terça-feira, 31 de julho de 2018

Sobre a verdade do homem

Sartre disse que "o inferno são os outros" mas creio que nem todos possam ser capazes de enxergar o inferno que causam em nós. Na verdade somos incapazes de perceber qualquer coisa que se passe com o outro. 

Nossa percepção é capaz de conhecer as coisas do mundo, sensível e metafisicamente falando, mas somos absolutamente incapazes de conhecer o outro, especialmente seu coração. Esse é o limite da percepção humana, e sei que já tratei disso muitas vezes. No entanto, quando mais uma vez meu coração sangra de dor em perceber a absoluta solidão em que se encontra, o que mais eu posso fazer além de derramar esse mesmo sangue na forma de palavras, repetitivas porém sinceras?

Isso porque não conseguimos ver as coisas como são e aceitar essa verdade como sendo parte da estrutura da realidade, mas a cobrimos com camadas e mais camadas de sonhos e expectativas infundadas, até não conseguirmos mais saber o que é verdade e o que é sonho. Mas o antigo provérbio que dizia que três coisas não ficam escondidas por muito tempo, sendo elas o sol, a lua e a verdade, nos mostra que o sonho não dura mais do que uma noite, sendo a verdade revelada mais cedo ou mais tarde. E sendo essa a mesma verdade que por medo preferimos não ver, nos machucará ainda mais agora que fomos sensibilizados pelas quedas dos sonhos que nela colocamos como uma camisa de força. 

O medo que antes nos fizera sonhar agora nos leva a fugir, tendo uma vez encarado de frente a verdade e visto que dela não pode vir senão dor e sofrimento.

A verdade do homem é a sua solidão. 

Embora seja um animal político, o homem só assim se fez para fugir da solidão que o assombrava desde o primeiro pensamento. Desde o momento em que o homem deu-se consciente de sua existência, percebeu também que estava sozinho, e desde então tudo o que fez foi para buscar escapar dessa solidão. 

As pessoas que nos cercam, os barulhos que nos rodeiam, as luzes que nos cegam. Tudo é obra de nossa criativa mente que busca fugir da completa solidão em que nos encontramos. Prova disso é que não importa o quanto alguém busque ser sincero quanto a si, quanto a seus sentimentos, o homem vai sempre continuar infeliz em sua existência patética, incapaz de fazer o outro enxergá-lo como quem ele acredita ser. 

Tentar ser bom para o outro é inútil. 

Amar é inútil. 

Viver é inútil. 

Toda nossa existência é pautada em motivos, fins, razões e causas inúteis. Tudo o que o coração do homem pode conceber como sendo um motivo de sua existência é apenas causa de dor e sofrimento. E no fim, o mundo não se divide entre pessoas que alcançaram ou não seus sonhos, mas entre pessoas que perceberam essa fria verdade e pessoas que vivem suas ilusões e são burros demais para percebê-las.

Não quero mais ouvir o mundo tem a me dizer. Não há nada que a verdade possa me dizer que eu queira ouvir. Aquilo que amo, aquilo que quero, é simplesmente impossível para mim.

E isso significa que não tenho aqui razões para continuar. 

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