quinta-feira, 5 de julho de 2018

Com um pouco de bom senso, o equilíbrio

Já aconteceu com você de estar conversando com alguém, um amigo ou até mesmo um conhecido, e a pessoa falar com você super empolgada sobre algo que ela tem como a máxima delícia, e do nada começar a desculpar-se por estar tão empolgada assim? É em momentos assim que vemos o quanto as pessoas podem ser rasas umas com as outras.

Isso não me surgiu do nada, vi na publicação de um amigo, que por sua vez eram as palavras de outra pessoa, mas passei boa parte da minha noite pensando sobre elas. 

Alguém que se desculpa num momento assim na verdade não se desculpa pela empolgação, nem pelas palavras em si, mas desculpa sua própria existência. É o reflexo condicionado de alguém que já viu o desinteresse de muitos sobre as coisas mais importantes para si, e esse desinteresse deixa uma marca, uma crença, de que também nós, que gostamos dessas coisas, somos desinteressantes e chatos.

Pode ser uma música de um gênero meio incomum, uma série que a crítica massacrou mas que amamos ou aquela roupa velha que a gente adora usar pra todo lugar. Algumas coisas pequenas podem fazer toda diferença não pelo valor aparente que elas tem, mas pela experiência que tivemos com elas. Por isso musicas que tocaram em momentos especiais são especiais, séries que nos deram boas reflexões são especiais, e assim vai...

E é claro que as pessoas não são obrigadas a compreender todo horizonte de experiências que carregamos conosco, isso é impossível, mas elas nem ao menos fazem o mínimo esforço de tentar compreender o significado que essas coisas tem pra nós. É quando nos tornamos desinteressantes por gostar de coisas desinteressantes.

Momentos assim fazem nos sentir no fim da fila da humanidade, e podemos perceber a frialdade egoísta do mundo em que vivemos, onde apenas o nosso sentimento importa, onde apenas nossas experiências importam, e o outro não é um mundo novo e maravilhoso a ser explorado e conhecido em seus mínimos detalhes, mas um ser estranho e inconveniente que apenas quer roubar a importância que temos, ou achamos ter.

Dito isto, passemos a outro ponto.

Nos últimos meses eu tenho me sentido desconfortável em conversas com certas pessoas sobre determinados assuntos. São como espinhos que ferem a pele e resultam num reflexo de sempre fugir. Esse reflexo pode ser, em muitas ocasiões, interpretado como desinteresse, e por fim, acabou levando a um abalo na confiança em algumas amizades.

Eu sinto que algumas pessoas já não confiam mais em mim, e por terem me dado as costas eu não me sinto mais  seguro de dizer a elas as coisas que dizia, de abrir meu coração como antes. De certa forma nossas reações foram as mesmas, ambas confianças foram abaladas. 

Conversando com um amigo sobre isso ele me abriu os olhos para a importância do equilíbrio. De um lado há a necessidade de conversar, de se abrir, e é bom que os amigos sejam para isso também. O que seria de  nós se não tivéssemos um amigo pra nos ouvir quando tudo parece confuso demais? Bom, alguns escrevem em blogs quando sentem que são desinteressantes demais para serem ouvidos... De outro lado há a dor que certas palavras nos causa, inclusive entre amigos, e devo dizer que das coisas que já ouvi, saber que não sou interessante ou importante, ou menos interessante e menos importante que outros, me abalou profundamente. 

Percebo a presunção das palavras do último parágrafo agora que as escrevi. Admito que em minha mente soaram bem menos repletas de mim mesmo, mas não creio que isso anule o que estou expondo.

O equilíbrio existirá quando soubermos identificar o que em nós precisa ser comunicado e o que em nós pode ser comunicado sem ferir o outro. Há coisas que só devemos guardar para nós mesmos, há coisas para serem ditas aos amigos e há coisas para serem despejadas em páginas da internet, sob livre acesso de estranhos. 

Já que mergulhei na metalinguagem, vou ainda mais adiante.

Essas palavras que agora escrevo, e as muitas que já publiquei e que publicarei, são um exemplo mais que perfeito de coisas que aos ouvidos dos outros soariam desinteressantes, e por isso as coloco aqui, pois em meu coração logo transbordariam. 

Será que não encontrei ainda amigos de verdade com quem possa desabafar sobre absolutamente todo tipo de coisa, ou será que assim como eu não quero ouvir de tudo pois algumas coisas me machucam eu também posso dizer coisas que machucam? Talvez o desinteresse que as vezes sinto no outro seja sinal da dor que causo nele, assim como meu desinteresse é o meu reflexo às palavras que doem em mim... Aproveitando o que penso ser um pouco de bom senso que me restou entre uma crise e outra, fico com a segunda opção. 

A figura dos espinhos que usei acima me lembram aquela historinha dos ouriços, de que já falei aqui várias vezes. Pra se protegerem do frio os ouriços precisaram se acostumar com os espinhos uns dos outros, e encontraram uma distância segura entre a morte pelas feridas e a morte pelo frio. Longe uns dos outros morremos de frio. Perto demais morremos derramando nosso sangue. 

Há que se buscar o equilíbrio. 

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