terça-feira, 31 de julho de 2018

Sobre a verdade do homem

Sartre disse que "o inferno são os outros" mas creio que nem todos possam ser capazes de enxergar o inferno que causam em nós. Na verdade somos incapazes de perceber qualquer coisa que se passe com o outro. 

Nossa percepção é capaz de conhecer as coisas do mundo, sensível e metafisicamente falando, mas somos absolutamente incapazes de conhecer o outro, especialmente seu coração. Esse é o limite da percepção humana, e sei que já tratei disso muitas vezes. No entanto, quando mais uma vez meu coração sangra de dor em perceber a absoluta solidão em que se encontra, o que mais eu posso fazer além de derramar esse mesmo sangue na forma de palavras, repetitivas porém sinceras?

Isso porque não conseguimos ver as coisas como são e aceitar essa verdade como sendo parte da estrutura da realidade, mas a cobrimos com camadas e mais camadas de sonhos e expectativas infundadas, até não conseguirmos mais saber o que é verdade e o que é sonho. Mas o antigo provérbio que dizia que três coisas não ficam escondidas por muito tempo, sendo elas o sol, a lua e a verdade, nos mostra que o sonho não dura mais do que uma noite, sendo a verdade revelada mais cedo ou mais tarde. E sendo essa a mesma verdade que por medo preferimos não ver, nos machucará ainda mais agora que fomos sensibilizados pelas quedas dos sonhos que nela colocamos como uma camisa de força. 

O medo que antes nos fizera sonhar agora nos leva a fugir, tendo uma vez encarado de frente a verdade e visto que dela não pode vir senão dor e sofrimento.

A verdade do homem é a sua solidão. 

Embora seja um animal político, o homem só assim se fez para fugir da solidão que o assombrava desde o primeiro pensamento. Desde o momento em que o homem deu-se consciente de sua existência, percebeu também que estava sozinho, e desde então tudo o que fez foi para buscar escapar dessa solidão. 

As pessoas que nos cercam, os barulhos que nos rodeiam, as luzes que nos cegam. Tudo é obra de nossa criativa mente que busca fugir da completa solidão em que nos encontramos. Prova disso é que não importa o quanto alguém busque ser sincero quanto a si, quanto a seus sentimentos, o homem vai sempre continuar infeliz em sua existência patética, incapaz de fazer o outro enxergá-lo como quem ele acredita ser. 

Tentar ser bom para o outro é inútil. 

Amar é inútil. 

Viver é inútil. 

Toda nossa existência é pautada em motivos, fins, razões e causas inúteis. Tudo o que o coração do homem pode conceber como sendo um motivo de sua existência é apenas causa de dor e sofrimento. E no fim, o mundo não se divide entre pessoas que alcançaram ou não seus sonhos, mas entre pessoas que perceberam essa fria verdade e pessoas que vivem suas ilusões e são burros demais para percebê-las.

Não quero mais ouvir o mundo tem a me dizer. Não há nada que a verdade possa me dizer que eu queira ouvir. Aquilo que amo, aquilo que quero, é simplesmente impossível para mim.

E isso significa que não tenho aqui razões para continuar. 

A música dos homens, e a música dos anjos


Gustav Mahler (1860-1911)
Sinfonia n.º 4 em Sol maior

I. Bedächtig. Nicht eilen

(Prudente, não acelerado)

Numa alegre e brilhante campina o sol brilha forte, as crianças correm pra lá e pra cá, enquanto suas mães estendem os lençóis alvejados nas cordas. Alguns homens vem caminhando do campo, com as testas molhadas do suor do dia de trabalho. As moças dançam, os rapazes as olham de longe e tocam seus tamborins, os velhos bebem e comentam o quanto as coisas mudaram naquele lugar que mais parece ter se cristalizado no tempo. 

A tarde vai aos poucos transformado a luz clara do sol num esverdeado escuro do anoitecer. As luzes se acendem aqui e ali. Os pontinhos amarelos se destacam na imensa colcha azul da noite, salpicada de estrelas. O som dos instrumentos se mistura com o o burburinho das vozes e das risadas. Não é uma festa especial, mas ali, todas as noites são uma festa. Os homens agradecem o dia de trabalho no campo bebendo, as mulheres conversam, depois de muito se ocuparem das casas e das crianças, que agora dormem.

O bosque que rodeia aquela pequenina vila é iluminado pelas lúgubres lamparinas, e o som das musicas a distância fazem os animaizinhos dormirem, pois já estão habituados com aquela cantoria. Uma bela moça encanta os olhos dos rapazes enquanto dança, seus longos cabelos ondulados caem por sobre suas costas, terminando na altura de sua fina cintura. Ela agita a saia na direção de um jovem rapaz que, no entanto, é o único que ali não olha encantado para ela, mas que fita fixamente uma janela pouco iluminada distante dali.

O tempo passa. Alguns cãezinhos correm pra lá e pra cá, atrás das sobras que caem dos pratos daqueles que estão comendo sentados às portas das casas. A essa altura alguns já exageraram na bebida, e o efeito anestésico do álcool começa por fazer efeito. O sorriso já é bobo, as faces coradas.  A moça já não mais tenta conquistar um pretendente para aquela noite, e decidiu por sentar-se com suas amigas. Os rapazes que não beberam voltaram para suas casas, e os outros estão rindo e contando histórias de suas aventuras, muitas das quais todos ali sabem não passar de mentiras. Aquele outro rapaz continua fitando a janela, mas um pouco menos focado, pois o ópio o deixou um tanto quanto distraído, embora ainda esteja com seu pensamento fixo.

As moças e os rapazes continuam seu cortejo e, longe dali, se ouve a marcha militar avisando que até os soldados se preparam para dormir ou se juntar a festa. Alguns casais enamorados também retornam as suas casas, para aproveitarem a noite na companhia de seus amores.

II. In gemächlicher Bewegung. Ohne Hast

(Comodamente impulsivo. Sem pressa)

A ebriedade dominou quase que completamente os camponeses que, levados pelos seus amores, acabaram exagerando um pouco na bebida. As mentes apaixonadas titubeiam, entre as casas de pedra que rodeiam a praça e os mundos de delícias que seus sonhos criativos sonham.

Sem conseguir andar mais, um jovem rapaz se deita, com a cabeça encostada na pedra fria de algum beco pouco iluminado. E ali sorri debilmente, pois distante de realidade é capaz de viver seu amor sem preocupar-se com nada.

A jovem dançarina entra em sua casa, ainda rodopiando lentamente, com um belo sorriso ébrio a estampar sua face corada. Suas amigas continuam seu caminho, também cambaleando. Um casal apaixonado anda de mãos dadas pelas ruas aquecidas pelas lamparinas. Ela, trêmula, agarrada a enorme mão de seu amado.

A doce ebriedade leva todos a sonhar. O mesmo sonho? Sensações de prazer, sorrisos bobos, corações afetados.

III. Ruhevoll

(Tranquilo)

Algumas pessoas começam a adormecer, e lentamente se deixam levar pela cômoda sensação de relaxamento. Agora que o silêncio tomou o lugar dos instrumentos e das cantorias, a lua impera gloriosamente sobre todo o povoado.

O sol começa a nascer, timidamente, no horizonte. Tornando de novo o breu em uma clara realidade. A luz aos poucos vai aquecendo o mundo onde toca, os animais acordando no bosque, e as pessoas aos poucos vão recobrando sua disposição atual.

Há um breve momento, ao amanhecer, em que o sol impera antes do acordar das pessoas. É quando o sono é mais profundo, é quando o sonho viaja mais longe. É quando o homem não pode mais esconder-se dos fantasmas que o atormentaram, mas que agora vivem em torno dele. A luz quente toca o peito nu de um rapaz que bebeu demais, e deitou de qualquer jeito na cama, quando finalmente conseguiu chegar em casa, lá pelas tantas da madrugada.

Mas também os anjos habitam a sua volta. E as vezes, algumas pessoas não acordam quando o sol nasce, senão que são levados pelos anjos, para o outro lado, para a corte celeste. Da vigília ébria, ao sono profundo, e depois a estranha consciência de seu corpo aquecido por uma luz mais divina do que um milhão de sóis. Acordado pelas trombetas dos anjos, deslumbrado pela visão de um Deus mais belo que todas as belezas já contempladas por olhos humanos. O jovem que não acordou no mundo dos homens, agora contempla e canta a Vida no Paraíso, e nos mostra que 50 minutos da música dos homens não é nada perto de 3 minutos da música dos anjos:

IV. Sehr behaglich. Das himmlisches Leben.

(Muito cômodo. A Vida no Paraíso)

Nos divertimos com os deleites do Paraíso,
então evitamos todas as coisas terrestres.
Nenhum clamor mundano
é ouvido no Paraíso
Tudo vive na mais gentil paz!

Levamos uma vida angelical!
Mas somos completamente alegres!
Dançamos e saltamos,
saltitamos e cantamos!
São Pedro no Paraíso observa!

João deixa o pequeno cordeiro livre,
o açougueiro Herodes o vigia!
Conduzimos docilmente,
inocente, docilmente,
doce pequeno cordeiro à sua morte!

São Lucas o boi abate
sem sequer um pensamento ou cuidado;
o vinho custa nem um centavo
na adega do Paraíso;
os anjos, eles que assam o pão.
Finas ervas de variados tipos,
crescem no Jardim do Paraíso!

Requintados aspargos, feijões
e qualquer coisa que queiramos!
Pratos inteiros são para nós preparados!
Boas maçãs, boas peras e boas uvas,
os jardineiros, nos permitem tê-las todas!
Quer carne de veado ou de lebre?
Nas largas alamedas
eles correm livres!

Se o dia de jejum se aproxima,
todos os peixes vêm alegremente nadando!
Correndo vem São Pedro
com sua rede e suas iscas
dentro da lagoa divina.
Santa Marta deve ser a cozinheira!

Não há música na Terra
que possa ser comparada com a nossa.
Onze mil virgens
se lançam à dança!
Santa Úrsula, entretanto, ri!

Cecília e seus parentes
são excelentes músicos de corte!
As angelicais vozes
deleitam os sentidos,
para que todos acordem para a alegria.

~

Programa escrito por mim, da 4° Sinfonia em Sol Maior do Gustav Mahler. 
Tradução do hino do último movimento aqui

quinta-feira, 26 de julho de 2018

De mentiras e experiências

Nietzsche disse que a vida sem música seria um erro. Um amigo disse que sem amizades, a minha entre elas, também o seria. Desconfio veementemente dessa afirmação, pois sei bem que, dentre as muitas amizades que há por aí, a minha não está figurando entre as mais importantes amizades. Não há em mim amarras que prendam os outros a mim, senão que há apenas correntes que me prendem aos outros. 

Pois bem, essas palavras ditas por meu amigo reverberaram em meu coração de forma seca, pois bem sei que, embora tenha se referido a todos nós, a minha amizade é para ele a menos importante, dentre todas as outras. 

Daí retiro algumas impressões. Como a calma resiliência em buscar não uma amizade que me faça feliz, mas um conhecimento superior, que supra as necessidades egoístas que tenho em mim de precisar sempre do outro. 

Retiro daí também uma estranha luz no fim do túnel que, espero eu, não seja outra ilusão a me cegar, disfarçando a lâmina afiada da traição com o véu puro da amizade. Essa luz se deu no momento em que as palavras de falsidade encontraram em meu coração a verdade, ao mesmo tempo em que palavras aparentemente sinceras entraram pelo mesmo caminho. Essas eu sou incapaz de julgar sua veracidade. 

Ao passo que, de um lado busco encontrar a saudável sinceridade por trás das palavras de mentiras, de outro temo me enganar novamente. Ludibriado pelo odor inebriante da pureza virginal, da branca imaturidade de um novo amor. Um novo amor? Quem o sabe que fim levará? 

A experiência certamente pode, e deve ser consultada, e admito que se não fosse pelas suas duras palavras de sabedoria e pela já constatada veracidade, não a buscaria. A experiência me pede cuidado, pede que caminhe lentamente pelas estradas desconhecidas. Que seja cuidadoso ao cruzar os umbrais de um castelo ainda obscurecido pela distância. Que não corra como antes, sem me preocupar em estar cruzando as linhas inimigas daqueles que desejam a minha morte. 

terça-feira, 24 de julho de 2018

Prece na aflição

Perdido dentro de uma nuvem de destroços. 
O que são essas coisas que pairam no ar ao meu redor? 
Metal e pólvora? 
Ou são os pedaços do meu eu que se desfizeram? 

Onde estou? 
Esse lugar parece meu quarto, mas não reconheço essas paredes.
Teto não familiar. 
Onde vim parar?

 Onde meus pés me levaram senão que foi para a beira de um abismo? 

Olho para as minhas mãos e não as reconheço. 
Me olho no espelho e não sei quem é esse que me encara. 
Nem sequer essas palavras parecem ser ditas por mim, mas por um completo estranho. 

Não sinto outra coisa senão dor. 
Nada faz a dor passar. 

Os remédios não funcionam, apenas me deixam preso numa casca de torpor, enquanto meu ser se consome em chamas. 

Mas onde dói? 
Quando dói? 
Dói tudo o tempo todo! 

Tenho existido apenas pela simples aglutinação de dores e temores. 
Até mesmo os breves lampejos de esperança que tenho não são mais do que armadilhas para meu coração já despedaçado.

Tenho me assustado com facilidade. 
Chorado com facilidade. 

Mas preciso ser forte, não posso chorar na frente dos outros, não daqueles que esperam de mim fortaleza. 

Preciso ser bom, mas ser bom não é suficiente. 
Preciso ser o melhor. 

Preciso cuidar das músicas. 
Preciso cuidar da liturgia.
Preciso cuidar da sacristia. 
Preciso cuidar da minha cabeça. 
Preciso cuidar da minha saúde. 
Preciso cuidar da minha vida. 

Mas eu não consigo fazer nada disso, eu sou fraco Deus! 
Por favor, ajude esse seu filho que não sabe o que fazer...

Meu corpo todo dói, como se tivesse corrido por horas sem parar. 

Meus cabelos caem, minha pele se estraçalha. 
Estou em pedaços, e não faço ideia do que fazer para mudar isso. 

O que devo fazer Deus? 
O que quer de mim? 
Onde esse sofrimento me levará? 

Já não tento mais entender, sei que não sou capaz disso. 

Apenas quero de algum modo sobreviver. 
Se há algum propósito para isso, me mostre o que quer de mim, o que espera de mim, meu Senhor. 
Pois estou nos limites de onde minhas forças poderiam me levar. 
A partir de agora não posso mais dar um passo sequer sem que seja por ti arrastado. 
E se não for levado a nenhum lugar, ficarei aqui, até ser devorado pelos abutres e pelos vermes das ruínas. 

Essa é a minha pequena prece na aflição, meu Deus.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Sem pressão

Dia do cansaço, é como geralmente chamo as segundas. Meus fins de semana são sempre muito cheios de atividades na igreja, e então quando chega domingo a noite eu só quero saber de me deitar e recuperar o pouquinho de forças que tenho normalmente. 

Esse foi um fim de semana cheio, um dos piores de que me recordo. A crise de ansiedade que tive foi uma das piores nos últimos anos, e cheguei realmente a pensar que não iria conseguir ver um fim. Claro, sempre motivado por algo torpe, geralmente bobo. 

Me vi vulnerável com algumas obrigações na igreja, um pouco sufocado, e pressionado por um amigo com uma relação conturbada. Não sabia como agir perto dele, e isso me incomodou. A proximidade então me fez surtar.

O que sinto agora é o vazio, a calmaria depois da tempestade.

Meu corpo tenta lentamente se recuperar do cansaço, minha mente foi a primeira a se desligar. Passei o dia vendo série, mas nada complicado demais pra entender, apenas imagens simples que pudesse contemplar sem exigir muita atividade mental. No mais, o resto do dia foi regado a musica, do tipo que me faz sorrir ou dormir. Não me preocupei em me arrumar, ou em tomar banho, não me preocupei com nada. Qualquer coisa que me afaste da atmosfera pesada e do sufoco que foram os últimos dias. Um dia em que posso ficar nas nuvens, sem ver no chão as cinzas pretas do vulcão...

É bom sentir um pouco de leveza pra variar. 

É bom não sentir dor e pressão de todos os lados. 

É bom poder ficar deitado sem pensar muito em nada... 

É bom... 

sábado, 21 de julho de 2018

Resenha: My Dear Loser - EDGE of 17

É incrível como as vezes perdemos grandes oportunidades de ser feliz apenas porque colocamos uma ideia na cabeça e não desistimos dela de maneira alguma. Foi assim comigo, que por muito tempo relutei em ver My Dear Loser por conta dos comentários que li sobre ela, e também foi assim com o Oh, protagonista dessa mesma série que conseguiu me prender até o último segundo. 

Bom, tenho acompanhado muitas séries ultimamente, e por isso acho que tenho quebrado um pouco do meu preconceito e da minha relutância em ver séries com casais hétero como protagonistas, mas como já vi todos os BLs lançados o jeito é ver também as séries em que eles são secundários, mas até agora não consegui me decepcionar. 

Como muita gente dizia que o BL de My Dear Loser - EDGE of 17 era só enrolação eu enrolei uma vida pra ver, e me arrependo amargamente. Essa é a primeira coisa que posso dizer: se você procura uma história bonitinha, mas cativante e emocionante, essa é obrigatória. 

O plot é até bem clichê: Oh é um garoto esquisito, com aparência de nerd mas que não faz nada direito, que sofre bullying na mão dos valentões do colégio e é apaixonadinho por Peach, a garota mais popular que não por coincidência namora com Copper, o maior valentão da parada. Aí tem também Sun, o garoto novo que se tornou amigo de Oh e que também acabou arrumando confusão com In, outro valentão.

O legal é ver como a coisa toda é desenvolvida. É gostosinho ver o esforço de Oh em ser um bom amigo pra Peach enquanto ela só se decepciona com o namorado que só quer briga com todo mundo. Também é lindo de se ver como Sun consegue aos poucos ir desarmando In e fazer dele um ex-valentão que se mostrou um amigo muito dedicado e carinhoso.

Oh é interpretado pelo Nanon Korapat, que eu não conhecia, mas que me conquistou nos primeiros minutos. Eu achei muito engraçadinho o nerd esquisitão da escola ser mais bonito que o bonitão, mesmo com aqueles óculos enormes e o cabelo estranho, mas eu não precisei esperar a transformação (tipo Betty, a Feia) acontecer pra achar ele um fofo. O personagem tem sérios problemas de autoestima mas esconde um grande potencial por trás da aparência de medo. É bom com esportes, com jogos que exigem raciocínio rápido, e só precisou que alguns amigos meio suspeitos mostrassem isso pra ele. 
Nanon Korapat, belo e pleno.
Peach é a garota popular, mas sinceramente eu não conseguir entender o motivo disso. Achei ela bem sem sal, na boa. Mas de qualquer forma ela é disputada a tapas, literalmente, pelo Oh e pelo Copper a série todinha, e faz a sonsa na maior parte do tempo. Sad.

Sun (Chimon Wachirawit Ruangwiwat) é o menino novo que arrumou confusão no primeiro dia de aula só por ajudar o Oh que tava sendo perseguido. Com isso ele perturbou In, amigo de Copper, que não gostou da boa ação do garoto. Depois de ajudar In que sido chutado pelos amigos, acabou se apaixonando por ele, devido o longo tempo que passaram juntos.
Chimon

In é interpretado pelo fofíssimo Purim Pluen (não vou colocar o nome completo porque é quase uma frase) que eu já conhecia de Slam Dance. Ele se zangou com o Sun no começo da série e ficou no pé dele por um tempo, até ser chutado pelo Copper e ajudado pelo carinha que ele perseguia, mostrando pra gente que ele é mais do que um valentão, mas um amigo e tanto. 
Purim Pluen

Ainam é amiga de Oh e Sun, e mais tarde de In também. Ela se apaixona por Sun, enquanto In se apaixona por ela, melhor triângulo amoroso ever. 

Depois de Sun brigar com a tia porque ela achou uns livros e DVDs BL do rapaz, ele vai ficar uns dias na casa de In, e por isso acabam passando muito tempo juntos, e até usam as mesmas roupas e acessórios, fazendo todo mundo achar que os dois estão namorando. As cenas dos dois me fizeram suspirar e sorrir que nem um bobo por horas, e já coloquei o Chimon e o Pluen na minha listinha de atores favoritos, porque eles tem uma baita química em cena, e se saíram bem tanto nos momentos sérios como nos momentos que exigiam um timing de comédia. Uma pena que em comparação ao casal principal os dois tem bem menos tempo de tela, mas ainda assim quem é fã de BL não pode deixar de ver.
De fato quem espera pegação que nem aconteceu em Together With Me ou Heroin vai se decepcionar. Mas ainda assim eu achei tão bem desenvolvido que nem senti falta de um beijo ou de uma cena que mostrasse algo mais hot. Fiquei com a impressão de que a GMM não sabe bem o que fazer com eles, já que depois os personagens apareceram no último episódio de Happy Ever After, outro arco de My Dear Loser (a série é divida em arcos, como acontece com Senior Secret Love e Project S, cada um com uma história independente), mostrando que eles continuam juntos. Eu acho que pode vir um projeto com eles como protagonistas por aí, palpite.  

A série tem 8 episódios de mais ou menos 1 hora cada, mas que te prendem por cada minuto. Tem risada e drama pra dar e vender. Quem procura BL e quer de brinde uma história maravilhosa, precisa ver urgentemente. Eu chorei e rolei de rir horrores, e agora que acabei, to sofrendo pra caramba, buscando um sentido na vida, ou melhor, buscando outra série pra ver e sofrer. 

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Bom Dia

Você deve estar se aproximando agora da esquina, e meu corpo ainda experimenta uma espécie de superconsciência da sua presença. O temor que tinha em te ver, que durante o dia me renderam fortes dores de ansiedade, logo se dissiparam quando entrei em contato com seu olhar. A sua presença tirou de mim todo o temor que havia pela anunciação dessa sua mesma presença.

A sua voz ecoa no meu pensamento, bem como seu cheiro, e por isso não consegui dormir. A sua lembrança aparece a mim novamente a cada segundo, quase como se você se manifestasse ante meus olhos. Não poderia deixar meu corpo e mente livres sabendo que você estava ali, há poucos metros de mim, indefeso, mas que não poderia tocá-lo de maneira alguma. 

Tão lindo. Tão alto. Tão majestoso. Seu sorriso me desconcerta, me desconcentra, me hipnotiza. Não é de se surpreender que fique tanto tempo te olhando, é uma missão quase impossível não te olhar, não te querer por perto, ao meu lado. 

Só queria segurar a sua mão, e dormir sentindo sua presença não perto de mim, mas ao meu lado. Só queria caminhar ao seu lado. E numa manhã como essa, acordar tendo a sua bela visão como primeira visão, anuviando até mesmo a beleza do sol. Oh, que lástima, poder olhar sem poder te tocar.

É engraçado ver o sol nascer, quando para mim o dia já brilhava simplesmente por saber que você estaria ali quando acordasse. Assim como ontem a noite a lua não brilhou tanto por saber que você estaria aqui. Não é que o universo se curve a sua beleza, mas eu que não consigo ver a beleza do universo quando você está aqui, pois estou completamente imerso nessa doce obsessão por você.

Eu te dou Bom Dia, quero a sua companhia... Assim começo meu dia, um bom dia? Pensando em você, olhando para você, depois de ter sonhado com você, e por fim, apaixonado por você!

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Do horizonte

Descendo de uma montanha, correndo, minhas pernas se movem mais rápido do que meu pensamento. Tropeço em algumas pedras, escorrego aqui e ali, meu braço se arranha nas rochas que surgem repentinamente. 

Meu olhar? Não presta atenção ao chão acidentado em que corro, está fixo no horizonte. Fixo na luz brilhante que profusamente refulge em tudo o que meu olhar toca. Lampejos brancos, amarelos, laranjas, violáceos. A beleza daquele horizonte é tão hipnótico que quase sinto meu corpo flutuar, voando velozmente em direção a ele. Quero tocá-lo, quero alcançá-lo, quero de alguma forma chegar até ele. 

Os pulmões gritam em protesto, as mãos adormecem, o coração bate tão forte e tão veloz que sinto que poderia saltar de meu peito a qualquer momento, e sair correndo por si só. Cada célula do meu corpo, cada músculo, cada osso anseia por aquele horizonte, e meus olhos brilham já com as cores daquele l'arc en ciel que se abre como um canvas pintado pessoalmente pelas mãos de Deus, e colorido pelos anjos com as cores das asas das sílfides mais belas que já existiram e que já voaram naquele mesmo céu. 

Finalmente chego, não no horizonte, mas na campina de onde é possível vê-lo em todo seu esplendor, por sobre a copa das arvores, por sobre o cimo dos prédios e das torres, e ali, sozinho, apenas pra mim, aquele espetáculo silencioso se desdobra ante meus olhos, com a música do meu coração a tocar, e com as lágrimas da minha alma a derramarem-se na minha face ruborizada, na minha mão suja de terra, em meus pés calejados e ensanguentados. 

Ergo uma das mãos, como uma criança que tenta pegar o brinquedo acima de sua cabeça, e o arranhado se mostra mais nítido naquela luz. Não ligo pro quanto possa doer, só quero por um instante que seja, sentir que faço parte daquele universo de cores, luzes e perfeição!

terça-feira, 17 de julho de 2018

Um diálogo

Uma postagem na internet dizia: "Cite um sentimento, e eu vou citar uma pessoa que desperta em mim esse sentimento."  E eu citei:

Companheirismo

Qual foi a minha surpresa quando vi meu nome na resposta, dizendo que eu sou sinônimo de companheirismo, para um grande amigo. Uma doce alegria me dominou no instante exato que meu nome surgiu naquela tela. O diálogo a seguir se deu de forma privada, momentos depois disso.

- Sabe, eu me surpreendo quando alguém diz isso, porque eu sou o tipo que as pessoas procuram quando querem que eu faça algo que elas não querem fazer, então dificilmente sinto que alguém me procura porque confia, porque quer. Isso faz eu me senti um pouco menos desprezível...

- Eu sei como é, passo muito por isso também...

- Mas obrigado, e desculpe se em algum momento fiz você pensar que não pode cofiar em mim, mas estou tentando melhorar pra você!

- Eu digo o mesmo!

- Não somos perfeitos, é impossível não magoar um ao outro. Mas acho que o importante é sempre se arrepender, tentar melhorar. E quem sabe fazer dessa cicatriz que ficou, uma armadura!

- Tu tem umas reflexões fodas. Normalmente as pessoas falam "Pois é né."

- Mas é isso, eu sei q magoo você, eu magoo meus pais todos os dias, e muitas pessoas me magoam também. Mas o que eu posso fazer senão tentar mudar e magoar menos quem eu amo?

- E X A T A M E N T E. Eu tento ao máximo melhorar...

- Acho que alguns esperam que os outros mudem!

- Agora a gente encerra o assunto, se não eu choro...

~

Encerrado o assunto eu prossegui refletindo. Prossegui pensando se vale a pena o esforço de me reaproximar de uma pessoa que eu amo tanto.

De um lado há aquela necessidade, o apego pela presença da pessoa. Sabe, trata-se de alguém que consegue me fazer sorrir pelo simples fato de dizer que pensa em mim nesse ou naquele momento. Por outro lado, depois de certas desavenças, a dor da presença é quase tão grande quanto a alegria. E a nossa amizade se tornou isso, um misto de alegria e medo que eu não sei administrar.

Sempre que ouço a sua voz eu me estremeço. As vezes chego ao extremo de sentir dor e me paralisar de desespero em vê-lo. Outras vezes o meu semblante mais triste se converte num sorriso imenso, retrato da alegria que é vê-lo, tocá-lo... E é essa a dicotomia do meu coração, uma cornucópia de sentimentos conflitantes que flutuam ao redor de uma única pessoa.

É com um sorriso no rosto, uma mescla de desespero e alegria, uma esquizofrenia, que digo essas coisas, sem compreender, mas apenas sentindo...

sábado, 14 de julho de 2018

Perdido na praia

Onde está você? 
Onde eu estou? 

Eu olho ao meu redor e só vejo o mar escurecido pela noite, a brisa fria em minha pele... As minhas costas as luzes distantes da cidade brilham delicadamente, como se a lembrança daquelas pessoas estivesse num passado distante. 

O apaixonado veria a mais bela das paisagens. 
O desesperançado vê apenas um lúgubre retrato da solidão. 

Uma voz rouca canta longe de mim, um violão desafinado, sorrisos de casais apaixonados, e o brilho triste da lua a iluminar meu rosto. As lágrimas frias se perdem no meio do mar, gotas se desfazendo no oceano, como meu coração se desfez em meio ao amor. A areia, que durante o dia era aconchegante, agora é só uma fria camada de pó sob meus pés, e em breve eu também serei pó. 

Olho para aquela imensidão negra, e meu coração se volta para realidade distantes dali. As almas sobrem ao céu, aos montes deixam esse mundo. Será que ainda amam? Onde está o céu para onde elas vão? As estrelas que timidamente brilham ao redor da lua as levam pra um lugar melhor?Aquele mar me leva para longe, e não há poesia em mim que possa conter o mar, mas o mar sendo imensamente impetuoso, me faz ver coisas que eu não queria, me faz chorar. 

Onde está você? 
Quem é você? 

Saia da escuridão em que se esconde, me deixe ver seu rosto. Segure minha mão, e me faça ver de novo a beleza desse mar. Caminhe comigo, me faça recuperar o sorriso que perdi entre as lágrimas que derramei. Me traga de volta desse abismo... Me leve de volta para aquele tempo em que tudo era mais fácil, em que não me preocupava, em que não amava.

Onde está você?
Tem alguém aí? 

Tem alguém que me leve para dançar, sob a luz do luar? Pois agora eu só estou dançando sozinho,  na noite escura, e sonhando com alguma coisa um pouco melhor do que isso aqui... Oh, por favor, alguém me leve de volta... 

Para mim!

De uma tragédia real

Da noite escura à repentina esbofeteada da vida capaz de nos abrir os olhos a verdade. De verdades duras e frias, mas verdades. De mentiras doces que se vão como fumaça por entre os dedos. De mentiras inebriantes que no circundam como névoa. De todas essas coisas é feito nosso destino.

As mentiras nos amolecem, a verdade nos machuca. O covarde se esconde, atrás das cortinas, de suas palavras, de caixas vazias, de sangue remediado. Esperanças vazias, realidades mais cruéis do que nossas lágrimas são capazes de expressar.

Dor.

Abandono.

Tristeza.

Solidão.

Aquela voz sofrida, de quem tenta reunir as dores que lhe resta para enfrentar um desafio, quando os desafios já deveriam ter-se extinguidos e dado lugar ao doce conforto da velhice. 

Em algum lugar há alguém sendo abandonado nesse exato momento*, e não metaforicamente como costuma acontecer. Nesse exato momento alguém realmente anda sem saber para onde ir, onde se esconder do frio, da escuridão, da dor da incerteza, do horror do abandono. 

Palavras são incapazes de expressar a dor de um coração assim. A garganta seca parece ter sido alvo de pancadas, e já não há mais voz nenhuma, além de soluços descompassados. As mãos treme, o olhar lacrimeja e a perna vacila... É isso, contra a verdade cruel do mundo não há poesia que há romantize! Contra a verdade cruel do mundo não há amor que não se emocione.

~

Nota -  Me refiro a esse incidente absolutamente horrendo que me chocou barbaramente na noite do último sábado (13): Uma idosa de 63 anos foi abandonada na porta do Lar dos Idosos em Brusque

Da mediocridade

Sabe, é estranho olhar para si, seja no espelho ou numa reflexão noturna aleatória, e não se reconhecer, ou melhor, se reconhecer mas se recusar a gostar do que vê. 

Não gosto de quem me tornei. Não aprovo o lugar onde estou e nem as coisas que faço. Não me vejo fazendo nada de útil ao próximo, não me vejo sendo necessário, não me vejo sendo sendo alguém, me vejo apenas como algo menos do que um homem, mas que ainda insiste na forma humana. 

Tenho estado confuso sobre muitas coisas, e as outras poucas das quais tenho certeza, me machucam de tal modo que não consigo desejar outra senão uma reviravolta completa. 

A primeira coisa que me incomoda é a forma como tenho me afundado cada vez mais em coisas que não podem me dar senão dor e sofrimento. Todas e cada uma das coisas que explodiram na minha cara e deixaram um rastro de destruição no meu coração foram ali colocada por mim, e nem me atrevo a dizer que não sabia o que estava acontecendo pois tinha, e tenho, completa ciência de que as coisas podiam dar errado, e ainda assim insisti em cada uma...

Agora eu sou a pessoa que anda de cabeça baixa por aí, passando dias sem ver o sol, e desejando uma pessoa que, quando fala comigo, só me faz querer sumir e nunca mais olhar na cara dela. Me tornei covarde, incapaz de encara-lo de frente, e também incapaz de deixa-lo ir, ou de partir eu mesmo.

E não só com ele, estou preso não há uma, mas há uma dezena de pessoas que vieram, me machucaram e se foram, e cada uma dessas histórias passadas ainda pesam em mim como correntes de aço que me impedem de andar.  Esperanças que me cegaram até o momento em que a verdade me esbofeteou violentamente, mostrando-me seus tentáculos gelados, com os quais me golpearia até a morte.

Eu finjo que minha autoestima melhorou, quando na verdade eu apenas consigo dizer coisas que antes não dizia, mas continuo odiando o que vejo no espelho, e nem as tatuagens que se multiplicam em minha pele me fazem gostar do que vejo. Não tenho um intelecto passível de grandes melhorias, e sinto me aproximar de meus limites.

Não há nada em mim que possa atrair alguém, uma personalidade distorcida, fruto de uma mente perturbada, e um corpo desprovido de qualquer atributo positivo. O que esperar de uma pessoa assim que vá além de uma vida medíocre e patética ao extremo? 

Acredito que o pior seja ainda estar tão absorto em tudo isso que me tornei incapaz de mudar essa realidade. Me encontro paralisado, em parte pelas muitas pessoas que insisto em manter em meu coração e em parte pela completa desesperança que agora habita em mim. 

Não há como mudar.

Não há como melhorar.

Não há luz no fim do túnel.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Sobre querer e ser

Eu acho que isso não vai dar certo. Acho que o que estamos fazendo não pode nos levar a lugar algum, e a decepção futura já é quase certa. Não estamos felizes, não somos felizes, como podemos esperar fazer um ao outro feliz? 

Nossas visões são muito distintas. Nossas perspectivas de futuro parecem não encontrar meio termo. Nosso passado é muito diferente. Parecemos ir cada um pra um lado, e como podemos andar juntos então? Se até a amizade necessita de perspectivas semelhantes para sobreviver, quanto mais um relacionamento entre duas pessoas. Como podemos tirar algo de nós, se cada um quer uma coisa diferente?

Não quero te machucar, mas se continuarmos assim eu sei que nós vamos nos machucar. E isso não é bom, não quero isso. 

Eu bem sei o quanto é assombrosamente doloroso se derramar em alguém incapaz de corresponder ao nosso amor. Eu bem sei o quanto é desesperador saber que o objeto de nosso amor deseja outro amor. E eu não quero alimentar em você esperanças de que num futuro eu possa vir a te amar. Não quero que sofra como eu sofri quando vi que essas esperanças se tornaram alimento para as chamas que agora me consomem.

Você precisa se entender primeiro, compreender o que se passa com você, e só quando estiver satisfeito consigo, com quem você é e quer, se sentirá livre para entrar num relacionamento.

Mas como posso eu exigir de você aquilo que eu mesmo não tenho? Pareço projetar em você as frustrações que há em mim também.

Posso estar consciente do que sou, mas nem de longe eu sei o que quero. Posso estar satisfeito com minha sexualidade, mas e o resto onde habita o mais completo caos? Como posso dizer que só assim será livre se eu mesmo me fiz escravo de um senhor que não me quer nem como ferramenta?

Eu estou claramente preso e arruinado por isso, e ainda tenho a ousadia de exigir liberdade de você, e nem sequer tenho a coragem de mascarar isso com uma sombra de preocupação genuína contigo, como se dissesse: não faça como eu! Mas não, nem essa honra há em mim...

Talvez não haja um momento específico para se começar um relacionamento. Talvez não haja um sinal claro. Talvez tudo o que haja seja duas pessoas que necessitam de outra pessoa... Não sei se isso é motivo suficiente para um relacionamento, mas também não consigo dizer o que seria um motivo suficiente.

Por isso disse que iríamos deixar rolar... Talvez o tempo nos abra os olhos e nos mostre o que realmente queremos ser e viver. Talvez não seja hora de colocar mais barreiras onde elas já existem aos montes. Que apenas a vida interfira negativamente com suas perdas e traições... 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Sobre caminhar sozinho

Ubi vera amicitia est, ibi idem velle, et idem nolle, tanto dulcius, quanto sincerius.*

Santo Tomás disse que a amizade está no querer e no rejeitar as mesmas coisas que o próximo. Dessa forma a amizade se entende como um caminhar junto, indo em direção ao mesmo destino. Eu entendo esse caminho de muitas formas, seja intelectual ou divino, e vejo o quanto caminhar ao lado de quem pensa de outra maneira tem se tornado pesado, e praticamente insuportável. 

Digo isso pois vejo nos outros o estranhamento em seus olhares quando falo a respeito das coisas que busco, e fica nítido o quanto desprezam o que para mim é de suma importância. Seja em matéria de conhecimento, de posicionamento religioso, ou até no gosto musical as pessoas discordam grandemente, e por vezes me perguntei se era eu errado por buscar e amar as coisas que busco e amo.

A sociedade, sob o pretexto de nos unir numa única massa de iguais, acabou por abolir o sentimento de caminho individual. Os valores pessoais, que antes ditavam o agir virtuoso ou vicioso, agora foram substituídos por um politicamente correto que vê em toda sorte de perversões uma aplicação do direito pessoal e inalienável, e no pensamento individual um atentado a esse mesmo direito. Ou seja: agir como o todo, sem nenhum escrúpulo moral, é agir corretamente, ao passo que se opor as muitas demonstrações de banimento da moral e dos bons costumes se tornou um gravíssimo atentado ao sentimento de conjunto que nos foi imposto. 

Outros decidiram que o que é certo passou a ser errado, e que o errado passou a ser certo e que descumprir isso é um crime. Mas e aqueles que se recusam a fazer parte disso? E aqueles que buscam a verdade sem se importar com andar ao lado de todos os outros que da verdade se apartam e fazem chacota, que devem fazer? E aqueles que não encontram no todo, disforme e hipersexualizado que hoje vivemos, as respostas para seus anseios?

Não vejo o mundo oferecendo respostas, mas apenas fugas e mais fugas. Ele entorpece os sentidos, inebria a mente e a alma, mergulha a todos numa doce hipnose, mas não responde de maneira alguma aquele desejo que se encontra na alma de cada um. Aquele vazio,  que se encontra bem no âmago do nosso coração e que assusta o homem desde o primeiro pensamento, continua vazio.

Na Igreja essa realidade encontra uma situação ainda mais peculiar. Caminhar na Igreja é sempre optar por ir contra o mundo, mas há dentro dela uma divisão que torna o caminho mais singular ainda. Decidir-se por uma vida de busca pela santidade é caminhar sozinho. Mas aqui a palavra sozinho encontra uma beleza peculiar: é caminhar sozinho em relação aos irmãos, muitas vezes em relação a toda comunidade, mas estar acompanhado da pessoa de Cristo, de seus anjos e de seus santos, e todos quantos optaram por seguir o caminho da santidade.

Caminhar exige uma decisão solitária, e hoje tem se tornado quase impossível encontrar alguém que partilhe das mesmas ideias, que queira e que rejeite as mesmas coisas. Já não se busca a Verdade, no máximo busca-se uma realidade confortável, que nada tem a ver com a realidade. E ver isso machuca, nos faz por alguns momentos chegar a desejar por essa mesma cegueira. Mas a Verdade se tornará a companhia da alma que a busca. E a mesma Verdade atrairá os seus para aqueles que a ela também desejam. 

Talvez seja esse o objetivo da solidão: mostrar que para seguir a Verdade há que se abandonar tudo o mais que não seja a mesma Verdade, e aguentar o período de solidão que dessa decisão receberemos. Mas passada essa provação ela mesma se encarregará de não permitir que os seus pereçam na solidão. Caminhemos sozinhos, se preciso for, mas com a certeza de que nunca estaremos de verdade. Seja na busca pela Verdade ou pela santidade sempre haverá aqueles que antes e depois de nós buscarão nelas também o conforto e o sentido de suas vidas.  

~

Nota: "Onde está a verdadeira amizade, aí está o mesmo querer e o mesmo não querer, tanto mais agradável, quanto mais sincero" (Santo Tomás de Aquino - Summa Theologiae I.42.3)

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Da escuridão silenciosa

É aqui na escuridão 
silenciosa 
da noite que eu me reencontro. 

A paz que a noite me traz 
reconforta a alma e acalma o coração 
que se inflamou de amor.

É na noite escura que minha alma chama 
por quem ela ama, 
e no silêncio sua voz, 
a minha voz, 
se perde na imensidão 
por entre estrelas e cometas.

Até onde chega minha voz? 

Sei que não pára até chegar a planetas e mundos distantes, 
mas não consegue penetrar seu coração...

Gosto da noite, 
a lua e as estrelas são minhas companheiras, 
a música me embala, 
o frio me hipnotiza. 

Por mim nunca precisaria amanhecer, 
poderia dormir pra sempre.

O sol me abrasa o corpo e a alma,
me traz lembranças dolorosas 
do sol que me consumiu. 

A lua me traz a paz, 
sua chuva de prata me encanta. 

A lua me faz crer num mundo silencioso, 
onde a gritaria não abafa os suspiros do meu coração.

E é aqui na escuridão 
silenciosa 
da noite que eu me reencontro. 

terça-feira, 10 de julho de 2018

Mais dias vazios

Você conhece o vazio? Você conhece a sensação de olhar pra dentro de si buscando uma luz, uma resposta, e não encontrar nada além dos ecos de uma memória gasta e de uma consciência debilitada? Sabe o que é caminhar sem ter um lugar para chegar, e vagar sem rumo, indefinidamente, apenas porque não quer que o julguem por não ter aonde ir? Onde se encontra um objetivo? Onde se encontra uma razão para ser, um motivo para existir? 

Temo que nenhuma dessas coisas se encontre facilmente por aí, há muito eu ando e nunca as encontrei. Será que realmente existem? Me pergunto se seria possível que todos ao meu redor disfarçam seu desespero em também não ter uma razão de ser com seus afazeres, se agarrando ao trabalho como se isso fosse a causa e o fim de sua existência. Pode parecer loucura mas é esse o tipo de vazio que eu vejo ao olhar os outros no fundo de seus olhos. Ou talvez só esteja preocupado em me confortar, pensando que não estou sozinho, quando na verdade sou o único a não ter um objetivo. 

Meus dias tem sido cheios de vazio, o nada preenche o meu ser com sua essência, e o horizonte que para os outros é um mar de possibilidade para mim não é mais do que um quarto vazio, frio e sufocante, que esmaga o meu corpo com o peso de sua misteriosa existência. 

Devo continuar aqui sentado no escuro, ou caminhar sem rumo? Já não quero fazer nem um e nem outro, meu único desejo é o de desaparecer, para assim não precisar pensar nas respostas para nenhuma dessas perguntas. No estado em que estou, tanto o escuro quanto a luz do dia tem sido assustadoramente pavorosos para mim. Ser obrigado a enfrentar qualquer um deles seria uma crueldade, e essa possibilidade me faz desejar o fim. 

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Grito e vergonha

Sabe, eu não quero mais escrever sobre você... 

Estou cansado, cansado de sentir tanto, o tempo todo, de pensar em você com uma frequência obsessiva e em troca receber apenas a solidão da sua ausência.

Silêncio.

Silêncio, silêncio e mais silêncio.

Já se tornou vergonhoso sequer pensar no quanto penso em você, e as até as palavras que nascem desses pensamentos me olham de maneira acusadora, como se apontassem o meu ridículo num espetáculo de circo, em meio a risadas. 

Acredito que até mesmo sofrer pela derrota da seleção brasileira para a Bélgica na Copa do Mundo da Rússia seja menos vergonhoso do que tornar a falar sobre você. Mas sobre o que escrever se meu coração apenas transborda de sentimentos por você? 

Isso porque em mim só há você. 

Não há poesia em mim que não seja sobre você e, por mais que tente, não encontro em mim nada que seja mais importante do que você. E isso está errado.

Tenho consciência de que as coisas não deveriam ser assim, de que não deveria pensar em ninguém dessa maneira doentia ao invés de pensar em mim mesmo, mas não há em mim forças e nem inspiração para pensar em nada que vá além de você. 

Silêncio.

Silêncio, silêncio e mais silêncio.

E os gritos começam!

Por isso minhas palavras me envergonham. Elas gritam em meu ouvido aquelas coisas que me recuso a ouvir: que meu amor por você nunca deveria ser maior do que o amor que tenho por mim mesmo, pois você nunca será capaz de me amar! 

Esse grito ecoa na minha mente até ser abafada pelos meu sonhos, pelas mentiras que eu mesmo criei e que alimento, mas que cresceram de tal modo que hoje me esmagam e me sufocam. E o grito passa a ser meu, um grito de socorro, onde da profundidade do meu próprio coração eu busco o resgate de um mundo onde consiga me amar, e onde enxergar e aceitar que para você eu sou um nada!

Gritos.

Gritos, gritos e mais gritos.

E as lágrimas caem.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Com um pouco de bom senso, o equilíbrio

Já aconteceu com você de estar conversando com alguém, um amigo ou até mesmo um conhecido, e a pessoa falar com você super empolgada sobre algo que ela tem como a máxima delícia, e do nada começar a desculpar-se por estar tão empolgada assim? É em momentos assim que vemos o quanto as pessoas podem ser rasas umas com as outras.

Isso não me surgiu do nada, vi na publicação de um amigo, que por sua vez eram as palavras de outra pessoa, mas passei boa parte da minha noite pensando sobre elas. 

Alguém que se desculpa num momento assim na verdade não se desculpa pela empolgação, nem pelas palavras em si, mas desculpa sua própria existência. É o reflexo condicionado de alguém que já viu o desinteresse de muitos sobre as coisas mais importantes para si, e esse desinteresse deixa uma marca, uma crença, de que também nós, que gostamos dessas coisas, somos desinteressantes e chatos.

Pode ser uma música de um gênero meio incomum, uma série que a crítica massacrou mas que amamos ou aquela roupa velha que a gente adora usar pra todo lugar. Algumas coisas pequenas podem fazer toda diferença não pelo valor aparente que elas tem, mas pela experiência que tivemos com elas. Por isso musicas que tocaram em momentos especiais são especiais, séries que nos deram boas reflexões são especiais, e assim vai...

E é claro que as pessoas não são obrigadas a compreender todo horizonte de experiências que carregamos conosco, isso é impossível, mas elas nem ao menos fazem o mínimo esforço de tentar compreender o significado que essas coisas tem pra nós. É quando nos tornamos desinteressantes por gostar de coisas desinteressantes.

Momentos assim fazem nos sentir no fim da fila da humanidade, e podemos perceber a frialdade egoísta do mundo em que vivemos, onde apenas o nosso sentimento importa, onde apenas nossas experiências importam, e o outro não é um mundo novo e maravilhoso a ser explorado e conhecido em seus mínimos detalhes, mas um ser estranho e inconveniente que apenas quer roubar a importância que temos, ou achamos ter.

Dito isto, passemos a outro ponto.

Nos últimos meses eu tenho me sentido desconfortável em conversas com certas pessoas sobre determinados assuntos. São como espinhos que ferem a pele e resultam num reflexo de sempre fugir. Esse reflexo pode ser, em muitas ocasiões, interpretado como desinteresse, e por fim, acabou levando a um abalo na confiança em algumas amizades.

Eu sinto que algumas pessoas já não confiam mais em mim, e por terem me dado as costas eu não me sinto mais  seguro de dizer a elas as coisas que dizia, de abrir meu coração como antes. De certa forma nossas reações foram as mesmas, ambas confianças foram abaladas. 

Conversando com um amigo sobre isso ele me abriu os olhos para a importância do equilíbrio. De um lado há a necessidade de conversar, de se abrir, e é bom que os amigos sejam para isso também. O que seria de  nós se não tivéssemos um amigo pra nos ouvir quando tudo parece confuso demais? Bom, alguns escrevem em blogs quando sentem que são desinteressantes demais para serem ouvidos... De outro lado há a dor que certas palavras nos causa, inclusive entre amigos, e devo dizer que das coisas que já ouvi, saber que não sou interessante ou importante, ou menos interessante e menos importante que outros, me abalou profundamente. 

Percebo a presunção das palavras do último parágrafo agora que as escrevi. Admito que em minha mente soaram bem menos repletas de mim mesmo, mas não creio que isso anule o que estou expondo.

O equilíbrio existirá quando soubermos identificar o que em nós precisa ser comunicado e o que em nós pode ser comunicado sem ferir o outro. Há coisas que só devemos guardar para nós mesmos, há coisas para serem ditas aos amigos e há coisas para serem despejadas em páginas da internet, sob livre acesso de estranhos. 

Já que mergulhei na metalinguagem, vou ainda mais adiante.

Essas palavras que agora escrevo, e as muitas que já publiquei e que publicarei, são um exemplo mais que perfeito de coisas que aos ouvidos dos outros soariam desinteressantes, e por isso as coloco aqui, pois em meu coração logo transbordariam. 

Será que não encontrei ainda amigos de verdade com quem possa desabafar sobre absolutamente todo tipo de coisa, ou será que assim como eu não quero ouvir de tudo pois algumas coisas me machucam eu também posso dizer coisas que machucam? Talvez o desinteresse que as vezes sinto no outro seja sinal da dor que causo nele, assim como meu desinteresse é o meu reflexo às palavras que doem em mim... Aproveitando o que penso ser um pouco de bom senso que me restou entre uma crise e outra, fico com a segunda opção. 

A figura dos espinhos que usei acima me lembram aquela historinha dos ouriços, de que já falei aqui várias vezes. Pra se protegerem do frio os ouriços precisaram se acostumar com os espinhos uns dos outros, e encontraram uma distância segura entre a morte pelas feridas e a morte pelo frio. Longe uns dos outros morremos de frio. Perto demais morremos derramando nosso sangue. 

Há que se buscar o equilíbrio. 

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Do azul do céu e do azul do mar

Durante todo o dia eu lutei com uma estranha sensação dentro de mim: era como se algo quisesse sair de dentro do meu ser, mas eu não sabia dizer o que era e nem como expressar, muito embora isso se tenha dado mais pelo meu deficiente autoconhecimento e falta de sinceridade do que por algum dificuldade intrínseca a coisa em si.

O que palpitava em meu ventre como um bebê sendo gerado, como diria Sócrates, era a verdade da realidade que meu eu percebera antes mesmo que eu me desse conta, e a perplexidade era o início das dores do parto da verdade que de mim nascia. Como disse Santo Agostinho: "eu sei, mas quando me perguntam, já não o sei mais." Quando perguntava a mim mesmo sobre o que sentia, mentia para mim como se já não o soubesse. 

Mas eu sabia, sabia e fingia não saber. 

Eu sabia que confundia o azul da cor do mar com o azul da chuva. Eu sabia que o azul do seu olhar quando me via era o azul da chuva, fria e triste, e não o acalorado azul da cor do mar, aquecido pelos nobres raios de sol que da sua pele saem fulgurantes para aquecer a todos, exceto a mim. 

O mar, na verdade, não era você, mas eu. E em mim há espaço suficiente para muitos naufrágios, se me permitem tomar as palavras de um tweet do Pe. Fábio de Melo. O mar sou eu, e dentro de mim há águas impetuosas que podem ser límpidas e calmas, ou poderosas e imparáveis. Essa é a real natureza do sentimento que habita em mim. Como a água, capaz de trazer a vida mas também a morte e, no caso, a minha morte. O céu, alto e inalcançável, é o coração azul do amado.

E a verdade é que o céu e o mar não se tocam senão no limiar do horizonte, mas nunca se tocam realmente, sendo condenados a viverem sempre a contemplarem um ao outro, sem nunca se tocarem verdadeiramente. 

Deixei-me deslumbrar pela beleza do céu por um instante, e a ilusão de poder um dia alcançá-lo me cegou, e a música me inebriou, e agora a verdade me deixa com um gosto amargo na boca e um vazio no peito. Ah, como fui tolo em pensar que podia voar naquele imenso céu azul... Sinto como se tivesse sido lançado violentamente ao chão, depois de uma fracassada tentativa de alçar voo, como uma débil ave, incapaz de subir como a água grandiosamente majestosa que ali impera gloriosamente, refletindo em suas penas de ouro os raios do astro rei. 

terça-feira, 3 de julho de 2018

No limiar

O desejo de você arde mais uma vez dentro de mim, como brasa me tocaste o coração, como uma seta inflamada me perfuraste a carne, como um machado incandescente me arrebentaste os ossos até o tutano. Nunca desejei com tanta intensidade, nunca quis tanto assim, ao ponto de contorcer-me perdido em sonhos e de suspirar à simples menção do seu nome em meu pensamento. 

Como expressar a violenta onda de sentimentos que me assolam? Como explicar ao mundo que toda minha visão se fecha em vermelhidão quando penso nele?

A todo momento minha mente é bombardeada por imagens suas, pela sua voz, pela impressão do seu toque. Tenho vivido num mundo vermelho, lúgubre e luxuriante como a chama de uma vela que arde e se consome, derretendo-se sobre si mesma, se desfazendo sob o calor de sua chama. 

Que sina é esta de desejar-te com tanta força? Quero estar com você a todo momento, e fugir contigo para um jardim distante, onde seja só você e eu, e eu possa ter você só para mim, e onde eu seja apenas seu. 

Não tenho a menor dúvida de que se abrissem agora meu coração, rasgando meu peito com mãos indecentes ou com machados de prata, encontrariam seu nome escrito a ferro e fogo nele, perpetuamente marcado, perpetuamente seu.

Me imagino ao seu lado com o passar dos anos, acordando ao lado de seu olhar de chuva todos os dias, e indo dormir com o cheiro doce da sua pele junto a minha, ouvindo sua voz chamando meu nome com carinho.

E esses sonhos já não se dão apenas nas noites escuras, mas também durante o dia eu fico a sonhar com sua luz. Minha alma tornou-se inquieta, na busca constante pela sua presença, na esperança constante pela sua atenção, no desejo constante pelo seu corpo.

As vezes penso em lhe dizer o que sinto, mas as perspectivas são tão ruins que sempre acabo guardando apenas para mim o desejo que sinto, na esperança de que assim ao menos sua presença não será tirada totalmente de mim. E dentro de mim esse desejo cria raízes e se fortalece a cada dia, florescendo, crescendo, se solidificando, e cada dia mais se tornando parte inseparável do meu eu.

No player uma voz doce canta o amor, a alegria de amar e ser amada, e no meu coração eu acolho essa canção e a transformo em alimento para o meu peito florido. Suspirando eu permito que meu pensamento voe para longe, para um mundo de maravilhas e deleites que sequer ouso transpor aqui, guardando-os na intimidade da minha mente...

E aos poucos a vermelhidão, luxuriosa e cega de desejo, se torna azul, doce e delicada, como o carinho da espuma do mar nas areias da praia, onde nossos pés marcam o chão e logo desaparecem em meio a imensidão do gigante Oceanus, que aponta para uma imensidão onde podemos ser apenas ele e eu, assim como o mar é apenas mar e céu no limiar do horizonte de nosso olhar.  

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Da sua voz

Se geralmente escrevo palavras pesadas de dor e sofrimento essas que agora deposito aqui devem ser lidas com a leveza de uma pena, e com a mesma delicadeza que uma brisa de primavera acaricia as pétalas de uma flor no jardim.

Tenha em mente o leitor que se trata do relato de um momento de encanto, e sinta-se confortável para imaginar-se como uma criança que, ao ver um novo brinquedo, sente seu coração aquecer e põe-se a rir gostosamente como se aquele brinquedo fosse fazer-lhe feliz para sempre. Pois bem, relatemo-no:

Nossos olhares se cruzaram novamente, e nossas vozes se uniram numa só novamente.

Tinha saudades do seu olhar, saudades de contemplar aquele abismo glacial que tanto amo. Saudades de sentir a frialdade simples de seus olhos me tocarem a alma e me despirem o coração. Pode ter sido por um breve instante, mas bastou para acalmar a tempestade que no meu íntimo se fazia, resultando na calmaria de um doce sorriso. 

Foi como a declaração de que nosso mundo chegou a existir. Como uma estrela brilhamos por um instante antes de explodirmos iluminando tudo ao nosso redor. Foi saber que era real. Foi real. 

Por um breve instante, um ínfimo momento na imensidão do tempo em que estamos, nossas existências se tocaram levemente nas vibrações do ar de nossas vozes. Como se as nossas  cordas vocais se unissem num laço imaginário e, naquele momento, me senti um só contigo. Foi como se nossas vozes se estendessem para além de nós, e se unissem numa terceira, única e poderosa, que como um trovão estremeceu a terra e fez calar os pobres e pequenos que se admiraram com tamanha demonstração de poder.

Acho que não pode notar o quão poderosa é sua influência sobre mim. Espero que nunca se dê conta desse poder...

Queria eu ter palavras poéticas o suficiente para expressar o quanto o encontro de nossos olhares significou pra mim. Mas penso já ter chegado naquele limiar da expressão humana, onde as palavras não conseguem mergulhar no oceano de experiências e o resultado é como o balbuciar de uma criança, que emitindo grunhidos pensa se comunicar com a mais alta exatidão.

Sabe, tenho estado feliz com tudo isso. Já fazem alguns dias desde que essas cosias se passaram e na minha alma se imprimiu uma tranquilidade que há muito eu já não tinha. Estou com um sorriso leve no rosto, reflexo do que se passa no meu coração.

Isso é bom não é? Saber que nem só de dores são feitos meus ossos, e que sendo eu o osso da minha espada* posso lutar por coisas tanto alegres quanto difíceis.

Vejo então agora a beleza desses pequenos momentos dos últimos dias, momentos que me deram de volta um pouquinho de cor ao rosto que andava apático, e talvez tenha devolvido uma centelha de vida a casca vazia que eu havia me tornado.

Por isso eu o agradeci, ainda que não tenha explicado o motivo, mas penso que tenha entendido, de qualquer maneira. E por isso também agradeço pela tranquilidade deixada no meu coração, que me permitiu dormir em paz, e acordar sorridente e disposto para um novo dia. Obrigado!

~

*Nota - "I am the bone of my sword" (Fate/Stay Night - Unlimited Blade Works)