terça-feira, 3 de julho de 2018

No limiar

O desejo de você arde mais uma vez dentro de mim, como brasa me tocaste o coração, como uma seta inflamada me perfuraste a carne, como um machado incandescente me arrebentaste os ossos até o tutano. Nunca desejei com tanta intensidade, nunca quis tanto assim, ao ponto de contorcer-me perdido em sonhos e de suspirar à simples menção do seu nome em meu pensamento. 

Como expressar a violenta onda de sentimentos que me assolam? Como explicar ao mundo que toda minha visão se fecha em vermelhidão quando penso nele?

A todo momento minha mente é bombardeada por imagens suas, pela sua voz, pela impressão do seu toque. Tenho vivido num mundo vermelho, lúgubre e luxuriante como a chama de uma vela que arde e se consome, derretendo-se sobre si mesma, se desfazendo sob o calor de sua chama. 

Que sina é esta de desejar-te com tanta força? Quero estar com você a todo momento, e fugir contigo para um jardim distante, onde seja só você e eu, e eu possa ter você só para mim, e onde eu seja apenas seu. 

Não tenho a menor dúvida de que se abrissem agora meu coração, rasgando meu peito com mãos indecentes ou com machados de prata, encontrariam seu nome escrito a ferro e fogo nele, perpetuamente marcado, perpetuamente seu.

Me imagino ao seu lado com o passar dos anos, acordando ao lado de seu olhar de chuva todos os dias, e indo dormir com o cheiro doce da sua pele junto a minha, ouvindo sua voz chamando meu nome com carinho.

E esses sonhos já não se dão apenas nas noites escuras, mas também durante o dia eu fico a sonhar com sua luz. Minha alma tornou-se inquieta, na busca constante pela sua presença, na esperança constante pela sua atenção, no desejo constante pelo seu corpo.

As vezes penso em lhe dizer o que sinto, mas as perspectivas são tão ruins que sempre acabo guardando apenas para mim o desejo que sinto, na esperança de que assim ao menos sua presença não será tirada totalmente de mim. E dentro de mim esse desejo cria raízes e se fortalece a cada dia, florescendo, crescendo, se solidificando, e cada dia mais se tornando parte inseparável do meu eu.

No player uma voz doce canta o amor, a alegria de amar e ser amada, e no meu coração eu acolho essa canção e a transformo em alimento para o meu peito florido. Suspirando eu permito que meu pensamento voe para longe, para um mundo de maravilhas e deleites que sequer ouso transpor aqui, guardando-os na intimidade da minha mente...

E aos poucos a vermelhidão, luxuriosa e cega de desejo, se torna azul, doce e delicada, como o carinho da espuma do mar nas areias da praia, onde nossos pés marcam o chão e logo desaparecem em meio a imensidão do gigante Oceanus, que aponta para uma imensidão onde podemos ser apenas ele e eu, assim como o mar é apenas mar e céu no limiar do horizonte de nosso olhar.  

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