quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Por inteiro

Sensível demais... As pessoas estão me irritando com facilidade, e isso não é bom. Não é bom pois quando isso acontece eu deixo de ser uma pessoa normal e passo a ser grosseiro, mal educado e mal humorado, e as pessoas não gostam disso. 

Mas elas estão me irritando demais, e por qualquer coisa já sinto meu sangue subir. Eu não queria ser assim, mas sinto que é a única forma de conquistar meu espaço, o respeito que mereço, e do contrário, se continuar sendo sempre o garotinho bonzinho e solícito as pessoas continuarão passando por cima de mim, continuarão me fazendo de capacho, e eu continuarei sendo coadjuvante na minha própria história, e isso não é legal, não faz bem.

E notar que estava sendo um papel menor na minha própria história me mostrou o quanto eu engolia para não incomodar o outro, o quanto eu aturava para não ser um estorvo para o outro, e nessa empreitada, deixava de ser eu mesmo. E acabava me tornando não o que os outros queriam de mim, pois isso é impossível, mas me tornava uma caricatura da projeção que faziam em mim. Não quero mais ser assim.

Não quero mais deixar de fazer o que gosto porque os outros não gostam, não quero mais tentar ser qualquer outra coisa que não seja exatamente quem eu quero ser. E quem sou eu de verdade? Sou o cara que se incomoda com bobagens, que gosta das próprias cosias arrumadas do jeito que estão, que faz o que quer, quando quer e apenas porque quer, sem precisar se esconder ou encontrar desculpas. Mas ainda não sou exatamente como gostaria de ser, ainda faltam alguns detalhes. 

Eu quero ser o homem que diz sim, e o meu sim será sim, ou quando dizer não, ele seja considerado um não, sem precisar de complemento, sem precisar de explicação. 

Tenho estado sensível demais, e isso tem revelado algumas facetas minhas que até mesmo eu desconhecia. Um exemplo: não sabia que eu era capaz de sentir tanto ódio de uma mesma pessoa. Ou sabia e fingia não saber, mas o fato é que me vejo agora pensando na raiva que sinto dessa pessoa com ainda mais frequência do que considero ser possível, ou saudável. 

As vezes tenho medo de mim mesmo, e das cosias que tenho imaginado. Mas não é como se não quisesse imagina-las, como se precisasse prender um monstro ou exorcizar um demônio, não é um monstro, sou eu! Esse medo talvez seja o medo de morrer, de que esse meu lado morra, pois sei que se trata de uma face que há muito ficou guardada, e que apenas agora veio ao sol. Não quero que ela suma, não quero que ela morra. Não quero ser apenas o que os outros esperam de mim, quero ser eu por inteiro, seja a face do anjo ou a do monstro. 

Eu. 

Por inteiro.  

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Meu lugar

As pessoas ficam me dizendo que eu deveria levantar, tomar um banho para me despertar e assim sair, viver, ver o mundo. As pessoas ficam me dizendo essas coisas e eu não consigo entender, não consigo compreender o que significam tais palavras. 

Isso porque eu não quero levantar, não quero sair daqui, pois não há nada lá fora que possa me agradar, e pelo contrário, lá é onde as outras pessoas estão, pessoas que podem me magoar, me chatear e me fazer infeliz. Eu sei que se eu sair, irei me apaixonar, pelo doce sorriso ou olhar de algum rapaz, e por isso decidi que aqui é meu lugar. Afinal, ninguém vai entrar a força daqui e me arrancar do meu torpor apenas para me fazer amar.

Então não há no mundo nada que justifique tal perigo, tal exposição. Se o mundo apenas pode me oferecer a perdição eu não me atrevo a vislumbrar os umbrais de suas possibilidades, que aos outros fascinam e atraem, mas a mim apenas assustam, e deixam no meu coração a permanente impressão de que sempre estarei me expondo ao desnecessário perigo de voltar a sofrer por aqueles que nunca sofrerão por mim e de me importar com quem não dá a mínima para mim. 

E quem não dá a mínima para mim? Bom, aqui não tenho medo de incluir quase todas as pessoas que me cercam. Acontece que me vejo como uma grande segunda opção para todo mundo. Claro, as pessoas tem suas prioridades, suas obrigações, seus amores, mas me parece que sempre estou no segundo plano. E por isso também vejo que aqui é o meu lugar, afinal se ficar quieto, não há porque incomodar ninguém, e ao menos sozinho eu posso me ocupar de mim mesmo, e me colocar em primeiro lugar para alguém, ainda que seja eu mesmo. 

Por isso continuarei aqui, sentado ou deitado, no escuro, na companhia das minhas canções, dos meus romances e das minhas ilusões. Se algum dia alguém quiser que eu saia, terá de atravessar os umbrais de minha residência, para só então pensar em transpassar os umbrais de meu coração, para só então quem sabe um dia me fazer voltar a contemplar aquela maldita luz do sol...

Noite de névoa

Ontem me veio uma súbita impressão em meu coração, que logo se transformou em necessidade. Senti que precisava sumir, não por estar cansado, mas porque precisava fugir de algo ruim que iria me acontecer. Precisava me esconder de algo que viria ao meu encontro apenas para me destruir, e por isso eu precisava correr.

Foi aí então que tive a ideia de dormir, o que seria fácil com a ajuda de um bom e velho rivotril. E assim eu fiz. Momentos depois eu comecei a notar que meus sentidos estavam se tornando anuviados. Minha mente e olhar se tornaram pesados, meu corpo não queria mais se mover e tudo o que lhe dava prazer era o conforto que a imobilidade poderia me oferecer.

Fui sentindo aquele torpor me dominando, e o permiti, e aos poucos foi como se meu corpo fosse envolvido por uma névoa densa, espessa, que começou por tirar os movimentos das extremidades de meu corpo, e depois seguindo até que chegasse ao coração e depois a minha mente, quando adormeci totalmente.

Não me recordo de ter sonhado, apenas lembro que acordei uma ou duas vezes para logo voltar a dormir, quando alguém acendeu as luzes da cozinha e deixou algo cair ao chão. Acho que quebrou, mas não tive forças para levantar e ver o que era. Tampouco tive forças para arrumar a cama ou me trocar, acabei dormindo de jeans e a camiseta que estava, de tecido desconfortável. Ao meu lado ainda estavam algumas coisas que deveria ter usado mais cedo, como um hidratante e o celular. 

Celular este que felizmente permaneceu em silêncio durante toda a noite. Se fosse em outra ocasião, provavelmente teria me sentido chateado com o fato de ninguém ter se lembrado de mim, mas não hoje, fiquei feliz de não ter sido incomodado por ninguém, e assim ter conseguido me ausentar completamente desse mundo.

Eu adormeci pesadamente por horas, me deitei ontem por volta das 19h e acordei hoje ao meio dia, com os olhos ainda pesados, a face e os lábios bastante inchados, mas tranquilo, quase feliz. Minha mente ainda não conseguiu se recuperar completamente e eu nem sequer consegui estudar. Passei rapidamente a vista sobre alguns textos que deveria ler mas em nenhum deles eu consegui me deter, e então percebi que não adiantaria me forçar, não conseguirei estudar hoje.

Em mim agora habita uma sensação estranha. Me sinto em partes mais calmo, em vista da apreensão que senti ontem antes de dormir, e nem sequer consegui ainda entender o que me levou a sentir aquilo. Por outro lado eu sinto um volumoso número de impressões se ajuntando no meu interior. É como se sentisse algumas pessoas me chamando, e consigo identificar cada uma de suas vozes, mas não tenho forças para responder de volta. Não, não é bem isso.

Eu sei bem que nenhuma delas está a me chamar, do contrário de fato me chamariam, o que estou a ouvir não é nada mais senão a minha própria carência, buscando ser aceita e amada. E por esse motivo é que o meu corpo quer e não quer responder ao mesmo tempo. Daí a sensação de que falei, que nada mais é do que o reflexo da batalha interior que agora se dá em meu coração. 

Voltarei então ao estado de torpor novamente, pois não quero dar ao destino a graça de se divertir com os meus desmandos, indo atrás de quem sei que não pensa em mim. Melhor voltar ao meu esconderijo de névoa, onde ninguém mais pode entrar, do que me arriscar a caminhar pelos agrestes escarpados e desconhecidos do mundo que tanta decepção me trouxe.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Ó Beleza tão antiga e tão nova

Tarde Vos amei, 
ó Beleza tão antiga e tão nova, 
tarde Vos amei! 

Eis que habitáveis dentro de mim, 
e eu, lá fora, a procurar-Vos! 

Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. 
Estáveis comigo e eu não estava Convosco! 

Retinha-me longe de Vós 
aquilo que não existiria, 
se não existisse em Vós. 

Porém, chamastes-me, 
com uma voz tão forte, 
que rompestes a minha Surdez!

Brilhastes, cintilastes, 
e logo afugentastes a minha cegueira! 

Exalastes Perfume: 
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós. 

Saboreei-Vos 
e, agora, tenho fome e sede de Vós. 

Tocastes-me 
e ardi, no desejo da Vossa Paz!

Gostaria de escrever uma bela reflexão sobre esse trecho tão belo das Confissões de Santo Agostinho, cuja memória hoje celebramos. Mas percebi que a erudição do santo doutor se expressou de maneira tão bela, tão íntima e tão pessoal que nada mais poderia ser dito que não ficasse à sombra de tais palavras. 

Só posso dizer que o encontro com Deus, quando da vontade d'Ele, não pode ser impedido, pode até ser adiado, pela nossa teimosia, mas nunca impedido. É ele quem vem ao nosso encontro, e nos interpola de tal maneira que não há como dizer não, não há como negar!

domingo, 27 de agosto de 2017

Dois enterros depois

Hoje foi um dia que poderia chamar de atípico, por vários motivos. O primeiro deles é que fizemos uma reunião de família. Bem, se considerar que minha família se reúne apenas em funerais é de se estranhar que tenhamos feito isso sem ninguém ter morrido, ou quase isso. O segundo motivo foi o que de fato nos moveu a esse encontro de hoje, mas para explicar eu preciso contar uma breve história...

Desde muito novo eu ouvia da boca pequena das viagens em família histórias sobre um possível adultério do meu avô. Como minha família infelizmente tinha patriarcas demasiado conservadores esse tipo de conversa se limitava a especulações que os mais jovens faziam ao ouvir as conversas dos mais velhos, logo ninguém nunca soube ao certo o que exatamente tinha acontecido. Alguns anos atrás então o assunto surgiu novamente, e dessa vez não foi abafado, quando uma mulher surgiu sabe-se lá de onde e disse ser filha do meu avô, e portanto minha tia. Pra ser sincero eu sempre curti esse tipo de coisa, não o adultério em si, mas a novidade que a situação trazia consigo.

Bom, alguns anos se passaram e a conversa volta e meia surgia. Alguns se revoltavam com ela e outros nem ligavam, e alguns outros como eu se empolgavam. Uma de minhas tias e minha avó, a traída, acabaram se revoltando com a situação e declararam guerra a qualquer um que resolvesse tocar nesse assunto, ao passo que o resto da família comprou a briga e resolveu enfrentar. Bom, dois velórios depois, o de uma tia e de meu avô, mais recentemente, resolvemos então apaziguar a situação com uma confraternização em família, onde nós acolheríamos os "novos membros" por assim dizer. 

Felizmente tudo ocorreu muito bem, até melhor do que eu esperava. Sem discussões, sem piadinhas, sem nada que deixasse o clima qualquer coisa menos do que muito agradável. E o pessoal é muito simpático, gostei muito, principalmente do primo mais velho, que achei muito bonitinho. Foi bom passar um tempo conversando, contando histórias, relembrando coisas que já há muito havia esquecido. E olha que para alguém como eu ter ficado contente com uma reunião de família é porque foi algo realmente bom!

O que me chamou a atenção, e que me incomodou muito, foi o fato de que essas reuniões, esses encontros, só foram possíveis depois de dois enterros. Poxa, será que se as pessoas soubessem sentar e resolver seus problemas numa roda de conversa com uma lata de cerveja na mão teria sido necessário esperar a morte de duas pessoas para isso acontecer? O egoísmo das pessoas me incomoda de tal maneira que as vejo diariamente cometerem erros quase sempre irreparáveis apenas por pura cegueira, motivada por suas mentes limitadas. Isso me incomoda de tal maneira que penso ser quase impossível que exista um futuro promissor ao gênero humano. 

Ok, admito que o post de hoje não continha em si nenhuma mensagem de fato importante, apenas queria contar essa história.

Obrigado, de nada!

P.S.: Sobre os dois falecidos que se foram antes de tudo isso acontecer, só posso dizer uma coisa:

"Requiem aeternam donna eis Domine, et lux perpetua luceat eis"

Resenha - Project S - The Series "SPIKE"

Ah, o poder que uma promessa quebrada tem de destruir um coração é grandioso, e os homens deveriam temer esse poder, pois das coisas que é capaz de fazer, poucas são tão cruéis quanto destruir um coração que um dia jurou confiar!

Esse foi o ensinamento que aprendi vendo um lakorn curtinho, de apenas 8 episódios, chamado Project S - The Series "Spike", mas que me surpreendeu bastante...

Pra começo de conversa eu fiquei sabendo dele num grupo de fãs de BLs no Facebook, e o pessoal tava eufórico em dizer que parecia muito com a linguagem dos que nós estamos acostumados, mas que não tinha temática gay, mas que viria antes de um outra série que teria essa temática. Acontece que a série é parte de um projeto (daí o nome) que vai mostrar equipes competindo em quatro modalidades de esportes, a primeira foi vôlei, depois vem Badminton, Skate e por fim Arco e Flecha. 

Bom, eu não estava realmente empolgado para ver pois justamente não me interesso por temáticas que não sejam BL, e em se tratando de esportes eu me interesso menos ainda, e apenas vi pra não ficar com a impressão de não ter perdido algo quando começasse a ver a segunda parte, cujo trailer deixou a insinuar que teria BL. Dito isto posso afirmar com razão que a série foi uma imensa surpresa, e superou todas as expectativas que eu não tinha. Sendo bem sincero, superou muito em qualidade vários filmes e séries que tenho como meus favoritos!

A primeira coisa a me impressionar foi o elenco. Eu só conhecia o Lerkcharoempoj Papangkorn que fez WaterBoyy - The Movie, e como esse é um dos meus filmes favoritos eu achei que seria interessante vê-lo tentando algo fora do gênero ao qual estou habituado. Pra ser sincero a propaganda em cima dele foi maior que a participação em si, e ele não é bem o destaque da série, embora seja responsável pelo pontapé inicial de todo o plot, mas teve pouco tempo em tela, e esse pouco tempo não foi lá muito impressionante, aliás, em comparação aos outros protagonistas a atuação dele é bem mais fraquinha, pois mesmo sendo muito bonito, não consegue expressar-se muito bem e ficamos sempre com a impressão de que ele não ta sentindo nada. Uma pena, porque ele é lindo!

Agora o mesmo não pode ser dito do resto do elenco. Caramba! Só tem gente talentosa e já no segundo ou terceiro episódio eles já tinham conseguido me conquistar completamente, e eu ficava desejando ver mais e mais. E como são poucos episódios, tinha de ver aos poucos pra não me exceder, e nem esquecer que ainda estou em pleno andamento do semestre letivo da pós, o que não me deixa com muito tempo livre. Enfim, voltando ao que interessa, o plot da série é até bem interessante:

"O time de vôlei da Escola Theppanya é o azarão do campeonato nacional sub-18. Liderados pelo técnico Moo, eles surpreendem e chegam à final do torneio, mas acabam derrotados pelos tetra campeões da Escola St. Sebastian. 

Depois da decepção, os membros da equipe fazem uma promessa de serem campeões juntos no próximo ano. Entretanto, por alguma razão, Singha, um dos jogadores do time, decide se juntar aos rivais da St. Sebastian, o que deixa Puen, o novo capitão da Theppanya, com raiva e determinado a vencer o campeonato. Junta-se a ele, o novato Than, rapaz esforçado, mas que enfrenta a oposição do pai no seu sonho de ser jogador de vôlei profissional. Enquanto isso, o técnico Moo, doente, pede que Win o substitua, mas o novo treinador tem uma vida turbulenta."

A minha primeira grande surpresa foi o Than, interpretado pelo gatíssimo do Mahayotaruk Thiti (ou Bank Thiti, para os mais íntimos). Mas não se deixe enganar, ele é mais, muito mais do que um rostinho bonito, lindo aliás! Ele literalmente me fez chorar várias vezes com uma história bem simples: queria jogar vôlei e o pai preferia que se esforçasse para ser médico igual o irmão. Muito embora o personagem seja simples, com uma motivação simples também, que era mostrar que poderia seguir o próprio sonho sem o apoio do pai, ele fez um trabalho incrível! Consegue ser fofo, engraçado e dramático num só episódio. Não imaginei que um ator tão novo, apenas 20 anos, conseguisse dar tanta profundidade a um personagem dessa forma.
Meu futuro marido, lindo!
Ele contracena diretamente com o capitão do time, Puen, o cara marrento que implica com o garoto novo que entra no lugar do amigo. Puen é interpretado pelo Wiwattanawarang Oabnithi (esses nomes me matam) e logo de cara eu não gostei do personagem. Vivia emburrado, se lamentando pelo amigo que foi embora e implicava com o menino novo só pelo fato de ele ter tentado entrar na escola rival antes de ir pra lá. Mas com o passar dos episódios ele foi amolecendo meu coração e eu fui entendendo os motivos que ele tinha para ser daquele jeito, e descobri com muita alegria que tratava-se de um personagem bem mais complexo do que aparenta ser. E a minha maior surpresa foi descobrir que o personagem deixa bem claro não ser hétero, o que sugere um final BL não mostrado mas muito plausível, pois até a personagem feminina que deveria lhe fazer par percebe que ele na verdade gosta de um menino.
A dinâmica desses dois começa bem clichê. Eles precisam se entender fora das quadras para melhoras o entrosamento no jogo e ganharem o campeonato, mas a série logo abandona isso pra focar na amizade que surgiu rapidamente daí. E claro, logo depois surgem as complicações, que só acrescentam em profundidade a série. 

Em resumo, eles conseguiram em pouco tempo aprofundar bastante um número considerável de personagens, sem perder a tônica inicial. Todos tem um motivo pra estar ali, e vão crescendo durante a temporada, e é ótimo ver como cada história contribuiu para o conjunto da obra.

Faço uma breve menção honrosa ao Imanothai Kawin que interpretou o treinador nada ortodoxo que desceu o murro num dos alunos e para a Sakuljaroensuk Apinya, a pobre gerente que foi promovida a treinadora quando o anterior foi demitido por motivos óbvios.

A música, como já estou habituado aos lakorns, não é lá muito primorosa, e tirando o encerramento e a parte incidental do último episódio eu quase nem percebi um trabalho musical muito primoroso.

Destaque para a fotografia, o roteiro e para a já citada atuação do elenco. As cenas são simplesmente lindas, e eles souberam captar bem os melhores ângulos não óbvios de cada um. As sequências dos jogos também ficaram bem naturais já que eles contaram com times profissionais fazendo as vezes de dublês dos atores que só apareciam em closes, e essa montagem também ficou excelente.

Só senti uma falta de um final mais redondinho, talvez seja minha veia poética de sempre levar a cabo todo e qualquer sentimento. Entendi que o diretor quis usar de uma visão mais leve dos objetivos finais, e dizer algo como "a vida dos personagens não termina no último episódio." Visualmente foi bonito de se  ver, mas queria um romance um pouco mais aberto, o que implicaria numa descaracterização da série, que é focada no time e não no romance. Ele existe e tá la, bem claro, só não explícito.

Pra fechar, é uma baita série, com uma baita história que te prende do começo ao fim, mesmo parecendo não ser tudo isso lendo a sinopse. É obrigatória pra quem curte personagens fortes, com objetivos fortes e força de vontade para seguir os seus sonhos. E obrigatória também para quem curte BL, afinal os casais lindos estão lá pra quem quiser ver, só não espere nenhum beijo ou abraço com musica emocionante de climax dos lakorns gays porque não tem, mas eles tão lá.

Agora a ansiedade me bate forte para continuar a ver a segunda parte, que vai focar numa dupla de primos que jogam Badminton, sendo um deles autista. Já me interessei de cara pelo beijão gay que tem logo no trailer e na descarada atuação fantástica do Leeratanakajorn Thanapob.

sábado, 26 de agosto de 2017

Em virtude das traições

Uma vez mais a minha mente se vê inundada por uma miríade de pensamentos que, sendo de toda as formas e tamanhos, de todos os pesos e cores, se assemelham mais com uma torrente de detritos do que com a mente de uma pessoa. Será que todas as pessoas experimentam essa avalanche imparável de sentimentos que a todo momento transformam o tudo no nada, o bom no ruim, e a paz em guerra?

Queria saber se as outras pessoas também sentem-se como tudo fosse motivo de irritação para elas. Eu tento controlar a minha raiva, e conter a onda de ódio que ferve meu sangue quando alguém me provoca. E então quando percebo estou desejando os sofrimentos mais horríveis aqueles que deveriam ser os meus amigos mais chegados.

No entanto a existência de algumas pessoas tem de fato desafiado os limites da minha escassa paciência, não raramente tenho a impressão de que alguns se esforçam para me ver com raiva. Sei bem que isso se trata de uma percepção excessivamente negativa da realidade, motivada por um pessimismo generalizado, que por sua vez é fruto de sucessivas experiências negativas com as pessoas ditas amigas, amadas. Isso me faz questionar o verdadeiro lugar que elas ocupam na minha vida e aquele pedestal, que sempre fora ocupado por alguém de grande beleza, mas que nunca sentia nada por mim, agora se encontra vazio, pois ninguém é digno de ocupar aquele posto.

Quando as pessoas não se dão conta de seu verdadeiro lugar eu me irrito com elas, pois penso ser uma ofensa grave a ordem natural das coisas e portanto esses, que não seguem o curso de seus respectivos lugares, merecem serem extirpados da face da terra. Claro que não cabe a mim julgar quem deve ou não viver, mas a vontade de possuir esse poder é forte e latente em mim. Esse é o que se pode chamar de senso se justiça, e corresponde mais ou menos a ética de cada um.  Talvez por isso o pensar no outro como meu inimigo, por não partilhar da mesma noção de justiça que eu, tem se tornado tão comum. 

Me preocupo agora com os resultados que essa forma de pensar possa vir a ter em minha vida. Como todo exagero ela pode me trazer dor e sofrimento, e pode me fazer provocar essa mesma dor e sofrimento no outro. E não quero causar a dor, meu objetivo não é o sofrimento pelo sofrimento, mas apenas um mundo onde as pessoas conheçam e respeitem seus próprios limites e os limites do outro e que não violentem-se uns aos outros tentando fazer com que todos aceitem uma verdade pessoal. A única verdade a ser aceita é universal, uma que seja comum a todos os homens e que só não foi ainda acessada por culpa da consciência egoísta de cada pessoa, que inconscientemente tende a impor a sua forma de pensar nojenta e vil no próximo. Não desejo a dor pela dor, antes desejaria uma estrada que ensinasse os homens a serem verdadeiramente bons que não passasse pela dor, mas vejo que isso já não é mais possível.

É apenas através da dor que as pessoas poderão aprender a respeitar o outro, e apenas através das lágrimas elas poderão compreender a dor que o outro sente, sentindo elas mesmas na pele, o que causaram na alma e no coração de seus iguais. Digo pois estou cansado de sofrer, cansado de deixar que os outros me façam sofrer dessa forma, talvez já seja hora de fazer o outro sentir a mesma dor, de sentir o mesmo sofrimento que me fez passar...

Mas isso seria vingança, e teoricamente inaceitável em nossa sociedade, mas pelo que vejo, largamente aceita na prática. Vivemos então num mundo hipócrita, que condena veementemente a vingança enquanto a pratica ser pudor ou escrúpulos. Deveria eu então calar o meu discurso enquanto os outros apunhalam-se uns aos outros em virtude de suas próprias traições? O que será mais detestável a ética desprezível dos homens: um discurso de ódio ou um punho cerrado de ódio?

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Cinza sombrio

Desculpe-me, mas não quero ouvir, não quero ver e nem saber. Não quero ter contato com seu ódio, com seu rancor, com o desprezo que vem alimentando do mundo, e que tem aos poucos me contagiado. Não quero ser intoxicado pelo seu sangue, que seu ódio transformou em veneno e que tem tentado me atingir. Eu não quero me deixar ser levado, poluído, tomado por esse rancor por tudo e por todos. Isso faz mal, isso me faz mal, e faz a você também, só que já não percebe mais isso, pois deixou-se levar pelo seu ódio e agora não há nada mais que você seja capaz de amar.

Desculpe-me, mas não quero ouvir, não quero ver e nem saber. Tentei mostrar a você a beleza das maravilhas da vida, tentei te mostrar as coisas boas que podemos sentir. Mas você não quis ver nada disso, preferiu fechar-se em sua própria podridão, fechar-se em sua própria aura de pessimismo, e dessa forma ignorar tudo o que o mundo tem a oferecer. Preferiu fechar-se ao amor, e entregou-se ao rancor. Deitou-se com ele e não mais há espaço em você, seja em sua mente ou seu coração, para o amor. 

Desculpe-me, mas não quero ouvir, não quero ver e nem saber. Eu tento olhar o céu e me maravilhar com a beleza das cores, tento aquecer o meu coração ao sol, e tento sentir o perfume das flores. Você olha o mesmo céu e se incomoda com a presença do mundo ao seu redor, apenas deseja o fim de todas as coisas, e a morte de todas as criaturas. Não consegue sentir, não consegue sorrir. E aos poucos também acaba por tornar opaco a luminosidade do meu próprio sol Tem tornado as minhas cores mais fracas, me contaminado e me pintado com um cinza frio, triste e solitário.

Desculpe-me, mas não quero ouvir, não quero ver e nem saber. Quero ver o mundo sendo belo como ele é. Quero amar as coisas que possam ser amadas, e amar as pessoas que merecem ser amadas. Quero sorrir, sentir o calor e o perfume das flores. Quero abraçar e ser abraçado simplesmente porque é bom, e não porque o meu ódio tem transbordado em lágrimas de dor e horror. Quero a felicidade de um mundo colorido, e a não a tristeza de um cinza sombrio. Não quero ver diminuído o valor e a beleza de um sorriso, de um abraço ou de uma bela canção. Não quero viver com toda essa podridão. 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Entre a fera e a rosa

Aquele não era eu. 
Mas era exatamente como sou de verdade. 
Aquele não era eu, mas ao mesmo tempo era exatamente como gostaria de ser, 
e era como nunca quis ser também. 
Aquele não era eu, 
pois não sou o homem que sucumbe simplesmente aos desejos mais torpes da carne. 
Mas aquele era exatamente eu, 
fazendo aquilo que sempre quis fazer. 

Por um lado penso no monstro que me tornei, na criatura horrenda que naquele momento se mostrou ao mundo. Um demônio que apenas era o reflexo dos desejos mais profundos do meu coração. Cego pelos meus instintos, mas plenamente ciente do que queria. Buscando preencher o vazio do meu coração, o vazio da minha alma, com os corpos quentes. Buscando nos braços dos outros o que não encontrei nos meus. Buscando nos outros o calor que nunca esteve em mim. 

Pensei naquele momento que a felicidade seria satisfazer os meus desejos, as minhas aspirações. Pensei que fazendo tudo o que tinha vontade seria feliz. Mas estava errado, estava cego de desejo, estava sedento pelo calor dos braços de um homem, e não seria dessa forma que seria feliz.

Em contrapartida hoje durante a celebração da Festa de Santa Rosa de Lima eu me recordava de sua história, história de uma vida cheia de penitência, cheia de orações, cheia de sacrifícios, e nem por isso uma vida triste.

Ela não precisou sucumbir aos seus apetites bestiais, e nem daqueles que a rodeavam. Isso não foi necessário para que ela fosse feliz. E então eu percebi, que felicidade é diferente de realização desses desejos. Felicidade não é o mesmo que bestialidade. Não há necessidade de me tornar um monstro para então ser feliz de alguma forma que nem sei se vai me fazer feliz mesmo. 

Então de um lado temos o monstro horrendo, que apenas faz aquilo que deseja, que apenas mata lentamente, sentindo o prazer do sangue de suas vítimas escorrendo por suas garras. Um animal feroz que não pensa, apenas mata, apenas deseja, apenas se sacia. E do outro temos uma luz que atrai, um caminho que promete um algo a mais, algo que não seja a completa bestialização da carne. Uma felicidade diferente, que não vem dos prazeres, mas do amor.

Aquele não era eu. 
Mas era exatamente como sou de verdade. 
Aquele não era eu, mas ao mesmo tempo era exatamente como gostaria de ser, 
e era como nunca quis ser também. 
Aquele não era eu, 
pois não sou o homem que sucumbe simplesmente aos desejos mais torpes da carne. 
Mas aquele era exatamente eu, 
fazendo aquilo que sempre quis fazer. 

É uma luta difícil, e ela tem sido travada bem no campo do meu coração. Que lado vencerá? Qual deles conquistará de vez a minha vontade e o que farei ao final de toda essa batalha?

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Confluência

Eu encontrei uma bela alegria, quando encontrei com você. Naquela tarde fresca de domingo, sem nada para fazer, além de estar ali. Encontrei essa alegria na simples dicotomia de um sorriso tímido numa conversa despretensiosa sobre as nossas aspirações para o futuro. 

O mundo parou de girar então ao redor do sol e passou a reverenciar aquele singelo momento, que como o sol era o único em toda a extensão da criação. E toda a criação pôs-se a observar com atenção o nosso doce sorriso e aquela inexperiente troca de olhares. O Cronos esqueceu-se de fazer o tempo continuar a correr, e por isso tivemos a impressão de que a hora não passava, pois até mesmo os deuses todos gostariam que aquele momento se prolongasse pela eternidade, pois tal quadro de deleites, pintado pelas mãos prodigiosas de um destino ocasional, superou e muito a beleza de todos os mundos já criados. Pensaram eles em criar uma redoma que estivesse separada do resto da existência, para ali existirmos naquela deliciosa hora para todo o sempre. 

Agora que as lembranças daquele momento alimentam minha mente de doces frutos eu me vejo a imaginar outros momentos como aquele. Mas o que o diferenciou de todos os outros que já se passaram, e que o diferenciará de todos os outros que ainda virão, foi a vontade superior do destino em criar uma falha na criação, que por um momento superasse em perfeição a própria totalidade da existência e viesse a desaparecer logo em seguida. Pondo os homens e os deuses de joelhos a implorar que mais uma vez pudessem contemplar-nos. 

Não estou triste no entanto por ter passado aquele breve instante no infinito fluxo do tempo, mas contente por ter sido escolhido para vivê-lo em sua totalidade. E não mais desejo a morte, mas apenas expandir-me para mais uma vez cobrir a totalidade da existência. Aquele foi o momento que o homem desejou viver desce o início dos tempos, o momento em que fora tapado o grande buraco no âmago do homem e que lhe aflige desde o primeiro pensamento.  

Nesta tarde calma de segunda, ainda meio cansado e deleitando-me pela dor de meus músculos, que não me deixam esquecer os momentos passados, eu me pego divagando por outra dimensão. Uma que num futuro próximo esses momentos possam se repetir ininterruptamente até o fim da existência. Uma dimensão onde não há dor e nem temor, mas onde exista apenas você e a mim, deitados um sobre o outro, em eternas tardes de verão, ao som de doces Jazz ou reconfortantes adágios de cordas, que em fluxos perfeitos expressem a perfeição que é a nossa existência enquanto apenas um. Ali, deitado sobre meu peito escutas o meu coração a bater, e tens em tua alma que ele apenas bate por estar ali comigo, pois há muito desistira de viver. 

Nesta tarde calma de minha imaginação a musica se mistura numa mágica confluência, numa profusão de violinos, violas e a nossa respiração, que como num acorde wagneriano expressa os mais profundos sentimentos da alma, e toca até mesmo os corações mais duros, petrificados pela dor do tempo.

A luz entra de forma tímida pelas frestas da janela, e delicadamente ilumina o seu corpo, que por sua vez ilumina meu coração com uma luz mais clara que a do meio dia. Sua pele de ouro reluz em contraste com a atmosfera crepuscular do fim da tarde mas é como se o sol começasse a perder em brilho para o seu olhar curioso que mesmo depois de tanto tempo ainda insiste em me olhar. 

Ali então não apenas eu me perco em divagações, mas me encontro com os deuses todos, e até mesmo os anjos, unidos em apenas uma exclamação de júbilo e amor, pelo momento que o destino, por atino ou descuido, criou. 

Bom dia

Eu queria muito poder ficar aqui na cama, quietinho, no escuro, ouvindo uma playlist gostosa, com o ventilador do meu lado. Penso que poderia ficar assim por mais várias horas, talvez dias. Mas não posso, o mundo nos obriga a sair, a levantar, a viver.

Muitos dizem que 'não, o mundo não te obriga a nada', mas a verdade é que quando as consequências de uma decisão são tão terríveis a ponto de nos fazer escolher uma decisão diferente o mundo na verdade está nos obrigando de maneira velada a fazer aquilo que ele quer. E o que o mundo quer? O mundo quer que eu me levante, que eu seja mais um dentre os muitos zumbis exaustos que trabalham incessantemente por um progresso desgovernado que de fato beneficia apenas a quem o idealiza. 

Temos então a falsa impressão de que a liberdade nos dá o direito de decidir o que fazer da vida, mas não nos dá, de um jeito ou de outro estamos sempre fazendo aquilo que querem que a gente faça. Seja simplesmente acordar e trabalhar ou matar os nossos sonhos em virtude de uma realidade plausível que nunca fará ninguém tão feliz assim...

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Sobre marcas e ônibus

Tenho algumas impressões em mim, mas não sei como poderia expressa-las com o mínimo de exatidão possível. Embora eu tente, e leve minha mente ao limite, não consigo conceber palavras que consigam mergulhar nas profundezas de minha alma, e trazer a superfície as coisas que lá se passam.

Enquanto caminhava de volta pra casa, um pouco incomodado pelo clima abafado que nos últimos dias tem predominado em minha cidade, eu pensava em como algumas pessoas vivem desequilibradamente. E como o desequilíbrio tem feito parte da vida das pessoas, é impressionante! Vivemos agarrados as nossas próprias verdades, concebidas em nossas mentes pequenas e abortamos prontamente toda e qualquer ideia que não seja absolutamente igual aquelas que criamos e consideramos como absolutas. 

E então vivemos cegos por elas, pelos conceitos criados com base em nada, apenas fruto de um exercício de investigação pautado em nossos numerosos preconceitos. Me incomoda ver então como pessoas poderiam estar felizes e realizadas mas então lamentando-se por cruzarem o caminho que elas mesmas escolheram para si. E não há nada que possa fazer para mudar isso, por mais que tente a interferência externa é para essas pessoas apenas um estorvo. Trata-se do famoso "não há como ajudar quem não quer ser ajudado." 

Dando continuidade aos pensamentos quase sem nexo algum eu também me peguei refletindo sobre a transitoriedade das nossas relações humanas. Isso porque vi a foto de uma pessoa que me era querida, e que hoje é praticamente estranha na minha vida. E isso me levou a outra pessoa de história semelhante e bem, aqui estou eu, ouvindo uma Playlist com musicas românticas que atingiram o Top 10 da última década na Tailândia, porque gosto de me torturar e porque é sexta e noite e estou sozinho no meu quarto, sem ninguém com quem sair e nem pra poder beijar. Vida que segue. 

Mas acho que no fim das contas, a moral da vida, se é que tem alguma, é que você se lasca pra aprender, e no fim morre! Bom, ainda preciso trabalhar um pouco mais pra rebuscar isso ai mas em resumo é exatamente assim que acontece. 

No fim a vida não é cheia de belezas, mas repleta de uma pedagogia cruel, dura, que imprime seus ensinamentos na carne dos homens a ferro e fogo, mas que faz desaparecer o mesmo homem ao final de sua existência patética. 

Incrível a quantidade de pensamentos absurdos que podemos ter num banco de ônibus a caminho de casa, mais incrível ainda a quantidade de pessoas que passam em nossa vida, e que deixam suas marcas, mas assim como as da pedagogia da vida, só deixarão de existir quando findar a nossa existência miserável. 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Da Empatia

A empatia é algo para mim imensamente importante, assustadora e bela. E consegue como poucas outras coisas no mundo provocar em mim encanto e medo ao mesmo tempo. 

Primeiramente creio ser importante e bela justamente pela falta que tem feito no mundo atual. As pessoas tornaram-se tão fechadas em suas próprias redomas de consciência que já não são mais capazes de saírem de si e irem em direção ao outro. Claro, estou generalizando, pois algumas pessoas ainda o fazem, e são essas que me fazem crer numa possível melhora da humanidade. Infelizmente essas pessoas estão cada vez mais raras no mundo em que vivemos, e tem se tornado cada vez mais difícil encontrar alguém capaz de sair de si mesmo, ou até mesmo de permitir que outro entre. 

Logo as pessoas perderão essa capacidade tão bela de, esvaziando-se a si mesmo, preencherem-se do outro. Da dor ou da alegria do outro. Pois quem disse que empatia é apenas saber compreender a dor? É também partilhar da alegria, do amor. É saber sorrir com a conquista do outro e de coração ficar contente por sua realização. Mas estamos tão ocupados com nossas próprias conquistas e fracassos, e tão magoados por nossas próprias misérias que já não conseguimos mais ir ao encontro do outro, temos medo de sermos novamente machucados ou apenas temos preguiça, de sair do nosso mundinho e caminhar em direção ao outro. 

A falta de empatia a tornou bela, mas não deveria ser assim. Deveria ser natural pensar no outro, deveria ser natural compadecer-se do outro, deveria ser natural alegrar-se pelo outro, mas não é! Quando o outro está feliz o afetamos com nossa inveja, quando está triste queremos saber a causa de sua tristeza mas não estamos realmente interessados em ajudar. 

Muitas vezes o outro não precisa de elaborados conselhos, nem de técnicas de superação, mas apenas de um ombro para chorar, de um abraço apertado, de alguém que segure sua mão num momento de dificuldade. Mas costumamos fazer vista grossa a todos os que nos cercam. Ignoramos sua dor mesmo quando ela transborda de seu coração na forma de lágrimas. Ignorar é mais fácil do que se importar. 

A empatia é também por outro lado assustadora pois quando vamos ao encontro da dor do outro, tomamos sobre ela certa responsabilidade. Não a tiramos das costas do outro, mas compartilhamos do seu peso. Por isso é mais fácil ignorar, já temos nossos próprios pesos, nossas próprias dores, não precisamos então buscar mais. Nos esquecemos então que quando compartilho com o outro de sua dor, e ele com a minha, dividimos por igual, e então ambas as dores passam a pesar menos, pois temos alguém que nos ajuda a carregar. A empatia se torna então essa via de mão dupla, em que entregamos ao outro nossa dor, e a dele recebemos, e juntos então conseguimos caminhar mais longe. Mas assumir responsabilidades é outra coisa que nossa geração não gosta de fazer, e em se tratando da dor do outro é melhor correr. 

Recentemente passei pela experiência de me preocupar genuinamente com a dor de outra pessoa. Me aproximei e aos poucos permiti que ela partilhasse comigo de suas preocupações, pois com a cabeça cheia de pensamentos ela não conseguir dormir. Em poucos minutos de partilha o seu cansaço falou mais alto, mas ela só pode ouvi-lo porque tinha se livrado de parte da carga que lhe impedia de dormir. Eu por outro lado acordei cansado como se não tivesse dormido bem mal, e de fato dormi, pois o peso de sua dor estava agora sobre mim. E por isso a empatia me assustou, pois senti fisicamente o peso da dor que o coração dela sofria. 

Não me sinto bem com isso, como se fosse uma boa pessoa, coisa que sei que não sou, e os textos de dias atrás mostram isso muito bem, mas acredito que em minha limitação tenha feito o meu melhor. Quantos estariam dispostos a perder o precioso tempo de sono para tal? Quantos estariam dispostos a sentir no corpo a dor que ou outro sentia em seu coração? Infelizmente a resposta a essas perguntas me entristecem profundamente o coração, pois quantos mais não sofrem a solidão das noites sem terem ninguém para ajudar a lhes aliviar a dor?

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Talvez devesse tentar

Eu até tentei. 
Tentei ser meigo. 
Tentei ser educado. 
Tentei ser simpático. 
Tentei parecer interessado. 
Tentei mas não foi suficiente. 

Acredito que tenha tentando entrar no lugar errado. 
Nem todos os lugares estão abertos. 
Nem todos estão abertos. 
Nem todos estão disponíveis. 

Alguns grupos são fechados. 
Algumas pessoas são fechadas. 
Em alguns lugares não há espaço. 
Em quase todos os lugares não há espaço.

Talvez não devesse tentar entrar. 
Talvez não devesse tentar ser meigo. 
Talvez não devesse tentar ser educado. 
Talvez não devesse tentar ser simpático. 
Talvez não devesse tentar parecer interessado. 
Talvez não devesse tentar.

Talvez deva me contentar com um sorriso tímido na fila de comunhão. 
Talvez deve tentar não sonhar mais. 
Talvez não deva mais tentar fazer parte de um grupo onde nunca estarei bem comigo mesmo. 
Talvez devesse parar de sonhar. 
Talvez devesse parar. 

Talvez devesse me contentar que alguns lugares não são para mim.
Talvez deva entender que há pessoas que não são para mim.
Talvez deva aceitar que alguns devem viver sozinhos.
Talvez deva aceitar que alguns devem caminhar sozinhos. 

E continuarem sozinhos até mesmo nas noites iluminadas e quentes do verão.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sobre a afeição

Bem, nem de todo ruins são os efeitos do uso das redes sociais. Em meio ao caos do compartilhamento em massa de informações inúteis que passam aos usuários a falsa sensação de que tudo está muito bem, ou pior, que leva aos mesmos a se fecharem em redomas de sofrimento e autopiedade movidos pelos constantes textos e posts tristes e com conteúdo depressivo que lá é postado. As vezes, no entanto, encontramos pérolas dignas de reflexão... 

Foi o que me aconteceu hoje, em meio uma passada rápida pela timeline encontrei um texto de Santo Afonso Maria de Ligório, que coincidentemente se adequou bem ao que tenho vivido atualmente, e por isso resolvi meditar uma pouco mais sobre ele... O texto era um excerto do "Tratado da Castidade" e decidi transcrever aqui:

AFEIÇÃO PERIGOSA - PESSOAS PIEDOSAS 

Não repliques também que não há perigo, porque a pessoa de que se trata é piedosa. São Tomás de Aquino diz (De mod. conf., c. 14): "Quanto mais santas são as pessoas pelas quais sentimos afeição particular, tanto mais devemos nos acautelar, porque o alto apreço que fazemos de sua virtude mais nos estimula ainda a amá-las". O padre Sertório Caputo, da Companhia de Jesus, diz: "O demônio, a princípio, nos inspira amor à virtude daquela pessoa, depois o amor à própria pessoa e, finalmente, nos lança na perdição". O Doutor Angélico faz notar que o demônio sabe perfeitamente esconder um tal perigo: no começo não dispara seta alguma que pareça envenenada, mas só tais que excitem a afeição, ocasionando leves feridas do coração; em seguida, quando o amor já está aceso, essas pessoas já não se tratam mais como anjos, mas como homens de carne e sangue: trocam repetidos olhares e palavras amorosas, desejam estar muitas vezes a sós, juntas e, por fim, a piedade espiritual degenera em amor carnal. 

São Boaventura indica cinco sinais dos quais se pode deduzir se a afeição que a alguém nos prende é impura. Primeiro: se se entretêm conversas inúteis; e inúteis são todas as que levam muito tempo. Segundo: se ocorrem olhares e louvores mútuos. Terceiro: se se desculpam as faltas reciprocamente [evitando correções para não desagradar]. Quarto: se aparecem pequenos ciúmes. Quinto: se a separação causa certa inquietação. Eu ajunto ainda: Se se sente grande prazer e gosto nas maneiras ou gentileza natural da pessoa amada, se deseja que a afeição seja correspondida, e se se não gosta de que outros observem, ouçam ou falem disso. 

(Santo Afonso Maria de Ligório, "Tratado da Castidade".)

Primeiramente me decidi por lê-lo devido ao título, que me recordou os muitos relacionamentos perigosos que vivi e que tenho vivido. Não raramente o meu afeto desregrado pelas pessoas é caso de sofrimento para meu coração, e não obstante, é causa de condenação para  minha alma. 

Recentemente me vi estimulado a apreciar uma pessoa de grande santidade, e maravilhado por suas qualidades cristãs eu me ceguei e fui para ele para mim motivo e causa de pecado. 

Sua postura correta, sua maneira simples e calma de falar com profundidade me deixaram como que cego por sua aparente beleza cristã. Logo me vi apegado a sua conduta, a sua ética, e pouco tempo depois estava convencido de sua santidade de vida, e como disse o santo, o amor que sentia por suas virtudes se tornou amor a própria pessoa e então já era tarde demais. Já não conseguia mais apenas falar sobre coisas espirituais com ele, e as nossas conversas se tornaram cada vez mais longas, e os assuntos espirituais quase já não surgiam. Passamos das reflexões bíblicas e doutrinárias as reflexões sobre amizade e relacionamentos, passamos do amor à carne. 

Percebi que já não éramos mais pessoas buscando a santidade de vida, mas apenas pessoas buscando satisfazer os próprios desejos, sejam eles de conhecimento ou de outros tipos. E então aos poucos eu fui compreendendo que a relação tinha sido envenenada pela afeição. Faltou temperança no trato e fomos displicentes no conversar. O apego crescente fez com que se perdesse o lado espiritual e que este fosse substituído pura e simplesmente pelo lado da carne, da mente humana que precisava ser aplacada em sua sede por conhecimento, de um lado, e por afeto, de outro. 

Agora analisando ainda mais o texto e a relação que se passou vejo que seguimos os mesmos sinais indicados por São Boaventura. Nos ocupávamos por horas em sorrir de coisas bobas em sua maioria, e os tratados espirituais já quase nem surgiam em nossas conversas. Eu o louvava frequentemente por sua postura ilibida e por seu caráter distinto, enquanto ele sempre me procurava para perguntar algo que dificilmente compreenderia sozinho, fazendo com que me sentisse mais sábio do que de fato sou. Eu buscava ignorar os pequenos defeitos que ele tinha, para não chatear, pois temia que se afastasse de mim. A essa altura o meu apego já era tanto a distância e as outras amizades dele já me incomodavam e o pior de tudo, passei a desejar sempre mais a sua presença. Mudei horários para vê-lo, mudei posturas para agradá-lo e no fim, só depois de um longo tempo, já cego pela névoa do afeto desregrado é que percebi o quanto aquela relação tinha se tornado perigosa para ambos. 

Essa infelizmente se acabou. Talvez eu não fique mais no caminho da santidade que ele certamente alcançará, e eu trilharei um outro caminho, que ainda não sei até onde me levará, apenas sei que ele não estará lá.

Noto porém que tenho novamente caído nas mesmas armadilhas, dessa vez com outra pessoa, acreditando estar agora no ponto de sentir ciúmes, e de me agradar demasiadamente com nossos encontros. Assustado com o aviso do santo eu preciso rever as minhas amizades, preciso rever a forma como trato os outros, e principalmente preciso rever o sentimento que alimento ao me permitir ser afetado pelo próximo em minha vida. Nesse exato momento, por exemplo, meu coração arde de ódio por saber que ele pode estar com outra pessoa, ou sendo feliz sem mim ao seu lado. Um sinal claro de uma luxúria desregrada e de uma completa falta de temperança, além claro de uma patológica necessidade de atenção e afeto.

Como essencialmente carente, todo relacionamento para mim já se inicia com uma forte carga emocional e afetiva. Poucas palavras são necessárias para que eu me apegue, e menos ainda são necessárias para que esse apego cresça, e se transforme em verdadeiras obsessões onde acabo cego por meus próprios sentimentos e sem capacidade de discernir o certo do errado, ou de identificar a linha tênue que divide o normal do exagero no trato com o outro. 

Um outro ponto a ser destacado é o da forma como as pessoas piedosas atraem a nossa atenção. Elas são, ao menos para mim, como rosas de doce perfume e beleza particulares. Nos atraem com o doce perfume da sedução mas escondem em si o perigo do apego que leva ao pecado da carne. Para tal seria melhor que as pessoas se ocupassem umas com as outras apenas no mínimo relacionamento possível, afim de minimizar possíveis perigos para com a santidade do outro e a nossa própria. Não nos deixemos atrais por seus perfumes doces, não botemos em risco nossa salvação e nem a de nosso próximo apenas por relacionamentos aparentemente saudáveis, mas que escondem um grande perigo a salvação das almas.

Percebo que a temperança tem de fazer parte do meu cotidiano. Buscar falar ao outro, ainda que seja pessoa de grande espiritualidade, apenas o indispensável, sem dispensar louvores desnecessários ou sem permitir que suas virtudes me ceguem para o verdadeiro sentido da amizade. Se um dos dois será afastado de Deus por conta da amizade não pode surgir daí nenhum fruto bom, mas pelo contrário, apenas resultará a nós dor e sofrimento, como aconteceu comigo e o homem que antes tinha como meu amigo. 

A aproximação é perigosa, e como o vício do álcool pode ser quase irreversível se não houver temperança e equilíbrio desde o início de toda e qualquer amizade. 

domingo, 13 de agosto de 2017

Seu silêncio

O seu silêncio me assusta
O seu silêncio me entristece
O seu silêncio me faz pensar o que não devo

O seu silêncio me faz crer que logo serei substituído
O seu silêncio me faz crer que não sou bom o suficiente
O seu silêncio me faz pensar que logo serei por ti esquecido

O seu silêncio me faz pensar que só me procurou quando precisava de mim
O seu silêncio me faz pensar que tem outros amigo melhores para você do que eu
O seu silêncio me faz pensar que tem outras pessoas mais importantes em sua vida

O seu silêncio me faz querer chorar
O seu silêncio me faz querer sumir
O seu silêncio me faz querer desistir

Então não fique em silêncio
Não me prive de sua voz
Não me prive do seu sorriso

Não me afaste da sua alma
Não me tire da sua vida
Não me substitua por outras amizades

Não me substitua por outras pessoas
Não esqueça de mim nas alegrias
Não esqueça de quem ficou ao seu lado 

Não me abandone sozinho 
A olhar as flores de cerejeira caindo
Tentando buscar sua imagem do outro lado da estação de trem...

Não me abandone sozinho
Ouvindo apenas o som do seu silêncio
E dos seus passos a se distanciar

sábado, 12 de agosto de 2017

Não é pelo saudosismo

Ano após ano vemos movimentos, grupos e pastorais nascerem e morrerem nas salas de reunião da Igreja Católica. Cada um com sua proposta, sua missão e sua linha de evangelização; É incontestável por exemplo a bela missão que iniciativas como a Pastoral da Criança presta no Nordeste ou a atuação da Pastoral Carcerária, que se ocupa com diligência em recuperar aqueles que vivem à margem da sociedade. 

Mais bonito ainda é ver aqueles grupos que caminham em plena concordância com a Sé de Roma. prestando serviço católico de qualidade, seja por meio de atuação pastoral no âmbito paroquial ou quem sabe até mesmo por meio das redes sociais ou nos meios de comunicação em massa, como a TV e o rádio. Infelizmente tudo que é grande demais acaba resultando em exageros, e é sobre isso que gostaria de versar sobre. 

O fato de muitas missões, por assim dizer, surgirem diariamente já deveria ser em si algo que atraísse a atenção das autoridades eclesiais, mas infelizmente isso não acontece e como resultado vemos grupos completamente despreparados, com visões completamente diminutas e muitas vezes heréticas da Igreja. É o que podemos constatar ao observar muitas das novas comunidades, cujos membros praticamente guiam milhares de fiéis em grupos praticamente protestantes sob a bandeira da Igreja Católica. Basta ir num show qualquer dessas bandas da moda e ouvir as pregações absurdas, repletas de pregações infantis, feitas para mexer com o emocional das pessoas que abaladas por suas palavras belas gastam seu tempo ouvindo suas músicas horríveis, e depois trazendo elas para dentro do seio da Igreja para obrigarem os cristãos de verdade a passarem horas cantando baladas românticas sentimentalóides que dariam diabetes até em compositores essencialmente românticos como Rachmaninoff ou Tchaikovsky. 

Engraçado notar ainda que os mesmos líderes despreparados, praticamente analfabetos teológicos, tenham um poder imenso de mudar a mente dos seus fãs mas não conseguem ensiná-los a amar a Igreja de verdade, apenas um simulacro pentecostal travestido de Igreja milenar. Oxalá se eles conhecessem a Igreja de verdade e levassem seus fãs a isso, mas muito pelo contrário, conseguem ainda incutir neles um ódio pela verdadeira fé católica, já que não a conhecessem, e o homem sabidamente teme e odeia aquilo que não consegue compreender. E não me surpreende então que os jovens tão emocionados com lágrimas aos olhos não consigam enxergar o verdadeiro valor da Eucaristia sem precisar de uma banda repetindo incansavelmente o mesmo refrão meloso até a exaustão numa solene adoração eucarística, onde Jesus, embora no centro do altar é ofuscado por sons gritantes e muitas grotescos, dignos de uma verdadeira roda de samba ou quem sabe de um terreiro de umbanda. 

Vemos então que os jovens que sabem de cor as letras profundamente tocantes dos artistas católicos semi-seculares são os mesmos que sequer conseguem rezar um Pater Noster ou uma Ave Maria em latim e ficariam horrorizados em descobrir que muitas de suas ações durante o sacrifício da Missa são mais do que dignas de reprovação, mas verdadeiramente sacrílegas. 

Temos então em mãos dois problemas iniciais, que são reflexo de um terceiro ainda maior: primeiramente o crescimento desordenado da dita nova evangelização, em que encontros e eventos se multiplicam sem controle e sem preocupação com a verdadeira doutrina e um crescente ódio pela Tradição. 

Claro, importante abrir um parêntese para salientar um crescimento também do movimento contrário, em que jovens buscam com afinco, e caminham com as próprias pernas, para conhecer os tesouros que Mãe da Verdade tem a nos oferecer. Mas infelizmente também é preciso dizer que esse crescimento é um tanto quanto desleal, pois para cada um que busca a verdade outros trinta passam a ignorá-la com afinco dogmático.

Não se tornou raro portanto aqueles que gostam, presam e buscam uma liturgia digna serem tachados como bitolados, retrógrados, tradicionalistas ou qualquer outro adjetivo vazio de significado que as mentes aporcalhadas dos protestantes de rosário na mão possam inventar. Mas ainda não chegamos a base do problema!

Sabemos que o homem é uma criatura sensível, e aquilo que sente através da visão, do tato, do olfato, do paladar e da audição é profundamente marcante em sua vida. Qual o primeiro sinal visível que difere uma igreja construída a dez anos de uma construída a cem? Até o mais leigos dos observadores vai perceber a simplicidade e a pobreza dos nossos templos. Bastam subirem paredes, pintar de branco e colocar uma cruz para as pessoas soltarem um "Ai que igreja linda!" a plenos pulmões. Coitados, não sabem o que é beleza de verdade e tampouco compreendem o quanto isso empobrece sua fé. Faça então o teste: olhe para uma sala vazia e diga o que sente. A resposta vai ser sempre vazia. Nossas igrejas estão vazias de beleza pois os adeptos desse modernismo maldito travestiu a pobreza evangélica de pauperismo liturgico que apenas consegue levar o nada aos corações dos fiéis. E vou além, desviam a atenção dos mesmos para a única coisa que eles realmente se importam em levar aos fiéis: eles mesmos.

Pegue então uma igreja branca, vazia, e coloque em seu centro um padre de casula vermelho sangue, na hora da consagração pegue uma hóstia pequena, da mesma cor das paredes do prédio. Quem vai aparecer mais? Jesus, com certeza né? Pois é. Continuemos então.

Quando queremos destruir algo mais forte do que nós, começamos pelas bases, pois sabemos que se atacar a cabeça ela estará bem protegida. Minando portanto as bases a cabeça se destrói. Ao que podemos perceber que Satanás está sendo muito feliz em sua empreitada de destruir a Igreja, atacando-a por suas bases, os fiéis, que estando em maior número do que os bispos, que deveriam ser as verdadeiras bases da fé apostólica, conseguem facilmente derrubar o conjunto todo. E isso não é de agora, começou justamente quando passaram a acusar a Igreja de ser exceder em suas posses e terras e de sustentar um culto que não mais tocava o coração dos fiéis por um culto que toca os corações dos fiéis com a brasa errada. 

Minaram a nossa fé, tiraram de nós os elementos sensíveis que nos conduziam ao supra sensível, nos deixaram a mercê de palavras, que como disse, penetram nossa mente e nossa alma, mas se as palavras que ouvimos não são a de Deus mas de líderes despreparados que apenas conhecem o seu desconhecimento o que será de nós? Destruíram nossos símbolos sob o pretexto do exagero, mas exageraram em retirar de nós aquilos que nos mantinha fiéis. Substituíram as canções profundas de sentido teológicos por musicas profundas em sentido romântico. Substituíam as orações por gritarias e barulhos que nada mais fazem do que abafar a voz do verdadeiro Espírito Santo em nós. Minaram a nossa fé, destruíram a nossa fé, e nos reduziram a bobocas que adoram repetir as balelas de pregadores que deveriam estar silenciados nos bancos das aulas de catequese, para que assim aprendessem algo de valioso que pudessem ensinar aos outros.

Não é então pelo latim, nem por um saudosismo inexplicável que lutamos por um retorno as tradições, mas por amor ao que foi vivido por tantos santos e santas e pelas coisas que ajudaram esses mesmos santos e santas a se tornarem o que são hoje: homens e mulheres que lutaram por sua fé e que ajudados pela Igreja foram conduzidos a Salvação. 

Não é preciso um esforço muito grande portanto para entender para onde vamos ao sermos conduzidos por pastores no caminho que justamente nos incute o ódio a fé verdadeira da Igreja.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Velhos conselhos

Sempre ouvimos, geralmente de nossos pais e professores, que devemos tomar certa precaução com amizades em que podemos observar uma excessiva frequência afetiva por uma ou ambas as partes envolvidas. Como bons jovens que somos dificilmente, ou nunca, escutamos tão valiosos conselhos, mas nos lembramos com precisão de cada palavra a nós por eles ditas quando, em bom português, quebramos a cara!

A vida então se encarrega de nos ensinar com pedagogia de ferro a verdade inconveniente que nossos mestres tentaram nos ensinar de forma amável: É na necessidade que conhecemos os verdadeiros amigos, e a maioria deles sempre irá te abandonar quando você mais precisar, mesmo que estivessem bem ao seu lado com deles mais precisarem. 

Bom, não é nenhuma novidade isso, aliás uma pesquisa rápida pode indicar ao menos uma centena de textos com esses mesmos ensinamentos. O que mais uma vez nos leva a comparar a pedagogia dos mestres e a da vida. Eu tento ensinar aqui com palavras o que aprendi através do fogo, e as minhas cicatrizes foram meus mestres, mas ninguém aprenderá dessa forma, não, apenas conseguiram compreender essas palavras quando forem elas mesmas marcadas pelo ferro das amizades interesseiras. Dito isto, continuarei o meu monólogo com algumas das impressões que trago em meu peito, do sentimento de traição que vem se apoderando de mim nesse momento. 

Percebi que não me procuram quando querem ir ao cinema, a menos que queiram que eu pague, ou ao teatro, ou ao parque, a menos que seja para uma tarde de pegação. Não me chamam para festas, ou eventos sociais, a menos que precisem de alguém para carona, ou de um maior de idade para comprar bebidas. Não me procuram pois não pensam em mim em momentos de alegria, por assim dizer, mas apenas quando precisam de mim de algum forma. 

Quando alguém vai faltar a missa e precisam de um substituto de última hora as pessoas lembram de mim. Quando precisam fazer aquele serviço simples, mas chato, que requer paciência e organização as pessoas lembram de mim. Quando não sabem o que fazer com a própria vida e precisam desabafar sobre seus problemas familiares ou amorosos as pessoas lembram de mim, ainda que não possa fazer nada além de ouvir. 

Tenho percebido que sou um bom ouvinte, ou as pessoas não viriam com tanta frequência me contar de seus problemas que quase nunca tem alguma relação comigo. E eu escuto sempre, o máximo que consigo, mas nem sempre estou com vontade, nem sempre me sinto bem para isso. Claro que muitas vezes é necessário colocar o outro em primeiro lugar para poder ajudar, acredito que isso seja o mínimo que possa fazer em nome de meus amigos, mas ainda assim, nem sempre me sinto capaz de ouvir, ajudar, e verdade seja dita, nem sempre quero ouvir, ajudar.

Por outro lado isso parece quase nunca acontecer. De fato quando preciso dizer algo a alguém preciso vir aqui e desabafar, pois não encontro ninguém disposto a ouvir com a mesma disposição que eu. Logo, quando começo a dizer algo que sinto, como no momento, em que me sinto triste e sozinho, já sou metralhado por uma saraivada de reclamações em contrapartida como se estivesse numa competição de desgraças. 

Fico feliz por ser procurado quando precisam de algo; Na igreja, por exemplo, me agrada saber que confiam em mim para consertar quando tudo dá errado. Significa que confiam em mim. O mesmo quando algo ruim acontece, se me procuram é porque sabem que escuto... Mas e aí, sempre ouvindo, sempre socorrendo, sempre ajudando, e quando preciso de ajuda? Exatamente! 

Quando quero chorar, quando quero desabafar, eu entro no meu quarto, e fico sozinho no escuro, na companhia das músicas que me fazem bem e tentando encontrar consolo sozinho. Isso deveria ter feito de mim um homem forte, independente, que não precisa dos outros, mas foi exatamente o contrário, me tornei cada vez mais dependente dos outros e hoje me vejo completamente inútil sem alguém ao meu lado.

Minha terapeuta diz que preciso começar a fazer coisas por mim mesmo, sair mais sozinho e ir a lugares que normalmente não iria sozinho, para conquistar essa independência, imagino, mas o problema é justamente que não tenho vontade de fazer muita coisa sozinho, até mesmo quando penso em suicídio eu o faço acompanhado... De qualquer forma acredito que esse seja o único caminho, perseguir uma trilha que me leve a independência, onde não precise viver dependendo de pessoas que não se importam verdadeiramente, porque para ser sincero, ninguém se importa de verdade!

O Rei Eterno II

O Rei eterno, em sua eterna caminhada em busca da própria morte fora condenado a lembrar-se da morte dolorosa de cada um dos seus. Dia após dia ele recorda então daqueles que conhecera, que o cativara e que lutaram ao seu lado, por seus valores e ideais, mas que acabaram inevitavelmente sendo derrotados por um inimigo em comum: a morte!

Sua condenação não fora a própria morte, mas observar a morte levar para si todos aqueles que caminham pelo mundo, ele então, dotado de uma vida eterna, jamais adoeceria, jamais se cortaria, e ainda que se machucasse, seu corpo voltava sempre ao que era antes, ainda mais forte, imune as armas, doenças e todos os males que afligem os homens desde o primeiro pensamento. Fora condenado a estar sempre sozinho, pois em algumas poucas décadas todos os que ele conhecia, morreriam, e ele teria de buscar outras pessoas, que também viriam a morrer décadas depois. 

Caminhando então por essa terra deserta, olhando o vento bater por sobre as dunas impiedosamente, lançando para longe os pequenos grãos de areia ele vê ali o retrato da humanidade, que sem vontade é lançada para todos os lados pelo vento impetuoso do destino. O destino decide então qual duna ficará maior do que outra, e por quanto tempo isso acontecerá. O destino decide qual virá a desaparecer, e qual se tornará um símbolo do deserto. O destino decide. Não as dunas, ou os pequenos grãos de areia, são todos meros fantoches nas mãos de uma eterna criança que nunca se cansa de brincar com as vidas humanas.

O Rei se senta ao chão, e cansado de andar, cansado de ver os seus morrerem, cansado de viver uma vida eterna que ele mesmo desejou, decide por passar o resto de sua eternidade ali. Passa então a observar apenas a mudança da paisagem ao seu redor.

Os ano passam, se tornam em décadas, séculos, e o que era deserto passa a ser habitado. Uma enorme cidade, repleta de prédios surge a sua frente, com construções monumentais e milhares de pessoas a andarem sem destino aparente durante os longos dias. O Rei continua sentado, assistindo. Viu os primeiros estudiosos do ambiente chegarem, fazerem suas medições, enviarem suas máquinas e operários. Surgiram as primeiras construções, e com elas os primeiros moradores. A pequena cidade foi se expandindo, se transformando numa grande metrópole, e logo o que não passava de algumas pequenas casas se mudou numa imensidão de concreto e gente, que fazia barulho a todo momento, buscando mudar o mundo em que viviam para buscar ali uma razão para sua existência efêmera. 

O Rei recordou de seu próprio reino, os prédios lhe recordarem das muralhas que mandou erguer imponentes, dos jardins que mandou regar e ornar com flores de lugares distantes, mas que ainda assim se acabaram nas intempéries dos séculos. Aquela multidão de gente era como seu gigantesco exército, que encontrava sua razão de ser no prazer de ver seu inimigos padecerem sob a lâmina de sua espada.

Mas nenhuma criação humana é eterna, e séculos depois a cidade também se torna deserta, vítima de uma epidemia que dizimou parte da população e que obrigou a restante a mudar-se para longe dali. O Rei continuou sentado, a observar. Observou o cansaço dos trabalhadores, o furor dos investidores, o desespero da multidão, o medo daqueles que perdiam os seus, e recordou-se dos séculos de perdas que vivera. 

Depois que todos se foram ele permaneceu ali, e observando os prédios envelhecerem, as vidraças se partirem e o concreto virar poeira constatou que a essência do homem é a sua existência passageira. A eterna busca pelo eterno que culmina na morte da criatura. O medo da passagem, do fim, do desconhecido, tudo isso é a eterna condenação do homem, mas é também sua maior fonte de sabedoria e de glória.

Sentado ali vendo a cidade tornar-se um amontoado disforme de ruínas o Rei percebeu que os deuses não são vilões, que apenas divertem-se com a vida dos homens, mas que dia após dia usam-se das perdas para ensinar-lhes o valor da vida, vida essa que inevitavelmente acabará na morte. Compreendendo isso ele passou a entender o que os deuses levaram milênios para ensinar-lhe: que não se deve lutar contra a natureza, pois ela sempre se mostrará superior, seja em seu infinito poder ou em sua infinita sabedoria. 

O homem nasceu para morrer. Vive para morrer. O homem nasceu para perceber que está sozinho, e vive para aprender que também viverá sozinho. O homem não pode lutar contra sua verdadeira natureza, e a verdadeira natureza do homem é a efemeridade, a vida que passa, e a sua história que desaparece.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

O Rei Eterno

Num campo deserto um homem caminha só, sem saber em que direção está ou aonde irá chegar. Ao olharmos de longe vemos apenas uma mancha em meio a luz escaldante do sol que de tão brilhante torna os homens cegos. O viajante se abriga embaixo de pesadas vestes, e uma capa longa voa ao vento, assim como a areia que rodopia violentamente ao seu redor.

Qualquer um poderia pensar trata-se de um moribundo, um homem sem importância que anda sem direção esperando apenas a hora de sua morte chegar. Caminhando apenas para dar a si mesmo a impressão de continuar lutando até o dia em que sua capa será trocada pelo manto negro da morte. Mas este homem não é um rejeitado da sociedade, mas um rei que, desejando a vida eterna, aprendeu da pior maneira que nossos desejos nem sempre são aquilo que realmente precisamos.

Ele caminhou por anos, em busca de vida eterna, de um corpo perfeito e imortal, e não descansou nem mesmo quando sua alma deixou seu corpo. No inferno ele continuou sua busca incansável até que depois de longos séculos de tortura, conseguiu dos deuses o direito a um corpo imortal, como recompensa por sua longa jornada. O que ele não sabia é que os deuses não tinham intenção de com aquele corpo o presentear, mas apenas castigá-lo por almejar algo negado aos homens. Apenas aos deuses está reservado o direito a um corpo imortal, pois vivem rodeados de todas as riquezas e prazeres do mundo, enquanto usam de seus poderes para governar o mundo, que está sempre a mudar. Mas ao pobre rei não, ele não era um deus, não tinha o que governar, e quando retornou a este mundo, sei reino já havia se acabado, e ele não era mais lembrado, temido e nem reverenciado por ninguém. Seu nome foi esquecido pelos homens pelos quais um dia ele lutou, seu povo aprisionado e suas mulheres vendidas aos reinos vizinhos.

Recuperara seu corpo, e sua vitalidade, e por um século ou dois fora admirado aqui e ali como grande líder e guerreiro, mas ele logo aprendeu que viver para sempre num mundo onde todos morrem significa ser eternamente esquecido por uns, enquanto precisa recordar aos outros o valor de sua existência.

Não acostumou-se a ver os seus morrendo, ano após ano, e ter de superar o luto, ano após ano, em todos os lugares que estivera. Os deuses deram-lhe um corpo perfeito, que nunca apodreceria, mas mantiveram seu coração humano, fraco, que se apega, que ama, e que sofre com a perda.

Não ganhou a vida eterna, uma vida de deleites e prazeres, uma extensão das conquistas que tivera em vida. Ganhou dor, desespero, e a eterna condenação de ver os seus morrendo, dia após dia, até o fim dos tempos e além... Caminha agora sem rumo, sem direção, apenas fugindo em sua loucura do mundo em que vivera por milênios, e que por milênios vira morrer em seus braços, não uma ou duas, mas incontáveis vezes.

Caminha agora sem rumo, tentando encontrar a morte que para sempre lhe foi tirada. Deseja agora fazer parte do grande número de condenados a morte desse mundo, deseja não mais ser o rei dono de todos os tesouros da terra, mas possuir a morte para si. Deseja não ver ninguém morrendo em suas mãos, mas sabe que o mundo há de morrer, enquanto ele viverá eternamente.

Morrendo a cada dia, mas sem nunca conseguir morrer. Vivendo cada dia tendo de encarar a morte, mas sem nunca poder tocá-la, sem nunca poder acompanha-la ao seu reino.