivo. E assim como esses sentimentos, ficamos vagando por aí, emitindo esses sinais, mais sem sermos captados por ninguém, e dando voltas e mais voltas e trombando uns nos outros como formigas confusas na palma da mão de Buda. 

Agora eu penso sobre as pessoas apaixonadas. Não aqueles casais melosos da internet, mas aqueles casais que mesmo mal suportando um ao outro conseguem viver 50, 60 anos como casados, e no fim de tudo ainda dizem um pro outro "Eu te amo". Isso sim é paixão de verdade, amor de verdade. Penso se esses casais conseguiram romper essa barreira tão intransponível. Para conseguir viver tampo tempo assim, não consigo imaginar outra forma. Será que esses conseguem realmente se alcançar?

Essa pergunta me veio a mente hoje quando, fiquei frente a frente a uma das pessoas mais importantes do meu mundo, e também uma das que mais me machucaram até hoje e, olhando bem no fundo dos seus olhos, eu queria gritar tantas coisas, tantas coisas a serem ditas, tantos sentimentos a serem esclarecidos, e ao mesmo tempo, eu sentia que ele também gritava, mas eu não conseguia entender o que seus olhos me diziam. E nessa hora eu me odiei, me odiei como nunca odiei nada nessa vida. Me odiei por não conseguir tocar o seu coração. Me odiei por não conseguir ouvir o que gritava sua alma. E me odiei porque mesmo gritando como uma criança, eu não conseguia fazê-lo me ouvir.

Queria que as pessoas conseguissem tocar umas as outras. Não tocar o corpo, isso é fácil demais. Queria que as pessoas conseguissem tocar o coração umas das outras. Ai sim seria fantástico. Aí sim conseguiríamos nos entender e finalmente iríamos dar valor aos sentimentos do outro. Não mais pagaríamos com grosserias os sentimentos de afeto que nos são dados. 

Imagino então com seria maravilhoso que pudéssemos ver os sentimentos uns dos outros. Notar aquelas máscaras do cotidiano que colocamos pra disfarçar as dores e tristezas com alegria e descontração. Seríamos verdadeiros. Os relacionamentos seriam verdadeiros, porque teríamos certeza da felicidade ou descontentamento do outro antes de simplesmente romper com algo importante. Não perderíamos tempo com pessoas superficiais, e nem com sentimentos que não fossem verdadeiros.

Claro, falando dessa forma, parece que apenas estou a desejar a habilidade de não mais cometer os mesmos erros. Não mais confundir educação com afeto. Não mais quebrar a cara. Ah, isso seria fantástico, realmente. Seria idílico perceber o carinho desinteressado e o amor genuíno que, em nome de toda descência, ainda quero acreditar que existe. 

Mas infelizmente essa realidade ainda é tão distante de nós... não conseguimos entender o que os outros dizem nem quando eles usam todas as palavras possíveis pra isso. Temos de constantemente arriscar a ler as entrelinhas, e muitas vezes caímos em palpites equivocados que geram desastres sem reparação. 

Penso eu que tudo em nós tem um significado. Eu por exemplo, fico expansivo quando estou a vontade e fico tremendo quando estou com medo ou desamparado, penso que seja muito fácil ler minhas expressões, porque sou péssimo em disfarçar qualquer coisa. Valorizo demais pequenos gestos como um sorriso na hora certa, ou um simples segurar pela mão, mesmo que não seja acompanhado de palavra alguma. Mas me engano em pensar que os outros enxergam esses mesmos significados nesses gestos. Com o tempo então, aprendi que pra muitas pessoas, segurar pela mão, não significa mais do que segurar pela mão. E que um sorriso no momento certo, pode ser apenas um sorriso que coincidiu com o momento certo. Emojis de coração e planos pro casamento podem ser apenas brincadeiras intermináveis no WhatsApp e não um sinal de que a pessoa está a corresponder seus sentimentos. Enfim, em cada universo particular, cada ação tem o seu significado, e, ou ficamos loucos tentando decifrar a todos, ou então enlouqueceremos por não entender a nenhum deles. De qualquer forma a loucuraé o estágio final do relacionamento com o próximo. Tão difícil e tão complexo quanto seria tentar contar os grãos de areia das praias de todo o mundo. 

Somos seres profundos. Todos nós. O que difere é apenas o que escolhemos por deixar vir a superfície e o que deixamos no escuro, revelando apenas em alguns momentos de tensão ou para aliviar uma necessidade noturna urgente. E isso que deixamos vir a tona pode se apresentar de tantas formas quantos são nossos sentimentos. Logo entender a todos é quase impossível de se fazer, partindo desse pressuposto, claro. Mas em se tratando de duas pessoas, sejam elas amigas ou enamoradas, pode-se permitir o acesso a essas áreas mais profundas de nossas consciências. Assim, aos poucos, vamos entendendo uns aos outros. E assim a gente vai vivendo em paz. Então, pra terminar, deixo aqui o meu apelo, para que sejamos mais abertos, que possamos deixar os nossos sentimentos vir à tona, e assim, conhecer sempre mais o nosso próximo.