quarta-feira, 4 de julho de 2018

Do azul do céu e do azul do mar

Durante todo o dia eu lutei com uma estranha sensação dentro de mim: era como se algo quisesse sair de dentro do meu ser, mas eu não sabia dizer o que era e nem como expressar, muito embora isso se tenha dado mais pelo meu deficiente autoconhecimento e falta de sinceridade do que por algum dificuldade intrínseca a coisa em si.

O que palpitava em meu ventre como um bebê sendo gerado, como diria Sócrates, era a verdade da realidade que meu eu percebera antes mesmo que eu me desse conta, e a perplexidade era o início das dores do parto da verdade que de mim nascia. Como disse Santo Agostinho: "eu sei, mas quando me perguntam, já não o sei mais." Quando perguntava a mim mesmo sobre o que sentia, mentia para mim como se já não o soubesse. 

Mas eu sabia, sabia e fingia não saber. 

Eu sabia que confundia o azul da cor do mar com o azul da chuva. Eu sabia que o azul do seu olhar quando me via era o azul da chuva, fria e triste, e não o acalorado azul da cor do mar, aquecido pelos nobres raios de sol que da sua pele saem fulgurantes para aquecer a todos, exceto a mim. 

O mar, na verdade, não era você, mas eu. E em mim há espaço suficiente para muitos naufrágios, se me permitem tomar as palavras de um tweet do Pe. Fábio de Melo. O mar sou eu, e dentro de mim há águas impetuosas que podem ser límpidas e calmas, ou poderosas e imparáveis. Essa é a real natureza do sentimento que habita em mim. Como a água, capaz de trazer a vida mas também a morte e, no caso, a minha morte. O céu, alto e inalcançável, é o coração azul do amado.

E a verdade é que o céu e o mar não se tocam senão no limiar do horizonte, mas nunca se tocam realmente, sendo condenados a viverem sempre a contemplarem um ao outro, sem nunca se tocarem verdadeiramente. 

Deixei-me deslumbrar pela beleza do céu por um instante, e a ilusão de poder um dia alcançá-lo me cegou, e a música me inebriou, e agora a verdade me deixa com um gosto amargo na boca e um vazio no peito. Ah, como fui tolo em pensar que podia voar naquele imenso céu azul... Sinto como se tivesse sido lançado violentamente ao chão, depois de uma fracassada tentativa de alçar voo, como uma débil ave, incapaz de subir como a água grandiosamente majestosa que ali impera gloriosamente, refletindo em suas penas de ouro os raios do astro rei. 

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